A UNIÃO HIPOSTÁTICA DE CRISTO E A MORTE DA DIVINDADE Uma breve reflexão hermenêutico-filosófica adventista

A UNIÃO HIPOSTÁTICA DE CRISTO E A MORTE DA DIVINDADE

Uma breve reflexão hermenêutico-filosófica adventista


Elton Queiroz tem formação nas áreas de computação, de teologia e de filosofia. Fez alguns cursos de pós-graduação, duas especializações e um mestrado, em teologia e interpretação da Bíblia, arqueologia bíblica e teologia bíblica respectivamente. Já atuou como pastor/capelão do Colégio Adventista da Tijuca (RJ) e pastor assistente no Espaço Novo Tempo Umarizal, em Belém do Pará. Atualmente, é professor de ensino religioso concursado para a prefeitura de Tailândia-PA.


Considerações iniciais

Os seres humanos são, por natureza, inquisidores. Amamos fazer perguntas. Aliás, esta é uma de nossas qualidades que mais nos distinguem dos demais seres vivos de nosso planeta. Por outro lado, da mesma forma que somos questionadores por natureza, somos intelectualmente limitados. Ou seja, nossa capacidade de entender e interpretar o mundo e a realidade como um todo é finita. Obviamente, isto implica na admissão de que há coisas que simplesmente não entendemos.

Uma dessas coisas que simplesmente não conseguimos entender é o modo como Cristo, sendo Deus eterno, pode assumir cem por cento da natureza humana e ainda assim continuar sendo cem por cento Deus. Ora, um alguém cem por cento humano simplesmente não é Deus porque Deus, por natureza, é distinto da humanidade. Logo, o mais natural seria entender que, ao se tornar cem por cento homem, Cristo definitivamente deixou de ser quem é, Deus. Contudo, uma leitura hermeneuticamente sólida do Novo Testamento facilmente revelará que ao se encarnar, Cristo não perdeu sua divindade. Isto gera o famigerado problema da “união hipostática de Cristo”, terminologia técnica que se refere ao modo como estas duas naturezas de Cristo se relacionam.

Toda essa complexidade se torna ainda mais instigante quando lemos na Bíblia que Cristo, o Deus-homem, morreu na Cruz. Por natureza, o homem é mortal. Esta pelo menos é a ordem natural das coisas. Deus, por outro lado, é imortal e originador da vida. Aliás, à luz da Bíblia, Deus não é alguém possuidor de vida, mas o originador ou fonte de toda e qualquer vida. Deus não tem vida. Ele é a própria vida. Assim, como é possível conceber um Deus que morre na Cruz? Muitos tentam escapar desse problema buscando um atalho filosófico, na Cruz morreu apenas a humanidade. A divindade ficou intacta ou quiescente na melhor das hipóteses.

Note que acima usei o termo “filosófico”. A razão para usá-lo é bastante simples já que estamos diante de uma questão essencialmente filosófica além de que não temos uma revelação bíblica clara sobre esta questão. Biblicamente, sabemos que Deus é eterno e imortal. Mas não sabemos como essa sua peculiaridade lidou com a morte de Cristo. Ora, não é lógico, coerente e natural admitirmos que apenas a humanidade morreu já que Deus é imortal? Ora, claro que é. E falei acima que este é um atalho ou o caminho mais fácil a se tomar para resolver a questão. Contudo, o atalho é o caminho correto? Este atalho está realmente nos levando para onde devemos chegar?

É válido ressaltar que tanto os que defendem a vivência da divindade na morte de Cristo quanto os que defendem a “morrência” da divindade, estão no mesmo terreno, o terreno da especulação filosófica, já que não temos nenhuma revelação quanto a isto. Logo, nenhuma destas posições deve ter primazia sobre a outra. O máximo que podemos dizer é qual destas propostas melhor se ajusta ao quadro geral da Bíblia. A primeira destas opções, obviamente, se ajusta muito bem a realidade de que Deus é imortal. Mas, em meu entendimento, não se ajusta à realidade bíblica de que o preço do pecado foi pago por Deus e não pelo homem. Ora, se, na Cruz, apenas a humanidade morreu, então temos que reconhecer que Deus não pagou o preço do pecado do homem, mas outro homem, Jesus Cristo, que, neste momento específico, estava destituído de sua divindade. Noutras palavras, teríamos aí uma singularidade, o único momento em que Cristo foi apenas cem por cento homem. E, sendo este o caso, teríamos que reconhecer duas coisas.

Primeira, foi um homem que morreu para pagar o preço do pecado de toda a humanidade. Segundo, teríamos que obrigatoriamente reconhecer que Cristo não ressuscitou, mas foi ressuscitado, já que alguém apenas cem por cento homem não pode ressuscitar a si mesmo. Assim, portanto, particularmente, penso que a implicação de que apenas a humanidade morreu na Cruz é teologicamente mais problemática do que a implicação de se reconhecer a morte da divindade. A morte da humanidade somente se ajusta muito bem a teontologia (estudo do ser de Deus), mas traz sérios problemas para a soteriologia (estudo do plano da salvação). Por outro lado, a morte da divindade demanda explicações teontológicas, mas não soteriológicas.

Poder passivo x poder ativo

Diante deste cenário, o que nos resta agora é explicar como alguém eterno, que tem vida inerente e, portanto, imortal, pode morrer. Como uma ser imortal pode morrer? Isto não é uma autocontradição? Bem, devo reconhecer que, a princípio, se trata de uma autocontradição, aparentemente. Ocorre porque ponderamos nesta questão considerando somente o conceito de imortalidade (Deus imortal) e mortalidade (Deus mortal). Contudo, se focarmos no conceito de “poder”, essa aparência de contradição some. Note, nossa questão central é: Deus, um ser imortal, pode morrer? Perceba como, em essência, estamos tentando decifrar o que Deus pode ou não pode (sua onipotência) antes de saber acerca do morrer ou não morrer. A chave desta questão não está na imortalidade e mortalidade, pois estes dois conceitos são muito claro para todos nós. A questão é saber acerca da capacidade ou não (onipotência) de Deus experimentar realidades inerentemente humanas.

Sabendo-se que a morte é uma realidade da natureza humana, pois qualquer ser humano é mortal, coisa que se aprende das primeiras aulas de lógica formal clássica do célebre exemplo com Sócrates, então o que precisamos saber é se Deus é capaz de experimentar a morte (se ele pode). É possível ou impossível para Deus experimentar a realidade humana da morte? Se entendermos que na encarnação Deus experimentou realidades humanas, isso não parece impossível mesmo que ele seja imortal.

A grande dificuldade com esta questão se dá porque pensamos que Deus experimenta as realidades humanas em Cristo da mesma forma que o ser humano experimenta. Cristo-Deus experimentou todas as realidades limitantes da natureza humana, mas não da mesma forma como um ser humano experimenta. Todo ser humano pode morrer. Todos nós temos a capacidade de morrer. Aliás, todo ser humano pode cometer suicídio. A morte é uma condição inerente à natureza humana. Contudo, uma vez que a morte é inerente a humanidade, o ser humano não tem a opção de escolher não morrer, de ser imortal, pois ser imortal é não ser cem por cento homem. Isto mostra que esse poder humano de morrer lhe é um “poder passivo”, isto é, um poder que temos, mas o qual não controlamos. Repito, a morte para o homem é apenas um poder passivo, uma condição inerente que lhe torna homem a qual ele não pode inerentemente abdicar.

O modo como Deus lida ou experimenta a morte na forma de Cristo-Deus deve ser logicamente diferente, pois Deus é imortal. Se a mortalidade é inerente ao homem, para Deus, o que lhe é inerente é a imortalidade. Isto significa que Deus só pode experimentar a morte do ponto de vista do “poder ativo”. Se o homem experimenta a morte passivamente (poder passivo, sem controle), Deus experimenta a morte ativamente (poder ativo, com controle). Noutras palavras, mesmo Deus sendo imortal, ele pode experimentar a morte, se assim o desejar (poder ativo o qual ele controla) porque é inerentemente imortal. Deus é o criador da água, mas teve sede. Deus é imortal, mas quis evitar a morte no Getsêmani. Imagina-se que um imortal não tenha medo da morte. Simplesmente, desde aquele jardim, Cristo-Deus já experimentava voluntariamente (poder ativo) essa realidade humana.

Note, Deus é o criador do tempo e do espaço, mas experimenta o passado, presente e futuro e se locomove entre suas criaturas. Isto, porém, não porque, como nós, ele está limitado (poder passivo) ao tempo e ao espaço, mas porque deseja experimentar o que experimentamos para se relacionar conosco (poder ativo). Esta é a mesma lógica a se empregar para entendermos a morte de Deus. Deus é imortal mesmo que tenha morrido, pois a morte não está acima dele como está para nós. Deus simplesmente quis experimentar essa realidade (poder ativo) para cumprir sua promessa de que pagaria o preço do pecado no lugar do homem.

Pequenos entraves em Ellen White

Os mais inteirados neste assunto dentro do adventismo e que defendem a imortalidade de Deus na Cruz, devem olhar para esta explicação acima e usar como carta na manga dois textos de Ellen White no qual ela parece afirmar com todas as letras que apenas a humanidade morreu. O primeiro deles é este:

Quando a voz do arcanjo foi ouvida dizendo, “Teu Pai te chama”, Aquele que tinha tido, “Eu dou minha vida para tomá-la novamente”, “Destruo este templo, e em três dias eu o levantarei novamente”, saiu do tumulo para a vida que estava nele próprio (Jo 10:17; 2:19). A Divindade não morreu. A Humanidade morreu, mas Cristo agora proclama sobre o sepulcro alugado de José: “Eu Sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25). Em sua divindade Cristo possuía o poder de quebrar os laços da morte. Ele declara que tinha vida em si mesmo para vivificar a quem desejar (MS 131, 1897. Ênfase acrescida).

O segundo texto é este:

Foi a natureza humana do Filho de Maria transformada na natureza divina do Filho de Deus? Não; as duas naturezas fundiram-se misteriosamente numa só pessoa: o homem Cristo Jesus. NEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. Quando Cristo foi crucificado, foi Sua natureza humana que morreu. A Divindade não sucumbiu e morreu; isso teria sido impossível. Cristo, Aquele que é sem pecado, salvará todos os filhos e filhas de Adão que aceitarem a salvação que lhes é oferecida, consentindo em tornarem-se filhos de Deus. O Salvador adquiriu com Seu próprio sangue a raça caída.

Isso é um grande mistério, um mistério que não será plena e completamente compreendido em toda a sua grandeza até que ocorra a trasladação dos remidos. Então serão compreendidos o poder e a grandeza e a eficácia da dádiva de Deus ao homem. Mas o inimigo deseja que essa dádiva seja tão mistificada que se torne uma nulidade (Carta 280, 1904. Ênfase acrescida).

Em relação ao primeiro texto, nele há elementos que não me parecem esclarecer de uma vez por todas que, para Ellen White, apenas a humanidade morreu, ainda que, reconheço, essa leitura não seja a mais natural. Em primeiro lugar, o contexto é bastante claro. Ellen White está falando da ressurreição de Cristo. Todo o seu comentário é produzido a partir deste evento. Assim, é desta perspectiva que esse texto deve ser entendido. Isso ainda fica mais evidente quando percebemos que ela cita textos bíblicos que explicitamente mencionam a ressurreição de Jesus (Jo 2:19; 10:17; 11:25). Desta forma, a interpretação das palavras – “A divindade não morreu” – pode satisfatoriamente ganhar um novo sentido: de que a divindade não permaneceu morta posto que ressuscitara. Isso é reforçado por dois fatos. Primeiro, os textos bíblicos citados por ela reforçam a tese de que Jesus, o Cristo-Deus, perderia a vida e a buscaria de volta. Segundo, quando ela diz que “em sua divindade Cristo possuía o poder de quebrar os laços da morte” isso só faz sentido se a própria divindade tiver morrido. Ora, se a divindade não morreu, então como a própria divindade na ressurreição de Cristo teria quebrado os laços da morte? Uma vez que “Ele [declarara] que tinha vida em si mesmo para vivificar a quem desejar”, então entendemos que ele primariamente ressuscitou a si próprio sem, contudo, ignorar que as demais pessoas da divindade também estiveram envolvidas em todo este processo (cf. Rm 8:11; G1:1). Aliás, isso está em harmonia com essa declaração da mesma escritora: “o Salvador saiu do sepulcro pela vida que havia em Si mesmo” (DTN, p. 785).

Um outro ponto a se considerar na interpretação deste texto é a menção que ela faz à humanidade. Após dizer que “a divindade não morreu”, Ellen White diz que “a humanidade morreu”. O uso sequencial destas duas frases, naturalmente, nos induz a pensar que apenas a humanidade morreu e não a divindade por causa de uma aparente contraposição (divindade x humanidade). Contudo, quando visto pelo prisma da ressurreição, o contexto em questão, a frase – “a humanidade morreu” – pode também ser interpretada como o objeto a receber a ressurreição. Notem, esta frase é contrastada com um “mas” seguido de “Eu sou a ressurreição e a vida”. Além disso, o parágrafo termina com ela dizendo: “Em sua divindade Cristo possuía o poder de quebrar os laços da morte. Ele declara que tinha vida em si mesmo para vivificar a quem desejar”. Noutras palavras, agora com a divindade ressurreta, a humanidade morta poderia receber a vida em questão porque Cristo-Deus ressuscitara. Em suma, apesar de sua leitura natural corroborar a tese da imortalidade de Deus na Cruz, este texto não me parecer ser conclusivo porque permite outra interpretação satisfatória que respeita o contexto e o entrelaçamento das ideias presentes nas colocações e fraseologias.

O segundo texto de Ellen White é mais contundente. Ele está ainda mais próximo do posicionamento favorável à mortalidade de Deus na Cruz porque, aí, Ellen White realmente está dizendo que, na Cruz, apenas a humanidade morreu e não a divindade – “Quando Cristo foi crucificado [na Cruz], foi Sua natureza humana que morreu. A Divindade não sucumbiu e morreu [na Cruz]”. Em meu entendimento, qualquer explicação que leve esse texto a sério, mas que ao mesmo tempo defenda a mortalidade de Deus no Calvário, deve tomar um rumo de explicação diferente da explicação dada ao primeiro texto porque, aqui sim, me parece claro o posicionamento da profetisa, mensageira de Deus. O modo como as ideias embutidas nas palavras se relacionam não deixam margem para dúvida, ela está enfaticamente defendendo a imortalidade da divindade na Cruz. Sendo assim, como alguém que considera Ellen White legitimamente inspirada e mensageira de Deus, como é o meu caso, não aceitaria o que é dito neste texto? Bem, é o que vou tentar fazer agora.

A primeira coisa que precisamos entender é que este texto está sendo originalmente direcionado para responder as alegações de John Kellogg acerca das controvérsias panteístas. Isto explica por que Ellen White começou dizendo – “Foi a natureza humana do Filho de Maria transformada na natureza divina do Filho de Deus?”. O panteísmo propagado por Kellogg em sua obra “The Living Tample” propunha uma espécie de “morte da divindade” já que ao enfatizar que Deus permeia todas as criaturas, a pessoalidade de Deus era diluída em tudo e em todos. Esta ideia criava um cenário no qual Deus era simplesmente diluído no meio de suas criaturas. Ou seja, ao começar seu texto com esta indagação, Ellen White está deixando claro que não houve nenhuma diluição da divindade no meio da humanidade na pessoa de Cristo.

Disso, o que podemos seguramente concluir é que tal declaração de Ellen White ocorre por um temor que a afirmação da morte da divindade na Cruz pudesse favorecer a tese propagada por Kellogg. Isto, obviamente, abre margem para a questão: defender a mortalidade da divindade na Cruz é algo inerente ao panteísmo? De forma alguma. É logicamente possível defender essa mortalidade divina e rechaçar as ideias panteístas. Uma coisa não necessariamente leva a outra. Todo este fato mostra como Ellen White era preocupada com a defesa da verdade bíblica centrada em Cristo. Então de que forma as ideias panteístas propagadas por Kellogg ajudariam a tese de que a divindade morreu na Cruz? De forma simples e objetiva, elas não ajudam em nada. Mas ela revela que o principal foco de Ellen White não é filosofar acerca desta questão. Mostra que ela na verdade tinha receio de que uma coisa implicasse na outra. Isto fica ainda mais evidente pelo modo como Ellen White se expressa acerca dessa questão: “A Divindade não sucumbiu e morreu; isso teria sido impossível”. Notem o tempo verbal empregado, “teria sido impossível”. Não parece claro que Ellen White está apenas reconhecendo ser uma impossibilidade filosófica a mortalidade da divindade e por isso está sendo tão enfática?

Foco na revelação

Outro ponto bastante importante neste texto de Ellen White é o seu reconhecimento de que tudo “isso é um grande mistério”. Para ela, esse mistério não é ainda “plena e completamente compreendido em toda a sua grandeza”. Esta fala nos revela com muita clareza que ela está reconhecendo não compreender o assunto. Além disso, essa fala também mostra que a escritora está reconhecendo não ter recebido revelação sobre este assunto já que, caso tivesse recebido, não faria sentido dizer que tal revelação é um mistério uma vez que o conceito de revelação é justamente oposto ao conceito de mistério. Noutras palavras, estamos num cenário em que simplesmente este texto de Ellen White não responde nossa questão ainda que ele diga com todas as letras que apenas a humanidade morreu e não a divindade. Ora, então por que Ellen White resolveu falar de algo para o qual ela não recebeu revelação? Simples. Ela está agindo como sempre agiu em seu ministério profético. Ela está respondendo as alegações de Kellogg. Ela tinha a opção de se calar diante do caso. Mas dificilmente um profeta verdadeiro se omitiria de repreender o erro bíblico-teológico daquele doutor. Ellen White não está especulando nada, mesmo que reconheça não entender o assunto ou não ter recebido revelações acerca dele. Ellen White simplesmente está sendo Ellen White, a mensageira do Senhor.

A esta altura, você pode se perguntar: vamos discordar de um pensamento do profeta inspirado por Deus? A minha resposta franca e objetiva, mesmo reconhecendo seu dom profético e toda sua grande importância para o adventismo, é sim. E a razão é simples: estamos diante de um caso em que o próprio profeta verdadeiro está reconhecendo não ter revelações para este assunto. Isto deve nos fazer entender dois pontos: Primeiro, o profeta é inspirado e não existem graus de inspiração. Porém, a inspiração está a serviço da revelação e não o contrário. Quando Deus inspira alguém, um profeta, é porque Ele concedeu alguma revelação a este profeta de modo que a inspiração garanta que a revelação não seja comprometida pela humanidade do mensageiro, o profeta. A inspiração é pontual. Ela só ocorre quando a revelação deverá ser transmitida, seja oralmente ou “escrituristicamente”. O dom profético, por outro lado, ao contrário da inspiração, é algo permanente. A inspiração é apenas um aspecto de todo o ministério de um profeta. Desta forma, Ellen White continua profetisa mesmo que reconheça não ter recebido revelações quanto a este tópico. Aliás, como dito, sua resposta para Kellogg é simplesmente o profeta em ação.

Segundo ponto, o fato de não termos revelação e estarmos apenas no campo da filosofia, deve nos fazer entender e nos comportar de um determinado modo. Devemos entender que nenhuma das duas posições, mortalidade ou imortalidade da divindade na Cruz, deve ter proeminência sobre a outra porque não temos um claro “assim diz o SENHOR”. Sem essa revelação, não temos um parâmetro de julgamento pelo qual podemos com segurança afirmar qual das duas posições está certa ou errada. Só temos a filosofia a nossa disposição. Neste caso, o que podemos fazer é julgar com base nela e concluir apenas qual entendimento é filosoficamente mais satisfatório do que o outro. Eu estou convencido de que a mortalidade da divindade na cruz traz menos dificuldades do que a posição contrária, de imortalidade. Com essa consciência, agora assim podemos agir com respeito e apreço pelos demais irmãos em Cristo que divergem de nosso ponto de vista. Esse comportamento revelará, inclusive, quem não é arrogante o suficiente para achar que é o dono da verdade para um caso complexo e sem revelação divina.

Considerações finais

Por fim, caro leitor, você não só pode como até deve discordar de mim, pois não me considero o dono da verdade ainda mais para um assunto complexo e sem revelação bíblica. É possível que você tenha percebido algo em toda essa reflexão filosófica para o qual eu mesmo ainda não tenha atinado. Aliás, é com base em boa divergência, em espírito cristão, e com o coração sincero em busca da verdade, que crescemos em fé e como corpo de Cristo. Você é livre para agregar a esta minha reflexão a sua própria reflexão. Que Deus nos ilumine a todos nós hoje e sempre. Amém.

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