Caminhos da Luz e das Trevas: A Tradição dos Dois Caminhos no Tratado dos Dois Espíritos e em 2 Enoque

Caminhos da Luz e das Trevas: A Tradição dos Dois Caminhos no Tratado dos Dois Espíritos e em 2 Enoque


Andrei A. Orlov é um professor estadunidense de judaísmo e cristianismo na Antiguidade na Universidade Marquette. Ele “é especialista em Apocalipticismo e Misticismo Judaico, Judaísmo do Segundo Templo e Aseudoepígrafos do Antigo Testamento.


Tradução: Hugo Martins

O artigo “Caminhos da Luz e das Trevas: A Tradição dos Dois Caminhos no Tratado dos Dois Espíritos e em 2 Enoque” (Original em Inglês: Paths of Light and Darkness: The Two Ways Tradition in the Treatise on the Two Spirits and 2 Enoch, por Andrei Arlov.  Usado com permissão.


Caminhos da Luz e das Trevas: A Tradição dos Dois Caminhos no Tratado dos Dois Espíritos e em 2 Enoque

Na história da criação de Adão, encontrada na recensão mais longa de 2 Enoque, encontra-se uma tradição intrigante sobre as escolhas dadas ao primeiro ser humano. De 2 Enoque 30:16–17, em particular, aprende-se que, sobre a criação da humanidade, a divindade abriu diante dos protoplastos [Adão e Eva] os dois caminhos descritos como os caminhos das trevas e da luz:

“designei-lhe quatro estrelas especiais, e o chamei pelo nome de Adão e mostrei-lhe os dois caminhos, o da luz e o das trevas” (2 Enoque 30:16).[1]

Os estudiosos notaram que, aqui, a assim chamada tradição dos “dois caminhos”,[2] um  desenvolvimento conceitual proeminente tanto nos primeiros materiais judaicos quanto nos cristãos, é transmitida por meio de imagens de luz e trevas.[3] No entanto, tal expressão não é inteiramente nova, e parece ser baseada em desenvolvimentos anteriores dentro da tradição dos dois caminhos, em que a luz e as trevas se tornaram não apenas identificadas como duas alternativas para a humanidade, mas, também, receberam expressões mediadores marcantes reminiscentes das imagens de Adoil[4] e Arukhas[5] encontradas no Apocalipse Eslavônico. A fim de compreender melhor o molde específico da tradição dos dois caminhos em 2 Enoque, e sua conexão com éons protológicos de luz e trevas, devemos, então, considerar mais detalhadamente alguns dos primeiros relatos judaicos e cristãos pertencentes a essa tradição.

Testemunhos Judaicos sobre A Tradição dos Dois Caminhos

Outros estudiosos reconheceram que os desenvolvimentos iniciais da tradição dos dois caminhos já podem ser encontrados em alguns materiais bíblicos. Assim, por exemplo, Deuteronômio 30:15–19 fala sobre os caminhos da humanidade, associando-os à vida e à morte, a própria dicotomia conceitual que se tornará proeminente em formulações posteriores da tradição.[6] Jeremias 21:8, da mesma forma, fala sobre os caminhos da vida e da morte como duas escolhas para os seres humanos.[7] O molde peculiar da tradição encontrado em Siraque 33:7–15 adiciona uma camada protológica importante, ao colocar a especulação sobre duas formas no meio dos detalhes da criação do protoplasto.[8] O caráter protológico dessas reflexões se tornará um traço proeminente em desenvolvimentos posteriores da tradição dos dois caminhos, incluindo representações encontradas em O Tratado dos Dois Espíritos e em 2 Enoque. Outro testemunho encontrado em O Testamento de Asher 1:3–5 tenta internalizar a tradição dos dois caminhos ligando dois caminhos às disposições encontradas “dentro dos seios [humanos]”, um tema proeminente em 1QS também.[9]

Os primeiros materiais enóquicos também conhecem as duas escolhas da humanidade, descrevendo-as como os caminhos da retidão e da iniquidade, e associando o último caminho ao caminho da destruição.[10] Nas passagens enóquicas já se pode encontrar a identificação familiar dos dois caminhos com a vida e a morte.[11]

Certos materiais de Qumran também oferecem ao leitor vários exemplos nos quais as formulações dos dois caminhos são utilizadas.[12] Um dos exemplos mais importantes se encontra em 1QS 3: 13–4: 26, também conhecido como O Tratado dos Dois Espíritos. Neste texto, a tradição dos dois caminhos, como em 2 Enoque e alguns materiais cristãos, é transmitida por meio do imaginário luz e trevas. 1QS 3:17–21 diz:

“Ele criou o homem para governar o mundo e colocou dentro dele dois espíritos para que este andasse com eles até o momento de sua visitação: são os espíritos da verdade e do engano. Da fonte de luz procedem as gerações da verdade, e da fonte das trevas as gerações do engano. E nas mãos do Príncipe das Luzes está o domínio sobre todos os filhos da justiça; eles andam em caminhos de luz. E nas mãos do Anjo das Trevas está o domínio total sobre os filhos do engano; eles andam em caminhos de trevas.”[13]

Como se pode ver, este texto não trata apenas das noções de luz e trevas, mas também atribui a essas entidades figuras mediadoras específicas cujas designações peculiares incluem a linguagem da luz e das trevas: o Príncipe das Luzes e o Anjo das Trevas. Além disso, as porções respectivas da humanidade são agora retratadas como filhos da luz e filhos das trevas, corpos sociais controlados por seus respectivos líderes angelicais. A internalização da tradição dos dois caminhos também fica clara no Tratado pela representação dos dois espíritos lutando no coração de cada ser humano.[14]

A tradição dos dois caminhos não foi esquecida na tradição rabínica posterior, e desempenha um papel proeminente, por exemplo, na tradição targúmica palestina.[15] Assim, nas traduções targúmicas da passagem já mencionada de Deuteronômio 30, pode-se detectar ecos familiares dos dois caminhos da morte e da vida.[16]

Testemunhos Cristãos sobre A Tradição dos Dois Caminhos

A tradição judaica sobre as duas maneiras foi adotada pela tradição cristã, muitas vezes constituindo um núcleo do ensino ético cristão primitivo. Três dos testemunhos cristãos mais antigos da tradição dos dois caminhos são A Epístola de Barnabé, A Doutrina dos Apóstolos e o Didaquê. As duas primeiras testemunhas são as mais relevantes para nossa investigação, uma vez que tanto A Doutrina dos Apóstolos quanto A Epístola de Barnabé associam os dois caminhos com o imaginário luz e trevas, ao mesmo tempo que atribuem a eles figuras mediadoras angelicais.

A Epístola de Barnabé 18:1–2 diz:

“Mas nos voltemos para uma outra área do conhecimento e do ensino. Há dois caminhos de ensino e autoridade, o caminho da luz e o caminho das trevas. E a diferença entre os dois caminhos é grande. Pois para um deles são designados anjos de Deus portadores de luz, mas para o outro anjos de Satanás. E um é Senhor desde a eternidade passada até a eternidade vindoura; mas o outro é o governante da presente era de ilicitude.”[17]

Em sua análise dessa passagem, Jack Suggs observa a proeminência do contraste luz/trevas que, em sua opinião, era fundamental para a forma mais antiga da tradição dos dois caminhos.[18] Ele argumenta que “embora a dicotomia vida/morte seja conhecida tanto por 1QS quanto por A Epístola de Barnabé (20:1), a antítese luz/trevas domina tanto a introdução dos dois caminhos da A Epístola de Barnabé (18:1–3) que deve ser considerada como um marco de primitividade.”[19] Suggs também observa que o significado da tradição dos dois espíritos em A Epístola de Barnabé, e sua conexão com 1QS, argumentando que “embora 18:1-2 tenha domesticado o mito por absorver o ‘Príncipe das Luzes’ em ‘Deus’, as origens mitológicas permanecem aparentes na pluralidade de anjos em 18:1, e na oposição nitidamente dualista dos dois grupos angélicos.”[20]

Outro importante testemunho cristão primitivo da tradição dos dois caminhos é A Doutrina dos Apóstolos Latina 1:1.[21] Este texto conecta os dois caminhos com a luz e com as trevas, e, também, liga os caminhos a dois agentes espirituais, manifestando os padrões antigos também encontrados em 1QS, e em A Epístola de Barnabé.[22] Contudo, algumas das constelações conceituais presentes na Doutrina parecem ser diferentes das encontradas em 1QS e A Epístola de Barnabé. Enquanto em 1QS e A Epístola de Barnabé os mediadores espirituais estão associados à luz[23] e às trevas, às vezes refletidos em seus títulos (Príncipe das Luzes e Anjo das Trevas), aqui, eles estão associados respectivamente à retidão e à iniquidade (“. . . angeli duo, unis aequitatis, alter iniquitatis . . . [. . . dois anjos, um da justiça, outro da injustiça . . .”).[24] Suggs argumenta que a primitividade da tradição dos dois caminhos encontrada na Doutrina “é garantida pela presença no prólogo dos dois anjos, e pela caracterização dos dois caminhos como sendo ‘de luz e trevas’ (embora sua caracterização adicional como ‘da vida e da morte’ mostre um movimento em direção à eticização).”[25]

Finalmente, o terceiro testemunho importante a considerar é uma tradução concisa da tradição dos dois caminhos encontrada em Didaquê 1:1: “Existem dois caminhos, um da vida, o outro da morte, e entre os dois caminhos há uma grande diferença.”[26] Refletindo sobre a forma da tradição dos dois caminhos nesta passagem, Suggs sugere que, em comparação com a Doutrina e a Epístola de Barnabé, “o Didaquê está mais avançado na história da tradição . . . os anjos/espíritos desapareceram desde a brevíssima introdução. O contraste luz/trevas deu lugar completamente ao de vida/morte . . . Relativamente desmitologizada e eticizada, a passagem dos dois caminhos no Didaquê parece melhor formada para servir à função simples de instrução ética . . . ”[27]

Para concluir esta seção de nosso estudo que trata dos primeiros textos judaicos e cristãos sobre as tradições dos dois caminhos, é crucial notar que é apenas em 1QS, 2 Enoque, A Epístola de Barnabé e A Doutrina dos Apóstolos que as especulações dos dois caminhos estão associadas com o imaginário luz e trevas. Os estudiosos sugerem que tal convergência pode apontar para um molde antigo da tradição. Também é importante que em 1QS, A Epístola de Barnabé e A Doutrina dos Apóstolos a tradição dos dois caminhos inclui referências a dois poderes espirituais, a saber, as entidades que estão por trás dos caminhos da luz e das trevas. Inicialmente, parece que 2 Enoque se afasta dos três textos acima mencionados por não mencionar as entidades espirituais das trevas e da luz. É realmente o caso ou os mediadores dos dois caminhos ainda são encontrados em outras partes de O Apocalipse Eslavônico?

A Tradição dos Dois Caminhos em 2 Enoque

Adão e A Tradição dos Dois Caminhos

Hora retomar passagens do Apocalipse Eslavônico onde o imaginário luz e trevas estão associados à tradição dos dois caminhos. Embora alguns estudiosos proeminentes de O Apocalipse Eslavônico tenham notado certas afinidades entre 2 Enoque e A Epístola de Barnabé,[28] parece que, conceitualmente, a “tradição dos dois caminhos” de 2 Enoque está mais próxima de O Tratado dos Dois Espíritos (1QS) do que de suas contrapartes cristãs, a saber, A Doutrina do Apóstolos e A Epístola de Barnabé. A semelhança importante, aqui, é que 1QS e 2 Enoque enfocam os aspectos adâmicos peculiares que estão marcadamente ausentes em Barnabé e na Doutrina. Lembre-se de que 2 Enoque coloca a especulação dos dois caminhos no meio da história do protoplasto:

“designei-lhe quatro estrelas especiais, e o chamei pelo nome de Adão e mostrei-lhe os dois caminhos, o da luz e o das trevas” (2 Enoque 30:16).[29]

Da mesma forma, 1QS parece conectar a tradição dos dois caminhos. não apenas com o imaginário luz e trevas, mas, também, com a história do protoplasto. Assim, 1QS 3:17–19 transmite a seguinte tradição: “Ele criou o homem para governar o mundo, e colocou nele dois espíritos para que andasse com eles até o momento da sua visitação: são os espíritos da verdade e do engano.”[30] Embora o 1QS use o termo “homem” (אנוש) em vez de Adão (אדם), Huub Van de Sant e David Flusser sugerem que a forma anterior desta tradição, que está por trás da passagem do 1QS, “não era sobre ‘o humano’ e dois espíritos, mas sobre Adão a quem Deus colocou dois caminhos opostos.”[31] Van de Sant e Flusser propõem, portanto, que a leitura pré-sectária da cláusula poderia ter corrido da seguinte forma: “Ele criou Adão (םדא) para o domínio do mundo, projetando para ele dois caminhos a andar.”[32] John Collins também defende a leitura “adâmica” de 1QS 3:17, sugerindo que “o ’enōš do texto sapiencial não é outro senão o Adão de Gênesis 1:27. De fato, o termo ’enōš é usado precisamente neste contexto em 1QS 3:17 em O Tratado sobre Os Dois Espíritos: ‘ele criou ’enōš para governar o mundo’.”[33]

A tradição adâmica em 1QS é muito semelhante à encontrada em O Apocalipse Eslavônico. A este respeito, é importante destacar que tanto em O Tratado sobre Os Dois Espíritos como em 2 Enoque, as especulações adâmicas contêm referências ao domínio de Adão sobre a criação. Assim, por exemplo, 1QS 3:17 relata que a divindade “criou o homem para governar o mundo.”[34] Compare esta passagem com 2 Enoque 30:14, onde a divindade conta ao sétimo herói antediluviano sobre o domínio do protoplasto: “E coloquei na terra um segundo anjo, nobre, grande e glorioso, e o designei como governante na terra para que tivesse a minha sabedoria.”[35] Observe que ambos os testemunhos sobre o domínio do protoplasto são dados logo antes da associação do protoplasto com a tradição dos dois caminhos.

Se as alusões adâmicas estavam de fato presentes na forma inicial da tradição que está por trás da especulação encontrada em 1QS, então é possível que 2 Enoque, com sua apresentação mais transparente da tradição do protoplasto, possa estar ainda mais próximo dessa composição original.

Outra semelhança entre 1QS e 2 Enoque diz respeito à tendência de internalização da tradição dos dois caminhos. Os estudiosos notaram que em 1QS os “dois caminhos” se tornaram não apenas as opções éticas da humanidade, mas as inclinações do coração humano. Em 1QS 4:23, por exemplo, os dois espíritos lutam sua batalha no coração do homem. Estudiosos têm sugerido que no Tratado sobre Os Dois Espíritos o “mito do conflito cósmico foi psicologizado, localizando o conflito no coração humano.”[36] Uma “internalização” semelhante parece ocorrer também em O Apocalipse Eslavônico. Em particular, 2 Enoque 30:12–13 diz: “criei o homem da natureza invisível e visível. De ambas provêm sua morte, sua vida.”[37] Aqui, o imaginário familiar de morte e vida, usada muitas vezes nos testemunhos judaicos e cristãos acima mencionados para designação dos dois caminhos, torna-se duas “naturezas” do protoplasto.

Antropologia das Trevas e Luz

Além disso, como em 1QS e em 2 Enoque, tanto a luz quanto a trevas, primeiramente associadas ao protoplasto, são então projetadas em toda a raça humana. Embora o ponto crucial protológico da antropologia da luz e das trevas esteja situado em 2 Enoque 30:16–17, outras partes de O Apocalipse Eslavônico também afirmam a luz e as trevas como conceitos antropológicos. O imaginário das trevas é usado repetidamente na recensão mais longa do texto para descrever várias criaturas caídas: angelicais e humanas. Assim, por exemplo, o tema das trevas é invocado na recensão mais longa de 2 Enoque 7, onde os anjos caídos são descritos como criaturas das trevas. 2 Enoque 7:1–2 diz:

“E aqueles homens me tomaram e me conduziram ao segundo céu, e me mostraram as trevas, mais escuras que as da terra, e eu vi prisioneiros atados, vigiados, que aguardavam o grande e infinito julgamento, e esses anjos eram escuros, mais escuros que as trevas da terra, e os faziam chorar incessantemente, o tempo todo.”[38]

Nesta passagem da recensão mais longa, retratando os anjos aprisionados, o termo trevas é mencionado quatro vezes. É digno de nota, no entanto, que a recensão mais curta não se aplica ao imaginário de trevas neste contexto.[39] Encontramos uma situação semelhante no capítulo 18, quando Enoque relata seu encontro com os anjos caídos no segundo céu; aqui, novamente, a recensão mais longa menciona escuridão,[40] enquanto a recensão mais curta evita tal imaginário.

Além disso, em 2 Enoque, o imaginário de trevas é aplicado não apenas às criaturas angelicais caídas, mas também aos seres humanos. Assim, por exemplo, 2 Enoque 10, que descreve o lugar de punição para os pecadores, em ambas as recensões, é permeado pelo simbolismo das trevas:

“E aqueles dois homens me tomaram e me conduziram ao Norte, e me mostraram um lugar terrível onde havia todas as maneiras de torturas: trevas e escuridão sufocantes, nenhuma luz havia lá, mas um fogo escuro constantemente ardia no alto. E havia um rio de fogo que corria, e por todo o lugar havia fogo, e por todo lugar havia geada e gelo, sede e tremores, enquanto que as penas eram muito cruéis.”[41]

Esses repetidos testemunhos sobre a punição dos ímpios nos reinos das trevas evocam, para o leitor, 1QS 4:12–14, que descreve a punição daqueles que andam no caminho das trevas, pelas mãos dos anjos da destruição, “no fogo das regiões dos abismos das trevas”.[42]

Além disso, em 2 Enoque, as conexões antropológicas são feitas, não apenas com respeito ao imaginário de trevas, mas, também, com respeito ao simbolismo da luz. Enquanto as criaturas caídas são retratadas com o imaginário de escuridão, as não corrompidas são retratadas com o imaginário de luz. Assim, a condição paradisíaca original de Adão é descrita na recensão mais longa usando o simbolismo da luz. Sobre isso, 2 Enoque 31:2 diz: “[A] luz que nunca escurece estava perpetuamente no paraíso.”[43] A condição paradisíaca final dos justos é novamente descrita por meio do imaginário de luz. Em ambas recensões de 2 Enoque 65, então, a condição paradisíaca do remanescente justo é novamente descrita usando o simbolismo da luz:

“Mas eles constituirão uma única era. Haverá um regozijo, e todos os justos que escaparem do grande julgamento do Senhor serão unidos em um grande regozijo, pois para os justos o grande regozijo começará, e viverão eternamente, e entre eles não haverá trabalho braçal, doença, humilhação, ansiedade, necessidade, violência, noite, trevas, mas sim a grande luz. E eles terão uma grande e indestrutível luz, e um brilhante e incorruptível paraíso, pois que todas as coisas corruptíveis passarão e haverá vida eterna.”[44]

 Finalmente, é digno de nota que o último exemplo da dicotomia trevas/luz em nosso texto aparece na conexão com Enoque, que é descrito como a contraparte escatológica do Adão pré-lapsariano. Assim, por exemplo, na tradução da biografia terrestre de Enoque encontrada em 2 Enoque 68, o elemento das trevas é especificamente mencionado.[45] Contudo, a partida final do sétimo herói antediluviano da Terra é então descrita em 2 Enoque 67:1–2 como a transformação paradoxal das trevas em luz:

“Senhor enviou as trevas para a terra, e as trevas se estabeleceram, cobrindo aqueles homens que ali se encontravam falando com Enoque, e Enoque foi levado para o céu mais elevado, onde se encontra o Senhor, que o recebeu e o colocou diante de sua face, e as trevas deixaram a terra, e a luz voltou novamente.”[46]

Essas metamorfoses das trevas para a luz não parecem coincidências, pois Enoque, que é entendido em nosso texto como a contraparte escatológica do protoplasto, transformado no céu na criatura celeste luminosa, instancia tanto a antiga natureza luminosa de Adão quanto o estado luminoso dos justos no éon final. A transformação de Enoque lembra, também, a tradição encontrada em 1QS 4:22–23, onde os justos herdam toda a glória de Adão.[47]

Mediadores da Luz e das Trevas

Embora a passagem sobre a tradição dos dois caminhos em 2 Enoque 30 tenha recebido alguma atenção dos estudiosos, muitas vezes foi estudada isoladamente das correntes conceituais encontradas em outras partes do texto eslavônico. Estudiosos que tentaram explorar a tradição dos dois caminhos O Apocalipse Eslavônico, foram, portanto, incapazes de reconhecer a presença do imaginário das personagens mediadoras associadas aos dois caminhos, uma característica proeminente em 1QS, em A Epístola de Barnabé e em A Doutrina dos Apóstolos. Contudo, se atentarmos para outros detalhes da história protológica encontrada O Apocalipse Eslavônico, detectamos dois portentosos mediadores associados, como nos relatos acima mencionados, à luz e às trevas, e mediados por Adoil e Arukhas, respectivamente.

É hora de retornar à história de 2 Enoque sobre a díade mediadora, cuja oposição dualística é transmitida imaginário de trevas e luz.[48] Nessa narrativa, novamente, detectamos semelhanças marcantes com os testemunhos judaicos e cristãos sobre os dois caminhos, especialmente as encontradas em 1QS e A Epístola de Barnabé.

A esse respeito, é digno de nota que tanto em 1QS quanto em 2 Enoque os mediadores da luz e das trevas, representados respectivamente por dois espíritos ou dois éons, estão sob o controle da divindade.[49] Lembre-se de que em 1QS os espíritos da luz e das trevas são criados pela divindade, e em 2 Enoque ambos os éons são convocados pela divindade e desintegrados sob seu comando.[50]

Foi mencionado que em 1QS especulação dos dois caminhos é colocada no meio da especulação protológica sobre Adão. Em vista de tal conexão, é possível que o Príncipe da Luz e o Anjo das Trevas em 1QS, como Adoil e Arukhas em 2 Enoch, possam ser interpretados como personagens protológicas. Ambos os mediadores fazem a sua primeira aparição no Tratado no contexto da passagem sobre a criação de Adão, na qual Deus coloca dois espíritos dentro do protoplasto. Não está totalmente claro se esses espíritos foram criados na criação de Adão ou existiam ainda antes como entidades preexistentes semelhantes a Adoil e Arukhas em 2 Enoque. A esse respeito, a enigmática frase encontrada em 1QS 3:15 parece aludir a algumas questões preexistentes: “Antes que existissem fixou todos os seus planos.”[51] Posteriormente, em 1QS 3:25, lemos que a divindade “criou os espíritos da luz e das trevas e sobre eles estabeleceu todas as obras.” Novamente, não está claro se esses dois espíritos são entendidos como uma espécie de base para o resto da criação, como Adoil e Arukhas em 2 Enoque.

Por fim, o simbolismo de “eras” ou “éons” presente na descrição de Adoil e Arukhasz também merece nossa atenção, pois evoca a terminologia frequentemente encontrada nas especulações dos dois caminhos.[52] Observe que em A Epístola de Barnabé, por exemplo, o mediador da luz está associado a “eras” ou “éons.”[53] Assim, A Epístola de Barnabé 18:1–2 diz que “a diferença entre os dois caminhos é grande. Pois para um deles são designados anjos de Deus portadores de luz, mas para o outro anjos de Satanás. E aquele é o Senhor desde a eternidade passada até a eternidade vindoura (ἀπ ’αἰώνων καὶ εἰς τοὺς αἰῶνας [ap’ aiṓnōn kai tous aiṓnas]); mas o outro é o governante da presente era de iniquidade.” [54]

Essas fórmulas de éons apontam para peculiaridades terminológicas encontradas na descrição dos mediadores da luz e das trevas em 2 Enoque, ou seja, Adoil e Arukhas, que são abertamente rotulados como “éons” no texto eslavônico. É possível que as alusões iniciais a tradição dos dois caminhos já estejam presentes na descrição de Adoil e Arukhas como as duas “eras” primordiais. É intrigante Bart Ehrman traduzir a frase grega “ἀπ’ αἰώνων καὶ εἰς τοὺς αἰῶνας [ap’ aiṓnōn kai tous aiṓnas]”, encontrada na Epístola de Barnabé 18:2 como “desde a eternidade passada até a eternidade vindoura.”[55] Tal representação do mediador da luz conectado com os marcadores protológicos e escatológicos evoca a memória de Adoil, o éon protológico que será restaurado pelos esforços dos justos no eschaton.


Notas

[1] Andersen, “2 Enoch,” 1:152. Andersen comentou sobre a terminologia dos dois caminhos em 2 Enoque 30, observando sua conexão com os dois caminhos encontrados na Epístola de Barnabé. Ele observou que “os dois caminhos correspondem ao dualismo ético do NT, especialmente em João. A terminologia exata é encontrada na Epístola de Barnabé 17;” Andersen, 2 Enoch, 1:152.

[2] Sobre o desenvolvimento da tradição dos dois caminhos, ver P. Prigent e R.R. Kraft, Épître de Barnabé (SC, 172; Paris, 1971), pp. 12–20; P. W. Rordorf, “Un chapitre d’éthique judéo-chrétienne: les deux voies,” RSR 60 (1972), pp. 109–128; M.J. Suggs, “The Christian Two Ways Tradition: Its Antiquity, Form and Function,” em Studies in New Testament and Early Christian Literature (NTSupp., 33; e. D.E. Aune; Leiden: Brill, 1972), pp. 60–74; S. Brock, “The Two Ways and the Palestinian Targum,” em A Tribute to Geza Vermes: Essays on Jewish and Christian Literature and History (ee. R. Davies e R.T. White; JSOTS, 100; Sheffield: Sheffield Academic Press, 1990), pp. 139–152; The Didache in Modern Research (e. J.A. Draper; AGJU, 37; Leiden: Brill, 1996), pp. 8–16; G.W.E. Nickelsburg, “Seeking the Origins of the Two Ways Traditions in Jewish and Christian Ethical Texts,” em A Multiform Heritage (e. B. Wright; Atlanta: Scholars, 1999), pp. 95–108; The Didache: Its Jewish Sources and Its Place in Early Judaism and Christianity (ee. H. van de Sandt e D. Flusser; Assen: Van Gorcum; Minneapolis: Fortress, 2002), pp. 140–190.

[3] Sobre isso, ver, por exemplo, Van de Sand e Flusser, The Didache, 153; L. Stuckenbruck, 1 Enoch 91–108 (Commentaries on Early Jewish Literature; Berlin: De Gruyter, 2007), p. 248.

[4] 2 Enoque 24-25 (recensão mais longa): “Já era mesmo antes do início, pois que tudo isso eu criei do não-ser, as coisas visíveis do invisível. Ouve, Enoque, e aceita minhas palavras, pois nem a meus anjos contei meus segredos, e não lhes contei sobre seu surgimento, nem falei-lhes do meu reino infinito nem entenderam meu ato de criação, que hoje conto a ti. [Pois, antes que quaisquer coisas visíveis surgissem, eu, o único, me movia nas ao redor das coisas invisíveis, como o sol, de leste para oeste e de oeste para leste. Mas o sol tem descanso em si mesmo; contudo, não encontrei descanso, porque tudo ainda não estava criado. E tive a ideia de estabelecer um firmamento, de criar uma criação visível.] Nas partes mais baixas, ordenei que as coisas visíveis descessem do invisível, e Adoil desceu muito grande, olhei-o e ele tinha um ventre de grande luz. E eu lhe disse: Parte-te, Adoil, e deixa que o visível saia de ti. E ele partiu-se e uma grande luz saiu dele. E eu estava em meio à [grande luz]; e como a luz se faz da luz, nasceu uma grande era, e mostrou toda a criação, que eu havia pensado em criar. E eu vi que era bom. E dispus para mim um trono e sentei-me nele, e disse para a luz: Vai mais alto e firmaste acima do trono, sê um princípio para as coisas elevadas. E nada há acima da luz, e aí eu me inclinei e olhei de meu trono,” 2 (Slavonic Apocalypse of) Enoch, 1:143–145.

[5] 2 Enoque 26:1–3 (recensão mais longa): “E eu chamei o mais baixo pela segunda vez e disse: Deixa que Archas saia com força do invisível. E Archas veio, duro, pesado e muito vermelho. E eu disse: Abre-te, Archas, e nasça de você, e ele veio inacabado, uma idade veio adiante, muito grande e muito escuro, aguentando a criação de todas as mais baixas coisas, E eu vi que era bom. e disse a ele: Vai para baixo e estabelece-te, torna-te fundação para as mais baixas coisas, e aconteceu que ele desceu e fixou-se e tornou-se a fundação para as mais baixas coisas, e abaixo das trevas nada mais há;” Andersen, “2 Enoch,” 1:144.

[6] “Vejam! Hoje coloco diante de vocês a vida e o bem, a morte e o mal. Se guardarem o mandamento que hoje lhes ordeno, que amem o Senhor, seu Deus, andem nos seus caminhos e guardem os seus mandamentos, os seus estatutos e os seus juízos, então vocês viverão e se multiplicarão, e o Senhor, seu Deus, os abençoará na terra em que estão entrando para dela tomar posse. Mas, se o coração de vocês se desviar, e não quiserem ouvir, mas forem seduzidos, se inclinarem diante de outros deuses e os servirem, então hoje lhes declaro que, certamente, perecerão; não permanecerão muito tempo na terra na qual, passando o Jordão, vocês vão entrar para dela tomar posse. Hoje tomo o céu e a terra por testemunhas contra vocês, que lhes propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolham, pois, a vida, para que vivam, vocês e os seus descendentes” (Dt 30:15–19).

[7] “A este povo você dirá o seguinte: Assim diz o Senhor: Eis que ponho diante de vocês o caminho da vida e o caminho da morte” (Jr 21:8).

[8] “Por que um dia prevalece sobre outro dia, uma luz sobre outra luz, um ano sobre outro ano, provindo todos do mesmo sol? Foi a ciência do Senhor que os diferenciou, ele distinguiu os tempos e os dias de festa; Entre eles há alguns que Deus elevou e consagrou; a outros pôs no número dos dias comuns. Foi assim que Deus tirou todos os homens do solo e da terra de que foi formado Adão. Em sua grande sabedoria, o Senhor os distinguiu, e diversificou os seus caminhos. Entre eles, alguns foram abençoados e exaltados, outros foram santificados, e ele os tomou para si. Entre eles, alguns foram amaldiçoados e humilhados, os quais ele expulsou de seu lugar de exílio. Como o barro está nas mãos do oleiro, que o amolda e o dispõe, dando-lhe todas as formas que deseja, assim é o homem na mão de quem o criou, e que lhe retribuirá segundo o seu juízo. Diante do mal está o bem; diante da morte, a vida, assim também diante do justo está o pecador. Considera assim todas as obras do Altíssimo; estão sempre duas a duas, opostas uma à outra” (Eclesiástico 33:7–15).

[9] “Deus concedeu aos filhos dos homens dois caminhos: duas formas de pensar, duas linhas de ação, dois modelos e dois objetivos. Assim, tudo está em pares, um contra o outro. Os dois caminhos são o bem e o mal; concernentes a eles estão duas disposições dentro de nossos seios que escolhem entre eles;” H.C. Kee, “Testaments of the Twelve Patriarchs,” The Old Testament Pseudepigrapha (2 vols.; e. J. H. Charlesworth; New York: Doubleday, 1983–1985) 1:816–817.

[10] 1 Enoque 91:19–21 diz: “19 E agora, meu filho, eu descreverei e mostrarei a ti o caminho da retidão e o caminho da opressão. Eu novamente os apontarei para ti, para que possas saber o que está por vir. Ouvi agora, meu filho, e anda no caminho da retidão, mas evita aquele da opressão; pois todo o que anda no caminho da iniquidade perecerá para sempre;” M. Knibb, The Ethiopic Book of Enoch: A New Edition in the Light of the Aramaic Dead Sea Fragments (2 vols.; Oxford: Clarendon Press, 1978) 2:221. Associar um dos caminhos com a destruição também é encontrado em Jubileus 7:26: “E nós fomos poupados, Eu e vocês, meus filhos, e tudo o que entrou conosco na arca, e eis que eu vejo suas obras diante de mim e que vocês não tem andado na justiça: porque no caminho da destruição vocês começaram a andar, e estão se separando uns dos outros, e andam invejosos uns dos outros, e não estão em harmonia, meus filhos, cada um com seu irmão;” J. VanderKam, The Book of Jubilees (2 vols.; CSCO, 510–11; Scriptores Aethiopici, pp. 87–88; Leuven: Peeters, 1989) 2:47–48.

[11] 1 Enoque 94:1–4: “E agora me deixe exortar-te, meu filho, a amar a retidão e a andar nela; pois os caminhos da retidão são dignos de aceitação; mas os caminhos da iniquidade repentinamente falharão, e serão diminuídos. Para determinados homens de uma geração [futura] serão mostrados os caminhos da violência e da morte; mas eles se manterão afastados deles e não os seguirão. Agora, também, deixe-me exortar aqueles que são justos, para que não andem nos caminhos do mal e da opressão, nem nos caminhos da morte. Não se aproximem deles, para que não pereças, mas; mas desejas paz, E escolhei para vós mesmos a retidão, e boa vida. Andai nos caminhos da paz, para que vivais, e sejais encontrados dignos;” Knibb, The Ethiopic Book of Enoch, 2:227. A respeito do molde específico da tradição dos dois caminhos nessas passagens enóquicas, ver Stuckenbruck, 1 Enoch 91–108, pp. 246–250.

[12] Ver, por exemplo, 4Q420–22, 4Q473.

[13] The Dead Sea Scrolls Study Edition (ee. F. García Martínez e E. Tigchelaar; 2 vols.; Leiden: Brill, 1997), p. 75.

[14] 1QS 4:23: “Até agora, os espíritos da verdade e da injustiça disputam no coração do homem . . .” The Dead Sea Scrolls Study Edition, p. 79.

[15] Brock, “The Two Ways and the Palestinian Targum,” pp. 139–152.

[16] Cp, por exemplo, Targum Pseudo-Jônatas sobre Deuteronômio 30:15: “Vejam! Eu coloco diante de você hoje o caminho da vida, que é a recompensa pelo bom caminhar do justos; e o caminho da morte, que é a retribuição pelo mal caminhar dos ímpios;” Targum Pseudo-Jonathan: Deuteronomy (e. E.G. Clarke; AB, 5b; Collegeville: Liturgical Press, 1998), p. 84. Para tradição semelhante, ver, também, Targum Neofitim sobre Deuteronômio 30:19.

[17] The Apostolic Fathers (e. B.D. Ehrman; LCL 24–25; 2 vols.; Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2003), 2:75.

[18] Suggs, “The Christian Two Ways Tradition,” p. 70.

[19] Suggs, “The Christian Two Ways Tradition,” p. 70.

[20] Suggs, “The Christian Two Ways Tradition,” p. 70. Sebastian Brock também observa que nos paralelos entre 1QS e Barnabé “temos tanto a oposição da luz e das trevas quanto a ideia dos anjos de Deus/Satanás encarregados de cada caminho, correspondendo aos papéis de ‘Príncipe da Luz’ e ‘Anjo das Trevas’ em A Regra da Comunidade;” Brock, “The Two Ways and the Palestinian Targum,” p. 140.

[21] “Há dois caminhos no mundo, um da vida, outro da morte, um da luz, outro das trevas; sobre eles dois anjos são designados, um da justiça, outro da iniquidade, e entre os dois caminhos há uma grande diferença;” Van de Sandt e Flusser, The Didache: Its Jewish Sources and Its Place in Early Judaism and Christianity, p. 128.

[22] Refletindo sobre a díade angelical encontrada na Doutrina dos Apóstolos, Brock observa que “dois anjos também aparecem em Hermas, Mandatos VI.2.1. Além de 1QS, os ‘dois espíritos’ também são encontrados em O Testamento de Judá 20:1 e (por implicação) em Philo, Quaestiones em Exodum2 . . .” Brock, “The Two Ways and the Palestinian Targum,” p. 150.

[23] Assim, A Epístola de Barnabé 18:1 fala sobre os anjos portadores de luz de Deus: “φωταγωγοὶ ἄγγελοι τοῦ Θεοῦ [fōtagōgéi ángeloi theoú];” Ehrman, The Apostolic Fathers, 2:74.

[24] Van de Sandt e Flusser, The Didache: Its Jewish Sources and Its Place in Early Judaism and Christianity, p. 114.

[25] Suggs, “The Christian Two Ways Tradition,” p. 71. A hipótese de Suggs do desenvolvimento da tradição dos dois caminhos como uma eliminação progressiva de elementos dualísticos tem sido criticada por estudiosos. Sobre isso, ver Van de Sandt e Flusser, The Didache: Its Jewish Sources and Its Place in Early Judaism and Christianity, p. 141.

[26] Van de Sandt e Flusser, The Didache: Its Jewish Sources and Its Place in Early Judaism and Christianity, p. 10.

[27] Suggs, “The Christian Two Ways Tradition,” p. 71. Sebastian Brock também vê diferenças entre o Didaquê de um lado, e a Doutrina dos Apóstolos e a Epístola de Barnabé do outro. Ele observa que “enquanto o Didaquê remonta mais ou menos diretamente a Deuteronômio 30:15–19, fundido com Jeremias 21:8 (como também testemunhado na tradição do Targum Palestino), A Doutrina dos Apóstolos e A Epístola de Barnabé o fazem apenas indiretamente, por meio da intrusão da oposição moral não bíblica de luz e trevas, também encontrada em 1QS;” Brock, “The Two Ways and the Palestinian Targum,” p. 143.

[28] Andersen, “2 Enoch,” 1:152.

[29] Andersen, “2 Enoch,” 1:152. Refletindo sobre a terminologia dos dois caminhos em 2 Enoque 30, Andersen observa sua conexão com os dois caminhos encontrada na Epístola de Barnabé. Ele observou que “os dois caminhos correspondem ao dualismo ético do NT, especialmente em João. A terminologia exata é encontrada em A Epístola de Barnabé”Andersen, “2 Enoch,” 1:152.

[30] García Martínez e Tigchelaar, The Dead Sea Scrolls Study Edition, p. 75.

[31] Van de Sandt e Flusser, The Didache: Its Jewish Sources and Its Place in Early Judaism and Christianity, p. 154.

[32] Van de Sandt e Flusser, The Didache: Its Jewish Sources and Its Place in Early Judaism and Christianity, p. 154.

[33] J. Collins, Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls (Londres: Routledge, 1997), pp. 37–38. Collins posteriormente acrescenta que “toda a passagem é baseada, embora vagamente, em Gênesis 2–3;” Collins, Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls, p. 41.

[34] García Martínez e Tigchelaar, The Dead Sea Scrolls Study Edition, p. 75.

[35] Andersen, “2 Enoch,” 1:152.

[36] Collins, Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls, p. 39.

[37] 2 Enoque 30:10 (recensão mais longa). Andersen, “2 Enoch,” 1:152.

[38] Andersen, “2 Enoch,” 1:112.

[39] 2 Enoque 7: 1-2 (a recensão mais curta) diz: “E aqueles homens me levaram ao segundo céu. E eles me colocaram no segundo céu. E eles me mostraram prisioneiros sob guarda, em um julgamento incomensurável. E lá eu vi os anjos condenados chorando;” Andersen, “2 Enoch,” 1:113–115.

[40] 2 Enoque 18:3: “e atrás deles estão os que são mantidos nas grandes trevas do segundo céu;” Andersen, “2 Enoch,” 1:130

[41] Andersen, “2 Enoch,” 1:118.

[42] García Martínez e Tigchelaar, The Dead Sea Scrolls Study Edition, p. 77.

[43] Andersen, “2 Enoch,” 1:154.

[44] Andersen, “2 Enoch,” 1:192. A recensão mais curta de 2 Enoque 65: 8-11 oferece uma descrição semelhante: “Mas eles constituirão uma única era. Haverá um regozijo, e todos os justos que escaparem do grande julgamento do Senhor serão unidos em um grande regozijo, e [a era] se unirá ao mesmo tempo aos justos, e eles serão eternos, e entre eles não haverá trabalho braçal, sofrimento, aflição, nem medo da violência, dor da noite, trevas. E eles terão uma grande e indestrutível luz, e uma grande e indestrutível muralha, e um grande paraíso, a morada de uma vida eterna. Haverá um regozijo, e todos os justos que escaparem do grande julgamento do Senhor serão unidos em um grande regozijo;” Andersen, “2 Enoch,” 1:193

[45] 2 Enoque 68:4: “Durante sua vida, o homem vê sua própria natureza como algo velado, obscuro, e assim também o são sua concepção, nascimento e sua despedida desta vida;” Andersen, “2 Enoch,” 1:196.

[46] Andersen, “2 Enoch,” 1:194.

[47] 1QS 4:22–23 diz: “Pois aqueles Deus escolheu para uma aliança eterna, e a eles pertencerá toda a glória de Adão;” García Martínez e Tigchelaar, The Dead Sea Scrolls Study Edition, p. 79.

[48] O fato das categorias de luz e escuridão servir como importante dispositivo dualístico foi observado por estudiosos. Por exemplo, Mladen Popović observa que, no Tratado sobre Os Dois Espíritos, “o imaginário de luz e trevas ilustra e enfatiza a oposição dualista entre esses dois espíritos;” M. Popović, “Light and Darkness in the Treatise on the Two Spirits (1QS III 13–IV 26) and in 4Q186,” Dualism in Qumran (e. G. Xeravits; LSTS, 76; London: Continuum), pp. 148–165.

[49] Como em 2 Enoque, em O Tratado sobre Os Dois Espíritos, há uma afirmação de que tudo veio da divindade. De 1QS 3:15, aprende-se que “do Deus do conhecimento provém tudo o que há e tudo o que haverá.” Esta declaração pode ser comparada com a afirmação da divindade encontrada em 2 Enoque, onde Deus diz ao sétimo patriarca que ele é o único criador de todas as coisas. Assim, 2 Enoque 33:2–3 diz: “E agora, Enoque, todas as coisas das quais te falei, tudo que entendeste, tudo que viste das coisas celestes, tudo que viste na terra e todas as coisas que escreveste neste livro pela minha grande sabedoria, todas essas coisas eu idealizei e criei do mais alto ao mais baixo, e aqui não há conselheiro ou herdeiro de minhas criações;” Andersen, “2 Enoch,” 1:156. A intenção de tais afirmações é assegurar ao público que tudo está sob o controle da divindade.

[50] A esse respeito, Francis Andersen observa que “o dualismo de luz e escuridão surge de dois seres primordiais, Adoil e Ar(u)khas. 2 Enoque não diz que Deus os criou, mas que eles estão claramente sob seu controle. Esta luz e escuridão são cosmofísicas, não espirituais ou éticas. Eles não podem ser conectados com o dualismo dos Bogomilos;” Andersen,  “2 Enoch,” 1:145.

[51] García Martínez e Tigchelaar, The Dead Sea Scrolls Study Edition, p. 76.

[52] Estudiosos têm notado que as passagens que tratam das “tradições dos dois caminhos” às vezes contêm a terminologia de “eras”. Com relação a esta conexão, ver J. N. Rhodes, “The Two Ways Tradition in the Epistle of Barnabas: Revisiting an Old Question,” CBQ 73 (2011), pp. 802–803.

[53] “. . . ἀπ ’αἰώνων καὶ εἰς τοὺς αἰῶνας [ap’ aiṓnōn kai tous aiṓnas] . . .;” Ehrman, The Apostolic Fathers, 2:74.15”

[54] Ehrman, The Apostolic Fathers, 2:75.

[55] Ehrman, The Apostolic Fathers, 2:75.

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