Da Visão ao Sistema: Finalizando a Tarefa da Teologia Adventista. Parte 2: Teologias Bíblica e Sistemática

Da Visão ao Sistema: Finalizando a Tarefa da Teologia Adventista. Parte 2: Teologias Bíblica e Sistemática


Fernando Canale é professor de Teologia e Filosofia no Seminário Teológico Adventista da Andrews University, onde leciona desde 1985. Antes de se mudar para a Andrews University, ele foi pastor na Argentina e no Uruguai, e lecionou Filosofia e Teologia na Universidade Adventista Del Plata, na  Argentina.


Tradução: Hugo Martins

O artigo “Da Visão ao Sistema: Finalizando a Tarefa da Teologia Adventista. Parte 2: Teologias Bíblica e Sistemática” (Original em Inglês: “From Vision to System: Finishing the Task of Adventist Biblical and Systematic Theologies—Part II”), por Fernando Canale,  foi primeiramente publicado no Journal of the Adventist Theological Society da ATS (Adventist Theological Society [Sociedade Teológica Adventista]) em 2004. Usado com permissão.


No primeiro artigo desta série de três, traçamos as reviravoltas mais salientes no desenvolvimento da visão hermenêutica adventista desde suas origens até o presente. Esta visão geral resumida trouxe à luz alguns fatos importantes sobre a maneira como os adventistas fazem teologia. Para os adventistas primitivos, a doutrina do Santuário se tornou a visão hermenêutica que guia a descoberta de um sistema completo de teologia e verdade. Este sistema de teologia, por sua vez, guiou a prática do ministério e levou ao crescimento e expansão mundial da igreja adventista.

1. Revisão

Durante a segunda metade do século XX, o adventismo evangélico rejeitou a doutrina do Santuário porque contradizia sua compreensão teológica da justificação pela fé extraída do sistema protestante de teologia. Consequentemente, eles abandonaram a interpretação historicista da profecia dos pioneiros, a doutrina do Santuário e a compreensão da salvação como processo histórico. Simplificando, este setor do adventismo se convenceu de que a interpretação profética dos pioneiros e a compreensão escatológica da teologia estão erradas. Precisamos reconhecer este fato e seguir em frente.

Outra casualidade nesse processo de desenvolvimento teológico foi a substituição do princípio Sola-Tota Scriptura pelas múltiplas fontes da matriz teológica. Adventismo evangélico, então, faz teologia a partir da luz hermenêutica da justificação pela fé.1 Adventismo progressivo usa a luz hermenêutica fornecida por uma combinação do evangelho e da ciência (evolução histórico-biológica).2 Essas mudanças paradigmáticas no nível macro-hermenêutico da teologia adventista geraram mudanças dramáticas na prática do ministério, levando à carismatização do adventismo e à disposição desses setores de se unirem espiritualmente ao movimento ecumênico.

Durante o mesmo período, os adventistas bíblicos reafirmaram o princípio Sola-Tota Scriptura3 e a doutrina do Santuário,4 mas falharam em usá-los como guia hermenêutico para fazer teologia e praticar o ministério. Os resultados dessa mudança de paradigma no nível macro-hermenêutico da teologia adventista produziram um pluralismo teológico irreconciliável na teologia e prática adventistas. Este pluralismo afeta não a periferia ou o não essencial da crença, mas seu núcleo e fundamentos. Através deles, estende-se a toda a gama de crenças e práticas da igreja. No entanto, a existência e a missão da igreja requerem unidade na maneira como fazemos e ensinamos teologia em seminários, universidades e igrejas ao redor do mundo. Sem unidade de pensamento, não pode haver comunidade ou missão efetiva.5 Como a causa que gerou o pluralismo teológico é de natureza intelectual, precisamos superá-la intelectualmente.

Estão os adventistas evangélicos e progressistas certos em seus pontos de vista sobre honestidade acadêmica, busca da verdade e alcance evangelístico para audiências seculares pós-modernas? Somos compelidos a seguir o exemplo dos adventistas evangélicos e progressistas para sermos intelectualmente honestos? Podemos ser “intelectualmente honestos” enquanto ainda fazemos teologia a partir da luz hermenêutica que irradia da doutrina do Santuário e da interpretação historicista da profecia como fizeram os pioneiros? Se pudermos, o que devemos fazer no nível teológico para ver o sistema completo de teologia e verdade que eles viram? O que acontecerá se o papel hermenêutico da doutrina do Santuário condicionar a metodologia teológica? Devemos usar uma nova compreensão do método teológico6 em vez de seguir um método teológico supostamente universalmente aceito?7 Existem áreas acadêmicas que precisam de maior desenvolvimento na teologia da Igreja? Quais são as repercussões das mudanças de paradigma na metodologia teológica e no sistema para a unidade e missão da igreja? É possível alcançar pessoas secularizadas contemporâneas dentro e fora da comunidade da igreja com uma mensagem intelectualmente convincente, espiritualmente gratificante e experimentalmente satisfatória?

2. Introdução

Para responder a essas perguntas, precisamos explorar o papel da doutrina do Santuário como visão hermenêutica a partir da qual se descobre um sistema completo e harmonioso de verdade no nível acadêmico da pesquisa científica nos tempos pós-modernos. No entanto, antes de considerar esta ampla questão no próximo artigo (terceiro artigo), precisamos voltar nossa atenção neste artigo para o cenário disciplinar. Isto nos ajudará a entender onde estamos e nos dará uma ampla visão geral sobre as questões inacabadas da teologia adventista. Em um quarto artigo, veremos o papel que a teologia desempenha no ministério e na missão da igreja.

Por que o uso da doutrina do Santuário como visão hermenêutica para entender as Escrituras e seu sistema completo de verdade foi esquecido, negligenciado e substituído na erudição teológica adventista contemporânea?8 Como acontece com todos os eventos históricos, devemos assumir que o esquecimento, a negligência e a substituição contemporâneos surgem de uma variedade de causas. Aqui, quero explorar brevemente o possível papel que a matriz disciplinar da teologia adventista acadêmica tem nesta situação. Além disso, para entender o papel que a visão hermenêutica tem na teologia acadêmica, precisamos considerar o status da matriz disciplinar na teologia adventista.

Para obter uma consciência introdutória da matriz disciplinar na teologia adventista sob a orientação hermenêutica da doutrina do Santuário, darei os seguintes passos. Começaremos considerando (1) “o novo parquinho” para a atividade teológica, destacando algumas características da pesquisa teológica acadêmica em andamento nas universidades e seminários adventistas. Em seguida, veremos como (2) a separação dos caminhos teológicos se manifesta na controvérsia a respeito dos métodos histórico-gramaticais e histórico-críticos da exegese bíblica. Depois, exploraremos (3) os limites da metodologia exegética e (4) a natureza, o centro e os limites da teologia bíblica. Por fim, voltaremos nossa atenção para a teologia sistemática como uma disciplina teológica bíblica.

Em meio ao pluralismo teológico, os adventismos evangélicos, progressivos, históricos e bíblicos parecem compartilhar uma suposição comum não dita e provavelmente impensada: temos toda a verdade de que precisamos. Assim, a maioria dos adventistas não vê necessidade de estudo bíblico ou pesquisa teológica. Adventistas contemporâneos não percebem que descobrir e entender mais a verdade bíblica promoverá a unidade e a missão. O que unirá a igreja e promoverá sua missão é aplicar a verdade que já temos à nossa situação contemporânea, pensam eles. Com o tempo, “aplicar” se tornou “adaptar.” Adaptar-se é nos moldar à imagem do cristianismo carismático protestante.

Neste e no próximo artigo, gostaria de sugerir que essa suposição está errada. Em vez disso, precisamos descobrir e entender melhor a verdade bíblica. Nas Escrituras, os primeiros pioneiros adventistas descobriram a base hermenêutica para uma revolução copernicana na metodologia teológica e na compreensão da teologia cristã. Eles apenas iniciaram uma revolução que as gerações seguintes deixaram inacabada por esquecimento, substituição e negligência. Descobrir o papel hermenêutico que a doutrina do Santuário desempenha na metodologia teológica e como sua aplicação revela o sistema completo de teologia ajudará o adventismo a superar as atuais divisões teológicas. Completar a tarefa teológica que os pioneiros deixaram inacabada gerará unidade na igreja mundial e a motivará a se engajar na missão final.

3. Novo “Parquinho”

Quando a teologia adventista se mudou para o ambiente universitário, ela entrou em um novo “parquinho”, com novas regras para jogar o “jogo” teológico. Esse parquinho inclui diversas disciplinas teológicas independentes, cada uma com suas próprias metodologias, pressuposições e objetivos. Elas formam a “matriz disciplinar” da teologia cristã acadêmica. As disciplinas teológicas como as conhecemos hoje se originaram durante o Iluminismo em meados do século XVIII, quando a teologia bíblica nasceu como disciplina independente.9 Contudo, podemos traçar a primeira tentativa de fazer teologia do princípio Sola Scriptura até a Reforma Protestante.10 Antes da Reforma, os teólogos interpretavam as Escrituras e construíam os ensinamentos cristãos seguindo o que hoje conhecemos como teologia sistemática.11 Entre as disciplinas envolvidas na tarefa de fazer teologia encontramos teologia bíblica, sistemática, prática ministerial, missiologia, ética, história da teologia, história da igreja, filosofia e diversas ciências relacionadas envolvidas na prática do ministério e da missiologia.12

Como vimos brevemente no primeiro artigo, a teologia adventista começou como teologia leiga.13 Esforços intelectuais iniciais envolveram as disciplinas da história14 e da cronologia.15 No início de sua história intelectual, o academicismo adventista enfatizou “a teologia bíblica em vez da teologia sistemática dos seminários protestantes gerais.”16 A teologia sistemática era suspeita por causa de seus laços disciplinares com princípios filosóficos não-bíblicos. Naquela época, os adventistas pensavam que essa ênfase disciplinar ajudaria a manter suas crenças e experiências intimamente ligadas às Escrituras. Podemos entender facilmente a ênfase colocada na teologia bíblica se tivermos em mente o princípio Sola-Tota Scriptura sobre o qual se baseia a teologia adventista.17 A ênfase disciplinar na teologia bíblica caracteriza a educação teológica adventista em todo o mundo até o presente. Estudos em teologia sistemática eram meros resumos do ensino bíblico.

Enfatizar os estudos do Antigo e do Novo Testamento veio naturalmente para os adventistas. Envolvimento no academicismo bíblico parece ser a continuidade e o coroamento de seu compromisso com o princípio Sola-Tota Scriptura. O academicismo recém-descoberto ajudará a verificar os ensinos adventistas gerados pela reflexão “leiga” de Ellen White e dos pioneiros. A nova forma de estudar a Escritura era a exegese: “o ramo da teologia que investiga e expressa o verdadeiro sentido da Sagrada Escritura.”18

A exegese acadêmica é “científica” porque resulta da aplicação do método.19 Adventistas encontraram o academicismo usando duas metodologias exegéticas diferentes: o método gramatical-histórico originário de Lutero e da Reforma e o método histórico-crítico originário do Iluminismo.20 Adventistas bíblicos seguem o método gramatical-histórico, enquanto os adventistas progressivos seguem uma versão “modificada” do método crítico-histórico.21

Durante os últimos cinquenta anos, os estudos bíblicos se desenvolveram extensivamente em todo o adventismo bíblico. Os exegetas, usando principalmente o método gramatical-histórico da Reforma, examinaram cuidadosamente os textos bíblicos dos quais os pioneiros derivaram os pilares adventistas e a visão do santuário. Graças à pesquisa contínua, sabemos que essas doutrinas estão solidamente fundamentadas e possuem significados mais ricos e profundos do que as gerações anteriores entendiam.22

4. Divisor de Águas

A história é essencial não apenas para a compreensão adventista da profecia, mas também para a compreensão dela dos ensinamentos cristãos. Na interpretação profética, os adventismos bíblicos e históricos ainda funcionam dentro de uma tradição interpretativa historicista.23 Teologicamente, o adventismo também pensa historicamente a partir da dinâmica do Grande Conflito. Ambas as tendências assumem a presença histórica real e as atividades diretas de Deus dentro do fluxo espaço-temporal da história humana. Como veremos no próximo artigo, em ambos os campos, a teologia adventista está solitária. Nenhuma outra tradição ou escola de teologia cristã compartilha a visão adventista sobre a interpretação profética e a matriz do Grande Conflito para a teologia sistemática. Por qual motivo então? Existem razões metodológicas por trás dessa abordagem única da teologia cristã?

Método Gramático-Histórico. Exegeticamente, o adventismo bíblico opera com o método gramático-histórico. Este método assume que as Escrituras falam sobre eventos históricos reais no espaço e no tempo. Os procedimentos envolvidos no método gramático-histórico ajudam a determinar o significado dos textos bíblicos melhor do que estabelecer a realidade histórica de seus referentes. Exegetas, principalmente, assumem que as Escrituras descrevem eventos históricos como eles realmente aconteceram na história. Portanto, o método gramático-histórico foi útil para estabelecer o significado dos eventos bíblicos, mas não ajudou muito na arena teológica. Um método teológico que suplementou o exegético para determinar em que sentido as ações de um Deus espiritual atemporal e não histórico são reais. Implicitamente, então, o método gramático-histórico era incompleto e passível de correção a partir de reflexões teológicas e filosóficas. Por causa dos limites da exegese (ver abaixo, seção 5), o método gramático-histórico não é suficiente para fundamentar a interpretação historicista da profecia e a abordagem do Grande Conflito à teologia sistemática. Esta limitação metodológica pode ser um dos fatores que contribuíram para o surgimento do adventismo evangélico.

Método Crítico Histórico. Com o advento da modernidade e da consciência histórica, os exegetas adotaram o método crítico histórico de interpretação bíblica.24 Modernidade gerou mudanças paradigmáticas na epistemologia que, por sua vez, produziram uma nova forma de estudar os acontecimentos históricos. Superficialmente, a ênfase moderna na história parece confirmar a abordagem historicista da interpretação profética, da interpretação bíblica e da teologia sistemática operando no adventismo.

A metodologia crítico-histórica é compatível com o pensamento bíblico e com a teologia adventista? Devem adventistas usar o método crítico-histórico ou evitar suas conclusões e criticar suas operações epistemologicamente?25 Resumidamente, visto que a aplicação do método histórico crítico leva a uma reinterpretação do que realmente aconteceu na história, a teologia adventista não pode usá-lo sem abrir mão do princípio Sola-Tota Scriptura, e do sistema completo de teologia e verdade da revelação da visão hermenêutica do Santuário.26 Relembremos que o método crítico-histórico reinterpreta não apenas a “História de Israel,”27 mas também os atos salvíficos de Deus no Antigo e no Novo Testamento. Como resultado, dois relatos diferentes da mesma história estão em oposição: o relato “científico” do que “realmente aconteceu” decorrente da aplicação do método crítico histórico à história bíblica, e o relato bíblico do que “realmente aconteceu” a partir da perspectiva da experiência cotidiana comum da história. Em razão da história bíblica apresentar Deus agindo dentro do fluxo da história como um agente entre outros, a ciência não pode aceitá-la como real, mas apenas como um produto mitológico da imaginação religiosa.28 De fato, a ciência empírica desencadeia a reinterpretação moderna do cristianismo que atinge o fundamento, o método e o sistema da teologia cristã. Do ponto de vista científico, as Escrituras são mitos gerados pela imaginação humana e rotulados como Heilsgeschichte (História da Salvação).29 Não podemos esquecer que a crítica histórica decorre de uma compreensão estrita da realidade que nos impede de aceitar o relato bíblico dos atos de Deus na história como “reais.”’ Ademais, é a visão científica da realidade absoluta? Existe outra compreensão da realidade que fundamente a facticidade histórica do Heilsgehichte bíblico? Retornaremos a esta questão em nosso próximo artigo.

Em vez de explorar essa possibilidade nas áreas de ontologia e da epistemologia, os adventistas progressistas argumentam a favor de uma versão “modificada” do método crítico-histórico. Jerry Gladson sugere: “O estudioso bíblico adventista deve fazer uso de uma versão modificada da crítica histórica, desde que não remova o nível transcendente ou desafie a autoridade teológica e a inspiração das Escrituras.” Seu apelo, no entanto, é insuficiente em dois aspectos. Primeiro, a interpretação de Troeltsch da metodologia crítico-histórica não se baseia em pressuposições naturalistas, mas assume a transcendência divina.30 Segundo, existem várias maneiras de interpretar a inspiração da Bíblia. Por exemplo, Paul J. Achtemeier sugere que a inspiração do Espírito Santo agiu não em autores individuais, mas na comunidade seguindo o processo evolutivo descrito por estudiosos crítico-históricos.31 De acordo com sua visão, a “inspiração” das Escrituras significa a direção do Espírito Santo na comunidade à medida que formou o conteúdo das Escrituras e o formulou por escrito. Assim, o método crítico-histórico pode funcionar, assumindo a transcendência de Deus e a inspiração da Escritura, sem exigir nenhuma modificação substancial.32

Embora Gladson faça algumas boas observações sobre usos ad hoc de aspectos “suaves” da crítica histórica por alguns autores adventistas, ele não consegue explicar as diferenças entre a versão adventista modificada que ele mesmo vislumbra e a prática acadêmica real da crítica histórica no academicismo contemporâneo. Sem traçar uma linha metodológica clara na areia, os estudiosos adventistas que adotam uma “versão modificada” ainda não claramente definida da crítica histórica inevitavelmente adotarão conclusões que distorcem o pensamento bíblico, interrompem o fluxo das ações históricas de Deus e vão contra a dinâmica do Grande Conflito da teologia adventista. Conforme explicado acima, a aplicação da crítica histórica à interpretação das Escrituras e à compreensão das doutrinas cristãs requer mudanças paradigmáticas33 não apenas na compreensão da inspiração das Escrituras e do princípio Sola Scriptura que fundamenta o pensamento teológico adventista, mas também na interpretação do ser e das ações de Deus assumidos na visão hermenêutica da doutrina do Santuário.

Em busca de um Método Alternativo. Precisamos distinguir entre a crítica histórica propriamente dita e a designação guarda-chuva mais ampla de “crítica histórica”. A primeira se refere à crítica histórica dos eventos descritos nas Escrituras para averiguar sua realidade histórica.34 Este último se torna o rótulo que congrega uma variedade de estudos afins de textos bíblicos, todos assumindo os resultados do método crítico-histórico propriamente dito. Nesse sentido mais amplo, o método crítico histórico inclui uma multiplicidade de componentes ou investigações interrelacionadas das Escrituras geralmente conhecidas como “críticas.” Dentre elas encontramos, por exemplo, a crítica histórica propriamente dita, e, com base nela, a crítica da fonte, da forma, tradição, redação, social-científica, canônica, retórica, estrutural, narrativa, resposta do leitor, pós-estruturalista, feminista e socioeconômica.35 Pelo menos teoricamente, essa distinção nos permite antever a possibilidade de que as críticas enunciadas acima possam produzir resultados diferentes quando aplicadas a partir de uma abordagem diferente à investigação histórica das Escrituras. O que o adventismo bíblico considera censurável e não científico36 é o método crítico-histórico propriamente dito, e sua aberta inimizade contra a realidade histórica dos eventos bíblicos.

Se os exegetas adventistas continuarem a resolver a questão metodológica escolhendo entre os métodos histórico-gramatical e histórico-crítico, as atuais divisões no adventismo se multiplicarão e se fortalecerão. No entanto, essas são as únicas alternativas possíveis? Poderia os pensadores adventistas abordar a questão metodológica criticamente, buscando fundamentar, articular e formular uma nova metodologia exegética? Terminar a tarefa inacabada da teologia adventista requer repensar a questão da metodologia exegética. Precisamos encontrar uma nova alternativa metodológica que responda a todas as características dos textos bíblicos. A superação do presente pluralismo teológico na igreja exige uma tarefa desconstrutiva de crítica epistemológica do método crítico-histórico propriamente dito. Além disso, também precisamos nos engajar na tarefa construtiva de fundamentar e conceber um novo método histórico-científico de interpretação bíblica.37

Contundo, a pergunta é: como? Como estudamos e produzimos metodologias exegéticas? Existe uma disciplina teológica onde podemos analisar, criticar e formular novas abordagens metodológicas? A seguir, argumentarei que, para lidar seriamente com questões metodológicas, a teologia adventista precisa entrar em um novo território acadêmico. Precisamos nos engajar em uma teologia fundamental para estudar o status acadêmico da teologia, sua metodologia, disciplinas necessárias para processar seus dados e atingir seus objetivos, relações interdisciplinares internas e externas, origem do conhecimento teológico, a estrutura geral de interpretação, etc.

A questão permanece. Por que alguns estudiosos adventistas sentem tão fortemente que devemos usar o método crítico-histórico na teologia adventista, enquanto outros sentem o contrário com a mesma paixão? A resposta para esta pergunta não é simples. Parte da resposta gira em torno dos preconceitos teológicos e filosóficos explícitos ou implícitos que trazemos para a tarefa da exegese. Antes de considerá-los, precisamos nos conscientizar dos limites da metodologia bíblica e da teologia bíblica.

5. Limites da Exegese

Embora a aplicação do método histórico-gramatical de exegese e o desenvolvimento da teologia bíblica tenham fortalecido o adventismo bíblico, seu modus operandi não tem espaço para uma aplicação consistente da doutrina do Santuário como uma visão a partir da qual se descobre o sistema completo de teologia e verdade presente nas Escrituras. Compreender essas limitações metodológicas e disciplinares da erudição exegética pode nos ajudar a entender melhor o esquecimento da visão adventista e seu sistema relacionado de teologia entre os adventistas bíblicos. À medida que nossas limitações metodológicas e disciplinares pré-estabelecidas se tornarem visíveis, seremos capazes de esboçar a tarefa que nos resta: terminar a tarefa inacabada da teologia adventista e superar o presente pluralismo e estagnação no pensamento e na missão da igreja.

Prefiro que um de meus estimados e sábios colegas exegetas escreva sobre os limites da teologia bíblica. Sei que esta é uma questão delicada para muitos envolvidos na teologia adventista. A razão é simples. Da perspectiva limitada de minha experiência pessoal, não encontrei exegetas adventistas expressando a necessidade de apoio, complementação e correção de outras disciplinas teológicas, como teologias sistemáticas ou fundamentais. Meus colegas e alunos exegetas devem perceber que esta proposta não tenta desafiar, mas complementar o que eles já fazem. Alguns anos atrás, após falar sobre os limites da exegese bíblica para o clube de doutorado do Seminário Adventista do Sétimo Dia na Andrews University, um grupo de estudantes do Antigo e do Novo Testamento achou a noção ameaçadora para o academicismo e adventismo deles. Eles não explicaram o porquê. Imagino que a reação deles possa estar de alguma forma ligada ao nosso medo comum do desconhecido.

Adventismo bíblico em grande parte equipara metodologia exegética com método teológico. Esta mentalidade disciplinar implícita assume que fazemos teologia exegeticamente. Ao aplicar rigorosamente a metodologia exegética ao texto bíblico, descobrimos a verdade e a aplicamos à nossa situação atual. Em poucas palavras, para descobrir a verdade bíblica, precisamos apenas de metodologia exegética. Consequentemente, muitos estão convencidos de que, para descobrir a verdade bíblica, não precisamos de disciplinas como a teologia sistemática e fundamental. Na melhor das hipóteses, a teologia sistemática pode ser útil para apresentar de maneira ordenada os resultados que a teologia bíblica alcança por meio da metodologia exegética.38 No geral, devemos evitá-los porque podem prejudicar nossa tentativa de construir fielmente nossa teologia no princípio Sola Scriptura e na orientação hermenêutica da doutrina do Santuário. Há muitas razões para a suspeita disciplinar da teologia sistemática e da teologia fundamental construída na matriz de múltiplas fontes teológicas. Esta suspeita não deve diminuir no adventismo. Ao contrário, deve motivar um projeto intensivo de desconstrução teológica.

Aqui, porém, precisamos nos concentrar nas limitações da exegese bíblica, chamando por metodologias disciplinares complementares para acompanhá-la na descoberta da verdade bíblica. Para nossos propósitos neste artigo, precisamos apenas considerar brevemente duas limitações. Uma vem do lado dos pressupostos hermenêuticos e a outra dos dados e objeto do método exegético.

Pressuposições. Precisamos ter em mente que método é um caminho que seguimos para atingir alguns objetivos.39 Bernard Lonergan descreve corretamente o método como “um padrão normativo de operações recorrentes e relacionadas que produzem resultados cumulativos e progressivos.”40 Tecnicamente, método é um conjunto de procedimentos ou regras prescritas com o objetivo de facilitar o alcance de um objetivo.41 Como método científico, o método teológico também possui condições que regulam suas atividades, procedimentos e operações. Além dos (1) objetivos concretos que tenta alcançar, o método teológico também requer (2) dados e (3) os pressupostos e critérios hermenêuticos necessários para processar os dados e alcançar seus objetivos. Objetivos são questões que requerem interpretação e explicação teológica. Dados são as informações necessárias sobre Deus para desencadear questões que requerem explicação, produzir interpretação e construir explicações teológicas. Pressupostos hermenêuticos necessários são os princípios que orientam a interpretação e a construção teológica.42 Em suma, os objetivos do método são sua condição teleológica, os dados são sua condição material e as ideias que assumem sua condição hermenêutica. Todas as condições em estreita interação moldam os perfis concretos dos métodos teológicos e científicos.43

Os dados da exegese bíblica são os textos do Antigo e do Novo Testamento. O objetivo é entendê-los. Todavia, de onde vêm as condições hermenêuticas ou pressuposições? Há alguns anos, uma declaração oficial do Concílio Anual da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia abordando a questão do estudo da Bíblia identificou alguns dos pressupostos que usamos na tarefa de interpretação bíblica e que, portanto, fazem parte de nosso método de estudos bíblicos.44 Este documento afirma que (1) a inspiração divina da Escritura, sua autoridade sobre a razão e (3) o papel do Espírito Santo são pressuposições necessárias decorrentes das reivindicações da Escritura. O documento apenas enumera e esboça o conteúdo dessas pressuposições básicas sem explicar como chegamos a saber que são de fato pressuposições e chegamos a seus conteúdos.

Assim, fica evidente que a metodologia e os estudos exegéticos são limitados porque requerem a identificação e interpretação de algumas noções amplas e influentes que os exegetas assumem. Uma vez que o objetivo do método exegético é a compreensão dos textos bíblicos, e eles não abordam a questão do método ou de seus pressupostos, sua dependência da reflexão não exegética se torna aparente no próprio nível hermenêutico de fundamentação em que se origina. Sendo que, tradicionalmente, exegetas e teólogos derivaram suas pressuposições hermenêuticas da filosofia, a declaração da Associação Geral sobre “Métodos de Estudo da Bíblia” aconselha os estudiosos adventistas a extrair suas pressuposições da própria Escritura.45 Deve haver uma maneira acadêmica, então, de analisar, discutir, descobrir, descrever e decidir quais pressuposições são necessárias para a exegese bíblica e como devemos entendê-las com base no princípio Sola Scriptura.46 Esta tarefa requer o envolvimento de uma disciplina teológica diferente, a saber, a teologia fundamental. Retornaremos a esta questão no próximo artigo.

Textualidade. Consideremos a limitação que aparece do lado do objetivo da teologia, ou seja, a compreensão do texto. Um dos procedimentos metodológicos que a exegese deve seguir decorre da natureza de seus dados, os textos bíblicos. Tanto o método gramático-histórico quanto o crítico-histórico concordam que os textos fluem a partir de uma matriz histórica. Assim, determinar o contexto histórico fornece um quadro referencial básico para a compreensão de todos os textos bíblicos.47 A natureza histórica da escrita bíblica proíbe os exegetas de interpretar qualquer texto bíblico com base em ideias encontradas em textos bíblicos posteriores. Exegetas devem tentar olhar para o texto a partir da perspectiva ideológica do autor e do público original. Isto mostra outra limitação da metodologia exegética. Nunca seremos capazes de reconstruir todo o contexto histórico. Exegese sempre produz uma compreensão parcial dos textos. Por exemplo, a metodologia exegética não nos permite usar o conflito cósmico apresentado em Apocalipse 12:7–9 como um contexto histórico para Gênesis 1:3.48 A teologia adventista trabalha dentro da dinâmica do Grande Conflito. Compreende as Escrituras e a salvação no contexto do conflito cósmico que precede a criação de nosso planeta (Gênesis 1–2), continuando na história da Terra e terminando com a purificação final do planeta e com a sua recriação. Quando rigorosamente aplicada, a abordagem exegética (métodos gramático-histórico e crítico-histórico) não permite tal leitura da Escritura. Conflita com a sequência histórica dos textos e com o desenvolvimento do pensamento bíblico.

A limitação histórica do método exegético e a suposição acadêmica implícita de que não há outra forma acadêmica disponível para lidar com as Escrituras podem ter contribuído para o esquecimento e substituição da doutrina do Santuário como a luz hermenêutica da teologia adventista.

6. Teologia Bíblica

Quando definimos o empreendimento teológico a partir do princípio Sola-Tota Scriptura, a necessidade e o papel da metodologia exegética e da teologia bíblica não estão em questão. Sem elas, a teologia adventista não pode existir. Contudo, o adventismo precisa desenvolver sua própria teologia bíblica ou pode confiar nas teologias bíblicas produzidas pela academia e outras denominações cristãs? Ademais, as limitações da metodologia exegética também limitam os resultados que a teologia bíblica pode alcançar?49 Especificamente, a disciplina acadêmica da teologia bíblica é o começo e o fim de nossa busca pelos significados e pela verdade das Escrituras? Compartilha ela a sua tarefa de descobrir a verdade bíblica com a teologia sistemática?

Natureza. Comecemos, primeiro, considerando a natureza da teologia bíblica. Como uma disciplina teológica, a teologia bíblica tenta entender o texto da Escritura. Começa com textos individuais e então passa para autores e livros bíblicos. O objetivo final é reunir as diversas temáticas e ensinamentos teológicos do Antigo e do Novo Testamento para delinear a teologia da Bíblia toda.50 Uma vez que esta breve enunciação da natureza e tarefa da teologia bíblica parece se encaixar no princípio Sola-Tota Scriptura da teologia bíblica adventista, esperar-se-ia que os estudiosos adventistas pudessem usar livremente as teologias bíblicas produzidas pela academia ou outras denominações cristãs.

Gerhard Hasel, estudioso do Antigo Testamento, pensava diferente. Em suas últimas publicações, ele delineou uma nova abordagem da teologia bíblica como disciplina acadêmica. A razão da proposta de Hasel é metodológica. Ele entendeu corretamente que todos os modelos de teologia bíblica são construídos sobre uma visão “funcional” das Escrituras.51 Portanto, sua proposta gira em torno da natureza e do papel da Escritura, “entendida como a norma da teologia bíblica.”52 De acordo com Hasel, a teologia bíblica não deve seguir a visão da realidade e das Escrituras que encontramos como base do método crítico-histórico e da maioria das abordagens da teologia bíblica.53 Em vez disso, “exige uma abordagem histórico-teológica que leve em conta a autorrevelação de Deus conforme incorporada nas Escrituras com todas as suas dimensões de realidade”.54

Hasel trabalha no nível em que a teologia bíblica como empreendimento intelectual gera o significado dos textos bíblicos. Como adventista, ele não ficou satisfeito com o que encontrou no mundo acadêmico porque os modelos existentes de teologia bíblica funcionam com base na suposição de que a Escritura é produto da imaginação e tradição humanas.55 Uma abordagem acadêmica diferente da Escritura aparece quando mudamos nossa compreensão da condição material do método,56 isto é, a natureza da Escritura.

Hasel vê corretamente que a teologia bíblica “tem a dupla tarefa de (1) fornecer interpretações resumidas da forma final dos documentos bíblicos individuais ou grupos de escritos e de (2) apresentar os temas longitudinais, motivos e conceitos que emergem dos materiais bíblicos.”57

Centro. Neste ponto, uma limitação estrutural da teologia bíblica como disciplina acadêmica vem à mente. Chegar a um resumo integrado da Bíblia como um todo coerente provou ser difícil devido à natureza textual da metodologia exegética. Encontrar o indescritível “centro” das Escrituras que pode reunir todas as peças do quebra-cabeça bíblico tem sido uma grande fonte de desacordo entre os estudiosos. Estudiosos da Bíblia que buscam o centro da teologia bíblica encontram pouca ajuda na metodologia exegética. Aparentemente, eles procuram por tentativa e erro. Eles identificam um tema bíblico importante e o colocam como centro para ver como funciona na prática.

Consistente com sua afirmação do princípio Sola-Tota Scriptura, Hasel nos lembra que a busca pelo centro ou chave que pode nos ajudar a tecer todas as partes da Escritura em um todo coerente deve surgir “dos próprios materiais bíblicos.”58 Por esta razão, a teologia bíblica não deve seguir a grade “Deus-homem-salvação” que os teólogos sistemáticos usam para reunir os conteúdos das Escrituras.59 Além disso, Hasel revisa as sugestões para o centro da teologia bíblica que os principais estudiosos do Antigo Testamento formularam para desempenhar o papel integrador do “centro” da teologia do Antigo Testamento. Ele os considera deficientes porque “são uma base muito limitada para construir uma teologia do AT [ou bíblica] que não relega aspectos essenciais da fé do AT [ou bíblica] a uma posição inferior e sem importância.”60

De acordo com Hasel, “Deus é o centro dinâmico e unificador do AT.”61 Todas as outras sugestões para “centro” têm em comum um aspecto de Deus ou sua atividade para o mundo ou para o homem, e, assim, inadvertidamente, apontam para Deus como centro.62 Entretanto, uma vez que Deus não é apenas o centro da teologia do Antigo Testamento, mas também, simultaneamente, o centro das teologias bíblica e sistemática, uma limitação disciplinar da teologia bíblica vem à tona. Deixe-me explicar. Pela palavra “Deus”, nos referimos tanto ao significado nos textos bíblicos quanto a uma realidade que opera na vida. A primeira pertence ao campo textual de investigação que a teologia bíblica explora. A segunda pertence ao campo ontológico das operações divinas que as teologias fundamental e sistemática exploram. No adventismo bíblico, tanto a teologia bíblica quanto a sistemática se conectam por meio de seus dados (Sola-Tota Scriptura) e seu centro (Deus).

O “Deus” que é o centro da teologia bíblica não é o significado de uma palavra, mas a natureza e a ação de uma realidade. A teologia bíblica nos ajuda a entender o significado dos textos. A teologia sistemática nos ajuda a usar nossa compreensão dos textos bíblicos (ganhamos por meio da metodologia exegética) para entender a realidade e as ações de Deus. Dessa forma, as teologias bíblica e sistemática se conectam por meio de seus dados (Escritura), objeto (Deus) e limitações metodológicas. O método da teologia bíblica nos ajuda a entender os significados dos textos por meio dos quais recebemos as informações sobre a realidade e as ações de Deus. O método da teologia sistemática nos ajuda a usar as ideias transmitidas nos textos para entender o significado das realidades. A teologia sistemática depende da metodologia exegética para entender seus dados, ou seja, os textos bíblicos que revelam a realidade e as ações de Deus. A teologia bíblica depende de uma metodologia sistemática63 para entender o significado do centro que assume ao reunir todos os materiais da Escritura.

Começamos esta seção perguntando se o adventismo bíblico pode confiar nas teologias bíblicas produzidas pela erudição. Dado que o adventismo bíblico opera a partir do princípio Sola-Tota Scriptura, ele não pode adotar livremente as abordagens da academia ou de outras denominações cristãs, desde que assumam que o conteúdo das Escrituras é produto da imaginação humana e segue o método crítico-histórico. Fidelidade ao princípio Sola-Tota Scriptura, então, requer um repensar da teologia bíblica como uma disciplina acadêmica nos moldes da proposta histórico-teológica de Hasel. No entanto, mesmo Hasel, um forte defensor da interpretação historicista da profecia apocalíptica e da doutrina do Santuário,64 não defendeu o papel hermenêutico da doutrina do Santuário como uma visão a partir da qual entender um sistema completo de teologia e verdade como Ellen White fez. Isso nos leva às limitações da teologia bíblica como empreendimento acadêmico.

Limites. As limitações da metodologia exegética consideradas acima também limitam os resultados que a teologia bíblica pode alcançar? A resposta a esta pergunta parece ser afirmativa. Por definição, a teologia bíblica é uma disciplina textual. Opera por meio do método exegético. Os limites da metodologia exegética são também limites da teologia bíblica. Essa limitação veio à tona na busca de um centro que pudesse conectar os resultados analíticos da exegese. Assim, os limites da metodologia exegética parecem colidir com o resultado teológico da teologia bíblica.

Teologia bíblica não é o lugar onde a doutrina do Santuário revela um sistema completo de teologia e verdade. Em vez disso, é o lugar onde os dados bíblicos sobre a doutrina do Santuário são processados, compreendidos e conectados ao restante dos materiais bíblicos por meio de textos sobre Deus. O fato de que a erudição adventista se desenvolveu principalmente como teologia bíblica pode ser um agente que contribui para o progressivo esquecimento e substituição da doutrina do Santuário como a visão hermenêutica adventista.

Se a teologia bíblica é a única maneira de descobrir e compreender a verdade bíblica, o papel hermenêutico que a doutrina do Santuário desempenhou no pensamento formativo dos primeiros pioneiros adventistas pode não encontrar lugar na erudição. A busca pelo centro da teologia bíblica, no entanto, sugere que a teologia bíblica compartilha com a teologia sistemática na descoberta da verdade bíblica.

7. Teologia Sistemática

Até agora, não encontramos a disciplina — ou disciplinas— acadêmica nas quais o uso dos pioneiros adventistas da doutrina do Santuário como visão hermenêutica que revela um “sistema completo de verdade, conectado e harmonioso65 que pode ser articulada e utilizada de maneira acadêmica. Talvez a ideia de “sistema” seja a chave para encontrar um lar acadêmico para o papel hermenêutico que o Santuário desempenha na teologia adventista. O sistema poderia nos ajudar a entender melhor os materiais bíblicos e descobrir a lógica interna do pensamento bíblico? Poderia a teologia sistemática ser o lar acadêmico para o sistema completo de verdade que nossos pioneiros “viram” nas Escrituras com a “visão” hermenêutica que a doutrina do Santuário lhes revelou? Com essas questões em mente, retornemos brevemente nossa atenção para a teologia sistemática.

Se a teologia sistemática é o lar acadêmico natural para o sistema completo de verdade que os primeiros pioneiros adventistas esboçaram por meio da visão hermenêutica da doutrina do Santuário, temos uma séria atualização teológica a fazer. George W. Reid relata: “Nós, adventistas, somos conhecidos por nosso trabalho intensivo em estudos bíblicos, dos quais adquirimos forte compreensão dos ensinos da Bíblia, com atenção especial à escatologia. Esta ênfase significa que nosso entendimento doutrinário tende a ser colorido por uma antecipação do retorno de Jesus no fim dos tempos. Não nos distinguimos, no entanto, em teologia sistemática, aquele empreendimento que busca integrar as verdades bíblicas em um único sistema global e abrangente.”66

Aqui nos introduziremos apenas brevemente no campo acadêmico da teologia sistemática para avaliar se ela está (1) relacionada ao papel hermenêutico da doutrina do Santuário experimentada na teologia adventista primitiva; e (2) o necessário para terminar a tarefa inacabada da teologia adventista. Com esses objetivos em mente para esta seção, devemos explorar as seguintes questões: O que é teologia sistemática? Como ela se compara e se relaciona com a teologia bíblica? Como funciona a teologia sistemática? Pode a visão hermenêutica adventista que flui da doutrina do Santuário encontrar seu lar acadêmico disciplinar na sistemática? Requer a tarefa inacabada da teologia adventista pioneirismo nesta área de erudição?

Estas questões são importantes porque o academicismo do adventismo bíblico se desenvolveu principalmente dentro da disciplina de teologia bíblica. O adventismo progressivo, em contrapartida, desenvolveu teologias bíblicas e sistemáticas. Eles desenvolvem teologia bíblica estudando textos bíblicos a partir da perspectiva geral e orientação hermenêutica do método crítico-histórico e da teologia sistemática em estreita relação com estudos em religião.67 Uma vez que os estudos sistemáticos e religiosos combinam uma multiplicidade de fontes, podemos chamá-los de bíblicos apenas em um sentido derivativo indireto. Em contraste com esta abordagem, o adventismo bíblico precisa considerar seriamente se a descoberta da verdade bíblica requer a metodologia e as contribuições de uma teologia sistemática concebida biblicamente.

Natureza. Diferentes escolas e tradições teológicas entendem a relação entre as teologias bíblica e sistemática68 de maneiras diferentes. Dentro do campo mais amplo das tradições clássicas e modernas, Brevard Childs percebeu a existência de “uma cortina de ferro” separando a teologia bíblica da sistemática.69 Nas tradições bíblicas evangélicas e bíblicas adventistas, porém, o problema é bem diferente. Em vez de diferenciação sem relação, há identificação sem distinção. Em outras palavras, muitos adventistas bíblicos e evangélicos têm dificuldade em distinguir entre teologias bíblicas e sistemáticas.70 Não devemos culpá-los. Tradicionalmente, os estudiosos adventistas que ensinam doutrinas cristãs não explicam claramente a diferença entre teologia bíblica e teologia sistemática.

De acordo com Wayne Grudem, por exemplo, a teologia sistemática estuda o que a Bíblia ensina hoje sobre qualquer tópico.71 A tarefa da sistemática consiste em “coletar e entender todas as passagens relevantes da Bíblia sobre vários tópicos e, então, resumir seus ensinamentos claramente para que saibamos no que acreditar sobre cada tópico.”72 Há pouca diferença entre as definições da tarefa da teologia sistemática e da teologia bíblica conforme descrito acima.73 A noção de Millard J. Erickson de que a teologia sistemática “contemporiza” a matéria-prima que extrai da teologia bíblica ajuda ainda menos.74 Afinal, teólogos bíblicos afirmam não apenas produzir um resumo de todos os materiais bíblicos, mas também nos dizer o que eles significam para nós hoje.75

Bruce A. Demarest e Gordon R. Lewis trazem esclarecem melhor a questão, reconhecendo que, embora as teologias bíblica e sistemática compartilhem a mesma fonte de dados, a Escritura, elas diferem em objetivo e princípio organizador.76 No objetivo, enquanto a teologia bíblica se concentra na compreensão de textos, a teologia sistemática se concentra na compreensão da realidade. Elas também diferem no princípio organizador. Enquanto a teologia bíblica segue a organização histórica do texto,77 a teologia sistemática segue uma organização “tópica” e “lógica”.78

Recentemente, Norman Gulley inovou “ao produzir a primeira verdadeira teologia sistemática de origem adventista.”79 Ele traz a tarefa da teologia sistemática para um foco mais nítido. Ao “objetivo” e princípio “organizador” de Demarest e Lewis, Gulley acrescenta o “guia hermenêutico da metanarrativa bíblica,” que ele também chama de “cosmovisão.” A metanarrativa bíblica opera como uma luz-guia orientando nossa interpretação das Escrituras e das doutrinas bíblicas. Também identifica e “corrige qualquer interpretação que não se encaixe na cosmovisão bíblica.” Finalmente, guia-nos na compreensão da lógica interna do pensamento bíblico.80 Metanarrativa-cosmovisão que Gulley tem em mente é o “Grande Conflito” entre Deus e Satanás.81 Por fim, Gulley conclui corretamente que “o centro de um sistema teológico deve ter o mesmo centro subjacente das Escrituras, se o sistema for fiel às Escrituras.”82 Dessa forma, os centros das teologias bíblica e sistemática são idênticos.

De acordo com Hasel, o centro das Escrituras é Deus. Deus, então, é o centro das teologias bíblica e sistemática. Como devemos entender a relação deste centro e a “visão de mundo metanarrativa” do Grande Conflito sobre a qual fala Gulley? Além disso, qual é a disciplina acadêmica que lida com o papel e o conteúdo da metanarrativa que a teologia sistemática assume?

Método. Estamos agora em posição de entender melhor a maneira pela qual a teologia sistemática opera. Pelo menos temos “sobre a mesa,” por assim dizer, alguns componentes da abordagem sistemática da teologia. Teologia sistemática resulta da interação de vários fatores, a saber, dados, sua interpretação e um objetivo. Estas são as condições materiais, hermenêuticas e teleológicas do método teológico.83

Quando abordamos a teologia cristã a partir do princípio Sola-Tota Scriptura, como faz o adventismo bíblico, as teologias bíblica e sistemática compartilham os mesmos dados (Escritura) e princípios hermenêuticos.84 A diferença que requer diferentes disciplinas acadêmicas, portanto, vem da condição teleológica do método. Resumidamente, a teologia bíblica é textual (tenta entender os textos bíblicos), enquanto a teologia sistemática é ontológica (tenta entender a realidade). Uma vez que exploramos brevemente a natureza textual da teologia bíblica, voltaremos nossa atenção para a natureza ontológica da teologia sistemática.

Teologia sistemática tenta entender a interrelação integrada dos seres vivos com Deus como o centro da vida. Como tal, não é um empreendimento acadêmico textual, mas ontológico. A diferença de objetivo exige uma diferença de atividades e procedimentos metodológicos. Ao longo de sua história, a teologia cristã abordou a teologia sistemática a partir de uma matriz múltipla de fontes e de uma visão hermenêutica extraída dos ensinamentos filosóficos humanos.

Adventismo bíblico, em vez disso, constrói sua compreensão da realidade e da multiplicidade da vida conforme se relaciona com Deus a partir das Escrituras como sua única fonte de luz, sabedoria e informação, e extrai sua visão hermenêutica da doutrina do Santuário. A partir dessa base, a teologia sistemática não tenta compreender as doutrinas85 das Escrituras ou as crenças da igreja,86 mas a natureza e a vida conforme se relacionam com Deus. Enquanto a teologia bíblica segue cuidadosamente as evidências e elos textuais, a teologia sistemática segue as evidências ontológicas e os elos presentes nos textos das Escrituras.

Como o objetivo ontológico conduz a busca sistemática do significado da realidade, uma interpretação e construção teológica ocorre ao interligar as múltiplas interações dos vários seres que a Escritura descreve. O centro de tais interações é a realidade e as ações de Deus. O resultado é a concepção e formulação dos ensinamentos da Igreja. O método sistemático não concebe os ensinamentos cristãos como um colar isolado e desconectado.87 A visão hermenêutica e o foco na realidade permitem à teologia sistemática descobrir a lógica interna do pensamento cristão. Acompanhar a maneira como Deus se interrelaciona com a realidade como um todo traz à tona a lógica interna das Escrituras e dos ensinamentos cristãos.

Limites. Uma limitação da teologia sistemática deriva da natureza ontológica de seu objeto. Como os teólogos sistemáticos veem seus objetos através do texto, sua metodologia não é adequada para a compreensão acadêmica dos textos. Esta limitação leva a distorções na compreensão dos dados. Assim como a metodologia exegética permite ver “menos” nos textos devido à sua responsabilidade perante a historicidade do processo de escrita e a dinâmica da comunicação textual, a metodologia sistemática permite ver “mais” no texto porque os teólogos sistemáticos o veem a partir da perspectiva da natureza ontológica de seus referentes pretendidos. Infelizmente, esse ver é responsável pela realidade da qual os textos falam e não pelo próprio texto como estrutura que comunica significado. Assim, os teólogos sistemáticos “veem” nos textos bíblicos não apenas significados não sustentados por eles, mas, às vezes, também significados que contradizem o que eles explicitamente dizem. Esta limitação da metodologia sistemática exige correções exegéticas. Metodologia sistemática se baseia nos resultados da metodologia exegética. Teólogos sistemáticos bíblicos devem usá-los para processar seus dados e desconstruir construções doutrinárias tradicionais.88 Deste modo, a teologia bíblica é a base e o corretivo permanente de uma teologia sistemática bíblica.

Outra limitação da teologia sistemática vem do lado de seus pressupostos hermenêuticos. Como teólogos bíblicos, os teólogos sistemáticos assumem a interpretação dos pressupostos hermenêuticos. Metodologias bíblicas e sistemáticas não geram a interpretação da metodologia e dos princípios hermenêuticos que assumem. Tradicionalmente, as disciplinas filosóficas da ontologia e da epistemologia têm gerado a interpretação dos princípios hermenêuticos que orientam os teólogos na construção das doutrinas cristãs. No próximo artigo desta série, argumentarei que os teólogos não devem deixar para os filósofos a interpretação desta área fundamental da teologia cristã. Em lugar disso, eles deveriam abordar a crítica e a interpretação da metodologia teológica e suas condições hermenêuticas em uma nova disciplina acadêmica independente.

Visão Hermenêutica. Nas tradições clássicas e modernas da teologia cristã, a luz hermenêutica que guia as interpretações e construções teológicas é alguma ideia filosófica ou científica.89 No adventismo bíblico, entretanto, a luz hermenêutica que guia as teologias bíblicas e sistemáticas em suas interpretações e construções flui da doutrina do Santuário.90

Consideremos brevemente um exemplo de como a doutrina do Santuário funciona como visão hermenêutica que orienta a interpretação da Escritura e a construção dos ensinamentos cristãos. Quando lemos as Escrituras com o objetivo ontológico da teologia sistemática, tentamos entender a doutrina do Santuário como uma realidade.91 À medida que os primeiros adventistas estudavam a doutrina bíblica do Santuário, eles entendiam historicamente sua realidade celestial. Isso se afastou amplamente das leituras clássicas e modernas que entendiam as realidades celestiais como atemporais e espirituais.92 A realidade temporal histórica do Santuário Celestial desempenhou um papel hermenêutico decisivo na compreensão de Daniel 8:14. Após a morte de Cristo, o Santuário do Antigo Testamento encontrou seu antítipo. Hebreus e Apocalipse mostram que após a ressurreição de Cristo, as ações redentoras de Deus fluem do Santuário Celestial. Contudo, ficou óbvio para os adventistas que a purificação do Santuário ontologicamente se referia não a uma realidade espiritual já contida no ser eterno de Deus ou em sua morte na cruz, mas a um novo ato histórico redentor que Deus realmente realizou em favor dos santos no céu por volta do nosso ano de 1844. Este vislumbre não tinha apenas implicações proféticas, mas teológicas também. Isto levou os adventistas a entender a doutrina da salvação como um processo histórico ainda em andamento.

8. Sumário

Durante os últimos cinquenta anos, a teologia adventista entrou em um novo parquinho onde os teólogos abordam o estudo das Escrituras e das doutrinas cristãs usando regras (metodologia) cuidadosamente definidas.93 Teólogos dividiram o parquinho em disciplinas. Como o adventismo está fortemente comprometido com o princípio Sola Scriptura, a disciplina acadêmica da teologia bíblica atraiu a imaginação e os esforços da maioria dos teólogos adventistas. Logo, divergências sobre a metodologia exegética dividiram os estudiosos bíblicos adventistas.94 Adventistas evangélicos e progressistas ficaram do lado do que chamam de “uma versão modificada” do método crítico-histórico. Adventistas bíblicos estão implicitamente trabalhando em uma alternativa metodológica às metodologias gramático-históricas e crítico-históricas que Gerhard Hasel chamou de “bíblico-teológica” e Richard Davidson chamou de “bíblico-histórica.”95 À medida que os estudiosos adventistas desenvolvem uma alternativa abrangente às metodologias exegéticas baseadas no princípio Sola Scriptura, os jovens estudiosos adventistas encontrarão uma maneira melhor de navegar no mundo acadêmico e usá-la para unir a teologia da igreja e compartilhá-la nos mais altos níveis acadêmicos. Deus pode usar esses esforços para espalhar a revolução teológica adventista através das barreiras denominacionais.

Metodologia exegética tem limitações. Primeiro, requer o uso de pressuposições. Precisamos estudar, avaliar e selecionar cuidadosamente as pressuposições envolvidas na metodologia exegética. A teologia fundamental fornece as ferramentas e o espaço disciplinar para tal tarefa. Segundo, a natureza textual dos dados que tenta compreender também limita a metodologia exegética. Como a metodologia exegética está intimamente ligada à história da geração dos textos, ela não pode explorar a história da salvação que os textos revelam. A teologia fundamental fornece as ferramentas e o espaço disciplinar para tal tarefa.

As fontes extrabíblicas a partir das quais todas as teologias bíblicas definem as condições da metodologia exegética deixaram a porta aberta para uma nova abordagem construída a partir de uma interpretação bíblica das condições do método. Tal abordagem é consistente e apoia plenamente a teologia bíblica adventista. Todavia, a teologia bíblica requer um centro a partir do qual se reúna as diversas questões, histórias e ensinamentos presentes nos textos bíblicos. Academicismo exegético ainda não chegou a um acordo sobre qual tema bíblico deve ser o centro. Hasel descarta corretamente todos as temáticas bíblicas e escolhe Deus como o centro da teologia bíblica. Ao unir os centros das teologias bíblica e sistemática, reconhecemos implicitamente suas limitações disciplinares estruturais e interdependência. Por conseguinte, a expressão adequada da doutrina do Santuário como visão hermenêutica de um sistema de verdade completo e harmonioso requer a contribuição de novas abordagens para teologias bíblicas e sistemáticas.

Teologia sistemática tenta entender como a realidade se relaciona com Deus. No adventismo bíblico, a sistemática difere da teologia bíblica por causa de seu objetivo. Enquanto o objetivo da primeira é ontológico (natureza e vida conforme se relacionam com Deus), o segundo é textual. Teologia sistemática bíblica explora a lógica interna do pensamento bíblico, descobrindo eventos interrelacionados e interpretados nas Escrituras. Tal tarefa ambiciosa requer o guia hermenêutico de amplos pressupostos hermenêuticos sobre a realidade que Gulley agrupa sob os rótulos de “metanarrativa” e “cosmovisão.” A tarefa da teologia sistemática revela a presença e a orientação hermenêutica de ideias amplas e de longo alcance sobre a realidade (condições hermenêuticas do método teológico) operando em todas as tradições e escolas de teologia. Tradição acadêmica cristã interpretou as ideias de longo alcance que usa como luz hermenêutica de ontologias filosóficas e científicas. A partir da perspectiva que estas amplas ideias revelam, os teólogos cristãos avançaram em suas interpretações das Escrituras e construíram os ensinamentos do cristianismo. Adventismo bíblico interpreta as mesmas ideias de longo alcance das Escrituras. Deste nível fundamental em diante, a doutrina do Santuário se torna a luz hermenêutica que guia na interpretação dessas ideias de longo alcance (condições hermenêuticas do método teológico) e na compreensão do sistema completo e harmonioso da teologia cristã.

Enquanto o papel hermenêutico da visão do Santuário dos primeiros pioneiros adventistas encontra seu lar acadêmico na teologia fundamental, o sistema completo da verdade conectada e harmoniosa encontra seu lar acadêmico na teologia sistemática. Como sugerimos, a mesma visão hermenêutica também opera, embora de forma mais implícita do que explícita, na teologia bíblica. Consideraremos o papel da doutrina do Santuário na teologia fundamental em nosso próximo artigo desta série.

9. Conclusão

Nossa breve revisão das disciplinas acadêmicas básicas envolvidas na tarefa de fazer teologia cristã no nível acadêmico nos permite responder parcialmente às questões que emolduraram nossa pesquisa.

Adventistas evangélicos e progressistas não estão corretos em sua visão de que a honestidade acadêmica requer a adoção de uma metodologia, tradição e ciência universalmente aceitas. Visto que método envolve condições que podemos interpretar de diferentes maneiras, os estudiosos adventistas não precisam considerar obrigatórias as abordagens acadêmicas e tradicionais da teologia. Pelo contrário, o compromisso adventista com o princípio Sola-Tota Scriptura requer um afastamento das fontes múltiplas tradicionais da matriz teológica e do guia hermenêutico extraído de ontologias filosóficas e científicas. Adventistas bíblicos não são obrigados a seguir o exemplo dos adventistas evangélicos e progressistas para serem intelectualmente honestos. Eles precisam, não obstante, prestar muita atenção às questões metodológicas, tradicionais, filosóficas e científicas para fundamentar, formular e explicar suas posições teológicas no mundo mais amplo da erudição.

Adventismo bíblico pode ser “intelectualmente honesto” enquanto faz teologia a partir da luz hermenêutica que irradia da doutrina do Santuário e da interpretação historicista da profecia, como fizeram os pioneiros. Isto requer extenso trabalho acadêmico que o adventismo ainda não produziu. Para ver o sistema completo de teologia e verdade que os pioneiros viram no nível acadêmico de pesquisa acadêmica, o adventismo precisa desenvolver suas próprias abordagens acadêmicas para teologias fundamentais, bíblicas e sistemáticas. Teologia bíblica possui as ferramentas para entender o texto bíblico. Teologia sistemática possui as ferramentas para descobrir e formular o sistema bíblico da verdade. Teologia fundamental possui as ferramentas para descobrir e formular a visão hermenêutica e as condições metodológicas assumidas pelas teologias bíblica e sistemática. A mais importante entre essas ferramentas é a luz hermenêutica da doutrina do Santuário. Adventistas contemporâneos precisam incorporá-la nas condições hermenêuticas do método teológico. A formulação de uma abordagem adventista para as teologias bíblicas e sistemáticas exige, portanto, um trabalho acadêmico inovador nessas áreas. A partir dessa visão hermenêutica, o adventismo será capaz de ver o sistema completo e harmonioso da verdade bíblica e formulá-lo como uma alternativa acadêmica viável. Voltaremos nossa atenção para a teologia fundamental em nosso próximo artigo desta série.


Notas

1 Esta é a abordagem hermenêutica seguida pela abordagem de Lutero para a interpretação bíblica e a construção das doutrinas cristãs. Jaroslav Pelikan explica: “Lutero às vezes poderia insistir na centralidade e na autoridade do evangelho com uma intensidade quase obsessiva, testando a prática litúrgica, o preceito ético e até o dogma teológico por esse critério, e não pela norma de conformidade com o significado literal de o texto bíblico” (The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine, 5 vols., [Chicago: U of Chicago P, 1971–1989], 4:181). Esta metodologia torna o princípio Sola Scriptura subserviente ao princípio da justificação pela fé (o entendimento de Lutero sobre o evangelho). Stephan Pfürtner conclui cautelosamente que “os reformadores, com seus apoiadores teologicamente influentes e suas comunidades, buscaram um ‘estudo’ altamente intensivo do novo paradigma, em sua estrutura interpretativa” (“The Paradigms of Thomas Aquinas and Martin Luther: Did Luther’s Message of Justificação significa uma mudança de paradigma?” em Paradigm Change in Theology, ee. Hans Küng e David Tracy [New York: Crossroad, 1991], pp. 130–160). Ver também Hans Küng, Christianity: Essence, History, and Future, trad. John Bowden (Nova York: Continuum, 1995), pp. 539–577.

2 “O pensamento teológico adventista deve ser dinamicamente tripolar — isto é, relacionado a três bases ou ‘pólos’, três preocupações fundamentais que se apoiam e limitam mutuamente em uma interação espiritual e teológica criativa. Em outras palavras, nosso pensamento sobre nossa experiência, prática e crenças religiosas deve ser uma espécie de conversa tripla” (Fritz Guy, Thinking Theologically: Adventist Christianity and the Interpretation of Faith [Berrien Springs: Andrews UP, 1999], pp. 225). Imediatamente, Guy identifica os três polos que interagem mutuamente na formação de nossa compreensão teológica daquilo em que cremos. Eles são: “O evangelho cristão, nosso centro espiritual; nosso contexto cultural, onde vivemos, adoramos, testemunhamos e servimos; e nossa herança adventista, o fundamento de nossa identidade teológica” (ibid.).

3 Para uma defesa e explicação do princípio Tota Scriptura, ver Gerhard Hasel, “The Totality of Scripture versus Modernistic Limitations,” JATS 2/1 (1991): 30–52; e Richard M. Davidson, “Biblical Interpretation,” em Handbook of Seventh-day Adventist Theology, e. Raoul Dederen, Commentary Reference Series (Hagerstown: Review and Herald, 2000), pp. 60–61.

4 Para afirmações da doutrina do Santuário e soluções de questões controversas, ver, por exemplo, Richard Davidson, “In Confirmation of the Sanctuary Message,” JATS 2/1 (1991): 93–114; William H. Shea, “When did the Seventy Weeks of Daniel 9:24 Begin?” JATS 2/1 (1991): 115–138; C. Mervin Maxwell, “In Confirmation of Prophetic Interpretation,” JATS 2/1 (1991): 139–151.

5 Por “unidade” de pensamento, não quero dizer compreensão “idêntica” de cada texto, doutrina e prática. Em vez disso, estou falando sobre concordância nos princípios básicos da metodologia teológica. Devemos comprometer novamente a teologia adventista com o princípio Sola-Tota-Prima Scriptura do adventismo primitivo. A partir dessa base, devemos discutir e pactuar a forma como iremos interpretar os princípios macro-hermenêuticos da teologia, notadamente, o princípio da realidade (ser, Deus, a natureza humana e o mundo), articulação e conhecimento. O acordo na interpretação dessas duas condições a priori do método teológico é necessário para a unidade e coerência de qualquer programa teológico. Uma vez que uma comunidade chega a um acordo implícito ou explícito sobre essas questões, a pesquisa teológica produzirá visões diferentes, mas complementares e harmoniosas. A diferença não causará divisão, mas aumentará progressivamente a perfeição de nossa compreensão da verdade divina. Ellen White também via a variedade como essencial à perfeição e a expressou por meio de uma breve metáfora. “Há variedade em uma árvore, dificilmente há duas folhas iguais. No entanto, esta variedade contribui para a perfeição da árvore como um todo” (Mensagens Escolhidas, p. 21.).

6 Porque Fritz Guy pensa que não há nenhum método teológico adventista, ele usa livremente de princípios metodológicos teológicos clássicos e modernos. Adventismo “não tem sua maneira distinta de pensar teologicamente” (ix).

7 Método teológico se correlaciona com o sistema teológico específico da teologia cristã que ele apóia. Cada sistema teológico específico depende das decisões concretas tomadas no nível de fundamentação da metodologia teológica. “As concepções de método emergem apenas no contexto de uma rede interrelacionada de crenças. Método não é simplesmente um empreendimento programático autossuficiente que pode ser facilmente abstraído do restante da teologia. Em vez disso, as decisões tomadas sobre o método da teologia informam toda a conceituação do modelo teológico e são informadas pelas conclusões teológicas que emergem desse modelo. (Stanley Grenz e John R. Franke, Beyond Foundationalism: Shaping Theology in a Postmodern Context [Louisville: Westminster John Knox, 2001], p. 12). Assim, não existe um método teológico universal, mas diversas metodologias concorrentes produzindo sistemas teológicos concorrentes.

8 Em 1980, Fritz Guy explicou com clareza que a experiência dos pioneiros com as doutrinas do Santuário “foi há 136 anos, em uma situação histórica muito diferente da nossa. Em termos de mudança tecnológica e cultural, estamos tão distantes de 1844 quanto 1844 estava da época do Novo Testamento. Vivemos na época de calculadoras eletrônicas portáteis, comunicação global instantânea (áudio e vídeo em cores) e jet lag” (Fritz Guy, “Confidence in Salvation: The Meaning of the Sanctuary,” Spectrum 11/2 (1980): 44). Ele continua explicando por que, segundo ele, o entendimento dos pioneiros sobre a doutrina do Santuário não serve para a geração dele. “Não vivemos a expectativa do Advento de 1844 ou sua amarga decepção; por mais que respeitemos os pioneiros adventistas e queiramos nos identificar com sua experiência, ela continua sendo a experiência deles, não a nossa. Portanto, devemos questionar: O que a doutrina do santuário significa para nós hoje, em 1980?” (ibid., ênfase acrescida).

9 No processo histórico que deu origem à teologia bíblica como disciplina independente, Gerhard Ebeling vê uma virada decisiva com a publicação de Gedanken von der Beschaffenheit und dem Vorzug der biblisch-dogmatischen Theologie vor der alten und neuen scholastischen [Reflexions on the Nature of Biblical Dogmatic Theology and on Its Superiority to Scholasticism Old and New] (1758), por Anton Friedrich Büsching [Word and Faith, trad. James W. Leitch (Philadelphia: Fortress, 1963], p. 87). Por este passo, a teologia bíblica deixou de ser uma disciplina subsidiária da dogmática para se tornar “uma rival da dogmática predominante [teologia escolástica]” (ibid.). A teologia bíblica “se estabeleceu como um estudo completamente independente, ou seja, como uma disciplina crítico-histórica ao lado da dogmática” em 1787 com uma palestra programática de Johann Philipp Gabler (ibid., 88; Anthony C. Thiselton, “Biblical Theology and Hermeneutics,” em The Modern Theologians: An Introduction to Christian Theology in the Twentieth Century, e. David F. Ford [Cambridge: Blackwell, 1997], 520). Gerhard Hasel dá uma data ligeiramente anterior para a independência da teologia bíblica da dogmática. “Já em 1745, a ‘teologia bíblica’ está claramente separada da teologia dogmática (sistemática) e a primeira é concebida como sendo o fundamento da última” (Old Testament Theology: Basic Issues in the Current Debate, rev. [Grand Rapids: Eerdmans, 1975], p. 18).

10 Ebeling, Word and Faith, p. 82. “Na verdade [explica Ebeling], podemos dizer que a teologia da Reforma é a primeira tentativa em toda a história da teologia de levar a sério a demanda por uma teologia baseada apenas na Sagrada Escritura” (ibid.). Para uma visão geral acadêmica da teologia reformada pós-Reforma, ver Richard A. Muller, Prolegomena to Theology (Grand Rapids: Baker, 1987), pp. 251–276.

11 Assim, nos prolegômenos de sua Summa Theologica, Tomás de Aquino não falou sobre como várias disciplinas teológicas podem trabalhar juntas, mas sobre como a teologia deve se relacionar com a filosofia (trad. Fathers of the English Dominican Province, 3 vols. [New York: Benzinger Brothers, 1947], I. 1, 1 e 4).

12 Ekkehardt Müller descreve brevemente a enciclopédia teológica em Adventist Education, “Theological Thinking in the Adventist Church,” DavarLogos 1/2 (2002): 128–129.

13 Isto não significa que eles não tivessem um método ou aplicassem um raciocínio cuidadoso ao estudo das Escrituras. O método de William Miller foi influente na teologia adventista leiga. Resumindo, ele desconfiava das interpretações tradicionais, adotou o princípio Sola Scriptura, seguiu uma interpretação literal, a menos que o contexto exigisse o contrário, extraiu suas categorias de interpretação das Escrituras e seguiu uma interpretação histórica da Profecia. Para um breve comentário sobre seu método de estudo da Bíblia, veja Richard W. Schwarz, Light Bearers to the Remnant: Denominational History Textbook for Seventh-day Adventist College Classes (Mountain View: Pacific Press, 1979), p. 32.

14 Nesta área, o trabalho de Le Roy Edwin Froom é notável. Ver The Conditionalist Faith of our Fathers: The Conflict of the Ages over the Nature and Destiny of Man (Washington: Review and Herald, 1965–66); e, Movement of Destiny (Washington: Review and Herald, 1971).

15 Nesta área, ver, por exemplo, Sylvester Bliss, Analysis of Sacred Chronology: With the Elements of Chronology and the Numbers of the Hebrew Text Vindicated (Boston: J. V. Himes, 1851); e Edwin R. Thiele, The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings, 3ª e. (Grand Rapids: Zondervan, 1983).

16 Richard W. Schwarz, Light Bearers to the Remnant, p. 489.

17 Ver Fundamental Belief 1, in General Conference of Seventh-day Adventists, Seventh-day Adventists Believe . . . : A Biblical Exposition of Fundamental Doctrines (Hagerstown: Review and Herald, 1988), p. 4.

18 J. J. Maas, “Biblical Exegesis,” em New Advent: Catholic Encyclopedia, e. K. Knight (On-line edition: http://www.newadvent.org/, 2003). “O termo exegese — explica Moises Silva — é uma forma elegante de se referir à interpretação. Implica que a explicação do texto envolveu uma análise cuidadosa e detalhada. A descrição gramatico-histórica indica, claro, que essa análise deve atentar tanto para a língua em que o texto original foi escrito quanto para o contexto cultural específico que deu origem ao texto” (Walter C. Kaiser, and Moises Silva, An Introduction to Biblical Hermeneutics: The Search for Meaning [Grand Rapids: Zondervan, 1994], p. 21).

19 Assim, Richard Davidson define a exegese como a aplicação do que ele chama de “método hermenêutico bíblico-histórico.” Exegese, então, é “a tentativa de entender o significado dos dados bíblicos usando considerações metodológicas decorrentes apenas da Escritura” (“Biblical Interpretation,” p. 94).

20 Gerhard F. Hasel, Biblical Interpretation Today (Washington, DC: Biblical Research Institute, 1985), pp. 3–6.

21 Jerry Gladson, “Taming Historical Criticism: Adventist Biblical Scholarship in the Land of the Giants,” Spectrum (April 1988): 19–34. Como resultado dessa afirmação, “temos entre os adventistas hoje basicamente duas hermenêuticas, uma a abordagem histórica adventista do sétimo dia com pequenas modificações, a outra uma hermenêutica baseada em fundamentos substancialmente diferentes conforme descrevemos acima. Esta última envolve modalidades proeminentes na crítica histórica (ou no método crítico-histórico), mas que afirma ter expurgado seus pressupostos humanísticos mais óbvios, como a negação do sobrenatural. (“Another Look at Adventist Hermeneutics,” JATS 2/1 [1991]: 72). Gladson argumenta que devemos aceitar a dinâmica de desenvolvimento histórico da crítica histórica e rejeitar seus pressupostos naturalistas (ibid., p. 22). Esta proposta, no entanto, é um espantalho. Crítica histórica na teologia bíblica sempre aceitou a transcendência divina. A transcendência, entretanto, pertence ao reino espiritual atemporal, não ao reino histórico onde a crítica histórica reescreve a história bíblica, despojando-a das ações divinas em sequências históricas no tempo. Para um estudo cuidadoso do desenvolvimento do método crítico-histórico, sua dependência de categorias filosóficas e a maneira como acomoda a transcendência divina ao reescrever a história, ver Raúl Kerbs, “El método histórico-crítico en teología: En búsca de su estructura básica y de las interpretaciones filosóficas subyacentes (Parte 1),” DavarLogos 1/2 (2002): 105–123; e, “El método histórico-crítico en teología: En busca de su estructura básica y de las interpretaciones filosóficas subyacentes (Parte II),” DavarLogos 2/1 (2003): 11–27. George Reid observa corretamente: “O cerne da questão é se é possível uma mistura da abordagem adventista histórica com a crítica histórica. Alguns argumentam que muito da crítica histórica é útil na exegese e na teologia. Em última análise, muito depende de se a crítica histórica é realmente um sistema ou se é simplesmente um conjunto de técnicas isoladas que podem ser utilizadas pragmaticamente de acordo com a utilidade individual” (ibid., 73). Infelizmente, o método não pode ser um conjunto isolado de técnicas. Mesmo afirmando a transcendência, a proposta de Gladson ainda se sustenta nos fundamentos filosóficos da crítica histórica.

22 Ver, por exemplo, a discussão acadêmica sobre a interpretação do véu no santuário celestial segundo o livro de Hebreus. Davidson apresenta a visão do adventismo bíblico em resposta aos argumentos de Young a partir da perspectiva evangélica adventista. Roy E. Gane, “Reopening Katapetasma (‘Veil’) in Hebrews 6:19,” AUSS 38/1 (2000): 5–8. Norman H. Young, “‘Where Jesus has Gone as Forerunner on our Behalf’ (Hebrews 6:20),” AUSS 39/2 (2001): 165–173. Richard Davidson, “Christ’s Entry ‘Within the Veil’ in Hebrews 6:19–20: The Old Testament Background,” AUSS 39/2 (2001): 175–190. Norman H. Young, “The Day of Dedication or the Day of Atonement? The Old Testament Background to Hebrews 6:19–20,” AUSS 40/1 (2002): 61–68. Richard Davidson, “Inauguration or Day of Atonement? A Response to Norman Young’s Old Testament Background to Hebrews 6:19–20 Revisited,” AUSS 40/1 (2002): 69–88.

23 Jon Paulien, “The End of Historicism? Reflections on the Adventist Approach to Biblical Apocalyptic—Part One],” JATS 14/2 (2003): 15–43; ver, também, Reimar Vetne, “A Definition and Short History of Historicism as a Method for Interpreting Daniel and Revelation,” JATS 14/2 (2003): 1–14.

24 Eu descobri que Steven MacKenzie e Stephen Haynes, ee., To Each Its Own Meaning: An Introduction to Biblical Criticisms and their Application (Louisville: John Knox, 1999) são uma introdução muito útil e abrangente à complexa matriz das metodologias exegéticas crítico-históricas.

25 Para uma resposta negativa, ver Edward Zinke, Historical Criticism (http://bbicalresearch.gc. adventist.org/documents/historicalcriticism.htm: Biblical Research Institute, 1981); para uma resposta positiva, ver Gladson.

26 Para um tratamento crítico do método crítico-histórico, ver, por exemplo, Gerhard Maier, The End of the Historical Critical Method, trad. Edwin W. Leverenz e Rudolph F. Norden (St Louis: Concordia, 1977); e Eta Linnemann, Historical Criticism of the Bible: Methodology or Ideology, trad. Robert W. Yarbrough (Grand Rapids: Baker, 1990).

27 Ibid., pp. 22–25.

28 Respondendo a uma acusação de que sua posição envolve relativismo, Troeltsch explica que não está falando de um processo “imanente na história humana” (ibid., p. 67). No processo evolutivo da história, argumenta Troeltsch, cada momento tem “uma relação direta com Deus que pertence apenas a ele. Eles são temporalmente discretos, mas também aproximações da Vida Absoluta” (ibid.). A partir desse terreno objetivo metafísico não histórico, “o pensamento religioso se desenvolve de maneira única. Na medida em que se apodera de todos os meios de estímulo e expressão, o pensamento religioso assemelha-se muito à imaginação artística, mas permanece distinto dela pela experiência de uma realidade sobre-humana convincente que se revela em toda parte. Toda expressão é mítica, simbólica, poética; mas na expressão apreende-se algo que traz em si de maneira especificamente religiosa sua própria necessidade interior e força compulsiva” (ibid. p. 57). Assim se origina a linguagem religiosa. Foi assim que a Escritura se originou. Claramente, a crítica histórica de Troeltsch para a investigação bíblica e o religionsgeshichtliche Methode (metodologia da história das religiões) não é “naturalista”. Ou seja, dá conta das pressuposições de “transcendência” que Gladson requer como condições necessárias para uma apropriação adventista do método crítico-histórico. Obviamente, precisamos mais do que a sugestão de Gladson de que podemos usar o método crítico-histórico apenas assumindo a “transcendência” em vez do “naturalismo” de Troeltsch (27).

29 Descrevendo a maneira pela qual a dogmática tradicional lida com a história, Ernst Troeltsch explica: “o método dogmático também afirma ser baseado na ‘história’. Mas esta não é a história comum e secular reconstruída pela historiografia crítica. É, em vez disso, uma história de salvação (Heilsgeschichte), um nexo de fatos salvíficos que, como tais, são cognoscíveis e prováveis apenas para o crente. Esses fatos têm precisamente as características opostas dos fatos que os historiadores seculares e críticos podem considerar, com base em seus critérios, como realmente ocorridos” (Religion in History, trad. James Luther Adams e Walter F. Bense [Minneapolis: Fortress, 1991], p. 21).

30 Troeltsch se baseia no transcendentalismo de Kant e no relato do encontro de revelação de Schleiermacher. Ele fala de um a priori “irracional” na razão humana. Há “uma concentração da consciência religiosa sobre si mesma em virtude do elemento objetivo-religioso incluído na subjetividade” (Religion in History, p. 59). Posteriormente, ele identifica o a priori “irracional” na razão humana com Deus. “O presente [afirma Troeltsch] é completamente preenchido pela proximidade imediata de Deus” (ibid., p. 66).

31 O pensamento evolutivo de Hegel desempenha um papel estruturante na interpretação da gestação da Escritura, segundo a matriz do método crítico-histórico (Troeltsch, Religion in History, p. 59).

32 Inspiration and Authority: Nature and Function of Christian Scripture (Peabody: Hendrickson, 1999), pp. 118–121.

33 “Dê um centímetro ao método histórico e ele levará um kilômetro. De um ponto de vista estritamente ortodoxo, portanto, parece ter certa semelhança com o diabo. Como as ciências naturais modernas, representa uma revolução completa em nossos padrões de pensamento em relação à antiguidade e à Idade Média. Assim como essas ciências implicam uma nova atitude em relação à natureza, a história implica uma nova atitude em relação ao espírito humano e suas produções no reino das ideias” (Ernest Troeltsch, Religion in History, p. 16; ênfase minha).

34 “Historiadores buscam a objetividade. Eles estão interessados em descobrir e relatar o que realmente aconteceu no passado, em vez de coletar e transmitir histórias fantasiosas, escrever ‘documentários’ ou produzir relatos revisionistas do passado para fins propagandísticos ou ideológicos” (Mackenzie e Haynes, p. 18).

35 Mackenzie e Haynes, tabela de conteúdo.

36 Ian W. Provan explica corretamente que o modelo historiográfico científico moderno que o método crítico-histórico da investigação bíblica aplica entrou em colapso (“Knowing and Believing: Faith in the Past,” em “Behind” the Text: History and Biblical Interpretation, e. Craig Bartholomew et al. [Grand Rapids: Zondervan, 2003], p. 244). Portanto, não podemos mais levar a sério seus padrões, pressupostos e procedimentos . Infelizmente, os estudiosos da Bíblia continuam a desenvolver visões metodológicas que a historiografia pós-moderna criticou e abandonou. Então, o que vem após a historiografia? Provan interpreta corretamente que “a crise em relação ao modelo científico da historiografia — e, de fato, a resposta pós-modernista autodestrutiva a esta crise — como um convite para revisitar algumas questões fundamentais sobre epistemologia” (ibid.). Em outras palavras, é preciso suspeitar que os problemas no modelo historiográfico científico moderno decorrem de erros no nível mais amplo dos pressupostos epistemológicos e ontológicos. Precisamos reavaliar nosso entendimento sobre essas questões, e, a partir delas, gerar um modelo historiográfico científico melhor que possamos aplicar ao estudo da história em geral e da história bíblica em particular.

37 Talvez seja isso que Gerhard Hasel e Richard Davidson tinham em mente quando falaram, respectivamente, de um “método bíblico teológico” e de um “método bíblico histórico.” Ver Hasel, Biblical Interpretation Today, p. 113; e, Davidson, “Biblical Interpretation,” p. 94.

38 Se uma tradição decidiu construir a teologia cristã sobre o princípio Sola-Tota Scriptura, pergunta-se sobre o papel da teologia sistemática. Se a teologia bíblica não apenas descobre o que os escritores bíblicos queriam dizer em seus dias, mas também decide o que o texto significa para nós hoje e nos apresenta um relatório completo da teologia interconectada do Antigo e do Novo Testamento, existe alguma necessidade de teologia sistemática? A resposta parece ser não. Sobre isso, ver meu artigo “Is There Room for Systematics in Adventist Theology,” JATS 12/2 (2001): 110–131.

39 Fernando Canale, “Evolution, Theology and Method Part I: Outline and Limits of Scientific Methodology,” AUSS 41/1 (2003): 65–100. 70–71

40 Method in Theology (Toronto: U of Toronto P, 1990), p. 5. Ele ainda explica que “existe método, então, onde há operações distintas, onde cada operação está relacionada com as outras, onde o conjunto de relações forma um padrão, onde o padrão é descrito como a maneira certa de fazer o trabalho, onde operações de acordo com o padrão podem ser repetidas indefinidamente, e onde os frutos de tal repetição não são repetitivos, mas cumulativos e progressivos” (Ibid., p. 4). Consequentemente, Lonergan organiza seu discurso sobre o método como uma identificação e explicação das operações envolvidas na tarefa de fazer teologia (Ibid., pp. 6–25). John Macquarrie concorda com a definição de método de Lonergan, mas aplica ela de maneira diferente à tarefa da teologia (Principles of Christian Theology, p. 33).

41 René Descartes explicou que “Por método, eu entendo regras certas e simples, de modo que, se um homem as observar com precisão, nunca assumirá o que é falso como verdadeiro e nunca gastará seus esforços mentais sem propósito, mas sempre aumentará gradualmente seu conhecimento e assim chegar a uma verdadeira compreensão de tudo o que não supera seus poderes” (“Rules for the Direction of the Mind,” em Great Books of the Western World, e. Robert Maynard Hutchins [Chicago: Encyclopaedia Britannica, 1952], p. 5).

42 Por “construção” quero dizer o procedimento a partir do qual chegamos a conclusões e ensinamentos conectando textos e ideias. Isso ocorre na exegese, mas em grau maior nas teologias bíblicas e sistemáticas.

43 Para maiores esclarecimentos sobre as condições do método teológico, ver meu artigo “Interdisciplinary Method in Christian Theology? In Search of a Working Proposal,” Neue Zeitschrift für Systematische Theologie und Religionsphilosophie 43/3 (2001): 371–375; e, Kwabena Donkor, Tradition, Method, and Contemporary Protestant Theology: An Analysis of Thomas C. Oden’s Vincentian Method (Lanham: U P of America, 2003), pp. 43–74.

44 Concílio Anual do Comitê da Conferência Geral, “Métodos de Estudo da Bíblia: Pressuposições, Princípios e Métodos” (Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Bíblica, 1986).

45 Ibid.

46 Gerhard Hasel indica corretamente que na teologia adventista, “pressuposições devem estar constantemente abertas para modificação e ampliação com base nas Escrituras. Qualquer pré-entendimento vinculado a conceitos como naturalismo com seu universo fechado de uma rede imanente de causa e efeito, à evolução com seus axiomas desenvolvimentistas ou ao cientificismo, humanismo, racionalismo ou relativismos é estranho à Bíblia. A Palavra de Deus não deve ser forçada a se adequar a tais conceitos estranhos ou suas pressuposições” (Biblical Interpretation Today, p. 104).

47 Davidson, “Biblical Interpretation,” pp. 70–74.

48 É verdade que os estudiosos do Antigo Testamento não podem ignorar completamente a existência do Novo Testamento conforme interpretam o Antigo Testamento (Gerhard F. Hasel, “Proposals for a Canonical Biblical Theology,” AUSS 34/1 (1995): 25–26. Os estudiosos do Antigo Testamento não podem usar a teologia e os dados do Novo Testamento como pressuposições hermenêuticas para encontrar o significado histórico teológico do texto do Antigo Testamento. Teólogos bíblicos, no entanto, podem usar temáticas, tipos e teologia do Antigo Testamento para determinar o significado das passagens do Novo Testamento. Por exemplo, Richard Davidson usa de forma convincente a cerimônia de inauguração do Santuário do Antigo Testamento para determinar o significado da entrada de Cristo no Santuário celestial após sua ressurreição, conforme apresentado em Hebreus 6:19–20. (“Christ’s Entry ‘Within the Veil’ in Hebrews 6:19–20: The Old Testament Background,” pp. 175–190); e, “Inauguration or Day of Atonement? A Response to Norman Young’s Old Testament Background to Hebrews 6:19–20 Revisited,” pp. 69–88.

49 Até agora, consideramos apenas alguns exemplos de limitações no método exegético. Mais adiante abordaremos outras limitações vindas do lado do objetivo da metodologia exegética e da teologia bíblica.

50 Ekkehardt Müller relata que a teologia bíblica “começa com a teologia de um livro ou autor bíblico, por exemplo, a teologia de Marcos. Qual ênfase teológica aparece em seu evangelho? Como se desenvolveu? O que o autor quer dizer? Das teologias de livros bíblicos individuais, os estudantes das Escrituras se movem em direção a uma teologia do AT e uma teologia do NT, respectivamente, e finalmente em direção a uma teologia bíblica. Teologia bíblica permanece estritamente com o texto bíblico e não levanta questões que são importantes hoje, mas não são diretamente abordadas na Bíblia” (“Theological Thinking in the Adventist Church,” DavarLogos 1/2 [2002]: 129).

51 Para uma explicação estendida fundamentando a visão “funcional” das Escrituras, ver, por exemplo, Garrett Green, Imagining God: Theology and the Religious Imagination (San Francisco: Harper & Row, 1989).

52 “Proposals for a Canonical Biblical Theology,” AUSS 34/1 (1996): 23.

53 Para breves introduções acadêmicas a vários modelos de teologia do Antigo Testamento, ver Brevard Childs, Biblical Theology of the Old and New Testaments: Theological Reflection on the Christian Bible (Minneapolis: Fortress, 1992), pp. 11–51.

54 Ibid., p. 26.

55 Incluindo a “abordagem canônica de Childs à teologia bíblica” (ibid.).

56 Sobre o lugar da condição material no método teológico, ver acima e nota de rodapé 43.

57 Ibid., p. 29.

58 Old Testament Theology: Basic Issues in the Current Debate, p. 98.

59 Ibid.

60 Alguns dos centros propostos que Hasel revê para a teologia bíblica são “aliança” (Eichrodt), “eleição” (Wildberger), “comunhão” (Vriezen), “promessa” (Kaiser), “o reino de Deus” (Klein), “ o governo de Deus” (Seebass), “santidade” (Hänel), “experiência” de Deus (Baab), “Deus é o Senhor” (Köhler). Ibid., p. 99.

61 Ibid., p. 100.

62 Ibid., p. 99.

63 Como veremos a seguir, tanto a teologia bíblica quanto a sistemática dependem da metodologia filosófica, ajudando ambas a determinar o tipo de realidade que assumimos para o Deus da Escritura.

64 Gerhard Hasel, “The Identity of ‘The Saints of the Most High’ in Daniel 7,” Biblica 56 (1975): 173–192; The Seventy Weeks of Daniel 9:24–27 (Washington: Biblical Research Institute, 1976); “Studies in Biblical Atonement I: Continual Sacrifice, Defilement/Cleansing and Sanctuary,” em The Sanctuary and the Atonement, e. A. V. Wallenkampf (Washington: Review and Herald, 1980), I: 87–114; “The ‘Little Horn,’ the Saints, and the Sanctuary in Daniel 8,” em The Sanctuary and the Atonement, pp. 177–220.

65 Ellen White, O Grande Conflito, p. 423 (ênfase minha).

66 “Review of Norman R. Gulley, Systematic Theology: Prolegomena,” Reflections: A BRI Newsletter http:// biblicalresearch.gc.adventist.org, no. 6 (2004): 8.

67 Estudos em Religião tentam estudar os fenômenos da religião em vez da revelação divina. Esta disciplina cresce a partir da aplicação do método crítico-histórico à teologia. Assim como a experiência histórica e a imaginação da comunidade substituem a compreensão divina tradicional da revelação e inspiração, os estudos históricos dos fenômenos religiosos substituem os estudos sistemáticos dos ensinos bíblicos. Nos círculos adventistas progressistas, o cristianismo também é estudado sob a perspectiva dos estudos em religião.

68 Teologia “sistemática” corresponde ao que outras escolas chamam de “dogmática” ou simplesmente “teologia”.

69 “Logo fiquei dolorosamente ciente de que uma cortina de ferro separava a Bíblia da teologia, não apenas em Yale, mas na maior parte do mundo de língua inglesa. Tenho certeza de que a culpa era de ambas as disciplinas, mas uma profunda desconfiança e desinteresse impediram qualquer interação séria” (Childs, xvi).

70 Para uma tentativa introdutória de distinguir entre elas, ver Fernando Canale, “Is There Room for Systematics in Adventist Theology?” JATS 12/2 (2001): 110–131.

71 Wayne Grudem, Systematic Theology: An Introduction to Biblical Doctrine (Leicester: Inter-Varsity Press, 1994), p. 21.

72 Ibid.

73 Ver acima, p. 131.

74 Christian Theology (Grand Rapids: Baker, 1990), p. 26.

75 Essa noção também parece arraigada no adventismo; ver, por exemplo, Ekkehardt Müller, “Theological Thinking in the Adventist Church,” p. 130.

76 Integrative Theology, 2 vols., (Grand Rapids: Zondervan, 1987), 1:23.

77 Teologia bíblica, “com o objetivo de ser uma ciência descritiva, é organizada em torno do desenvolvimento cronológico e cultural dos próprios termos, categorias e formas de pensamento de um determinado escritor bíblico em seu contexto histórico e cultural” (ibid.).

78 Teologia sistemática “almeja produzir orientações normativas da realidade espiritual para a geração atual; organiza o material da revelação divina tópica e logicamente, desenvolvendo uma visão de mundo, e modo de vida coerente e abrangente” (ibid.). No entanto, examinando Childs, descobre-se a mesma organização tópica na teologia bíblica. Fritz Guy também acredita que a diferença entre as teologias bíblica e sistemática gira em torno da maneira como elas organizam seus materiais (Thinking Theologically, pp. 203–219).

79 George W. Reid, “Review of Norman R. Gulley. Systematic Theology: Prolegomena,” p. 8. Na verdade, apenas o primeiro volume de uma obra em vários volumes está impresso.

80 “Uma teologia sistemática [explica Gulley] penetra no material bíblico e alcança a história fundamental da Escritura na qual todas as outras histórias são melhor compreendidas. Esta é a metanarrativa. Permite que cada doutrina seja compreendida dentro dessa cosmovisão bíblica, e, assim, corrige qualquer interpretação que não se encaixe na cosmovisão bíblica. Portanto, permite que a cosmovisão bíblica seja melhor compreendida e aja como um guia hermenêutico em uma interpretação consistente de todas as doutrinas bíblicas. Fornece uma estrutura na qual as várias doutrinas bíblicas podem ser pensadas em seu relacionamento e coerência interna internos” (Systematic Theology: Prolegomena [Berrien Springs: Andrews UP, 2003], p. 140).

81 Ibid., p. 713. A origem, a interpretação e o papel da metanarrativa na construção da teologia sistemática requerem análise e método acadêmicos — em outras palavras, a operação de uma disciplina acadêmica. Trataremos dessas questões no próximo artigo.

82 Ibid., p. 146 (itálicos no original).

83 Ver acima, p. 127.

84 Trataremos dos princípios hermenêuticos com mais detalhes na próxima seção.

85 Compreender as doutrinas não é tarefa da teologia sistemática. Teologia bíblica nos ajuda a entender as doutrinas bíblicas. Teologia histórica nos ajuda a entender as doutrinas da igreja. Teologia sistemática é o processo pelo qual entendemos as realidades criadas à luz da Escritura e em relação a Deus (o centro da teologia). Com este entendimento, a teologia sistemática constrói as doutrinas ou ensinamentos da Igreja.

86 Esta é a visão modernista da teologia sistemática derivada da tradição da história das religiões. A maneira de Fritz Guy de “pensar teologicamente” parece corresponder à noção moderna de teologia sistemática. “Como interpretação da fé, pensar teologicamente é pensar da forma mais cuidadosa, abrangente e criativa possível sobre o conteúdo, adequação e implicações da própria vida religiosa de alguém” (Thinking Theologically, p. 10 [ênfase no original]). Guy propõe que a teologia estude a vida religiosa. Proponho que estudemos a vida à luz das Escrituras.

87 “Os adventistas do sétimo dia precisam de uma teologia integrada! Não me entendam mal. As 28 crenças fundamentais do adventismo são bem definidas e adequadas no que tentam fazer como declarações individuais. Não são as 27 crenças que questiono, mas a forma como são apresentadas. Para ser franco, os 28 fundamentos são apresentados como uma lista semelhante a um colar de contas, com cada conta tendo o mesmo tamanho, forma e peso. (George R. Knight, “Twenty-seven Fundamentals in Search of a Theology,” Ministry 74/2 [2001]: 5. Este artigo mostra a tarefa inacabada da teologia adventista afetando a prática do ministério. Infelizmente, Knight ignora a questão da integração teológica que requer o desenvolvimento da teologia sistemática e lida com a questão de apresentar as 28 Crenças Fundamentais à igreja. Assim, seus modelos para “organizar” as 28 Crenças Fundamentais as dividem em três áreas: Cristo [experiência cristã], doutrinas [entendimento dos ensinos bíblicos] e estilo de vida [ética]. A importância relativa dessas áreas levanta a questão de sua integração teológica. Além disso, os modelos apresentados assumem uma teologia sistemática implícita. Uma vez que a teologia sistemática tenta entender a realidade a partir da perspectiva do pensamento bíblico, ela deve revelar a maneira pela qual as doutrinas cristãs entendem a integração de experiência, teoria e ação.

88 Sobre o papel da teologia bíblica na desconstrução teológica, ver Fernando Canale, “Deconstrucción y teología: Una propuesta metodológica,” Davar/Logos 1/1 (2002): 3–26.

89 Por exemplo, considere o propósito do método escolástico de teologia. “Quando o material dogmático com a ajuda do método histórico foi derivado de suas fontes, outra tarefa importante aguarda o teólogo: a apreciação filosófica, o exame especulativo e a elucidação do material trazido à luz. Este é o propósito do método “escolástico” do qual “teologia escolástica” leva o nome. (J. Pohle, “Dogmatic Theology,” em The Catholic Encyclopedia, Edição Online, 1912). Esta “apreciação filosófica” do material (dados) trazido à luz corresponde à visão hermenêutica ou ao papel que a doutrina do Santuário desempenha no adventismo bíblico.

90 Norman Gulley fala de uma “metanarrativa” ou “visão de mundo” como a luz hermenêutica orientadora da teologia sistemática. Abordarei a maneira como a metanarrativa bíblica do Grande Conflito se relaciona com a doutrina do Santuário como luz hermenêutica no próximo artigo.

91 Como veremos em nosso próximo artigo, o referente ontológico (realidade na vida) do pensamento bíblico pode ser interpretado de maneiras que diferem amplamente.

92 Para uma breve introdução, ver Fernando L. Canale, “Philosophical Foundations and the Biblical Sanctuary,” AUSS 36/2 (1998): 183–206.

93 Discutiremos a metodologia teológica no próximo artigo. Ver também Fernando Canale, “Evolution, Theology, and Method, Part 3: Evolution and Adventist Theology,” AUSS 42/1 (2004): 5–48.

94 Não conheço nenhum estudo adventista sobre metodologia exegética que esclareça a natureza das “modificações” que adventistas evangélicos e adventistas progressistas trazem ao método crítico-histórico. Substituir o viés naturalista do empirismo científico pela transcendência divina e a inspiração das Escrituras, como sugere Gladson, não modifica o método crítico-histórico, mas mostra as razões pelas quais sua aplicação não contradiz os sistemas de teologia clássica e protestante.

95 Ver acima, nota de rodapé 37.

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2 comentários

  1. Glauco André Responder

    Parabéns pelo trabalho.
    Conheci seu trabalho a pouco tempo, mas já sou um leitor contumaz de seu trabalho, irmão.
    Se houver algo que eu possa ajudar em seu ministério, por favor, entre em contato.

    Que Deus o Abençoe Imensamente!

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