A Unção do Antítipo Santo dos Santos

A Unção do Antítipo Santo dos Santos


Por F.C. Gilbert

F. C. Gilbert

F. C. Gilbert (1867-1947), um judeu nascido em Londres, em 1889 se converteu ao adventismo do sétimo dia. Por meio século, F. C. Gilbert atuou como secretário no Departamento Judaico da Associação Geral, onde pleiteou por mais trabalho para com os Judeus. Gilbert escreveu muitos artigos na Review and Herald, na Ministry Magazine e muitos folhetos para companheiros judeus. Da época de Gilbert até os dias de hoje, a denominação tem publicado uma revista especial para os Judeus, agora chamada de Shabat Shalom. Também escreveu diversos livros, como From Judaism to Cristianity (A Hebrew Christian) – An autobiography e The Jewish Problem


Tradução: Hugo Martins

“A Unção do Antítipo Santo dos Santos” (original em inglês: The Anointing of the Antitypical Most Holy)”, de F. C. Gilbert, foi, primeiramente, publicado em agosto de 1934 na revista Ministry,® International Journal for Pastors, www.MinistryMagazine.org.  Usado com permissão.


O Anjo Gabriel fizera várias visitas a Daniel em resposta ao apelo deste por luz sobre a visão de um grande tempo registrada em Daniel 8:14. Fora em resposta a oração suplicante do profeta por um claro entendimento dos 2300 dias que o mensageiro celestial viera ao profeta a fizera o seguinte anúncio: “Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. … considera, pois, a coisa e entende a visão” (Dn 9:22-23).

O poderoso visitante procede para iluminar o idoso homem de Deus com essas palavras:

“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos” (Dn 9:24).

O Tempo Coberto pela Declaração do Anjo

Não é necessário alongar-se muito sobre a primeira parte deste verso. É geralmente entendido pelos estudiosos da profecia que o termo “setenta semanas” (šāḇšū‘îm šiḇ‘îm) é exposto por todos os escritores hebreus e comentaristas como setenta vezes o período de sete anos. Chega-se a mesma conclusão por reconhecer o princípio bíblico na profecia (Ver Nm 14:34; Ez 4:6). Todavia Gabriel anunciara ao profeta que, durante esses 490 anos, haveria uma unção do “Santo dos Santos.” Que “Santo dos Santos” é esse que deveria ser ungido antes do encerramento deste período de tempo?

Alguns dizem que isto se refere à unção do Messias; pois, nos dois versos subsequentes, o anjo menciona que um certo número desses anos abrange o Messias, o Príncipe, e o tempo quando o Messias é sacrificado. Deve-se, contudo, ser relembrado que o termo Messias significa “ungido” (Ver At 4:25-26; cp. Sl 2:1-2 e Jo 1:41, incluindo a margem). Além do mais, não encontramos nas Escrituras o termo “Santo dos Santos” sendo aplicado ao Messias. Jesus é chamado de “Santo de Israel” (Sl 89:18; Is 55:5), “Teu Santo” (Sl 16:10), “Ente Santo” (Lc 1:35), “Teu Santo Servo” (At 4:27). Em harmonia com a predição feita pelo anjo, Jesus fora ungido como Messias, pois está escrito: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder” (At 10:38). Esta unção, que tomara lugar em Seu batismo, ocorrera em cumprimento do tempo (Lc 3:21-22) para cumprir a predição feita em Daniel 9:25-26. Mas, em lugar algum, o Antigo Testamento declara que o Salvador seria chamado de “Santo dos Santos.”

Além do mais, os termos “Santo de Israel” e “Teu Santo,” mencionados anteriormente, pertencem a uma expressão hebraica diferente dos termos “Santo dos Santos” notados em Daniel 9:24. O termo hebraico ḥӑsîḏ é usado nestes dois textos. Todavia os termos “Santo dos Santos” em Daniel 9:24 aplicam-se a objetos e não a pessoas. Raramente no Antigo Testamento os termos qōḏeš qoḏāšîm, “Santo dos Santos,” são aplicados a qualquer outro objeto do que ao “Santo dos Santos” no santuário. Possivelmente, uma ou duas vezes, esta expressão, qōḏeš qoḏāšîm, pode ser usada para coisas sagradas, mas o termo não é aplicado a uma pessoa. É essencial ter isso em mente.

É bem verdade que a Bíblia diz que Cristo experimentaria duas unções. Uma em Seu batismo, como já mencionamos; a outra trataremos posteriormente. Mas é evidente que a unção do “Santo dos Santos” em Daniel 9:24 não faz referência a descida do Espírito Santo sobre o Salvador no tempo quando jesus recebera o batismo pelas mãos de João.

A Unção do Santuário

As Escrituras ensinam que quando o santuário no deserto estava sendo preparado para o sacerdócio e os seus serviços, a Moisés fora ordenado a fazer um óleo de unção santo. O propósito específico deste óleo santo era ungir os utensílios do tabernáculo, incluindo os compartimentos Santo e Santo dos Santos, e para a unção dos sacerdotes (vv. 26-30). Ordens estritas foram dadas para que sobre nenhuma carne humana fosse derramado este óleo santo, salvo, unicamente, os sacerdotes e os utensílios do santuário (vv. 31-33). Violar isso significava ser cortado.

Novamente, quando ao profeta de Israel fora ordenado a edificar o tabernáculo, a Moisés fora exortado:

“E tomarás o óleo da unção, e ungirás o tabernáculo e tudo o que nele está, e o consagrarás com todos os seus pertences; e será santo. … Vestirás Arão das vestes sagradas, e o ungirás, e o consagrarás para que me oficie como sacerdote. Também farás chegar seus filhos, … e os ungirás, … para que me oficiem como sacerdotes” (Ex 40:9-15).

Quando Moisés terminara a edificação do tabernáculo, a ele fora ordenado dedicar o santuário e consagrar os sacerdotes antes que Arão e seus filhos iniciarem seus ofícios sagrados. O registro desta dedicação e deste serviço de consagração é encontrado em Levítico 8. Um chamado fora feito para a congregação reunir-se à porta do santuário a fim de testemunhar esta cerimônia solene e sagrada (vv. 3-5). Moisés atentara ao povo que ele estava realizando este serviço sob a ordem de Deus (v. 5).

Arão e seu filhos foram lavados com água da bacia. Eles foram, então, vestidos com vestes sagradas (vv. 6-9, 13). O óleo sagrado da unção fora, então, aplicado ao santuário e seus utensílios. Todas as partes do tabernáculo foram ungidas, incluindo os utensílios no Santo dos Santos (Lv 8:10-11; Ex 30:26-28). Após o tabernáculo e seus utensílios, incluindo o Santo e o Santo dos Santos, serem ungidos, o óleo sagrado da unção fora derramado sobre os sacerdotes, sobre Arão e seus filhos (Lv 8:12; Ex 30:30). Esta unção do Sumo Sacerdote fora tão completa que, séculos depois, o salmista fizera referência a ela, como a seguir:

“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes” (Sl 133:2).

Dedicação e Serviços de Consagração

Setes dias eram dedicados a esses serviços solenes e sagrados; pois está escrito:

“Também da porta da tenda da congregação não saireis por sete dias, até ao dia em que se cumprirem os dias da vossa consagração; porquanto por sete dias o SENHOR vos consagrará” (Lv 8:33).

Além disso, a ninguém que estivesse associado com o serviço do santuário era permitido engajar-se em quaisquer ocupações durante esses dias de dedicação e consagração. O registro declara:

“Ficareis, pois, à porta da tenda da congregação dia e noite, por sete dias, e observareis as prescrições do SENHOR, para que não morrais; porque assim me foi ordenado. E Arão e seus filhos fizeram todas as coisas que o SENHOR ordenara por intermédio de Moisés” (vv. 35-36).

Que os compartimentos Santo e “Santo dos Santos” do santuário foram ungidos e santificados, é confirmado por um testemunho posterior:

“No dia em que Moisés acabou de levantar o tabernáculo, e o ungiu, e o consagrou e todos os seus utensílios, bem como o altar e todos os seus pertences” (Nm 7:1).

Assim fica claro que cada parte do santuário era preparada, dedicada e consagrada com o óleo de unção sagrado. Mas o ministério do santuário pelos sacerdotes não poderia iniciar até que o tabernáculo e os sacerdotes tivessem sido consagrados para este sagrado serviço. Essa dedicação da estrutura sagrada era necessária antes que o serviço sacerdotal pudesse nela ser efetivado. Após a conclusão deste serviço sagrado, Arão e seus filhos estavam preparados para levar adiante o ministério da reconciliação com os sacrifícios no compartimento Santo (Lv 9:4,6,22-23). Deus aprovara a dedicação do santuário e a consagração ao sacerdócio. O serviço do santuário fora, então, iniciado.

O Antítipo “Santo dos Santos” Ungido

Durante o período de 457 A.E.C a 34 E.C., que abrangia os 490 anos anunciados pelo Anjo Gabriel, não havia santuário na terra ungido, nem havia qualquer dedicação ou consagração de um sacerdócio ao ofício sagrado do ministério sacerdotal. É bem verdade que os israelitas retornaram do exílio babilônico e engajaram-se novamente na adoração a Deus por oferecerem sacrifícios após o decreto de Artaxerxes (Ed 7:10-27). Mas o sacerdócio araônico já existia há mais de mil anos. Deus prometera ao povo judeu que ao término dos setenta anos de seu cativeiro eles retornariam à terra de seus pais (Jr 29:10-14). Mas sua restauração a Palestina e sua renovação do sistema sacrificial no templo estavam além de uma continuação do ministério sacerdotal que estivera ativo por muitos séculos antes a seu exílio na Babilônia, cujo ministério cessara por causa da destruição do templo, devido a suas práticas pecaminosas (2 Cr 36:14-21).

Entretanto, o Senhor Jesus, após completar a Sua obra na terra, fora levado ao céu para aparecer na presença de Deus como sumo sacerdote e intercessor do homem. Ele ascendera como ministro no santuário que o Senhor erigiu, não o homem (Hb 8:2). Antes dele engajar-se nesse ministério sacerdotal no céu, necessitava, ali, haver uma dedicação do santuário celestial e uma consagração do sacerdócio desse santuário (Hb 9:11-28). Jesus ascendera ao céu 40 dias após a Sua ressurreição (At 1:3). De acordo com o anúncio do Anjo Gabriel, registrado em Daniel 9:25-27, Jesus deveria ministrar por três anos e meio na terra após tornar-se o Messias. Sua unção messiânica ocorrera em Seu batismo em outubro de 27 E.C. Ele ministrara entre os homens por três anos e meio após o seu batismo e, então, morrera como o Cordeiro de Deus. Portanto, Sua ascensão ocorrera três anos e meio antes do término dos 490 anos. É o Santo dos Santos do Santuário Celestial que Gabriel declarara que deveria ser ungido durante os 490 anos.

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