Teologia Evangélica e Teísmo Aberto: Rumo a uma Compreensão Bíblica dos Princípios Macro Hermenêuticos da Teologia?

Teologia Evangélica e Teísmo Aberto: Rumo a uma Compreensão Bíblica dos Princípios Macro Hermenêuticos da Teologia?


Fernando Canale é professor de Teologia e Filosofia no Seminário Teológico Adventista da Andrews University, onde leciona desde 1985. Antes de se mudar para a Andrews University, ele foi pastor na Argentina e no Uruguai, e lecionou Filosofia e Teologia na Universidade Adventista Del Plata, na  Argentina.


Tradução: Hugo Martins

O artigo “Teologia Evangélica e Teísmo Aberto: Rumo a uma Compreensão Bíblica dos Princípios Macro Hermenêuticos da Teologia?” (Original em Inglês: “Evangelical Theology and Open Theism: Toward a Biblical Understanding of the Macro Hermeneutical Principles of Theology?”), por Fernando Canale,  foi primeiramente publicado no Journal of the Adventist Theological Society da ATS (Adventist Theological Society [Sociedade Teológica Adventista]) em 2001. Usado com permissão.


A adoção por vários teólogos evangélicos do chamado “teísmo aberto” como uma opção teológica viável, juntamente com os princípios tradicionalmente adotados do teísmo clássico, não só envolve divergências teológicas óbvias, mas levanta a questão das suas implicações para a teologia evangélica como um todo. Será o desacordo entre a visão aberta de Deus e o teísmo clássico uma questão teológica menor, ou afetará o núcleo hermenêutico da compreensão evangélica das Escrituras e do Evangelho? Este artigo tenta avaliar o desacordo entre a visão aberta de Deus e o teísmo clássico a partir de uma perspectiva hermenêutica, a fim de compreender as suas causas, esboçar as suas consequências e avaliar as suas promessas para o futuro da teologia evangélica.

Começarei por (1) apresentar a controvérsia tal como é compreendida pelos agentes ativos na discussão. Em seguida, descreverei brevemente (2) a perspectiva hermenêutica a partir da qual analisarei e avaliarei o que esta controvérsia reserva para o futuro da teologia evangélica. A seguir, tratarei da questão da (3) natureza e extensão da controvérsia, examinando o seu objeto. Depois disso, discorrerei brevemente a (4) evidência bíblica sobre a qual cada parte constrói sua proposta. Então, considerarei o (5) domínio dos pressupostos ou pré-conceitos que condicionam cada interpretação envolvida na discordância. Seguindo este ponto, voltarei minha atenção para (6) a causa da controvérsia. Seguindo em frente, avaliarei (7) a reivindicação da visão aberta ao status de “novo paradigma teológico.” Este ponto levanta a questão sobre (8) se a teologia evangélica requer ou não uma ontologia. Finalmente, examinarei as fontes das quais os estudiosos evangélicos derivam, consciente ou inconscientemente, a sua compreensão dos princípios macro-hermenêuticos da teologia cristã. Devido à complexidade das questões e de suas interpretações, limitarei a análise às principais questões envolvidas na discussão entre teísmos clássico e aberto.

1. Apresentando A Controvérsia

Embora as teologias evangélicas difiram em muitos aspectos, elas sempre assumiram uma compreensão comum da natureza e dos atos de Deus. A chamada “visão aberta” de Deus (também chamada de “teísmo aberto”, “novo teísmo” e “teísmo do livre arbítrio”) perturbou este consenso. Não é surpresa que alguns importantes teólogos evangélicos tenham se oposto fortemente à nova visão e defendido o consenso evangélico tradicional sobre a natureza e os atos de Deus.1

A visão aberta de Deus já existe há algum tempo. Teólogos evangélicos poderiam facilmente rejeitar as exposições anteriores da visão aberta de Deus com o pretexto de que se baseavam nas ideias da filosofia do processo. Contudo, há seis anos, um grupo de teólogos evangélicos, liderado por Clark Pinnock, desafiou radicalmente esta percepção, defendendo a visão aberta de Deus a partir de uma base bíblica.2 Mais recentemente, também argumentando a partir de uma base bíblica, John Sanders3 e Gregory Boyd4 defenderam a visão aberta de Deus, muito atraente para as mentes evangélicas.

Uma visão geral superficial revela que a controvérsia entre as visões clássica e aberta de Deus gira em torno da forma como cada campo visualiza a interação entre a atividade divina e a liberdade humana. Por um lado, teístas abertos estão convencidos de que a visão clássica de Deus é incompatível com a verdadeira liberdade humana (liberdade libertária). Por outro lado, teístas clássicos não só estão convencidos de que a sua visão permite amplo espaço para a liberdade humana (liberdade compatibilista), mas também consideram a alternativa de visão aberta como estando aquém da noção bíblica de Deus. Indiscutivelmente, ambas as partes entendem a natureza e os atos de Deus de maneiras muito diferentes e até mesmo contraditórias. Mas, afinal, qual a controvérsia? Não é surpresa que não haja acordo sobre este ponto. Em vez disso, tem-se a impressão de que os teístas abertos tentam minimizar tanto quanto possível o alcance do seu desacordo com o teísmo clássico.

O subtítulo do livro de Sanders, “A Theology of Providence” [A Teologia da Providência], mostra claramente que a visão aberta de Deus tem a ver com a providência divina, isto é, com a forma como o Deus cristão se relaciona com o mundo. Teístas abertos desafiam a visão do teísmo tradicional sobre a soberania-providência divina porque esta não permite relações históricas “reais” abertas entre Deus e os seres humanos. Para eles, o teísmo clássico não tem lugar para a verdadeira liberdade humana. Sob o ataque da sua própria denominação, no entanto, Gregory Boyd procura minimizar tanto quanto possível a extensão e a importância da controvérsia gerada pela visão aberta de Deus dentro do evangelicalismo. Ele sugere que o debate, quando bem compreendido, não é sobre Deus ou a sua natureza, mas sobre “a natureza do futuro.”5 Além disso, ele está convencido de que “ao lado das doutrinas centrais da fé cristã, a questão de saber se o futuro está exaustivamente resolvido ou parcialmente aberto é relativamente sem importância. Certamente não deveria ser uma doutrina que divide cristãos.”6

Da perspectiva teísta clássica, Norman Geisler tem uma avaliação diferente sobre a extensão e importância da controvérsia. Ele vê o desafio trazido pelo teísmo aberto girando em torno da questão mais fundamental da teologia, a saber, a natureza de Deus.7 “A visão que uma pessoa tem de Deus,” explica Geisler, “é a coisa mais importante sobre a qual ela pensa. Uma visão verdadeira de Deus tem boas consequências. E uma visão falsa de Deus tem consequências desastrosas.”8 Consequentemente, o teísmo aberto “é um sério desafio ao teísmo clássico e, com ele, uma séria ameaça a muitas doutrinas e práticas importantes construídas sobre essa visão.”9 Geisler resume algumas das consequências sistemáticas que decorrem da visão aberta de Deus como incluindo “uma negação da infalibilidade da Bíblia, a onisciência de Deus, o valor apologético da profecia e um teste bíblico para falsos profetas. Também mina a confiança nas promessas de Deus, na sua capacidade de responder às orações e em qualquer vitória final sobre o pecado. Na verdade, leva logicamente ao universalismo e/ou ao aniquilacionismo.”10

Contudo, devido às recentes publicações dos teólogos abertos mencionados acima, os teólogos clássicos não podem mais ignorar, em bases filosóficas, a visão aberta de Deus como uma posição obviamente herética. Num editorial recente, a Christianity Today reconheceu a importância deste debate e apelou aos teólogos de ambos os lados da questão para fazerem o seu “dever de casa” e trabalharem arduamente “para verificar e, se necessário, ajustar as formulações conceituais do passado.”11

Concordando com a Christianity Today sobre a necessidade de usar a controvérsia como uma oportunidade para crescer teologicamente, meu objetivo neste artigo não é tomar partido, mas explorar a natureza da questão em jogo, a extensão do “ajuste conceitual” necessário, e o “dever de casa” necessário para esclarecer as questões dentro da comunidade teológica evangélica.

2. Análise Hermenêutica

Devemos começar por reconhecer a natureza hermenêutica do debate. Claramente, teístas clássicos e abertos diferem na sua interpretação da mesma questão. Seja a “natureza do futuro,” como afirma Boyd, ou a “natureza de Deus,” como Geisler a vê, o teísmo aberto rompeu a inércia do pensamento tradicional sobre estas questões. Um conflito de interpretações exige uma análise hermenêutica. A abordagem hermenêutica nos permite ver as razões por trás de interpretações conflitantes. Em outras palavras, ajuda-nos a estar cientes da base a partir da qual cada interpretação é feita. Este procedimento não só nos ajuda a compreender melhor cada posição, mas também nos ajuda a decidir sobre questões controversas. Podemos decidir por uma das duas visões aqui avaliadas, ou podemos decidir que há necessidade de desenvolver um novo entendimento.

Consideremos, primeiro, a noção de hermenêutica tal como a utilizarei aqui. Tradicionalmente, os teólogos evangélicos associam a hermenêutica à interpretação bíblica.12 Todavia, o ato de compreensão envolvido no pensamento teológico vai além da interpretação de textos para incluir o processo cognitivo através do qual os teólogos chegam às suas conclusões e formulam os seus pontos de vista.13 Neste sentido amplo, então, hermenêutica é o nome técnico que os filósofos dão ao estudo do processo humano através do qual nos compreendemos uns aos outros.14 É claro que esta noção ampla não nega a hermenêutica do texto, mas o inclui na sua universalidade.15

O estudo do ato humano de compreensão revela a presença de alguns componentes necessários. A compreensão humana passa do sujeito que interpreta para a questão ou coisa que é interpretada. O ato humano de interpretação tem, então, um começo, um movimento e um fim (telos). O fim é a questão (objetiva) que a interpretação busca compreender.16 O movimento é o processo pelo qual interpretamos as questões.17 O início inclui a coisa (realidade)18 e a perspectiva (pressupostos)19 a partir da qual iniciamos o ato interpretativo.

Para facilitar a nossa análise, usufrurei da linguagem de Hans Küng e falar de três níveis hermenêuticos, nomeadamente, macro, meso e micro-hermenêutica.20 Enquanto a micro-hermenêutica se refere à interpretação textual e a meso-hermenêutica à questão ou interpretação doutrinária, a macro-hermenêutica trata da interpretação dos primeiros princípios a partir dos quais opera a hermenêutica doutrinária e textual. Macro-hermenêutica está relacionada ao estudo e esclarecimento de questões filosóficas direta ou indiretamente relacionadas à crítica e formulação de princípios heurísticos concretos de interpretação. Meso-hermenêutica trata da interpretação de questões teológicas, e, portanto, pertence propriamente à área da teologia sistemática. Micro-hermenêutica aborda a interpretação dos textos, e, consequentemente, procede no âmbito da exegese bíblica. Analisemos a controvérsia entre as visões clássica e aberta de Deus a partir da perspectiva hermenêutica.

3. Meso-hermenêutica: Identificando Os Problemas

A existência de um processo interpretativo se torna óbvia quando duas partes interpretam algo de maneiras diferentes. Para compreender e eventualmente superar um desacordo, precisamos entender do que se trata a discussão.

Na seção 1, identificamos algumas questões. Podemos classificá-las de acordo com o seu âmbito e influência, começando pelas questões mais restritas e passando para as mais amplas e mais influentes. Temos, da perspectiva da visão aberta, Gregory Boyd enfatizando (1) “a natureza do futuro” e John Sanders abordando a questão mais ampla da (2) providência divina. De uma perspectiva clássica, Norman Geisler sugere que a controvérsia gira em torno do tema ainda mais amplo e influente da (3) natureza de Deus.21 As questões centrais controvertidas, então, são muito amplas e influentes: a natureza de Deus e a maneira como ele se relaciona com as suas criaturas.

Até agora, porém, os teístas abertos têm demonstrado mais interesse em refletir sobre a relação concreta de Deus com as criaturas do que na questão, de alguma forma mais teórica, da natureza de Deus. Ainda assim, à medida que exploram a doutrina da providência divina a partir da convicção inegociável de que Deus entra numa “relação de dar e receber, real e aberta” com as suas criaturas,22 outras questões estão inevitavelmente incluídas. Devido às suas ligações sistemáticas com a questão da providência, os teólogos abertos abordam questões como a atividade divina, a presciência, a predestinação e a liberdade humana.

Essas questões são importantes não só pela sua amplitude, mas também pelo papel sistemático central que desempenham na tarefa de conceber e formular todo o arcabouço da teologia cristã. Poucos teólogos negariam que “a doutrina cristã é sistematicamente apresentada pela relação de todos os temas individuais com a realidade de Deus.”23 Esta controvérsia, então, tem o potencial de afetar todo o espectro de ensinamentos cristãos e interpretações das Escrituras. A tentativa de Boyd de reduzir a importância e o efeito sistemático da controvérsia não corresponde ao papel sistemático incorporado nas próprias questões.

4. Micro-hermenêutica: A Evidência Bíblica

Ao resolver questões teológicas, teólogos evangélicos devem dar primazia aos dados bíblicos. Consequentemente, os teólogos da visão aberta defendem uma nova noção de providência divina a partir da evidência bíblica. Não surpreende que os teístas clássicos tentam refutar os seus oponentes na mesma base e construir um fundamento bíblico próprio. Não há dúvida de que ambas as partes entendem a evidência bíblica de maneiras diferentes e mutuamente exclusivas.

Teólogos abertos desafiam o teísmo clássico devido à sua interpretação de textos bíblicos selecionados que parecem implicar que Deus entra numa relação de “dar-e-receber-realmente-aberta” com os seres humanos. Antes de analisar a evidência bíblica a favor da visão aberta de Deus, Richard Rice devidamente nos lembra que “não é difícil cercar uma ideia com citações bíblicas.”24 O teste crucial para afirmar que uma ideia é bíblica, argumenta Rice, é se “a ideia é ou não fiel ao retrato bíblico geral de Deus.”25 Sobre esta base, Rice afirma que o teísmo clássico “não reflete fielmente o espírito da mensagem bíblica, apesar de apelar a diversas declarações bíblicas.”26

Teólogos da visão aberta examinam as evidências bíblicas tematicamente. Rice organiza sua análise dos dados bíblicos em favor da visão aberta em torno do conceito de Deus. Ele começa destacando que, de acordo com a Bíblia, devemos pensar em Deus na perspectiva do amor e não do poder. “Para sermos fiéis à Bíblia, devemos colocar o amor no topo da lista.”27 Sanders, que até agora forneceu a análise mais detalhada das evidências bíblicas que apoiam a visão aberta de Deus, organiza o seu estudo em torno da noção de providência divina.28 Mais recentemente, Boyd organiza a sua análise das evidências bíblicas em torno da questão do conhecimento prévio divino. Centrando-se nesta questão, ele argumenta que a evidência bíblica favorece a visão aberta da providência divina e não dá nenhum apoio à visão clássica.29

Da perspectiva teísta clássica, Norman Geisler lida com evidências bíblicas para mostrar a base bíblica inadequada sobre a qual o teísmo aberto se baseia. Ele organiza sua pesquisa tematicamente em torno da noção do ser e das ações de Deus.30

Por que os teístas abertos rejeitam o apelo da visão clássica à evidência bíblica como inválido? De acordo com Rice, porque não se baseia na “imensa amplitude do testemunho bíblico.”31 Geisler, reconhecendo que nesta controvérsia “os argumentos bíblicos são fundamentais,”32 conclui que o teísmo aberto “não consegue estabelecer uma base bíblica para as suas crenças.”33

Será que uma análise mais completa das evidências bíblicas ajudaria os teólogos evangélicos a superar esta controvérsia? Eu não penso assim. A nossa breve referência à forma como cada parte lida com a evidência bíblica sugere que a causa do desacordo reside noutro lugar. Ambas as partes usam a mesma evidência bíblica (micro-hermenêutica) para fornecer visões diferentes das mesmas questões teológicas (meso-hermenêutica). A minha convicção é que mais provas bíblicas não levarão as partes a aceitar o ponto de vista uma da outra, nem conduzirão a uma nova posição teológica que se baseie na natureza hermenêutica do processo através do qual as provas são tratadas. Nossa análise da evidência bíblica nunca é um processo “neutro” de descoberta que produz o significado “objetivo” que todos compreenderão da mesma maneira. Pelo contrário, o processo interpretativo está sempre condicionado por pressupostos hermenêuticos que podem ser definidos de diversas maneiras. Assim, os níveis micro e meso-hermenêuticos onde ocorre a controvérsia entre os teísmos clássico e aberto são condicionados pelo nível macro-hermenêutico mais profundo e fundacional.

  1. Macro-hermenêutica: Causas do Desacordo Teológico

A controvérsia teológica ocorre quando várias partes entendem as mesmas questões de maneiras diferentes, até mesmo mutuamente exclusivas. Este parece ser o caso da controvérsia clássica sobre a visão aberta do teísmo sobre Deus que estamos analisando. Deveríamos perguntar: de onde vem a diversidade de interpretações? São sempre o resultado de evidências ou raciocínios incorretos? Ou decorrem do exercício normal das nossas faculdades racionais?

Obviamente, muitas divergências, mas não todas, resultam de evidências e/ou raciocínios incorretos. Quando for esse o caso, superar o desacordo requer uma revisão cuidadosa de todas as evidências relevantes e dos processos racionais através dos quais chegamos às nossas conclusões. Contudo, um desacordo mais sério ocorre quando a controvérsia se baseia em diferentes perspectivas (preconceitos ou pressupostos) que as partes envolvidas trazem para a mesa.

A compreensão humana opera projetando pré-compreensões sobre seus objetos. À medida que diferentes pessoas tentam compreender a mesma questão (no nosso caso, a natureza e a relação de Deus com o mundo), elas projectam perspectivas diferentes sobre a mesma evidência. Deste procedimento racional inevitável surgem diversas interpretações. Todavia, a variedade de interpretações alcançadas a partir de diversas perspectivas não conduz necessariamente a controvérsia ou debate. Uma variedade de interpretações pode ser complementar ou contraditória. Controvérsia teológica séria ocorre quando as partes percebem que os seus pontos de vista não são complementares, mas contraditórios. As interpretações entendidas como inconciliáveis ​​muitas vezes se originam de pré-entendimentos mutuamente exclusivos.

Controvérsia não é necessariamente uma coisa ruim. Controvérsia pode levar toda a comunidade de fé a melhorar a sua compreensão das questões controvertidas. Uma forma de lidar construtivamente com questões controversas é superá-las hermeneuticamente. Isto requer uma conversa aberta em que ambas as partes analisem mais de perto os seus próprios pré-entendimentos, na esperança de eventualmente superarem a controvérsia. Contudo, ao alterar alguma pré-compreensão, as partes poderiam desenvolver o seu pensamento sobre as questões, principalmente descobrindo, avaliando e decidindo explicitamente sobre os vários níveis de pré-compreensão operantes no debate. À medida que as partes desviam a sua atenção dos resultados para as causas das suas posições teológicas controvertidas, podem encontrar uma forma de modificar os seus pontos de vista e chegar a um acordo. Infelizmente, o mesmo processo pode afastá-las ainda mais. Tudo depende se as partes avaliam e formulam os seus pré-entendimentos a partir do mesmo ou de diferentes conjuntos de provas.

6. Macro-hermenêutica:

A Base Filosófica da Controvérsia

A fonte da controvérsia entre as visões aberta e clássica se centra no nível macro-hermenêutico. Tradicionalmente, a teologia cristã em geral e a teologia evangélica em particular definiram os princípios macro-hermenêuticos de interpretação a partir de interpretações filosóficas do ser. Interpretações filosóficas sobre ontologia e epistemologia condicionaram diretamente a maneira como os teólogos evangélicos compreenderam Deus.

Evidentemente queremos acreditar que as nossas opiniões são ao mesmo tempo objetivas e bíblicas. No entanto, este é um ponto em que ambas as partes concordam: tradicionalmente, a compreensão evangélica da evidência bíblica (micro-hermenêutica) e das questões teológicas (meso-hermenêutica) tem sido diretamente condicionada pela filosofia.

Geisler provavelmente representa a maioria dos teólogos de ambos os lados do debate quando afirma inequivocamente: “Não há nada de errado em ter uma influência filosófica nos estudos bíblicos e teológicos. Novamente, a filosofia é necessária para fazer tanto exegese quanto teologia sistemática. Basta ter certeza de que está utilizando uma boa filosofia. Se é ‘platônico’ ou ‘processo’ não é a questão, mas sim se é verdade.”34 Os teólogos, no entanto, discordam sobre qual filosofia é “verdade” e o que deve informar os princípios macro-hermenêuticos da teologia cristã.

Geisler sustenta que o teísmo clássico e a teologia evangélica constroem a sua visão de Deus com base nas visões ontológicas de Platão e Aristóteles, em vez de Whitehead e Hartshorne.35 Segundo ele, teólogos evangélicos deverm não apenas reconhecer esta dependência, mas abraçá-la e defendê-la como um componente fundamental do sistema evangélico de verdade teológica.

Teólogos abertos reconhecem o ponto de vista de Geisler: o teísmo clássico se baseia nas percepções filosóficas gregas. Contudo, eles não veem isto como a base correta sobre a qual construir, mas como “um certo vírus teológico que infectou a doutrina cristã de Deus.”36 Eles também reconheceram que ideias ontológicas e epistemológicas assumidas (macro-hermenêutica) determinam a interpretação clássica de textos bíblicos controversos (micro-hermenêutica), particularmente em relação à questão da analogia e dos antropomorfismos bíblicos. Infelizmente, eles parecem acreditar que a visão bíblica de Deus está livre de preconceitos ontológicos.37

Teísmo aberto, consequentemente, afirma rejeitar não apenas as abordagens filosóficas clássicas, mas também as de processo, alegando que elas não correspondem às visões das Escrituras sobre Deus. Clark Pinnock afirma corajosamente que “teístas clássicos e teólogos do processo às vezes falam como se tivessem os dois únicos modelos de Deus. . . . Afirmamos, todavia, que a visão aberta é um paradigma superior à luz do material bíblico, teológico, filosófico e prático relevante.”38 Isso abre a noção e a função dos paradigmas teológicos.

7. Mudança de Paradigma?

Thomas Kuhn descreveu e analisou a noção e a função dos paradigmas na área da ciência contemporânea.39 O teólogo alemão Hans Küng argumentou corretamente que os paradigmas também desempenham um papel significativo e análogo na área da investigação teológica. De acordo com Kuhn, um paradigma é “toda a constelação de crenças, valores, técnicas, etc., partilhados pelos membros de uma determinada comunidade.”40 Os paradigmas nos ajudam a compreender novos fenômenos e a resolver novos problemas.41 “Tal como nas ciências naturais,” explica Küng, “há uma ‘ciência normal’, com os seus autores clássicos, livros didáticos e professores, que se caracteriza por um crescimento cumulativo do conhecimento, uma resolução de problemas remanescentes (‘quebra-cabeças’), e resistência a tudo que possa levar à alteração ou substituição do modelo de compreensão ou paradigma estabelecido.”42 No entanto, quando o paradigma operativo na ciência normal não consegue lidar com fenômenos e enigmas significativos, a necessidade de uma mudança de paradigma fica evidente.43 Mudança de paradigma ocorre quando um novo é produzido e aceito pela comunidade.44

No nosso caso, o teísmo clássico desempenha o papel de “ciência normal”, que tenta resolver problemas remanescentes do seu paradigma assumido e resiste à sua alteração ou substituição. Teístas da visão aberta desempenham o papel de desafiantes, descobrindo fatos e enigmas que o paradigma reinante deixa sem solução. Simultaneamente, Geisler, como defensor da “ciência normal” (teísmo clássico), tenta demonstrar que não há necessidade de uma mudança de paradigma porque o paradigma clássico é capaz de incluir todos os fatos e resolver todos os enigmas.45

O ônus da prova recai obviamente sobre aqueles que ousam desafiar o paradigma reinante. Sanders e Boyd estão visivelmente conscientes da difícil tarefa que enfrentam. Eles leem a Bíblia de forma apologética, a fim de demonstrar que o paradigma clássico não pode explicar os fatos bíblicos. Eles sabem que, ao fazê-lo, as suas opiniões vão contra séculos de leitura das Escrituras a partir da perspectiva filosófica-teológica clássica.

Até agora, porém, os teólogos da visão aberta estão longe de ter produzido um novo paradigma alternativo. Apesar da sua pretensão de fornecer um “paradigma superior” para a doutrina de Deus, eles ainda operam assumindo, pelo menos parcialmente, o antigo paradigma.46 Isto ocorre, provavelmente, porque até agora os teístas abertos não lidaram seriamente com o fundamento filosófico do paradigma clássico e com o seu papel macro-hermenêutico.47

8. Teologia sem Ontologia?

A controvérsia entre a visão aberta e os teólogos clássicos torna a questão da filosofia [macro-hermenêutica] e seu papel na interpretação dos textos bíblicos [micro-hermenêutica] e das doutrinas [meso-hermenêutica] inevitável para os teólogos evangélicos. Um olhar mais atento à controvérsia revela a maneira sutil, mas difundida, pela qual os princípios hermenêuticos não-bíblicos moldaram a exegese e a teologia evangélicas.

O vórtice da controvérsia, portanto, gira em torno da maneira como as partes concebem o fundamento e o papel da filosofia na teologia. Até agora, porém, ambos os lados travaram a batalha principalmente no nível meso e micro-hermenêutico. Consequentemente, os teólogos da visão aberta ainda não fundamentaram o seu desafio nas visões clássicas e processuais de Deus no nível filosófico fundamental. Assim, pretensão deles de fornecer um “paradigma superior” permanece incompleta e truncada.

É verdade que, ao argumentar a partir de uma leitura “literal” e “de valor nominal” das Escrituras, os teólogos da visão aberta fazem afirmações ontológicas como a temporalidade de Deus, a relação de Deus com a liberdade humana dentro do fluxo da causalidade histórica, a rejeição de presciência divina e o fundamento da onisciência divina no conhecimento presente. Contudo, não conseguem substituir explicitamente as ontologias que rejeitam. Assim, eles tentam o impossível, ou seja, trabalhar sem pressupostos ontológicos.48 Um novo paradigma requer uma nova ontologia como base macro-hermenêutica.

Teólogos da visão aberta parecem ainda não perceber que a reivindicação deles sobre a providência divina requer uma doutrina ontológica consistente. Tem-se a impressão de que eles veem sua afirmação como exigida pela exegese “neutro-objetiva” dos textos bíblicos (micro-hermenêutica) e acreditam que as modificações doutrinárias subsequentes (meso-hermenêutica) podem ser reintegradas ao ensino ontológico clássico (macro-hermenêutica). Todavia, isso não é filosoficamente possível. Por exemplo, a ontologia clássica não tem espaço para um ser divino que seja simultaneamente temporal e atemporal. Filosofia do processo, no entanto, desenvolveu uma ontologia bipolar segundo a qual Deus é simultaneamente atemporal e temporal. Na ausência de uma ontologia construída a partir do pensamento bíblico, a ontologia do processo aparece como uma candidata lógica para fundamentar a visão aberta de Deus.

A suspeita de que os teólogos da visão aberta assumem uma versão modificada do pensamento filosófico processual aumenta, por exemplo, quando os vemos substituindo consistentemente a presciência divina pelo conhecimento presente. Tem-se a impressão de que toda a defesa da visão aberta de Deus gira em torno da afirmação ou negação da presciência divina exaustiva das ações humanas livres.49 Na mente dos teólogos da visão aberta, a afirmação da presciência divina fundamenta automaticamente a visão clássica de Deus e torna impossível a visão aberta de Deus. Não é surpresa, então, que a negação da presciência divina se torne uma condição necessária para a visão aberta de Deus. A negação da presciência divina, assim entendida, encontra sua pré-compreensão ontológica na temporalidade de Deus, conforme ensinada pela filosofia do processo. Quando entendemos a temporalidade do ser de Deus a partir dos ensinamentos filosóficos do processo, fica claro que Deus não conhece o futuro simplesmente porque ele ainda não existe. Este pressuposto ontológico é tão forte que exige que teólogos evangélicos da visão aberta se envolvam em ginástica exegética para explicar a afirmação bíblica da presciência divina de atos livres futuros.50

Indiscutivelmente, os teólogos da visão aberta assumem implicitamente uma ontologia dipolar. Eles não dizem isso com tantas palavras, mas a visão da providência deles exige isso. A interpretação de Gregory Boyd da visão aberta de Deus parece exigir uma ontologia divina bipolar. Nas Escrituras, argumenta ele, encontramos dois tipos de textos, um falando sobre o determinismo futuro e o outro falando sobre a abertura futura.51

Os dois conjuntos de textos, argumenta ele, devem ser entendidos literalmente; em outras palavras, descrevendo as coisas como elas realmente são (importância ontológica das Escrituras).52 Um grupo de textos (polo) mostra Deus determinando a história da mesma forma que o Deus clássico o faz, ou seja, por meio de sua vontade poderosa que desde a eternidade estabelece a história e dá direção ao plano divino. O outro grupo (polo) tem Deus se relacionando com os seres humanos no espaço e no tempo, e, portanto, está inseguro. O primeiro polo, de acordo com Boyd, requer as noções de predestinação limitada e presciência, enquanto o segundo polo dá conta de passagens bíblicas relacionais.53 Boyd não fala nem reconhece uma bipolaridade ontológica em Deus, mas, sem dúvida, a sua visão de Deus assume ou pode levar a uma ontologia bipolar.

Geisler percebeu claramente este impressionante ponto cego nos teólogos que afirmam promover um “paradigma superior.” Apesar da sua rejeição expressa da filosofia do processo como sua base ontológica, Geisler encontra teólogos da visão aberta assumindo implicitamente o que negam explicitamente: a dependência do paradigma da filosofia do processo. Ele conclui sua avaliação filosófica do teísmo da visão aberta observando que:

Existem sérias falhas lógicas no neoteísmo. Por um lado, afirma em comum com o teísmo clássico certos atributos e atividades de Deus (como transcendência, incausalidade, necessidade e criação ex nihilo). Mas cada um deles implica logicamente algum atributo de Deus que o neoteísmo rejeita. Na verdade, eles levam ao teísmo clássico. O que o neoteísmo se esforça para evitar. Por outro lado, o neoteísmo nega certos atributos de Deus (como a não temporalidade, a imutabilidade e a realidade pura). Significativamente, a afirmação da temporalidade, da mutabilidade e da potencialidade em Deus conduz logicamente a um processo, o teísmo bipolar, que os neoteístas afirmam querer evitar. Mas logicamente eles não podem trilhar os dois caminhos. Tanto o teísmo clássico quanto o panenteísmo são modelos independentes nos quais os atributos básicos permanecem ou caem juntos. Portanto, se alguém aceita alguns deles, os demais vêm com o pacote, sejam eles desejados ou não.54

Não obstante, o teísmo aberto nega explicitamente a construção da ontologia da filosofia do processo.55 William Hasker explica que os teólogos da visão aberta não podem adotar a filosofia do processo porque ela promove a noção de que Deus e o mundo são interdependentes, limitando assim a onipotência divina e as ações unilaterais na história.56 No entanto, este argumento apenas proíbe uma adoção generalizada do pensamento filosófico processual. Isto não elimina o fato de que o padrão bipolar geral da ontologia do processo ainda pode ajudar a fundamentar a visão aberta de Deus, enquanto a ontologia grega assumida na visão clássica não pode.

Teólogos da visão aberta parecem esquecer que os teólogos geralmente modificam o pensamento filosófico sobre o qual constroem. Por exemplo, os teólogos clássicos ajustaram os padrões ontológicos gerais sugeridos por Platão e Aristóteles para os seus propósitos teológicos. Em outras palavras, eles tomaram a ontologia grega como base e a ajustaram para se adequar à revelação cristã. Ao descrever como o teísmo clássico começou, Jack Bonsor observa que o pensamento bíblico e filosófico mudou. “Nenhum deles perdeu a alma. Algo novo surgiu.”57 Teólogos se envolvem, então, numa reflexão filosófica criativa, que produz os princípios macro-hermenêuticos que assumirão explícita ou implicitamente ao interpretar as Escrituras e formular as doutrinas da igreja.

David Basinger, um dos principais filósofos da visão aberta de Deus, reconhece três grandes paradigmas teológicos sobre a providência divina: clássico, processo e visão aberta.58 Deste modo, a visão aberta de Deus aparece aparentemente como uma proposta “independente”, sem suposições ontológicas.59 No nível ontológico fundamental, os teólogos de visão aberta são, até agora, evasivos. Será que eles querem dizer a visão deles que as Escrituras têm de Deus é “não-ontológica”? Além disso, é possível uma teologia sem ontologia? Obviamente, o teísmo aberto precisa lidar seriamente com a questão filosófica da ontologia, tanto divina como humana.

Mas como decidimos entre ontologias filosóficas concorrentes? Mais importante ainda, como podemos adquirir conhecimento sobre o ser e os atos de Deus? Isto nos leva à questão das fontes a partir das quais os teólogos evangélicos decidem a sua compreensão do ser e das ações de Deus.

9. As Fontes da Macro-hermenêutica e do Futuro Evangélico

A visão aberta de Deus é totalmente bíblica? Será que os teólogos de visão aberta fundamentam o seu novo paradigma diretamente em toda a extensão da evidência bíblica? Ou será que a visão aberta de Deus também envolve uma macro-hermenêutica não-bíblica? As seguintes tentativas de resposta a estas questões metodológicas pretendem promover a reflexão sobre importantes questões teológicas dentro da comunidade evangélica.

Na minha opinião, a visão aberta de Deus surge do fracasso do paradigma clássico em explicar a liberdade humana (entendida num sentido libertário), tanto nas Escrituras como na experiência. A ascensão da consciência histórica durante o século XX tornou as soluções compatibilistas para o debate sobre a livre-predestinação cada vez mais insatisfatórias. Simultaneamente, Alfred Whitehead reajustou a ontologia clássica à nova consciência histórica e científica.60 Sua proposta, conhecida como filosofia do processo, apresenta um deus bipolar ao mesmo tempo eterno e “aberto” ao processo temporal do mundo.61 Não é surpresa que, no final do século XX, os teólogos liberais tenham começado a explorar as possibilidades hermenêuticas da nova estrutura ontológica. Evidente que os teólogos evangélicos não poderiam justificar uma mudança na visão clássica de Deus a partir do ponto de partida da filosofia processual porque ela inclui várias características incompatíveis com a noção bíblica de Deus.62

Plenamente conscientes destes desenvolvimentos, alguns teólogos evangélicos notaram que a visão clássica de Deus não se ajustava satisfatoriamente às evidências bíblicas sobre os atos de Deus na história. Eles também notaram a existência de apoio bíblico para a visão clássica. Alegando fidelidade às Escrituras, os teólogos da visão aberta parecem trabalhar dentro do mesmo paradigma metodológico usado pela teologia clássica. Consequentemente, a filosofia pode ajudar os teólogos evangélicos a definir os princípios macro-hermenêuticos de interpretação. A chave aqui, como diz Geisler, é encontrar a “verdadeira” filosofia.

Teólogos clássicos e da visão aberta usam diferentes textos bíblicos para justificar diferentes ensinamentos ontológicos como “verdadeiros” e, portanto, como úteis para a teologia evangélica. Desta forma, o teísmo clássico usa textos que parecem exigir uma ontologia atemporal de Deus em detrimento de textos que apontam para a mudança divina. Por outro lado, o teísmo aberto dá primazia aos textos bíblicos que apontam para a temporalidade, mudança e relacionamento divinos sobre os textos que apontam para a presciência divina.

Tanto quanto pude apurar, nenhum dos lados da controvérsia justifica a sua escolha unilateral de dados bíblicos. Esta escolha unilateral se torna o pretexto que cada lado usa como mandato bíblico para desenvolver a sua “visão de Deus” distintiva e os seus padrões ontológicos implícitos. A partir destes pré-entendimentos, cada parte interpreta o conjunto de dados bíblicos sobre os quais a visão oposta constrói o seu caso.

No caso dos teólogos da visão aberta, a sua ontologia temporal implícita (macro-hermenêutica) afirma que Deus não pode conhecer as coisas futuras porque elas ainda não existem. Além disso, Deus não pode conhecer o futuro dos humanos, as decisões de livre-arbítrio porque são, por definição, imprevisíveis.63 Esta convicção ontológica requer uma reinterpretação da compreensão tradicional da presciência divina (meso-hermenêutica) e da evidência bíblica que afirma a existência da presciência divina (micro-hermenêutica).64 Além disso, eles reinterpretam o significado e a função da profecia bíblica65 e até sentem a necessidade de reescrever pelo menos uma passagem bíblica chave.66 Estas reinterpretações podem muito bem ser apenas o começo do que muito provavelmente implicará uma reinterpretação generalizada do cristianismo bíblico.

Pelo que dissemos até agora, fica evidente que tanto os teólogos clássicos como os teólogos da’ visão aberta usam a evidência bíblica seletivamente. Assim como o teísmo clássico interpreta a liberdade de uma forma que não se ajusta ao significado nominal dos textos relevantes, o mesmo acontece com a interpretação do teísmo aberto da presciência divina. É evidente que nem os teísmos clássico nem o aberto constroem as suas visões de Deus numa base ontológica igualmente sensível a toda a extensão da evidência bíblica. Além disso, os princípios que orientam a seleção e interpretação das evidências bíblicas são, em ambos os casos, derivados de filosofias ontológicas.

A teologia evangélica pode superar o desacordo entre os paradigmas clássico e da visão aberta? Conceber outro paradigma só desfragmentará ainda mais nossa teologia.. No entanto, pode haver outra maneira. Talvez os pensadores evangélicos queiram considerar a possibilidade de fazer teologia dentro de uma nova matriz metodológica. Resumidamente, em vez de seguir o paradigma metodológico tradicionalmente incontestado, segundo o qual os teólogos definem os seus princípios macro-hermenêuticos a partir de ensinamentos filosóficos e científicos, podemos tentar algo diferente: Por que não definir a nossa macro-hermenêutica a partir das Escrituras? Em vez de escolhermos os nossos pré-entendimentos macro-hermenêuticos a partir dos ensinamentos ontológicos de alguma escola de filosofia, por que não tentamos construí-los a partir dos ensinamentos ontológicos presentes explícita ou implicitamente em toda a gama de evidências bíblicas?

10. Conclusão

A controvérsia entre os teísmos clássico e aberto não gira em torno de questões exegéticas ou doutrinárias menores, mas no núcleo hermenêutico a partir do qual os teólogos evangélicos entendem as Escrituras, o Evangelho e todo o alcance da teologia e prática cristã.

O conflito entre as visões clássica e aberta de Deus não é causado pela introdução de novas evidências das Escrituras, mas sim pela introdução de novos princípios macro-hermenêuticos de interpretação. Por um lado, o teísmo clássico constrói a sua visão de Deus com base na compreensão ontológica grega clássica. Por outro lado, o teísmo aberto rejeita explicitamente os padrões ontológicos gregos clássicos e implicitamente, talvez por defeito, constrói a sua visão alternativa de Deus a partir de padrões ontológicos de processos modernos.

Talvez os teólogos clássicos e da visão aberta possam continuar a construir e esclarecer as suas propostas teológicas sem examinar minuciosamente os seus supostos pressupostos macro-hermenêuticos. Nesta base, uma discussão mais aprofundada dos dados bíblicos nunca levará a um acordo teológico porque ambos os lados continuarão a interpretar os mesmos dados e questões teológicas a partir de diferentes perspectivas macro-hermenêuticas.

A nossa análise revela que o debate em curso entre os teísmos clássico e aberto tem pelo menos duas consequências importantes para o futuro da teologia evangélica. Primeiro, o debate nos ajuda a perceber que a teologia evangélica constrói a sua interpretação das Escrituras e das doutrinas com base nos padrões ontológicos gregos. Para os pensadores evangélicos que fazem teologia a partir de uma visão elevada das Escrituras, esta pode ser uma constatação muito perturbadora. Afinal, assumimos implicitamente que nossa teologia se baseia em uma compreensão “neutra” ou “objetiva” das Escrituras (micro-hermenêutica). Pelo menos me lembro de como fiquei chateado quando descobri esse fato no meu próprio entendimento teológico. Podemos tentar negar esse fato. Mas a negação não exorcizará a sua presença nem a sua influência dominante na formulação da teologia evangélica.67

A teologia aberta também funciona dentro do mesmo paradigma metodológico. Contudo, os teólogos da visão aberta negam explicitamente qualquer dívida para com os padrões da filosofia do processo. Apoiarão eles a sua alegada independência das filosofias gregas e processuais com uma ontologia bíblica global independente? Só o tempo irá dizer. No longo prazo, todavia, a contribuição mais significativa dos teólogos da visão aberta pode residir não tanto na sua interpretação alternativa da presciência e soberania divinas, mas na sua tentativa de desenvolver a teologia evangélica em fidelidade ao pensamento bíblico.

Isto nos leva à segunda consequência que este debate pode ter sobre o futuro da teologia evangélica. À medida que os teólogos abertos argumentam as suas opiniões sobre Deus e o futuro a partir das Escrituras, eles implicitamente descobrem a importância ontológica do pensamento bíblico. Se o pensamento bíblico pode ser levado a sério para definir alguns pontos relativos ao ser de Deus, por que não poderíamos construir todo o nosso pensamento ontológico a partir das Escrituras? À medida que ambas as partes neste debate continuam a fortalecer os seus argumentos, voltando ao Antigo e ao Novo Testamento, a importância filosófica há muito esquecida das Escrituras pode se tornar cada vez mais clara para nós.

Alguns entre nós argumentam que, para que a teologia evangélica sobreviva e se torne relevante em nossos tempos pós-modernos, pós-denominacionais, pós-teológicos e pós-cristãos, devemos acomodar os princípios macro-hermenêuticos da teologia à tradição e às tendências contemporâneas da filosofia, ciência e cultura.68 Não obstante, por que deveríamos continuar a definir nossos princípios macro-hermenêuticos eternamente desenvolvendo padrões de pensamento extrabíblicos, filosóficos, científicos e culturais? Por que deveríamos insistir em construir sobre o mesmo paradigma metodológico que é a causa raiz da nossa atual crise teológica? Não poderia haver uma maneira melhor?

Ao defender a relação de Deus na história humana, os teólogos da visão aberta descobriram a importância ontológica do pensamento bíblico, tropeçando numa ideia que sugere a possibilidade de um caminho melhor. Os princípios macro-hermenêuticos para a interpretação teológica bíblica também podem ser definidos a partir do pensamento bíblico. Embora até agora os teólogos da visão aberta pareçam inconscientes da revolução hermenêutica delineada na sua argumentação, podemos querer dar ao pensamento bíblico uma oportunidade de moldar os princípios macro-hermenêuticos da teologia evangélica. Este movimento paradigmático não só nos ajudará a superar a controvérsia da visão clássica-aberta sobre a interação divina com o mundo, mas a repensar todo o âmbito da teologia evangélica para o terceiro milênio. Talvez este seja o momento de pensar à luz das Escrituras.


Notas

1 Notavelmente, Norman Geisler criticou a visão aberta detalhadamente em dois livros: Creating God in the Image of Man? The New “Open” View of God—Neotheism’s Dangerous Drift (Minneapolis: Bethany, 1997), e Chosen but Free: A Balanced View of Divine Election (Minneapolis: Bethany, 1999). Geisler, no entanto, aborda a questão filosoficamente, não biblicamente.

2 Clark Pinnock, et al, “Systematic Theology,” em The Openness of God: A Biblical Challenge to the Traditional Understanding of God (Downers Grove: InterVarsity, 1994). Estas ideias já circulavam pelo menos desde o final dos anos setenta. Ver, por exemplo, Richard Rice, The Openness of God: The Relationship of Divine Foreknowledge and Human Free Will (Nashville: Review and Herald, c1980), e Clark Pinnock, e., The Grace of God and the Will of Man (Minneapolis: Bethany, 1989).

3 John E. Sanders, The God Who Risks: A Theology of Providence (Downers Grove: InterVarsity, 1998).

4 Gregory A. Boyd, The God of the Possible: A Biblical Introduction to the Open View of God (Grand Rapids: Baker, 2000).

5 Boyd, p. 15.

6 Ibid., p. 8

7 Creating God in the Image of Man?, p. 73.

8 Ibid., p. 145

9 Ibid., p. 74

10 Ibid., p. 145

11 Editorial, “God vs. God: Two Competing Theologies Vie for the Future of Evangelicalism,” Christianity Today (7 de Fevereiro de 2000): 34–35. Ver, também,, Roger Olson, Douglas F. Kelly, Timothy George, and Alister E. McGrath, “Has God Been Held Hostage by Philosophy? [a discussion of The Openness of God], Christianity Today (9 de janeiro de 1995). Mais recentemente, a Christianity Today publicou, durante dois meses, uma série de e-mails entre John Sanders e Christopher A. Hall nos quais eles debatem a abertura de Deus [“Does God Know Your Next Move?” (21 de maio e 18 de junho de 2001)]. O fato de ser a matéria de capa [“An Openness Debate”] indica a importância do tema para estudiosos e pastores evangélicos.

12 Ver, por exemplo, David S. Dockery, Biblical Interpretation Then and Now: Contemporary Hermeneutics in the Light of the Early Church (Grand Rapids: Baker, 1992); Gerhard Maier, Biblical Hermeneutics, trad. Robert W. Yarbrough (Wheaton: Crossway, 1994); Gerhard F. Hasel, Biblical Interpretation Today (Washington, DC: Biblical Research Institute, 1985); Henry Al Virkler, Hermeneutics: Principles and Processes of Biblical Interpretation (Grand Rapids: Baker, 1981); Grant R. Osborne, The Hermeneutical Spiral: A Comprehensive Introduction to Biblical Interpretation (Downers Grove: InterVarsity, 1991); e Walter C. Kaiser and Moises Silva, An Introduction to Biblical Hermeneutics: The Search for Meaning (Grand Rapids: Zondervan, 1994).

13 Hans-Georg Gadamer, no entanto, destacou a universalidade da hermenêutica presente em toda a compreensão humana. A hermenêutica, neste sentido geral, considera a maneira como os seres humanos pensam (“The Universality of the Hermeneutical Problem,” em Philosophical Hermeneutics, e. David E. Linge [Berkeley: U of California P, 1976], 1–17; and idem., Truth and Method, 2ª e. rev., trad. Joel Weinsheimer e Donald G. Marshall (New York: Continuum, 1989).

14 Para uma introdução à hermenêutica como teoria geral da interpretação, ver Josef Bleicher, Contemporary Hermeneutics: Hermeneutics as Method, Philosophy and Critique (Boston: Routledge & Kegan, 1980); Hans-Georg Gadamer, Philosophical Hermeneutics; F.D.E. Schleiermacher, Hermeneutics: The Handwritten Manuscripts, e. Heinz Kimmerle, trad. James Duke e Jack Forstman (Atlanta: Scholars, 1977). De uma perspectiva teológica, ver Anthony C. Thiselton, The Two Horizons: New Testament Hermeneutics and Philosophical Description with Special Reference to Heidegger, Bultmann, Gadamer, and Wittgenstein (Grand Rapids: Eerdmans, 1980); idem., New Horizons in Hermeneutics (Grand Rapids: Zondervan, 1992); e idem., “Biblical Theology and Hermeneutics,” em The Modern Theologians: An Introduction to Christian Theology in the Twentieth Century, e. David F. Ford (Cambridge: Blackwell, 1997), pp. 520–537.

15 Para uma introdução ao desenvolvimento da hermenêutica filosófica, ver Raœl Kerbs, “Sobre el desarrollo de la hermenéutica,” Analogia Filosófica, (1999): 3–33.

16 Gadamer descreve o objetivo ao qual o ato de interpretação visa de várias maneiras, incluindo, por exemplo, “significado”, “conteúdo” e “sujeito-assunto”. Gadamer entende que a tarefa da hermenêutica é “trazer acordo no conteúdo” (Truth and Method, p. 293; ver também 270 e 324, ênfase acrescida).

17 “[I]nterpretação começa com concepções prévias que são substituídas por outras mais adequadas. Este processo constante de novas projeções constitui o movimento de compreensão e interpretações. Uma pessoa que está tentando compreender fica exposta à distração de significados prévios que não são confirmados pelas próprias coisas. Elaborar projeções apropriadas, de natureza antecipatória, a serem confirmadas ‘pelas próprias coisas’, é a tarefa constante da compreensão” (Truth and Method, p. 267, ênfase acrescida).

18 “Toda interpretação correta deve estar alerta contra as fantasias arbitrárias e as limitações impostas por hábitos imperceptíveis de pensamento, e deve dirigir seu olhar ‘para as próprias coisas’ (que, no caso do crítico literário, são textos significativos, novamente preocupados com objetos). Para o intérprete, deixar-se guiar pelas próprias coisas não é obviamente uma questão de uma decisão única e ‘consciente’, mas é ‘a primeira, última e constante tarefa’” (Truth and Method, pp. 266–267, ênfase acrescida).

19 “Quem está tentando entender um texto está sempre projetando. Projeta um significado para o texto como um todo assim que algum significado inicial emerge no texto. Novamente, o significado inicial surge apenas porque ele está lendo os textos com expectativas particulares em relação a um determinado significado. Elaborar essa projeção, constantemente revisada em termos do que emerge à medida que penetra no significado, é compreender o que está lá” (Truth and Method, p. 267).

20 Hans Küng utiliza a categorização “macro, meso e micro” para falar sobre o paradigma científico em teologia (Theology for the Third Millennium: An Ecumenical View, trad. Peter Heinegg [New York: Doubleday, 1988], p. 134).

21 Clark Pinnock, Richard Rice, John Sanders, William Hasker e David Basinger afirmam claramente que a visão aberta de Deus promove uma nova compreensão da “natureza de Deus e do relacionamento com suas criaturas” (Clark Pinnock et al., The Openness of God, p. 8). Eles também entendem que a questão em discussão é a natureza de Deus: “[N]enhuma doutrina é mais central do que a natureza de Deus. Afeta profundamente a nossa compreensão da encarnação, graça, criação, eleição, soberania e salvação. Ademais, a doutrina de Deus está cheia de implicações para a vida diária. A visão de Deus tem impacto direto em práticas como oração, evangelismo, busca de orientação divina e resposta ao sofrimento,” ibid.

22 Ibid.

23 Wolfhart Pannenberg, Systematic Theology, trad. Geoffrey W. Bromley, 3 vols., (Grand Rapids: Eerdmans, 1991, 1994), I:59.

24 Richard Rice, “Biblical Support for a New Perspective,” em The Openness of God: A Biblical Challenge to the Traditional Understanding of God, p. 15.

25 Ibid.

26 Ibid.

27 Ibid., p. 21 Rice também trata dos sentimentos, intenções, ações divinas, da encarnação e morte de Jesus, e de passagens que parecem apoiar a visão clássica (imutabilidade divina, profecia, presciência e predestinação), ibid., pp. 21–58.

28 Sanders, pp. 39–139, examina as evidências bíblicas seguindo uma ordem cronológica começando com a criação e seguindo com questões como a queda, sofrimento divino (Deus se arrependendo de decisões anteriores e mudando de ideia), Deus testando a fé de Abraão, seres humanos prevalecendo sobre Deus, a história de José envolvendo risco, relações humanas divinas dentro da aliança, oração intercessória, arrependimento divino, a presença e ausência de Deus, o oleiro e os textos de barro, vida e humilhação divina, nascimento de Jesus e o massacre de Belém, seu batismo, tentação, confissão, transfiguração, compaixão, diálogo e graça curativa, Getsêmani, a cruz, a ressurreição, a igreja, Romanos 9–11, escatologia e providência, previsões e presciência.

29 Boyd, pp. 24–87, demonstra que a visão clássica que gira em torno da noção de presciência divina exaustiva não tem fundamento bíblico real. Para esse fim, ele lida com textos sobre a soberania divina da história, a presciência do povo escolhido, dos indivíduos, do ministério de Cristo, dos eleitos, do fim dos tempos, em Isaías 46 e 48, do futuro de Israel, em profecias individuais, da negação de Pedro, da traição de Judas, implicou na separação divina desde o ventre, nos nossos dias sendo registrados no livro de Deus, nas profecias de reinos, na ordenação divina das fronteiras nacionais, na predestinação do Messias e da igreja. Em favor de um futuro aberto (contra a presciência) Boyd lida com textos sobre o arrependimento divino de decisões anteriores, sobre Deus fazendo perguntas sobre o futuro, sobre Deus confrontando o inesperado, sobre Deus ficando frustrado, sobre Deus testando as pessoas para conhecer seu caráter, sobre Deus falando em termos do que pode ou não ser, sobre os crentes que apressam o retorno do Senhor, sobre o oleiro e o barro, e sobre as intenções divinas invertidas.

30 Geisler trata de textos sobre asseidade divina, eternidade (atemporalidade), simplicidade, imutabilidade, sobre mutabilidade divina, sobre oração peticionária, sobre arrependimento divino, a alegação de que o arrependimento divino implica na ignorância de Deus sobre o futuro e a questão dos antropomorfismos (Creating God in the Image of Man?, pp. 75–91).

31 Ibid.

32 Ibid., p. 75

33 Ibid., p. 90 Ver, também, o argumento de Geisler, pp. 75–91, contra o fundamento bíblico propriamente dito do teísmo aberto.

34 Ibid., pp. 96-97.

35 Geisler pertence à “minoria silenciosa” entre os autores evangélicos que reconhecem a influência formativa da filosofia clássica na teologia evangélica. Com a ressalva de que não concorda com tudo o que Tomás de Aquino escreveu, Geisler nos diz que concorda, entre outros pontos, com as opiniões de Tomás de Aquino sobre a natureza e a interpretação das Escrituras, a apologética, a ontologia, a epistemologia, a doutrina da analogia, a razão e a revelação, fé e razão, e liberdade humana e soberania divina (Thomas Aquinas: An Evangelical Appraisal [Grand Rapids: Baker, 1991], pp. 21–22). A respeito do ser de Deus, ele afirma: “Tomás de Aquino pode fornecer uma resposta filosófica à crescente influência do deus finito da teologia do processo. Não existe sistema filosófico melhor capaz de responder à ameaça levantada pela teologia do processo e defender a visão teísta e bíblica tradicional de Deus como um ser eterno, imutável e absolutamente perfeito” (Ibid., p. 21). Obviamente, Tomás de Aquino se baseou nas ideias filosóficas aristotélicas e platônicas.

36 Pinnock, et al, p. 9.

37 Comentando sobre a interpretação dos textos bíblicos, Boyd, pp. 119–120, observa que as passagens que falam sobre Deus mudando de ideia “parecem ridículas para alguns [teístas clássicos] porque esses leitores trazem para o texto um preconceito de como Deus deve ser. Uma vez que alguém esteja livre desse preconceito, essas passagens contribuem para o retrato exaltado do Deus ansiosamente soberano na Bíblia.”

38 Ibid.

39 Thomas Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions, 2ª e. (Chicago: U of Chicago P, 1970).

40 Ibid., p. 175

41 Ibid., p. 23

42 Küng, p. 138.

43 Kuhn, pp. 66–91.

44 Küng, p. 147.

45 O papel de Geisler como defensor da “ciência normal” fica claro quando notamos que ele não é apenas contra a visão aberta de Deus, mas também contra a teologia do processo, que também desafia o paradigma clássico.

46 Quando os teístas abertos lidam com o motivo bíblico da predeterminação parcial do futuro, eles se baseiam, por padrão, na visão clássica de Deus, e, portanto, nos seus princípios ontológicos macro-hermenêuticos.

47 Tratei parcialmente da relação entre filosofia e paradigma em “Paradigm, System and Theological Pluralism,” Evangelical Quarterly, 70 (1998): 195–218.

48 Kuhn, 79, afirma: “Rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro é rejeitar a própria ciência. Esste ato reflete não no paradigma, mas no homem. Inevitavelmente, ele será visto pelos seus colegas como ‘o carpinteiro que culpa as suas ferramentas’.”

49 De agora em diante usarei a palavra “presciência” significando “presciência exaustiva das decisões humanas livres.”

50 Ver, por exemplo, Boyd, pp. 47–48, que nos assegura que quando Paulo usa a palavra presciência (proegnō) em Romanos 8:29, ele quer dizer “pré-amor”.

51 Ibid., p. 14.

52 A ênfase de Boyd na realidade das coisas conforme descritas nas Escrituras revela um nível ontológico que não é tecnicamente abordado por teólogos da visão aberta.

53 Boyd, pp. 14–15, 31, caracteriza sua visão da providência e da presciência como “limitada”. Contudo, considero que esta caracterização não se enquadra no teor geral do argumento dele.

54 Geisler, Creating God in the Image of Man, pp. 125–126. Ele afirma ainda: “Uma coisa parece certa. Se as consequências lógicas das crenças pouco ortodoxas dos neoteístas sobre Deus forem extraídas, elas serão cada vez mais empurradas na direcção da teologia do processo e das crenças liberais nela implicadas. Somente o tempo e a lógica dirão em que direção o neoteísmo irá” (ibid., p.12; ver, também, p. 72).

55 William Hasker, “A Philosophical Perspective,” em The Openness of God: A Biblical Challenge to the Traditional Understanding of God, e. et al Clark Pinnock (Downers Grove: InterVarsity, 1994), pp. 138–141.

56 Ibid., pp. 138–141.

57 Jack Bonsor, Athens and Jerusalem: The Role of Philosophy in Theology (New York: Paulist, 1993), p. 26.

58 David Basinger, The Case for Freewill Theism: A Philosophical Assessment (Downers Grove: InterVarsity, 1996), pp. 11–14.

59 Teólogos da visão aberta empregam a filosofia, mas apenas ao nível da análise da consistência interna e da coerência externa das teologias clássica e da visão aberta. Deste modo, argumentos racionais longos e complicados são analisados ​​para decidir qual proposta é mais “racional”. Introduzindo seus breves comentários sobre o lado filosófico de sua proposta, Boyd, 120, observa que “[s]e alguém quiser adicionar provas filosóficas a isso [a visão aberta de Deus], ​​as coisas ficam um pouco mais complicadas (para surpresa de ninguém). Existem muitos filósofos brilhantes que defendem a visão de que Deus pode, em princípio, prever ações livres futuras e muitos que argumentam que ele não pode, uma vez que isto constitui uma contradição lógica. Pessoalmente, estou convencido de que os melhores argumentos estão no segundo campo, mas também ciente de que este não é um caso aberto-e-fechado.” Portanto, ao abordar a questão filosófica, os teólogos de visão aberta não tornam explícitos os seus pressupostos ontológicos. Eventualmente, a menos que eles tornem suas visões ontológicas explícitas a partir das Escrituras, a lógica interna da visão aberta decidirá esta questão por padrão.

60 Alfred Whitehead, Process and Reality: An Essay in Cosmology (New York: Macmillan, 1929).

61 Para uma breve introdução à noção de um deus bipolar, ver o livro de Geisler, Creating God in the Image of Man?, pp. 49–51.

62 Para uma comparação detalhada entre as visões de Deus de acordo com o teísmo, a visão aberta de Deus e a filosofia do processo, ver ibid., pp. 76–77.

63 Richard Rice, “Divine Foreknowledge and Free-will Theism,” em The Grace of God and the Will of Man: A Case for Arminianism, e. Clark Pinnock (Grand Rapids: Zondervan, 1989), p. 129.

64 Para uma síntese da reinterpretação de visão aberta da presciência divina, ver ibid., p. 134.

65 Para um resumo da reinterpretação da noção de profecia bíblica apresentada por teólogos de visão aberta, ver ibid., pp. 134–136.

66 Estou me referindo à sugestão de Boyd, pp. 47–48, de que em Romanos 8:29 Paulo não quis dizer pré-conhecimento, mas pré-amor.

67 Este ponto é ferrenhamente defendido por Norman Geisler (Thomas Aquinas: An Evangelical Appraisal [Grand Rapids: Baker, 1991]).

68 Ver, por exemplo, Stanley J. Grenz, Renewing the Center: Evangelical Theology in a Post-Theological Era (Grand Rapids: Baker, 2000).

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