Sukkot, A Festa dos Tabernáculos

Sukkot, A Festa dos Tabernáculos


Breno Tresoldi Minzon é formado em Engenharia da Computação pela Universidade Federal de Itajubá e trabalha em uma grande empresa de telecomunicações. Adventista de berço, colabora, desde 2005, na Comunidade Judaico-Adventista de Campinas/SP. É natural desta cidade e vive ali com a sua esposa Milena e a sua filha Sarah.


Sukkot, mais conhecida como Festa dos Tabernáculos, significa, literalmente, cabanas, tendas ou tabernáculos. Surgem, naturalmente, aqui, algumas perguntas e intencionamos respondê-las neste estudo. O que é a festa? Quais os costumes? O que diz a Bíblia sobre esta festa? É mencionada mais de uma vez na Bíblia? Qual a importância para nós hoje?

A festa está descrita em Levíticos 23:34–43. Os versos 40–43 descrevem os ritos e os costumes, e os versos anteriores descrevem os sacrifícios a serem feitos.

Notem que, no verso 40, existem 4 elementos descritos como parte do ritual. Hoje em dia, utiliza-se apenas 2, simbolizando os 4. São eles: Lulav (folha de palmeira, fechada, com um ramo de salgueiro e um galho de murta presos a esta) e o Etrog (fruta cítrica que parece o limão, porém, um pouco maior que uma pera). Mas tais elementos são utilizados, conforme o texto, somente no primeiro dia.

Existem muitas interpretações sobre os significados devido ao fato da Bíblia não explicar o porquê desses elementos. Não é meu objetivo explicá-los ou refletir sobre eles aqui, apenas mencionar.

Os versos 42–43 explicitam o significado e o motivo da festa: Os filhos de Israel devem passar uma semana habitando em cabanas para se lembrarem que por 40 anos moraram no deserto e viveram em tendas, e que o Eterno é nosso Deus.

Em Êxodo:24, Deus ordena Moisés a subir no Sinai, e Deus, então, diz a ele: “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Êx 25:80); ou seja, Deus, fisicamente, habitaria no meio do povo, dentro do Santuário. Os capítulos seguintes narram como seria o Tabernáculo, ou o Templo móvel. Os capítulos 26, 27, 28, 29, 30 descrevem, em detalhes, a construção, roupas, utensílios, móveis, etc. No capítulo 31 Deus designa os construtores e entrega as duas tábuas de pedra contendo as Dez Palavras, ou Dez Mandamentos, escritas pelo dedo de Deus, frente e verso.

Êxodo 32 relata que o povo tinha ficado impaciente aguardando Moisés, não sabendo se ele estava vivo ou morto, e se sentiram, dentre outras coisas, perdidos. Pediram para Arão fundir um bezerro de ouro para eles pudessem o adorar, e, assim, Arão procedeu. Nos versos 7–8, Deus conta para Moisés o que está acontecendo.

Algo interessante, aqui, acontece: Deus quer destruir Seu Povo. Moisés intercede pelo povo, e “Então, se arrependeu o SENHOR do mal que dissera havia de fazer ao povo” (Êx 32:14). Moisés desce do monte, e ouve o alarido do arraial de Israel. Vendo o povo despido em uma tremenda festa idólatra, Moisés se enfurece e arremessa as tábuas de pedra no chão. Ele, então, pega o bezerro, joga no fogo, mói inteiro, dilui em água e ordena o povo a beber. Moisés separa o povo entre os adoradores de Deus e os adoradores do bezerro, e ordena que o primeiro grupo mate o segundo, e, consequentemente, três mil pessoas morrem naquele dia.

Em Êxodo 33, Deus ordena a Moisés e ao povo subir em direção à terra que Ele prometeu, mas, disse o Senhor a Moisés: “eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho” (Êx 33:3). O povo pranteia. Deus se arrependeu de tudo aquele que tinha dito a Moisés, o que inclui o templo móvel e a promessa de habitar no meio deles.

Moisés, mais uma vez, intervém e implora a Deus que permaneça com eles. O profeta insiste, duas vezes, com Deus. Ele, então, pede para ver a glória de Deus. O Senhor permite Moisés ver as Suas costas, mas não o Seu rosto.

Em Êxodo 34:6–7, Moisés recita o famoso 13 atributos divinos.

No capítulo seguinte, Deus ordena o povo a começar a obra do Tabernáculo. Deus se arrependeu do mal que faria e voltaria a habitar no meio deles.

Como vimos, o maior medo de Moisés era perder a presença de Deus. Durante 40 anos, o povo teve Deus presente entre eles. Durante os 40 anos, o povo viveu em tendas frágeis, simples, porém resistentes, mas temporárias. Assim é a sukkah que é construída no meio judaico até hoje: simples, de madeira e de folhas de palmeira, simbolizando que a morada é resistente suficiente para durar os 8 dias da festa;, porém, apesar de frágil, é temporária. Contudo, o mais importante é que Deus habitava no meio deles.

João 1:14 diz que Jesus, nosso Messias, se fez carne e “habitou entre nós”. No grego, eskḗnōsen en hemin, literalmente “tabernaculou entre nós”, exatamente a mesma ideia expressa em Êxodo 25:8 e Apocalipse 21:3.

Em João 7:2, vemos que Jesus observando, como todo judeu, a Sukkot: “Ora, estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos.” Mas, nos versos 37 e 38, algo diferente ocorre:No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.”

Qual a relação entre rios de água viva e a festa? Parece que o autor faz questão de conectar estas duas ideias, pois as colocou no mesmo verso. Recorrendo então à tradição judaica, e a Lei Oral (Talmud, Mishnah, etc), vemos que:

todas as manhãs de Sukkot, no alvorecer, um grupo de levitas ia ao tanque de Shiloach (Siloé), que corria ao sul do Monte do Templo, e enchia três login (medida talmúdica de líquidos) de água fresca (“água viva”) para serem derramados sobre o altar após o sacrifício diário da manhã. A chegada dos levitas ao Templo, com a água, era acompanhada com toques de trombeta.[1]

Jesus, com isso, trazia todo o significado da festa sobre si. Todo o simbolismo da festa apontava para Ele. As águas derramadas, simbolizavam Ele mesmo.

Ao comentar sobre esta festa, Ellen White diz:

Bom seria que o povo de Deus na atualidade tivesse uma Festa dos Tabernáculos – uma jubilosa comemoração das bênçãos de Deus a eles. Assim como os filhos de Israel celebravam o livramento que Deus operara a seus pais, e sua miraculosa preservação por parte dEle durante suas jornadas depois de saírem do Egito, devemos nós com gratidão recordar-nos dos vários meios que Ele ideou para nos tirar do mundo, e das trevas do erro, para a luz preciosa de Sua graça e verdade.[2]

Sukkot começa 5 dias após o Yom Kippur (Dia da Expiação). Semelhantemente à história do povo de Israel que imediatamente após ter sido perdoado por Deus construiu o Tabernáculo, Sukkot vem imediatamente após o Yom Kippur para nos lembrar que Deus, hoje, habita em nós, em nossos corações.

[1]http://www.chabad.org/holidays/JewishNewYear/template_cdo/aid/1971019/jewish/The-Joyous-Water-Drawing-Ceremony.htm#footnote1a1971019 – Acessado dia 15/10/2017.

[2] Patriarcas e Profetas, pp. 540-541.

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