As Contribuições de Ciro, Dario I e Artaxerxes I ao Decreto para Restaurar e Reconstruir Jerusalém

As Contribuições de Ciro, Dario I e Artaxerxes I ao Decreto para Restaurar e Reconstruir Jerusalém


P. Gerard Damsteegt nasceu na Holanda. Ele era engenheiro aeronáutico quando se tornou adventista. Deus o chamou para preparar pessoas para a volta de Jesus. Em seu ministério,  ele serviu como pastor evangelista, missionário, capelão, educador, editor, escritor e professor. Ele é autor do livro Fundamentos da Mensagem e Missão Adventista do Sétimo Dia, e autor principal do livro Nisto Cremos.  Ele foi professor do Departamento de História da Igreja na Andrews.


Tradução: Hugo Martins

O artigo “As Contribuições de Ciro, Dario I e Artaxerxes I ao Decreto para Restaurar e Reconstruir Jerusalém?” (Original em Inglês: “The Contributions of Cyrus, Darius I, and Artaxerxes I to the Decree to Restore and Build Jerusalem”), por P. Gerard Damsteegt,  foi primeiramente publicado no Journal of the Adventist Theological Society da ATS (Adventist Theological Society [Sociedade Teológica Adventista]) em 2020. Usado com esperança que o autor dará sua permissão no futuro.


A questão em Daniel 9:25 sobre quem emitiu o “mandamento,” “ordem,” “decreto” ou “promulgação do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém” (NVI),1 tem ocupado os estudiosos da Bíblia durante séculos. Surgiram três interpretações principais quanto ao decreto para reconstruir Jerusalém. A primeira afirma que o decreto foi editado pelo rei persa Ciro, o Grande (reinou de 559–530 A.E.C.). A segunda é que o rei Dario I (reinou de 522–486 A.E.C.) editou o decreto. A terceira associa o decreto ao rei Artaxerxes I Longímano (reinou de 465–425 A.E.C.). Hoje, a maioria dos estudiosos defende a primeira ou segunda, enquanto adventistas tradicionais defendem a terceira. Este artigo examinará as diferenças fundamentais das três interpretações que impedem de chegar a um acordo sobre os decretos para reconstruir Jerusalém e como entender os decretos de Ciro e Dario I à luz do pensamento adventista.

A tese deste artigo é que há evidências históricas e bíblicas de que os decretos de Ciro, Dario I e Artaxerxes I contribuíram para a restauração e construção de Jerusalém, mas que o decreto de Artaxerxes I é aquele que se qualifica como o decreto de Daniel 9:25.

A Contribuição de Ciro

A Ordem para Reconstruir

Os estudiosos da Bíblia que enfatizam que Ciro foi o responsável pela reconstrução de Jerusalém após o exílio babilônico se remetem às profecias de Isaías 44 e 45. Em Isaías 44:28 o Senhor profetizou sobre Ciro: “‘Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me agrada.’ Digo também de Jerusalém: ‘Será edificada’; e do templo: ‘Seus alicerces serão lançados’.” Em Isaías 45:13 o Senhor profetizou sobre Ciro: “Eu, na minha justiça, suscitei Ciro e endireitarei todos os seus caminhos. Ele reconstruirá a minha cidade e libertará os meus exilados, não por preço nem por presentes, diz o Senhor dos Exércitos.”

Tais comentaristas argumentam que esta profecia bíblica se refere a Ciro como aquele que construiria Jerusalém e que restauraria os exilados à sua terra natal. Ambos os elementos de reconstrução e restauração foram mencionados no decreto de Daniel 9:25; e Ciro os cumpriu.

Os defensores de cada uma das interpretações acima concordam que o decreto de Ciro envolveu a reconstrução do Templo de Jerusalém. Isto é claramente afirmado na proclamação de Ciro em Esdras 1:2–4. Nesta passagem, Ciro reconheceu que “O Senhor, Deus dos céus . . . me encarregou de lhe edificar um templo em Jerusalém.” Como resultado, Ciro ordenou para os exilados subirem “para Jerusalém . . . e edifique a Casa do Senhor, Deus de Israel . . . que está em Jerusalém.”

Qual é a evidência de que a profecia de Isaías foi cumprida quando Ciro emitiu um decreto para reconstruir Jerusalém que levou o retorno dos exilados judeus sob Zorobabel a iniciar a reconstrução da própria cidade? Alguns estudiosos que sustentam que Ciro editou o decreto de Daniel 9:25 sugerem que a reconstrução de Jerusalém foi adiada até a época de Esdras, sob o rei Artaxerxes I de Esdras 7, quase um século depois. Se não há nenhuma evidência bíblica de uma reconstrução de Jerusalém antes da viagem de Esdras a Jerusalém em 457 A.E.C., há alguma evidência de fontes extrabíblicas sobre a reconstrução da cidade?

Decreto de Ciro para Reconstruir Jerusalém

Algumas fontes judaicas extrabíblicas antigas, como o livro apócrifo de 1 Esdras (séc. II A.E.C.) e o historiador judeu Flávio Josefo (37–100 E.C.), relembrando a experiência judaica durante os tempos persas, não apoiam a visão de que a reconstrução da cidade teve que esperar até o retorno de Esdras a Judá. Esses documentos começam com o início da reconstrução de Jerusalém após o cativeiro babilônico numa data muito anterior.

Josefo relatou que depois que Ciro leu as profecias de Isaías “um desejo sincero e uma ambição se apoderaram dele para cumprir o que estava escrito; então ele chamou os judeus mais importantes na Babilônia e lhes deu permissão para voltar ao seu próprio país e reconstruir sua cidade de Jerusalém e o templo de Deus, para que ele auxiliasse.”2

Josefo citou a carta de Ciro que foi endereçada da seguinte forma: “Rei Ciro a Sisines e Satrabuzane, saudações.” Inclui o decreto para reconstruir a cidade e o templo: “Dei permissão aos judeus que moram em meu país que quiserem retornar ao seu próprio país, e para reconstruir sua cidade, e para construir o templo de Deus em Jerusalém, no mesmo lugar. Também enviei meu tesoureiro, Mitrídeo, e Zorobabel, o governador dos judeus, para que assentassem os alicerces do templo. . . .”3

A carta inclui um relato detalhado das dimensões e composição do templo, a ser pago com as receitas do rei. Em troca, Ciro esperava que os judeus “Ore a Deus pela preservação do rei e de sua família para que o reino da Pérsia dure para sempre”4 Ciro conclui sua carta afirmando que aqueles que desobedecessem a esta política seriam crucificados e seus bens confiscados, tornando-se parte do tesouro do rei.5

A Oposição

Apesar das boas intenções e dos esforços de Ciro para implementar planos para a reconstrução de Jerusalém e do seu templo, as coisas não correram como ele esperou. Em Esdras 4:1-5 encontramos a história da oposição do povo da terra aos esforços de reconstrução dos judeus. “Então o povo da terra começou a desanimar o povo de Judá, perturbando-o no trabalho de construção. Contrataram conselheiros para frustrar o plano deles. Fizeram isso durante todo o reinado de Ciro, rei da Pérsia, até o reinado de Dario, rei da Pérsia” (Ed 4:4–5).

Sobre as tentativas de interromper os esforços judaicos para reconstruir a cidade e o templo durante o reinado de Ciro, Josefo escreveu que aqueles oponentes “suplicaram aos governadores, e àqueles que cuidavam de tais assuntos, que interrompessem os judeus, tanto na reconstrução de sua cidade, quanto na reconstrução de seu templo.”6 Por meio de subornos, eles conseguiram desacelerar os esforços de reconstrução durante o restante do reinado de Ciro. Durante esse tempo, Ciro estava preocupado com os assuntos de seu próprio reino e não tinha conhecimento dos planos dos samaritanos.7

Esdras escreveu que as tentativas de interromper os esforços de reconstrução começaram sob o reinado de Ciro e continuaram durante o reinado dos dois reis persas seguintes, Assuero, também chamado Cambises, e Artaxerxes, também chamado de Falso Esmerdis, até o reinado de Dario I (Ed 4:5, 24) cerca de 8 anos depois.

Carta a Assuero sobre A Reconstrução da Cidade

Após a morte de Ciro, seu filho Cambises sucedeu ao trono da Pérsia. Então, os adversários dos judeus escreveram uma carta de reclamação a Assuero (Cambises) e outra carta a Artaxerxes (o Falso Esmerdis), os dois reis persas que reinaram durante o intervalo de oito anos entre Ciro e Dario I.

A primeira carta de reclamação foi escrita no início do reinado de Assuero (Cambises) (Ed 4:6). Essa carta foi registrada por Josefo, que descreveu como aqueles oponentes reclamaram que os judeus “estão construindo aquela cidade rebelde e perversa, e seus mercados, e erguendo seus muros e edificando o templo.”8 Eles avisaram Cambises (Assuero) que depois que os judeus terminassem a reconstrução, eles não estariam dispostos a pagar tributo ao rei porque “os judeus têm sido rebeldes e inimigos dos reis.”9

Em resposta a esta carta, Cambises (Assuero) editou um decreto para que os judeus cessassem a reconstrução de Jerusalém: “Eu dou ordem, que os judeus não serão autorizados a construir aquela cidade, para que os danos que costumavam causar aos reis não sejam maiores.”10 Como resultado, as autoridades regionais foram rapidamente a Jerusalém “e proibiram os judeus de reconstruir a cidade e o templo.”11 Assim, a reconstrução, segundo Josefo, foi interrompida até o segundo ano de Dario I.

Carta a Artaxerxes sobre A Reconstrução da Cidade

A segunda carta de reclamação dos adversários dos judeus usou argumentos semelhantes aos da carta anteriormente escrita ao rei Assuero (Cambises). Contudo, esta segunda carta foi escrita ao Rei Artaxerxes (o Falso Esmerdis) (Esdras 4:7). Esta carta é mencionada em 1 Esdras 2. Aqui encontramos correspondência entre os adversários dos judeus escrevendo a Artaxerxes (o Falso Esmerdis), solicitando a interrupção das atividades de reconstrução. Esta carta, semelhante à de Esdras 4:11–16, levou à interrupção dos esforços de reconstrução da cidade e do templo antes do reinado do rei Dario I Histaspes (Ed 4:8–24). Há, no entanto, uma diferença. 1 Esdras 2 menciona a reconstrução da cidade e também do templo. Dizia que os judeus estavam “reconstruindo aquela cidade rebelde e iníqua, reparando seus mercados e muros e executando a fundação de um templo.”12

Em resposta, Artaxerxes (o Falso Esmerdis) emitiu ordens para impedir a reconstrução da cidade. O resultado foi que “a construção do templo em Jerusalém cessou até o segundo ano do reinado de Dario, rei dos persas.”13 O conteúdo desta carta mostra claramente que o Artaxerxes (o Falso Esmerdis) desta carta não é o Artaxerxes I de Esdras 7, porque sob Artaxerxes I os fundamentos do templo já foram lançados muitos anos antes do seu reinado.

Novamente notamos que a narrativa em 1 Esdras 2 está escrita numa ordem ou sequência cronológica contínua, como foi o caso da carta dos adversários judeus a Cambises. Ao rever a história da interpretação de Esdras 4, a maioria dos comentaristas até ao século XIX interpretaram esta narrativa numa ordem cronológica contínua. Esses comentaristas interpretaram Esdras 4:6–23 como um registro da oposição contra os judeus entre os reinados de Ciro e Dario I. Eles, portanto, identificaram o nome Assuero de Esdras 4:6 e Artaxerxes de Esdras 4:7 com os reis persas Cambises e o Falso Esmerdis, assim chamados pelos historiadores gregos.

Hoje, em vez de uma leitura cronológica contínua do Livro de Esdras e do capítulo 4 de Esdras, os comentaristas geralmente seguem um arranjo temático da ordem dos eventos em Esdras 4, assumindo que Esdras 4 relata toda a oposição contra os esforços de reconstrução, cobrindo um período de mais de 70 anos de Ciro até Artaxerxes I Longímano de Esdras 7 (457 A.E.C.), em vez disso, um período de cerca de 8 anos de Ciro até Artaxerxes, o Falso Esmerdis, de 522 A.E.C. Esta interpretação temática assume que o Artaxerxes de Esdras 4 é o mesmo Rei Artaxerxes I de Esdras 7. O problema com esta visão é que os acontecimentos estão fora de ordem: o rei Artaxerxes em Esdras 4 edita um decreto para cessar a reconstrução de Jerusalém, enquanto posteriormente em Esdras 7 o rei Artaxerxes eedita um decreto para começar a restaurar e reconstruir Jerusalém. Além disso, o fato de Artaxerxes interromper a reconstrução de Jerusalém no capítulo 4, enquanto o mesmo rei e seus conselheiros no início de seu reinado em Esdras 7 editaram um decreto real para a reconstrução da cidade é muito problemático porque as leis dos medos e os persas são imutáveis ​​(Et 1:19; Dn 6:14–16). Ademais, existem diferenças significativas entre a carta de Artaxerxes em Esdras 4 e a carta de Artaxerxes em Esdras 7 que tornam difícil presumir que foram escritas pelo mesmo rei.14

Uma objeção frequentemente citada contra a ordem cronológica dos eventos em Esdras 4 tem sido que os samaritanos identificaram os judeus que estavam reconstruindo Jerusalém como “¹os judeus que saíram daí vieram a Jerusalém” (Ed 4:12). Isto foi visto como evidência de que se referia aos judeus que retornaram à Palestina sob o comando de Esdras em 457 A.E.C., o que significa que a carta dos samaritanos foi enviada a Artaxerxes I.

A frase “que saíram daí,” contudo, não significa necessariamente que os judeus vieram de Artaxerxes I. Poderia ser também uma declaração geral que se referisse aos judeus que vieram da Pérsia durante a primeira e maior migração judaica sob o rei Ciro. Devemos ter em mente que a população local conspirava contra os exilados judeus desde o seu regresso durante o reinado de Ciro (Ed 4:5).

Resumindo, há evidências sólidas de que Esdras 4:4–23 descreve os acontecimentos entre Ciro e Dario I que fornecem evidências bíblicas de uma reconstrução de Jerusalém pelos judeus durante esse período. Consequentemente, o relato de Esdras 4:4–23 revela que os judeus que retornaram durante o primeiro êxodo de Babilônia “estão reconstruindo aquela cidade rebelde e má. Estão restaurando as muralhas e reparando os seus fundamentos” (Ed 4:12). Isto significa que uma ordem cronológica dos eventos em Esdras 4 estaria em plena harmonia com os relatos cronológicos de 1 Esdras 2 e Antiguidades XI, ii, de Josefo.

Se, no entanto, aceitarmos uma interpretação temática de Esdras 4, atribuindo os eventos em Esdras 4:4–23 ao Rei Xerxes e ao Rei Artaxerxes I, então não há evidência bíblica para a reconstrução da cidade desde o tempo de Ciro até Dario I em diante. Não é surpresa que os estudiosos que apoiam a interpretação temática de Esdras 4 não se refiram à história persa conforme descrita em 1 Esdras 2 e Josefo, Antiguidades, XI, ii.

Os primeiros comentaristas adventistas,15 incluindo Ellen G. White, também interpretaram a ordem cronológica contínua da oposição severa em Esdras 4 e mencionaram que os samaritanos persuadiram o Falso Esmerdis, chamados Artaxerxes em Esdras 4, a editar um decreto proibindo os judeus de reconstruir seu templo e sua cidade. Ellen White também afirmou que no Livro de Esdras havia dois reis chamados Artaxerxes. O primeiro Artaxerxes em Esdras 4 é o Falso Esmerdis (522 A.E.C.), o segundo Artaxerxes foi Artaxerxes I Longímano (465–424 A.E.C.) em Esdras 6–8.16

Em resposta à questão de saber se Ciro contribuiu para um decreto para reconstruir Jerusalém, podemos afirmar que a nossa investigação mostra que Ciro editou um decreto que concedeu aos judeus que regressavam a permissão para fazer exatamente isso. Isto significa que Ciro cumpriu a profecia de Isaías de que editaria um decreto para reconstruir Jerusalém.

Contudo, ainda precisamos mostrar se Ciro editou o mesmo decreto de Daniel 9:25. Tenha em mente que o decreto de Daniel faz parte da profecia das 70 semanas que estipula que a partir da “ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até a vinda do Ungido, o Príncipe, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas.” Isto significa que há um total de 69 semanas proféticas desde a edição do decreto para reconstruir Jerusalém até a vinda do Messias. Estas 69 semanas proféticas equivalem a 69×7= 483 dias proféticos. Usando a hermenêutica historicista que emprega o princípio dia-ano de que um dia profético é um ano solar real, que a maioria dos protestantes tem usado desde a Reforma para explicar o elemento tempo na profecia apocalíptica, chegamos a um período de 483 anos a partir do momento do emitindo o decreto até o aparecimento de Jesus Cristo como o Messias. Se aceitarmos que a proclamação do decreto de Ciro ocorreu em c. 537 A.E.C. descobrimos que o aparecimento de Jesus Cristo como Messias seria 483 anos depois, o que corresponde ao ano 54 A.E.C. Isso foi mais de 50 anos antes do nascimento de Cristo. Fica claro que o decreto de Ciro em c. 537 A.E.C. para reconstruir Jerusalém não se qualifica para ser o próprio decreto de Daniel 9:25.

A Contribuição de Dario I Histaspes

Decreto de Dario para Reconstruir Jerusalém

Após a morte de Ciro, seu filho Cambises governou a Pérsia, seguido pelo curto reinado de Artaxerxes, o Falso Esmerdis, o usurpador do trono persa. Após derrotar os Falsos Esmerdis, Dario I Histaspes se tornou rei da Pérsia. Josefo mencionou que havia uma antiga amizade entre Dario e Zorobabel, governador dos exilados judeus que retornaram a Jerusalém. No primeiro ano do reinado de Dario, Zorobabel visitou o rei. Durante esta visita, Zorobabel lembrou ao rei Dario I de um voto que ele fez como cidadão comum de que, se se tornasse rei, “reconstruiria Jerusalém e ali construiria o templo de Deus, bem como restauraria os vasos que Nabucodonosor saqueou e carregou para a Babilônia.”17 Consequentemente, Dario escreveu aos toparcas e governadores lhes solicitandoque ajudassem Zorobabel a continuar a reconstrução do templo. Ele também enviou “cartas aos governantes que estavam na Síria e na Fenícia para cortar e transportar cedros do Líbano para Jerusalém, e para ajudá-lo na construção da cidade.”18

Josefo concluiu seus comentários sobre Dario com o seguinte: “E tudo o que Ciro pretendia fazer antes dele, relativo à restauração de Jerusalém, Dario também ordenou que fosse feito de acordo.”19

O Livro de 1 Esdras afirma esta história. Disto fica claro que logo após Dario se tornar rei da Pérsia, ele, sem saber, ratificou a ordem de Ciro quanto à reconstrução de Jerusalém e do templo. Seguindo as ordens de Dario, as obras de reconstrução foram retomadas. Esses esforços prosperaram sob o ministério dos profetas Ageu e Zacarias, e sob a liderança política e espiritual de Zorobabel e Jesua (Ed 5:1–2).20

A Oposição

Logo, porém, houve outra tentativa de interferir na reconstrução. Vários oficiais persas encarregados da área visitaram a cidade e exigiram saber quem autorizou as obras de reconstrução. Os judeus enfatizaram as obras foram originalmente autorizadas pelo decreto de Ciro. Tatenai, o governador persa, escreveu uma carta a Dario, pedindo-lhe que averiguasse se Ciro realmente editou tal decreto (Ed 5:7–17).

O Decreto de Dario Confirmou O Decreto de Ciro para Reconstruir Jerusalém

Após investigar, Dario descobriu que de fato Ciro editou um decreto, dando aos exilados que retornavam permissão para reconstruir. Como resultado, por volta de 520/519 A.E.C., Dario editou seu próprio decreto ratificando o decreto de Ciro e enfatizou que a construção do templo deveria ser paga com o tesouro do rei, bem como todas as despesas dos sacrifícios. O rei enfatizou que ninguém deveria interferir neste processo de reconstrução. Ele desejou que os sacerdotes judeus oferecessem “sacrifícios de aroma agradável ao Deus dos céus e orem pela vida do rei e dos seus filhos” (Ed 6:10).

Ele terminou seu decreto declarando que quem quer que o alterasse, “uma viga seja arrancada da sua casa, e que ele seja levantado e pendurado nela; e que a sua casa seja transformada num montão de entulho” (Ed 6:11). O templo foi concluído no sexto ano do reinado do rei Dario (Ed 6:15), cerca de 515 A.E.C.

Os eventos acima também estão descritos em 1 Esdras 6 e 7. Além disso, Josefo escreveu que as autoridades persas contataram Dario e “acusaram os judeus de fortificar e reconstruir o templo.”21 Tais autoridades persas pediram a Dario que averiguasse se tais empreendimento foram realmente autorizados. Os exilados judeus ficaram muito preocupados com este assunto. Josefo escreveu: “Os judeus ficaram então aterrorizados e amedrontados de que o rei mudasse sua resolução quanto à construção de Jerusalém e do templo.”22 Naquela época, os profetas Ageu e Zacarias incentivaram os exilados judeus a terem “bom ânimo e a não esperarem nenhum desânimo da parte dos persas, pois Deus lhes predisse isso.”23 Isto teve um efeito positivo e “eles se dedicaram seriamente à reconstrução e não pararam um dia sequer.”24

Quando Dario recebeu a carta das autoridades persas que lhe mostraram “A Epístola de Cambises [Assuero de Esdras 4:6], na qual ele os proibiu de construir o templo,” Dario investigou os registros reais.25 Ao localizar o decreto de Ciro permitindo que os judeus construíssem o templo, Dario escreveu uma carta instruindo os oficiais persas a ajudar os judeus na reconstrução do templo e a pagar pelos sacrifícios do templo com os impostos recolhidos em suas regiões.26

Percebe-se que o relato de Josefo é muito semelhante ao de Esdras 4 e 1 Esdras, acrescida da menção da reconstrução da cidade estar e, andamento.

Resumindo, observamos que Dario não acrescentou nada ao decreto de Ciro sobre a reconstrução da cidade e do templo. O decreto de Dario reiniciou o processo de reconstrução interrompido, basicamente reafirmando o decreto de Ciro.

Respondendo se Dario contribuiu para um decreto para restaurar e reconstruir Jerusalém, podemos afirmar que o decreto de Dario foi responsável por reiniciar o processo de reconstrução interrompido.

Contudo, ainda precisamos determinar se o decreto de Dario I poderia ser considerado o decreto de Daniel 9:25. Usaremos novamente a hermenêutica historicista que utiliza o princípio dia-ano que a maioria dos protestantes tem usado desde a Reforma para calcular a parição de Jesus Cristo como o Messias. Se assumirmos que a proclamação do decreto de Dario I ocorreu em c. 520 A.E.C., descobriremos que o aparecimento de Jesus Cristo como Messias ocorreu 483 anos depois, no ano 37 A.E.C. Isso foi mais de 30 anos antes do nascimento de Cristo. Nova e obviamente que o decreto de Dario I em c. 520 A.E.C. para reconstruir Jerusalém não corresponde ao decreto de Daniel 9:25.

A Contribuição de Artaxerxes I Longímano

Decreto de Artaxerxes para Restaurar e Reconstruir Jerusalém

O último rei persa que emitiu uma ordem relacionada a Jerusalém foi Artaxerxes I Longímano. Em seu sétimo ano, Artaxerxes I editou um decreto sobre os judeus em uma carta a Esdras, um sacerdote e “escriba versado na Lei de Moisés” (Ed 7:6). Este é o terceiro decreto relacionado à reconstrução e restauração de Jerusalém. Analisando este decreto, observa-se que ele foi além dos decretos anteriores ao proporcionar liberdade religiosa e política aos judeus.

Primeiro, o decreto fornece assistência financeira aos sacerdotes e aos envolvidos nos serviços religiosos e lhes concedeu antigos privilégios, eliminando todos os obstáculos à obra. O decreto diz: “Saibam também que vocês não têm autoridade para exigir impostos, tributos ou taxas de nenhum sacerdote, levita, cantor, porteiro, servidor do templo e de todos quantos trabalham neste templo de Deus” (Ed 7:24 [NVI]).

Segundo, o decreto também restaura uma certa liberdade política e judicial aos judeus, dando a Esdras a liberdade de nomear oficiais civis para governar o povo além do rio com o código da lei judaica. O decreto diz: “E você, Esdras, conforme a sabedoria que o seu Deus lhe deu, nomeie magistrados e juízes que julguem todo o povo que está na região do outro lado do Eufrates, isto é, todos os que conhecem as leis do seu Deus; e que elas sejam ensinadas aos que não as conhecem” (Ed 7:25).

Terceiro, o decreto especifica o compromisso contínuo de Artaxerxes em melhorar a aparência do templo. Esdras escreve que Deus “colocou no coração do rei o desejo de embelezar o templo do Senhor” (Ed 7:27).

O decreto resultante restaurou a liberdade religiosa e política, até que tanto o templo quanto a cidade estivessem totalmente concluídos. Em razão disso, Esdras poderia declarar sobre o impacto do “decreto do rei Artaxerxes para restaurar e construir Jerusalém”, [Ele] estendeu sobre nós a sua misericórdia, e achamos favor diante dos reis da Pérsia, para revivermos, para levantarmos o templo do nosso Deus, para restaurarmos as suas ruínas e para nos dar um muro de segurança em Judá e em Jerusalém” (Ed 9:9).

Encontramos esses eventos na história de Artaxerxes I também registrados em 1 Esdras 8. Josefo também relata uma história semelhante. No entanto, Josefo atribui este decreto ao rei Xerxes, filho de Dario I.27 É claro que Josefo confundiu Artaxerxes I com Xerxes. Se ele tivesse colocado esses eventos sob Artaxerxes I, a história teria sido idêntica.

A Oposição

Os esforços dde Esdras para a reconstrução também enfrentaram desafios. Após treze anos de trabalho, no vigésimo ano de Artaxerxes I, os opositores aos judeus conseguiram mais uma vez interromper o trabalho de reconstrução da cidade. Naquela época, Neemias, copeiro do rei, encontrou alguns judeus de Jerusalém que acabavam de chegar a Susã, a capital persa. Quando ele perguntou sobre a condição dos judeus exilados em Judá, recebeu um péssimo relatório: Os judeus estão “estão em grande miséria e humilhação. As muralhas de Jerusalém continuam em ruínas, e os seus portões foram destruídos pelo fogo” (Ne 1:3).

Este relatou afetou Neemias a ponto do rei perceber. Quando o rei perguntou a Neemias o que o perturbava, ele respondeu: “Como não estaria triste o meu rosto, se a cidade onde estão sepultados os meus pais está em ruínas e os seus portões foram queimados?” (Ne 2:3)

Então o Rei Artaxerxes I pergunta a Neemias se ele tem algum pedido. Neemias pede ao rei que o envie “a Judá, à cidade onde estão os túmulos dos meus pais, para que eu a reconstrua” (Ne 2:5). Ele também pede ao rei cartas de permissão “para os governadores da região do outro lado do Eufrates, para que me permitam passar e entrar em Judá” (Ne 2:7). Ele também pede uma carta ao guarda da floresta do rei “para que me dê madeira para as vigas dos portões da cidadela do templo, para as muralhas da cidade e para a casa em que deverei me alojar” (Ne 2:8). O rei então atende os seus pedidos e Neemias viaja para Jerusalém sem problemas.

Assim que Neemias chegou a Judá, ele inspecionou “as muralhas de Jerusalém, que estavam em ruínas e cujos portões tinham sido destruídos pelo fogo” (Ne 2:13). Em seguida, ele rapidamente traça planos para terminar a reconstrução das muralhas da cidade. Apesar da forte oposição, ele, com o esforço conjunto dos judeus leais, finaliza a reconstrução dos muros em apenas cinquenta e dois dias (Ne 6:15).

O Decreto de Artaxerxes I Confirma O Tempo do Messias

Por fim, precisamos determinar se o decreto de Artaxerxes I pode ser considerado o decreto de Daniel 9:25. Usando a hermenêutica historicista, de fato, somos capazes de encontrar o momento em que Jesus Cristo se tornou o Messias. Se aceitarmos que a promulgação do decreto de Artaxerxes I ocorreu no início da septuagésima semana, em 457 A.E.C., descobrimos que a aparição de Jesus Cristo como Messias ocorreu 483 anos depois. No fim da sexagésima nona semana, que seria no ano 27 d.C. Este é exatamente o ano em que Jesus de Nazaré se tornou o Messias. No décimo quinto ano do Imperador Tibério, Jesus foi batizado por João Batista no rio Jordão (Lc 3:1–3, 20–21). No momento do seu batismo, Jesus de Nazaré foi ungido pelo Espírito Santo (At 10:38) e se tornou Jesus o Messias (hebraico), o Ungido, que é Jesus o Cristo (grego), o Ungido. Isto confirma que o decreto de Artaxerxes I promulgado em 457 AC para reconstruir Jerusalém se qualifica como o decreto de Daniel 9:25.

Conclusão

Desta pesquisa ficou claro que cada um dos reis persas, Ciro, Dario I e Artaxerxes I, contribuiu com um decreto para restaurar e construir Jerusalém. É especialmente a evidência extrabíblica fornecida por 1 Esdras e Josefo que mostra que os decretos tanto de Ciro como de Dario I envolvem uma ordem para reconstruir Jerusalém.

Além disso, a leitura cronológica da ordem dos acontecimentos em Esdras 4 afirma que os judeus estavam reconstruindo Jerusalém durante os reinados de Ciro e Dario I, mostrando que esta reconstrução foi o resultado do decreto de Ciro. Esta evidência confirma que no Livro de Esdras houve dois reis com o nome de Artaxerxes. O Artaxerxes de Esdras 4 é o Falso Esmerdis, e o Artaxerxes de Esdras 7 é Artaxerxes I Longímano. A leitura temática de Esdras 4 e do Livro de Esdras com apenas um rei Artaxerxes que em Esdras 4 primeiro decreta cessar a reconstrução de Jerusalém e mais tarde em Esdras 7 emite um decreto para iniciar a reconstrução da cidade entra em conflito com o fato de que as leis de os medos e os persas eram imutáveis ​​(Dn 6:14–17).

Não obstante, qual decreto editado por estes três reis é o decreto de Daniel 9:25, deve ser avaliado no contexto da profecia das 70 semanas de Daniel 9:25. Sob a luz da hermenêutica historicista de que um dia profético é um ano solar, as 69 semanas proféticas ou 483 dias proféticos são 483 anos solares que cobrem o período de tempo desde a promulgação do decreto de Daniel 9:25 até o tempo do Messias. . É apenas o terceiro decreto de Artaxerxes I, emitido em 457 A.E.C., que fornece o cálculo correto que chega ao tempo do aparecimento de Jesus como o Messias. Quando tomamos o início da pronulgação do decreto de Daniel 9:25 em 457 A.E.C. e acrescentamos 483 anos, chegamos ao ano 27 E.C., quando Jesus foi batizado e ungido pelo Espírito Santo para se tornar o Messias ou Jesus Cristo. Se calcularmos com base nos decretos de reconstrução de Jerusalém de Ciro e Dario I Histaspes, emitidos respectivamente em c. 537 A.E.C. e c. 520 A.E.C. leva a um período de 50 e 30 anos antes da aparição do Messias.

Este estudo, portanto, confirma a tese de que há evidências históricas e bíblicas de que todos os decretos de Ciro, Dario I e Artaxerxes I contribuíram para a restauração e reconstrução de Jerusalém, mas o decreto de Artaxerxes I é o único que se qualifica para cumprir as 69 semanas proféticas desde a eonulgação do decreto de Daniel 9:25 para restaurar e reconstruir Jerusalém, que vão até 27 A.E.C., o mesmo ano em que Jesus se tornou o Messias, o Príncipe.

APÊNDICE

Uma análise das cartas de Artaxerxes e sua relevância para a cronologia de Esdras 4

Introdução

Nenhuma atenção cuidadosa foi dada à natureza e ao conteúdo das cartas de Artaxerxes em Esdras 4 e 7 e ao seu valor para a cronologia de Esdras 4. Este ensaio tenta investigar essas cartas à luz de seu conteúdo específico, estrutura, composição, público e contexto único. As descoberta desta exegese linguística e contextual das cartas de Artaxerxes apontam que o autor da carta de Esdras 4 e da carta de Esdras 7 não é a mesma pessoa. Com base nas evidências internas do Livro de Esdras, o ensaio sugere a necessidade de ajustar as visões atuais da estrutura de Esdras 4.28

Questões na Identificação dos Artaxerxes de Esdras 4

Esta pesquisa traz argumentos significativos para uma cronologia harmoniosa de Esdras 4 que são necessários para uma compreensão adequada da interação histórica entre os governantes persas, os samaritanos e os judeus entre a época de Ciro, Esdras e Neemias.

Os estudos atuais sobre Esdras 4 interpretam o capítulo de maneira temática. Documentos extrabíblicos mostram que existiram três reis com o nome de Artaxerxes. O primeiro foi Artaxerxes I Longímano, que reinou durante o tempo de Esdras e Neemias de 465–424 A.E.C., o segundo foi Artaxerxes Mnemon (404–359 A.E.C.) e o terceiro foi Artaxerxes Oco (358–338 A.E.C.). Esses três nomes semelhantes levaram os estudiosos a concluir que o Artaxerxes mencionado em Esdras 4:7; 6:14; 7:1 é o mesmo, ou seja, Artaxerxes I. Mas isso está correto?

Ultimamente, nenhuma atenção tem sido dada à análise das duas cartas de Artaxerxes no Livro de Esdras. A primeira letra é encontrada em Esdras 4, a outra em Esdras 7. De acordo com a atual interpretação não cronológica, mas temática, de Esdras 4, Artaxerxes I escreveu ambas as cartas, com a carta de Esdras 4 escrita primeiro, convocando ou cessando a reconstrução de Jerusalém, seguida pela de Esdras 7, convocando para começar a reconstrução da cidade, escrito vários anos depois. Neste ponto, podemos querer levantar as seguintes questões: “Quão forte é a evidência de que o Artaxerxes de Esdras 4:7 é a mesma pessoa que o Artaxerxes de Esdras 7?” “Qual é a evidência de que essas cartas foram escritas por dois reis persas diferentes, chamados Artaxerxes?

Comecemos agora a nossa análise das duas cartas do Livro de Esdras.

Evidência Interna em Esdras

Para estabelecer se o Livro de Esdras tem um ou dois Artaxerxes, consideraremos primeiro o contexto imediato do Artaxerxes de 4:7. Depois consideraremos o contexto mais amplo das duas cartas nos capítulos 4 e 7.

Contexto Imediato da Carta de Artaxerxes em Esdras 4

De acordo com o ponto de vista tradicional, Esdras 4 discute a oposição contínua contra os esforços de reconstrução judaica em ordem cronológica desde Ciro (536/535 A.E.C.) até o segundo ano de Dario I (520 A.E.C.). Durante esse período, os samaritanos finalmente conseguiram interromper o processo de reconstrução.

O capítulo 4 menciona que os samaritanos escreveram duas cartas contra os judeus aos reis persas para interromper o processo de reconstrução. A primeira carta foi para Assuero, acusando os judeus de reconstruir Jerusalém. A segunda carta foi escrita, para Artaxerxes, alertando que se os judeus conseguissem reconstruir a cidade, estes se rebelariam e o rei perderia o domínio sobre a região Além do Rio [Eufrates].

Artaxerxes respondeu à segunda carta proibindo os judeus de continuar a reconstrução de Jerusalém (522 A.E.C.). Como resultado desta carta, a construção do templo foi interrompida até o segundo ano de Dario I (520 A.E.C.) (Ed 4:24).

À primeira vista, uma leitura simples e natural destes acontecimentos sugere que a carta de Artaxerxes (4:17–22) teria de ser escrita décadas antes da carta de Artaxerxes no capítulo 7. Isto indicaria que diferentes pessoas teriam escrito estas cartas e que o livro de Esdras deveria ser lido cronologicamente em vez de tematicamente.

Comparações das Cartas de Artaxerxes em Esdras 4 e 7

Uma análise das cartas de Artaxerxes em Esdras 4 e 7 fornece mais informações sobre se essas cartas eram ou não do mesmo autor. A comparação cuidadosa das duas cartas de Artaxerxes revela diferenças significativas na forma como o escritor se dirigia aos destinatários, na sua familiaridade com a história recente dos judeus, na maneira como comunicou as cartas, nos motivos subjacentes às suas ações e no assunto das cartas.

Diferenças no Endereçamento das Cartas

Primeiro, notam-se diferenças na forma como cada uma dessas cartas se dirigia aos destinatários. Em Esdras 4:17, Artaxerxes começou sua carta simplesmente com as palavras “A Reum, o comandante.” Em contrapartida, na carta de Esdras 7, Artaxerxes começa se apresentando como governante supremo, “Artaxerxes, rei dos reis” (Ed 7:12).

Esta diferença mostra a disparidade de autoridade e apoio governamental dos autores destas cartas. A maneira como Artaxerxes de Esdras 7 se dirige aos destinatários revela autoridade e dignidade reais. O documento tem autoridade do rei, bem como dos seus sete conselheiros, sendo dirigido a Esdras e a todos os tesoureiros da região Além do Rio [Eufrates]. O documento enviado pelo Artaxerxes de Esdras 4 parece nada mais do que uma carta pessoal desprovida de qualquer autoridade real. É dirigido apenas às autoridades locais e não às autoridades governamentais persas responsáveis ​​pela província persa do Além do Rio [Eufrates].

Diferenças na Familiaridade com A História Judaica

Segundo, existem diferenças substanciais na familiaridade de Artaxerxes com o Deus dos judeus e com a experiência judaica. Em Esdras 4, Artaxerxes não parece estar bem familiarizado com a história judaica. Após as acusações dos adversários judeus, ele lançou uma investigação sobre a história dos judeus para examinar a validade da acusação da sua maldade. Após descobrir a história rebelde dos judeus, ele emitiu ordens para impedir a construção da cidade por medo de que isso pudesse ter um impacto prejudicial sobre os reis da Pérsia (Ed 4:22).

Em Esdras 7, porém, Artaxerxes parece estar bem familiarizado com os judeus e a história deles. O conteúdo da carta parece apontar para uma relação mais íntima entre o rei e Esdras, e quando o rei assinou o documento, ele sabia o que estava assinando.

Neste decreto, o rei demonstra grande respeito pelo Deus dos judeus, a quem ele se refere como “o Deus do céu” (Ed 7:23). O rei reconhece que recusar honrar esse Deus traria “grande ira sobre o reino do rei e dos seus filhos” (Ed 7:23).

O rei reconhece Esdras como “o sacerdote, escriba da Lei do Deus do céu” (Ed 7:12). O decreto do rei permite que qualquer judeu retorne com Esdras para Jerusalém, fornece generosas contribuições para os serviços do templo e seu embelezamento, e concedia isenção de impostos àqueles que serviam no templo (Ed 7:16–20, 23–24, 27).

O comentário de Artaxerxes sobre a “sabedoria dada por Deus” a Esdras (Ed 7:25) parece indicar que o rei conhecia bem Esdras. A partir deste relacionamento, o rei poderia ter desenvolvido o seu grande respeito pelo Deus de Esdras.

A grande confiança de Artaxerxes na “sabedoria dada por Deus” a Esdras reflete no decreto do rei que comissionou Esdras a estabelecer um sistema administrativo e judicial que supervisionasse toda a área Além do Rio [Eufrates]. O rei chegou ao ponto de colocar esta região sob a jurisdição da lei do Deus de Israel e da lei do rei da Pérsia, ameaçando os transgressores destas leis com penalidades severas (Ed 7:25, 26). Esta ação parece indicar que Esdras era um representante especial do reino persa, com amplos poderes para estabelecer um corpo governante para cuidar desta extensa região. Novamente, isso indicaria que diferentes pessoas escreveram as cartas.

Diferenças na Comunicação das Cartas

Terceiro, também existem grandes diferenças na forma como as cartas de Esdras 4 e 7 foram comunicadas. Em Esdras 4, Artaxerxes escreveu uma carta pessoal dirigida diretamente a um comandante local, a um escriba e a representantes do povo estabelecidos na região de Samaria, dando-lhes ordens para parar de reconstruir Jerusalém.

Em contraste, em Esdras 7, a carta de Artaxerxes contém um decreto aprovado pelo rei e por seus conselheiros e foi enviada aos funcionários do governo persa, “aos sátrapas e aos governadores do território a oeste do Eufrates“ (Ed 8:36). Isso significa que o rei persa e seus conselheiros informaram todos os funcionários da província persa ocidental, Além do Rio [Eufrates], sobre o decreto real que deu a Esdras permissão total para nomear administradores e juízes familiarizados com as leis de Moisés e capazes de ensiná-los como cumprir (7:25).

Se lembrar, de acordo com o atual modelo “temático” dos estudiosos, a carta de Esdras 4 deveria ter sido composta depois da carta de Esdras 7. No entanto, parece fora do comum que em Esdras 4 o rei enviasse uma carta pessoal a um grupo de colonos estrangeiros que aboliria o seu decreto real anterior de Esdras 7:12, 13, que foi enviado a todos os funcionários do governo na província Além do Rio [Eufrates]. A maneira correta de reverter um decreto anterior seria Artaxerxes e seus conselheiros informarem novamente os sátrapas e governadores do rei sobre sua mudança de opinião em relação aos judeus e sua operação de reconstrução.

Além disso, à luz da reputação de longa data de que as leis dos medos e dos persas são imutáveis, esta ação seria contrária à prática dos medos e dos persas. A história mostra vários exemplos de que suas leis não podem ser mudadas (Dn 6:12–17; Et 3:5–15; 8:4–12).

Desse costume podemos concluir que escrever uma carta pessoal para reverter o decreto real de Artaxerxes em favor dos judeus se ajusta melhor ao cenário de outro Artaxerxes, que não tinha controle total sobre todo o reino persa, emitindo uma ordem contrária a uma lei real previamente proclamada. Isto pode explicar por que a carta de Artaxerxes em Esdras 4:17 não teve o endosso de outros oficiais reais que acompanharam a carta de Artaxerxes em Esdras 7:14.

Diferenças nos Motivos Subjacentes às Ações do Rei

Quarto, as cartas de Artaxerxes revelam diferenças significativas nos motivos que levaram os escritores a responder aos judeus para que o reino persa prosperasse. Artaxerxes de Esdras 4 agiu contra os judeus por medo de que eles se rebelassem e se tornassem autônomos, causando assim danos “em prejuízo dos reis” (4:22). Artaxerxes de Esdras 7 tomou medidas favoráveis ​​aos judeus, subsidiando templo deles e lhes permitindo ter autonomia administrativa e judicial sobre toda a região Além do Rio [Eufrates] para evitar a “ira sobre o reino do rei e dos seus filhos” (7:23).

Artaxerxes de Esdras 4 restringiu os judeus para proteger o trono persa; Artaxerxes de Esdras 7 concedeu aos judeus grande autonomia para proteger o trono persa. É difícil imaginar que o mesmo rei tenha escrito ambas as cartas com apenas alguns anos de diferença, com motivos tão conflitantes, mas com o mesmo propósito: proteger o trono persa.

Em vez de a mesma pessoa emitir leis conflitantes para os judeus com base em motivos conflitantes, parece muito mais plausível que estas cartas tenham sido escritas por duas pessoas diferentes, cada uma chamada Artaxerxes.

O argumento de que o rei foi temperamental e instável durante toda a vida não parece razoável. A elevada reputação que o rei tinha entre os historiadores persas desafia a forma como alguns estudiosos retrataram Artaxerxes para provar a sua insegurança. Não há nenhuma evidência sólida na história persa que sugira mudanças tão drásticas nas políticas do rei. Novamente, tenhamos em mente a imutabilidade da lei persa naquela época.

Diferenças em Questões de Natureza Conflitante

Quinto, as questões das cartas de Artaxerxes são de natureza oposta. Em Esdras 4, Artaxerxes tomou medidas que restringiram os direitos dos judeus, paralisando a reconstrução de Jerusalém (4:21–22).

Em Esdras 7, Artaxerxes amplia os direitos dos judeus, permitindo-lhes embelezar o templo, dando-lhes grande autonomia ao estender os seus poderes judiciais sobre os habitantes da província persa do Além do Rio [Eufrates], e fornecendo instrução religiosa àqueles não familiarizados com as leis religiosas judaicas. O rei até lhes deu o direito de executar a pena de morte, banimento ou prisão a qualquer pessoa que se recusasse a obedecer à Lei do Deus de Israel e às leis do rei (7:25–26).

Em vez de a mesma pessoa emitir essas ordens conflitantes, parece mais plausível que essas cartas tenham sido escritas por duas pessoas diferentes, cada uma chamada Artaxerxes.

Conclusão

Esta pesquisa das cartas de Artaxerxes em Esdras 4 e 7 trouxe argumentos significativos para uma cronologia harmoniosa de Esdras 4, que são necessários para uma compreensão adequada da interação histórica entre os governantes persas, samaritanos e judeus entre a época de Ciro e Dario I Histaspes. A análise destas cartas demonstra que elas foram escritas por dois reis diferentes chamados Artaxerxes.

As descobertas da análise dessas cartas revelaram haver uma diferença significativa na forma como o Artaxerxes em Esdras 4 aborda a sua carta e a forma como o Artaxerxes em Esdras 7 dirige a sua carta. Diferenças adicionais entre as cartas foram notadas nas diferenças sobre sua familiaridade com a história judaica; diferenças na comunicação das cartas; diferenças nos motivos subjacentes às ações dos reis, como um rei restringiu a liberdade dos judeus para proteger o trono persa, o outro rei concedeu aos judeus mais liberdade para proteger o trono persa; e diferenças em assuntos de natureza conflitante, como impedir os judeus de construir a cidade ou expandir a liberdade dos judeus de construir e ter maiores direitos judiciais e governamentais.

Todas estas diferenças nas cartas revelam claramente que elas cartas foram escritas por duas pessoas diferentes. O Artaxerxes de Esdras 4 é o Falso Esmerdis, e o Artaxerxes de Esdras 7 é Artaxerxes I Longímano. Por fim, esta análise forneceu a evidência de que Esdras 4 e o livro de Esdras foram escritos numa estrutura cronológica, não numa estrutura temática.


Notas

1 Todas as referências bíblicas neste estudo, salvo indicação contrária são da NAA.

2 Flávio Josefo, Antiguidades dos Judeus, em Obras Completas de Josefo, livro XI, capítulo i, seção 2. Embora esta tradução seja antiga, ainda está em harmonia com os estudos mais recentes que apoiam os argumentos utilizados neste artigo.

3 Josefo, Antiguidades, XI,i, 3.

4 Ibid.

5 Ibid.

6 Josefo, Antiguidades, XI, ii, 1.

7 Ibid.

8 Ibid.

9 Ibid.

10 Josefo, Antiguidades, XI, ii, 2.

11 Ibid.

12 1 Esdras 2:18.

13 1 Esdras 2:30.

14 Ver o Apêndice, “Uma Análise das Cartas de Artaxerxes e Sua relevância para A Cronologia de Esdras 4.”

15 Ver, por exemplo, John N. Andrews, The Command to Restore and Build Jerusalem (Battle Creek, MI: SDA Pub. Assn., 1865), p. 25.

16 Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 572; “The Return of the Exiles—Nº 5,” Review and Herald, 5 de dezembro de 1907.

17 Josefo, Antiguidades, XI, iii, 7.

18 Ibid., XI, iii, 8.

19 Ibid.

20 1 Esdras 3–6.

21 Josefo, Antiguidades, XI, iv, 6.

22 Josefo, Antiguidades, XI, iv, 5.

23 Ibid.

24 Ibid.

25 Josefo, Antiguidades, XI, iv, 6.

26 Josefo, Antiguidades, XI, iv, 7.

27 Josefo, Antiguidades, XI, v, 1, 2.

28 Este apêndice foi adaptado de um artigo com título semelhante apresentado na Evangelical Theological Society, Washington, D.C., 15 de novembro de 2006.

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