A Nova Protologia Evangélica e Seu Impacto na Escatologia

A Nova Protologia Evangélica e Seu Impacto na Escatologia


Erick Mendieta, filho de pais nicaraguaios, nasceu na Guatemala. Começou seus estudos na Costa Rica, terminando seu bacharelado em Porto Rico, onde também conlcuiu seu mestrado. Ele almeja sera PhD em Bíblia Hebraica e se ajudar a modelar uma posição eclesiástica  sobre imigração e justiça social.


Tradução: Hugo Martins

O artigo “A Nova Protologia Evangélica e Seu Impacto na Escatologia” (Original em Inglês: “The New Evangelical Protology and Its Impact On Eschatology”), por Erick Mendieta, fora publicado, inicialmente, pelo Adventist Biblical Research Institute.  Usado com permissão.


A divisão ideológica e teológica que geralmente se imaginava existir entre os evangélicos e a evolução teísta diminuiu. Uma questão importante que aproximou tais placas tectônicas nos últimos tempos é o impacto das conclusões que o Projeto Genoma Humano criou entre importantes estudiosos evangélicos. Outros com pontos de vista próximos da sua perspectiva sobre as origens mudaram a sua compreensão de Gênesis 1–11 e produziram uma nova protologia evangélica que sugere ou propõe leituras e hermenêuticas alternativas para compreender o relato da criação. Evidencia-se quando se tenta harmonizar a compreensão do “Adão histórico”com as Escrituras e sua mensagem teológica com o atual consenso científico sobre as origens relacionadas à ancestralidade comum dos humanos.

Este artigo explora brevemente como o Projeto Genoma Humano influenciou esta mudança de paradigma e como está se manifestando através de novas propostas de renomados estudiosos evangélicos. Também resume alguns dos traços hermenêuticos que caracterizam esta nova protologia evangélica e oferece algumas reações para compreender que impacto produz, particularmente quando se trata da nossa compreensão do que as Escrituras ensinam sobre as origens humanas e a escatologia.

Adam no Debate sobre As Origens

Que Adão? Quer estejamos conscientes ou não, o papel e a identidade de Adão no relato de Gênesis, a sua utilização no Novo Testamento e a sua função teológica nas principais doutrinas cristãs se tornaram o epicentro da nova discussão sobre as origens humanas.

O centro do debate sobre a evolução passou de perguntar se viemos de animais anteriores para se poderíamos ter vindo de um homem e uma mulher.”1 Richard N. Ostling assim resume corretamente uma nova tendência desde 2011 no debate evolução-criação que produziu mudanças significativas na forma como alguns estudiosos evangélicos renomados leem e compreendem a função dos primeiros capítulos de Gênesis e consideram a identidade histórica tradicional de Adão.

O Projeto Genoma Humano é citado por membros de ambos os lados do debate, e também dentro da comunidade evangélica, como desempenhando um papel importante nesta nova mudança de compreensão.2 De acordo com Peter Enns, esta pesquisa “demonstrou, além de qualquer dúvida científica razoável, que humanos e primatas compartilham ancestrais comuns.”3 Da mesma forma, Randall Isaac, diretor executivo da American Scientific Affiliation, comentando sobre os desafios científicos apresentados ao relato de Adão em Gênesis, afirma: “Havia muitas brechas no passado. O sequenciamento do genoma humano eliminou tais brechas.”4

Entre os principais pesquisadores do Projeto Genoma Humano está o cristão, ex-ateu que se tornou evangélico, Francis S. Collins, que defende perspectivas criacionistas e darwinianas, e considera que Deus, como Criador, supervisionou o processo de seleção natural, tornando-se, portanto, um forte promotor da “evolução teísta” através da Fundação BioLogos, bem como do blog BioLogos.5

Collins argumenta que os resultados científicos do Projeto Genoma Humano indicam que os humanos atuais emergiram anatomicamente de ancestrais primatas entre 100 e 150 mil anos atrás, a partir de uma população básica de dez mil indivíduos em vez de dois indivíduos chamados Adão e Eva.6

Por outro lado, Walter Kaiser observa que afirmar a confissão cristã histórica de Adão e Eva era muito mais fácil antes do trabalho e da conversão de Collins.7 Kaiser também considera que esta pesquisa apresentou uma “enorme mudança de paradigma a ser abordada por teólogos e exegetas bíblicos, especialmente à luz dos credos confessionais da Igreja Cristã.”8 Como resultado do Projeto Genoma Humano e suas implicações teológicas, Kaiser observa que, de repente, surgiram uma série de novos desafios ao registro bíblico que têm um impacto profundo nos conceitos e doutrinas bíblicas, como a antropologia, a criação e a soteriologia.9

Uma evidência desconcertante destes novos desafios pode ser ilustrada pelo novo livro de William Lane Craig sobre Adão: In Quest of the Historical Adam: A Biblical and Scientific Exploration (Em Busca do Adão Histórico: Uma Exploração Bíblica e Científica). Quão importante é o Adão histórico para a construção teológica da doutrina e da fé cristã? De acordo com Craig, “é tentador ver a questão do Adão histórico como uma preocupação periférica, dificilmente no cerne da teologia cristã. Nunca foi abordada por um concílio ecumênico, e a despreocupação da igreja não pode ser totalmente descartada como resultado da doutrina ser universalmente aceita.”10 Esta doutrina, argumenta Craig, “não tem a centralidade que as doutrinas relativas à justificação e à santificação têm, para não falar de doutrinas como a Trindade, a encarnação e a expiação.”11

No entanto, Craig reconhece que para muitos teólogos tradicionais a historicidade de Adão é crucial para a nossa compreensão da hamartiologia, a doutrina do pecado.12 Contudo, Craig não pensa “que a negação do Adão histórico mina, por sua vez, a doutrina da expiação.”13 Ele afirma que “a tentativa de tornar a doutrina do pecado original uma condição necessária para a doutrina da expiação é, ṕr assim dizer, um exagero.”14 Craig vai ainda mais longe e conclui que embora “a historicidade de Adão seja implicada e, portanto, uma condição necessária da doutrina do pecado original,”15 “é duvidoso que a doutrina do pecado original seja essencial para a fé cristã.”16 Portanto, “a negação da doutrina do pecado original não mina a doutrina da expiação.”17 Em razão disso, “embora a doutrina do pecado original dependa crucialmente de um Adão histórico, o cristianismo não precisa abraçar a doutrina tradicional do pecado original, mas pode se contentar em afirmar o erro universal dos seres humanos e a sua incapacidade de se salvarem.”18 Pois Craig sustenta que “a tentativa de explicar a universalidade do pecado humano postulando uma corrupção ou ferida da natureza humana herdada de Adão é um complemento teológico com o qual o teólogo cristão não precisa se comprometer.”19

Posteriormente, o desafio do Adão histórico para Craig, bem como para outros estudiosos evangélicos renomados, não é necessariamente a sua historicidade ou a sua importância teológica para a doutrina cristã da salvação em si, mas o “efeito reverberatório sobre a doutrina das Escrituras” concernente à veracidade e confiabilidade das Escrituras.”20 Porque “se as Escrituras ensinam claramente que houve um Adão histórico nos primórdios da raça humana, então a falsidade dessa doutrina teria um efeito reverberatório na doutrina das Escrituras concernente à veracidade e confiabilidade das Escrituras. As Escrituras seriam, então, condenadas por ensinar falsidades.”21 Igualmente problemático, de acordo com Craig, é se o próprio Jesus acreditava na historicidade de Adão e Eva (Mt 19:4–6). Ele é então culpado de ensinar erros doutrinários? Como sua onisciência se relaciona com essa questão?22

Craig sustenta que mesmo no pior cenário de uma proposta que nega a possibilidade da existência de Adão, tal proposta não é desesperadora para o sistema doutrinário cristão.23 Não obstante, como Craig admite, isto “nos levaria a um extenso revisionismo teológico das doutrinas das Escrituras e da encarnação.”24 Portanto, ele sugere que “precisamos considerar como o ensino das Escrituras de que houve um Adão histórico é ou pode ser compatível com a evidência científica.”25 Todavia, Craig argumenta que as tentativas da “ciência cristã” criacionista da terra jovem, ou revisionista, de compreender o Adão histórico à luz da evidência e do consenso científicos atuais não são satisfatórias e oferecem perspectivas inaceitáveis ​​para harmonizar ambos.26 Assim, Craig, juntamente com outros estudiosos evangélicos renomados, propõe a “necessidade de considerar a opção de que Gênesis 1–11 não precisa ser interpretado literalmente.”27 Isto, de acordo com Craig, permitir-nos-ia compreender esta perícope do Gênesis à luz dos benefícios dos estudos modernos no que diz respeito à análise de gênero e interpretação de textos antigos, que nem os pais da igreja nem os reformadores desfrutaram, mas que não devemos ignorar.28

Adão de John Walton

Estudiosos evangélicos do Antigo Testamento, como Tremper Longman III, Bruce Waltke e John Walton, sugeriram a necessidade de abertura e reavaliação da compreensão tradicional da identidade histórica de Adão.29 Entre eles, John Walton escreveu extensivamente sobre a leitura do primeiro capítulo de Gênesis no contexto do Antigo Oriente Médio.30 A principal preocupação de Walton em suas discussões sobre Gênesis é mostrar que não há nenhuma contradição ou tensão real entre a ciência e a Bíblia porque, como cristãos, “afirmamos a importância tanto da revelação especial (Bíblia e Jesus) quanto da revelação geral (o mundo que Deus criou e que a ciência nos ajuda a compreender).31 No entanto, Walton considera que “a percepção de conflito entre as duas não é incomum.”32

No entanto, Walton tenta resolver esta tensão, particularmente no seu livro The Lost World of Adam and Eve (O Mundo Perdido de Adão e Eva), mostrando que existem “leituras fiéis das Escrituras” que podem diferir das leituras tradicionais do passado, mas que encontram apoio no texto e são compatíveis com o seu antigo contexto do Oriente Médio, bem como com algumas das descobertas científicas mais recentes, incluindo o Projeto Genoma Humano.

Segundo Walton, o Projeto Genoma Humano é talvez o avanço mais recente na ciência que fornece uma base para investigar o que podemos aprender sobre as origens humanas. Walton também considera que a ameaça representada pelo atual consenso sobre as origens humanas é exagerada.

As principais teses de Walton são:

  1. Não há criação material em Gênesis 1–2; a criação tem a ver apenas com o estabelecimento de funções.

  1. Adão e Eva são arquétipos, não protótipos; ou seja, são pessoas históricas, mas não os progenitores biológicos da raça humana.

Origens Materiais no Antigo Oriente Médio e na Bíblia

Entre as principais propostas de Walton está o argumento de que os antigos povos do Oriente Médio não estavam interessados ​​nas origens materiais, mas na disposição adequada do material dentro de um cosmos ordenado. Como resultado disto, Walton também considera, à luz deste contexto, que os antigos israelitas também não teriam esperado uma história [literal] sobre as origens materiais. No entanto, Richard E. Averbeck discorda fortemente de Walton e considera que tanto o Antigo Oriente Médio como a Bíblia estão preocupados com as origens materiais.33 Averbeck também argumenta que Walton “ultrapassa os limites do texto e fala em contradição com as declarações explícitas nele contidas.”34

Não obstante, a comparação e o contraste de Walton entre o Antigo Oriente Médio e os relatos da criação da Bíblia receberam uma resposta mista entre aqueles que a consideram uma boa introdução e compreensão da relação material do Antigo Oriente Médio com a Bíblia.35 Outros argumentam que, embora seja útil, algumas das conclusões e observações de Walton relativas à influência de materiais do Antigo Oriente Médio nos relatos bíblicos das origens não são garantidas pelo texto bíblico, especialmente aqueles que tratam da criação material.36

Gordon Wenham afirma corretamente uma das principais desvantagens da análise de Walton sobre o Antigo Oriente Médio e a Bíblia. Ele diz: “Walton está tão preocupado em convencer seus leitores de que Gênesis é um antigo mito da criação que enfatiza demais sua semelhança com os textos egípcios e mesopotâmicos, de modo que a originalidade de Gênesis é subestimada.”37 Da mesma forma, Trevor Craigen pergunta se nenhuma revelação foi dada aos israelitas para mudar o que eles já entendiam do cosmos. Será que as palavras de Moisés apenas ecoavam o entendimento israelita de seu tempo? Ou será que estas palavras instruíram os israelitas sobre o que deveriam acreditar, em contraste com a literatura de “origens” de outras nações?38

Adão como Arquétipo, não Protótipo

A discussão de Walton sobre o Adão histórico também recebeu uma resposta mista dos estudiosos, com alguns deles considerando seu trabalho exegético sobre o tema esclarecedor,39 “uma apologética convincente para que cristãos e cientistas dialoguem mais sobre as origens,”40 e outros que argumentam que embora Walton forneça uma interpretação criativa e essencialmente coesa de Gênesis 1–3, é pouco convincente, apresentando apenas uma interpretação “possível”, mas não provável ou melhor.41

Contudo, é importante salientar que Walton reconhece que, embora o antigo Israel partilhe amplas semelhanças ideológicas com as cosmologias do Antigo Oriente Médio, elas interagem e se desenvolvem de maneiras distintas em Gênesis 1.42 Por exemplo, de acordo com Walton, “quando as cosmologias incluem a criação da humanidade como um componente, os interesses arquetípicos predominam.”43 Todavia, a apresentação arquetípica em Gênesis é totalmente diferente. Gênesis relaciona as pessoas a Deus apenas por meio de Sua imagem, recebendo assim um papel dominante no cosmos e as vê como servindo à divindade, cuidando do espaço sagrado.44

Curiosamente, Walton observa que “outra característica distintiva é que Gênesis desenvolve o arquétipo em parte através de uma perspectiva de monogênese, em vez de uma abordagem familiar de poligênese observável em textos do Antigo Oriente Médio.”45 Walton define monogênese e poligênese da seguinte maneira:

Monogênese se refere à ideia de que toda a humanidade emergiu de um único par humano — aparentemente o ponto de vista geral na Bíblia Hebraica (cp. 1 Cr 1–9); poligênese, por sua vez, refletida no restante do Antigo Oriente Médio, é a visão de que os humanos foram criados em massa — um procedimento lógico, já que os deuses desejavam o trabalho escravo.46

Entretanto, Walton não considera mais esta característica distintiva do relato de Gênesis.

Os principais argumentos de Walton para sua perspectiva sobre Adão em O Mundo Perdido de Adão e Eva começam com uma discussão das ocorrências de ʾādām em Gênesis 1–5.47 Walton também argumenta que, devido à linguagem usada no relato da criação ou formação de Adão e Eva, “formar a partir do pó” e “construir a partir de costelas,” eles deveriam ser entendidos arquetipicamente,48 e não como uma explicação de como esses dois indivíduos singularmente formados.49 Além disso, Walton argumenta que os relatos do Antigo Oriente Médio sobre a formação dos humanos também são arquetípicos e podem ser a razão pela qual esta ideia não ser desconhecida dos israelitas e, talvez, ser a sua origem.50 Além disso, Walton afirma que o Novo Testamento está mais interessado em Adão e Eva como arquétipos do que como progenitores biológicos.51 Finalmente, Walton reconhece que no Novo Testamento Adão e Eva são apresentados de maneiras diferentes: arquetípica, ilustrativa e histórica.52 Portanto, de acordo com Walton, afirmar que algum tratamento dado a Adão é arquetípico no Gênesis não significa sugerir que ele não seja histórico.53 Todavia, é importante salientar que isso não significa que, ao afirmar a historicidade de Adão, Walton considera o primeiro humano, mas o mais importante.

De acordo com Walton, apenas o elemento textual das genealogias e o elemento teológico do pecado e da redenção defendem fortemente um Adão e Eva históricos.54 Entretanto, Walton observa que, para que desempenhem estes papéis históricos, não é necessário que sejam os primeiros seres humanos ou os ancestrais universais de todos os seres humanos (biologicamente/geneticamente).55 Walton considera que a questão do Adão histórico tem mais a ver com as origens do pecado do que com as origens humanas materiais. Estas distinções não foram separadas no passado, afirma Walton, talvez porque não tenha havido ímpeto para o fazer. Mas, conclui que, à luz do Projeto Genoma Humano, é mais importante perguntar se estas duas distinções andam sempre juntas.56 Portanto, a sugestão de Walton é aceitar o Adão histórico sem decidir sobre as origens humanas materiais. Segundo ele, é vantajoso separar os elementos científicos (origens humanas materiais) dos elementos exegéticos/teológicos, com o resultado de reduzir, sem compromisso, o conflito entre as reivindicações da ciência e as da Escritura.57

Propostas Evangélicas Alternativas para Adão

A proposta de Walton representa uma perspectiva de mudança de paradigma que se afasta ainda mais das interpretações evangélicas conservadoras de Gênesis, e particularmente de Adão. Andrew Steinmann considera o trabalho de Walton como evidência de uma tendência entre uma facção de estudiosos evangélicos nos últimos tempos para efetuar uma acomodação entre a Bíblia e as cosmovisões dos não-evangélicos.58 Steinmann argumenta que, particularmente no tema da criação, estes estudiosos “oferecem interpretações das Escrituras que permitem um alinhamento mais adequado do Gênesis e de outras partes da Bíblia com o consenso científico atual.59” Steinmann observa também que “esses estudiosos querem mover as visões evangélicas do significado das Escrituras em direção a uma interpretação de Gênesis e de outras passagens bíblicas que seja confortável com a teoria evolucionista atual, ao mesmo tempo que procuram manter uma visão elevada da autoridade bíblica.”60

Terry Roberson apresenta um bom exemplo desta tendência com seus comentários sobre o livro do debate de 2013 da Zondervan, Four Views on the Historical Adam (Quatro Visões Históricas para Adão).61 Ele ressalta que:

Todos os seis colaboradores são evangélicos professos que afirmam crer na inerrância [bíblica]. Denis Lamoureux acredita que Adão é um mito e Gregory Boyd está aberto a essa possibilidade. John Walton, C. John Collins e Philip Ryken defendem um Adão histórico, mas com opiniões diferentes sobre quantos detalhes de Gênesis 1–3 são literalmente verdadeiros. William Barrick defende a verdade literal e é o único criacionista da Terra jovem entre os seis.62

Além disso, merecem destaque mais dois autores engajados na discussão evangélica das origens e do Adão histórico: Peter Enns e Scot McKnight. Enns considera que a evidência literária do Antigo Oriente Médio apoia a noção de que as histórias da criação não foram escritas como relatos históricos.63 Enns também argumenta que a história de Adão sugere que não se trata das origens humanas universais, mas da origem de Israel, e, se entendermos Adão como proto-Israel, algumas tensões entre o relato da criação em Gênesis e a evolução são minimizadas. 64Afinal, de acordo com Enns, “para os antigos israelitas, assim como para qualquer outro povo do Antigo Oriente Médio, as histórias de origem buscam contar a sua própria história, não a de todos os outros. Essas histórias são autodescritivas.”65 Portanto, conclui Enns, “é questionável se a história de Adão é relevante para a questão moderna das origens humanas.”66

No entanto, Enns reconhece que o maior desafio bíblico para o diálogo entre o cristianismo e a evolução vem do papel fundamental que Adão desempenha em duas cartas de Paulo, especialmente em Romanos 5:12–21 e 1 Coríntios 15:20–58.67 Nestas passagens, admite Enns, “Paulo parece considerar Adão como o primeiro ser humano e ancestral de todos os que já viveram”68 e teologicamente necessário existir na história humana para ser pessoalmente responsável por alienar a humanidade de Deus.69 Não obstante, Enns considera que a motivação de Paulo para a sua interpretação singular de Adão é explicar como a crucificação e a ressurreição de Cristo colocaram toda a humanidade no mesmo pé e sujeita ao mesmo dilema universal do pecado e da morte que requer o mesmo Salvador.70 Mas ao fazê-lo, argumenta Enns, Paulo atribui a Adão um papel em grande parte único em relação a outros usos nas antigas interpretações judaicas dele e vai muito além do que Gênesis e o Antigo Testamento têm a dizer.71 Consequentemente, Enns considera que o que Paulo presume que Adão deve ser entendido no contexto histórico de Paulo. Paulo era um judeu do primeiro século, e sua hermenêutica bíblica reflete as suposições e convenções defendidas por outros intérpretes judeus da época.72 De acordo com Enns, no uso que Paulo faz do Antigo Testamento, um ponto é incontestável: “Paulo não se sente limitado pelo significado original da passagem do Antigo Testamento que ele está citando, especialmente quando procura apresentar um ponto teológico vital sobre o evangelho.”73 Se compreendermos isto, argumenta Enns, “veremos que, seja o que for que Paulo diga sobre Adão, não determina o que Adão quer dizer no próprio Gênesis, muito meno no tocante à questão das origens humanas conforme debatida no mundo moderno.”74

Scot McKnight, que confessa uma abordagem Prima Scriptura da verdade, considera que as Escrituras têm um contexto e que parte da leitura das Escrituras é discernir o diálogo em ação na Bíblia entre a revelação e sua cultura.75 Portanto, de acordo com McKnight, o leitor é desafiado a “deixar a Bíblia ser a Bíblia na sua relação interativa com o Antigo Oriente Médio.”76 Curiosamente, McKnight não presume que o autor de Gênesis 1–3 conhecesse as antigas histórias da criação no Oriente Médio ou as lesse, ou estivesse interagindo conscientemente com elas, mas McKnight considera que “esses textos expressam o ‘imaginário’ quando Gênesis 1 e 2 foram redigidos.”77

De acordo com McKnight, uma abordagem contextual para a leitura de Gênesis 1–3 “estabelece imediatamente que Adão e Eva da Bíblia são um Adão e uma Eva literários.”78 Mas o que McKnight quer dizer com esta terminologia? Ele afirma: “Adão e Eva fazem parte de uma narrativa construída para falar a um mundo com narrativas semelhantes e diferentes.”79 Não obstante, McKnight esclarece que fazer uso desta abordagem, comparando-as com outras histórias antigas do Oriente Médio, não significa que Adão e Eva sejam “fictícios” ou “históricos.”80 Consequentemente, McKnight oferece esta perspectiva sobre Adão e Eva: “para sermos tão honestos quanto pudermos com o texto em seu contexto, precisamos começar com o inegável: Adão e Eva são literários — são parte de uma narrativa construída para revelar como Deus deseja que seu povo entenda quem são os humanos e o que eles são chamados a fazer na criação de Deus.”81

McKnight argumenta que quando alguém considera Adão e Eva “históricos,” implica em sete características:

  1. Duas pessoas reais chamadas Adão e Eva existiram repentinamente como resultado da criação de Deus.

  1. Essas duas pessoas têm uma relação biológica com todos os seres humanos viventes hoje.

  1. DNA deles é nosso DNA.

  1. Esses dois pecaram, morreram e trouxeram a morte ao mundo.

  1. Esses dois transmitiram sua natureza pecaminosa a todos os seres humanos.

  1. Sem o pecado e a transmissão dessa natureza a todos os seres humanos, nem todos os seres humanos precisariam de salvação.

  1. Portanto, se alguém nega o Adão histórico, nega-se o evangelho da salvação.82

McKnight propõe a seus leitores que, em vez de lutar contra uma abordagem concordante do Adão histórico, deve-se descobrir o Adão e Eva literário, imagem de Deus, que lança luz sobre os humanos e a história humana, mas não de uma forma histórica, biológica ou genética como as ciências modernas e a história exigem; em vez disso, eles vêm do mundo do Antigo Oriente Médio e do início do Judaísmo.83 No entanto, McKnight observa que uma leitura honesta da Bíblia também leva ao que ele chama de “o Adão genealógico,” enraizado no modelo literário de Adão e Eva em oposição aos moldes do Antigo Oriente Médio. Além disso, argumenta McKnight, “todas as genealogias judaicas — quando aparecem (e não são frequentes) — remontam a Adão e Eva,”84 Adão como o primeiro homem e Eva como a primeira mulher. Assim, diz McKnight, “o Adão literário do Gênesis se tornou o Adão genealógico da história bíblica.”85 Uma vez mais, ele nos adverte “para não confundirmos o Adão genealógico com o Adão histórico, pois o Adão literário-genealógico é um homem com um corpo de cera que pode ser moldado e formado em diversos Adãos.”86

A próxima característica acrescentada a Adão através das tradições judaicas, segundo McKnight, está relacionada ao papel que Adão desempenha como “paradigma ou protótipo ou arquétipo da escolha humana entre obediência e desobediência.”87 Esta, segundo McKnight, é uma síntese sugestiva do Adão das tradições judaicas. Adão, acrescenta McKnight, “é retratado em grande parte como o Adão moral.”88 Como resultado, em algumas dessas tradições interpretativas, “Adão não é apenas o primeiro ser humano (o Adão literário-genealógico), mas também o primeiro pecador, cujo pecado teve um impacto sobre aqueles que o seguiram.”89

Por fim, McKnight destaca que ele apoia a ideia, juntamente com Joseph Fitzmyer, de que “Paulo trata Adão como um ser humano histórico, o primeiro pai da humanidade, e o contrasta com o Jesus Cristo histórico. Mas no próprio Gênesis, ʾAdām é uma personagem simbólica, denotando a humanidade. . . . Assim, Paulo historicizou o Adão simbólico do Gênesis.”90 Deste modo, o conselho de McKnight para os intérpretes é que “se quisermos ler a Bíblia em seu contexto e deixar a Bíblia ser prima scriptura, e fazê-lo com olhar científico, precisaremos que os leitores prestem muito mais atenção do que temos prestado no passado aos vários tipos de Adãos e Evas que o mundo judaico conheceu.”91 Consequentemente, para McKnight, o tipo de Adão que Paulo conheceu não é o Adão e Eva históricos conhecidos hoje, mas o Adão e Eva literário, genealógico, moral, exemplar e arquetípico.92 Contudo, McKnight reconhece que “entre os estudiosos de Paulo, alguns argumentam que Paulo acreditava em dois seres humanos reais, enquanto outros não têm certeza no que Paulo acreditava.”93

Por exemplo, D. A. Carson considera não apenas que Paulo acreditava num Adão histórico, mas que a historicidade de Adão é relevante para o seu próprio argumento.94 Carson observa que nas quatro passagens de Paulo onde Adão é explicitamente mencionado, e em outras onde ele se refere em temas importantes, é possível perceber “a insistência de Paulo na historicidade de Adão, em sua individualidade e status representativo, na natureza e consequências da queda, sobre as ligações entre estas coisas e a pessoa e obra de Cristo, e sobre o seu lugar tipológico com respeito à nova criação.”95 Carson acrescenta que “se tudo desmoronar, os fundamentos da teologia cristã (não apenas da teologia paulina) estarão ameaçados. A igreja fica apenas com verdades díspares, mas pouco relacionadas, interpretadas de forma diversa; ou com sistemas de teologia que são cristãos apenas no nome, mas não profunda e essencialmente bíblicos.”96

Da mesma forma, Caneday declara que “se Adão não foi o primeiro humano e progenitor de toda a humanidade, como afirmam Gênesis e o apóstolo Paulo, então o Evangelho de Jesus Cristo inevitavelmente se torna suspeito porque Lucas traça inequivocamente a genealogia de Jesus desde José, que se pensava ser seu pai, desde Enos, até Sete, depois até Adão e, finalmente, até Deus (Lc 3:18).”97 Além disso, Caneday considera que “o que o Evangelho de Lucas afirma abertamente, Paulo aceita como inequivocamente factual. Com base no continuum genealógico entre Adão e Cristo, ele prossegue delineando o significado teológico divinamente investido relativo às crenças cristãs essenciais ligadas ao evangelho.”98 Em razão disso, Caneday argumenta: “O apóstolo afirma a historicidade de Adão e a função simbólica e tipológica de Adão. Ele não separa a historicidade de Adão e a função simbólica e tipológica de Adão, como se insistir no seu papel representativo anulasse a sua existência factual ou vice-versa.”99 É evidente a partir destas citações que nem todos na comunidade acadêmica evangélica negam a historicidade de Adão, seja no Gênesis ou no Novo Testamento, incluindo Paulo. Todavia, existem divergências significativas com as novas propostas apresentadas na comunidade acadêmica evangélica.

Além destes importantes contribuidores para o debate sobre Adão, existe o recente Dictionary of Christianity and Science (Dicionário de Cristianismo e Ciência) da Zondervan, afirmando que todos os seus contribuidores são cristãos evangélicos. Esta obra de referência é apresentada como uma investigação contemporânea da interação entre a fé cristã e a ciência. Duas entradas no dicionário tratam de Adão e Eva. A primeira é intitulada “Adão e Eva (visão do primeiro casal),” de Todd S. Beal, afirmando que “a evidência em todas as Escrituras é que Adão e Eva são pessoas históricas criadas exclusivamente por Deus como os ancestrais universais da humanidade.”100 Argumenta também que “os dados do Projeto Genoma Humano não contradizem que o conjunto inicial de 10000 humanos é uma inferência a partir dos dados – uma inferência feita usando os pressupostos evolucionários de ancestralidade comum, mudança gradual ao longo de longos períodos de tempo e seleção natural.”101

No entanto, a segunda entrada intitulada “Adão e Eva (visão do casal representativo),” Tremper Longman III expressa sua visão de Adão e Eva de forma ambígua, permitindo diferentes possibilidades. Há duas maneiras de pensar sobre eles, diz Longman: “Talvez sejam um casal representativo na população original (ou mesmo um casal representativo dezenas de milhares de anos depois da população original), ou talvez Adão e Eva simplesmente representem a humanidade original.”102 Assim, Gênesis 3 nos ensina, argumenta Longman, que a humanidade original (talvez o primeiro casal representativo; talvez a totalidade da humanidade original) se rebelou contra Deus.103 Longman defende que este casal representou “o que todos os humanos fariam (e realmente fazem) em seu lugar, mas também afetou tanto o sistema social que é impossível não pecar.”104 Longman conclui seus comentários sugerindo uma revisão de nossa compreensão da relação entre a teologia cristã, a soteriologia em particular, e o Adão histórico, por um lado, e por outro lado, uma apreciação renovada do papel que a ciência tem para nos ajudar a compreender melhor as reivindicações verídicas da Bíblia.105

A divisão entre os estudiosos evangélicos sobre a questão do Adão histórico é evidente e polarizadora. Andrew Steinmann argumenta que a disputa interna nos círculos evangélicos em relação ao Adão histórico hoje deveria ser um conto de advertência para os luteranos.106 Deveria também ser um aviso para os adventistas do sétimo dia, que podem ingenuamente assumir que todos os evangélicos estão “do nosso lado” quando o tema da criação do mundo por Deus é trazido à tona.107

Reações e Respostas à Nova Perspectiva Evangélica sobre Adão

A partir deste breve levantamento das propostas evangélicas recentes para compreender o Adão histórico, é possível observar alguns traços hermenêuticos comuns a esta nova perspectiva evangélica sobre Adão. Essas são as novas perspectivas evangélicas:

  1. Aceitar a possibilidade de uma influência mais forte das histórias da criação do Antigo Oriente Médio no relato bíblico da criação, enfatizando as semelhanças, mas ignorando ou descartando as suas diferenças distintivas, particularmente o monoteísmo e a monogénese. Além disso, como no caso de Walton, eles ignoram ou contradizem a evidência textual do Antigo Oriente Médio e da Bíblia sobre as origens materiais, a fim de prosseguir o seu argumento a favor das origens funcionais.

  1. Propor uma “calibração de gênero” para o relato de Gênesis, o que implica não considerá-lo como uma narrativa histórica, mas como um texto “simbólico” ou “metafórico,” ou talvez apenas uma narrativa com conceitos teológicos importantes que não seja nem “ficcional” nem “histórico.” Ou identificam-na e entendem-na como uma “cosmologia antiga” ou “biologia antiga,” correta nos seus próprios termos e contexto, mas não na nossa compreensão científica atual. Não obstante, particularmente Gênesis 2 com a sua característica “toledot108 e os marcadores históricos que o capítulo usa são indicadores de que “entramos no verdadeiro tempo e espaço da história humana.”109

  1. Reinterpretar, revisar ou rejeitar o uso do Adão histórico no Novo Testamento, particularmente Paulo, que permite que sua estrutura soteriológica permaneça sem a necessidade de um Adão histórico real, mas permite outras alternativas: literária, genealógica e/ou arquetípica.

  1. Reestruturar a compreensão de conceitos teológicos como inerrância, Prima Scriptura e Sola Scriptura, que admitiriam uma nova compreensão da natureza e função de Gênesis, a fim de facilitar a conversa entre a Escritura e a ciência.

  1. Afirmar uma confiabilidade mais forte para as descobertas científicas, como o Projeto Genoma Humano, do que para as Escrituras, assumindo uma posição harmonizadora favorecendo a ciência acima da Bíblia. O benefício da dúvida é para a ciência, não para a Escritura.

  1. Apresentar preocupações ministeriais, missiológicas e eclesiológicas sobre a necessidade de rever a posição do cristianismo sobre o Adão histórico que permitirá aos cristãos se envolverem melhor nas comunidades científicas, melhorarem seu engajamento evangelístico e permanecerem na igreja.

Protologia e Suas Implicações

William VanDoodewaard observa que durante os primeiros dezoito séculos da história da igreja cristã, exegetas e teólogos tiveram um compromisso quase monolítico com uma compreensão literal das origens humanas.110 De acordo com VanDoodewaard, “quase toda a cristandade defendia um Adão e uma Eva como o primeiro casal, sem ancestrais ou contemporâneos na sua origem.”111 Ademais, VanDoodewaard afirma que quase todos os teólogos cristãos “entendiam Adão e Eva como literalmente criados da maneira descrita em Gênesis 2:7 e Gênesis 2:21–22.”112

Até mesmo Walton concorda com este retrato histórico quando afirma “mesmo os primeiros intérpretes, sem dúvida, consideravam Adão e Eva como os progenitores de toda a raça humana.”113

Além disso, como observado por R. Albert Mohler Jr., presidente do Southern Baptist Theological Seminary, no seu prefácio ao livro de VanDoodewaard, o desafio teológico para esta geração de evangélicos é a questão dos primórdios. Ele afirma que “em termos do evangelho de Jesus Cristo, a questão mais urgente relacionada aos primórdios tem a ver com a existência de Adão e Eva como os primeiros pais de toda a humanidade, e com a realidade da queda como a explicação para a pecaminosidade humana com sua consequências.”114 Todavia, outros se preocupam se “questão das origens cósmicas e humanas tenha ficado completamente confusa com a questão soteriológica sobre se um ‘Adão original’ é necessário para a doutrina bíblica da salvação.”115 Contudo, é difícil não trabalhar com esta suposição se lermos o Novo Testamento, especialmente Paulo. Isto também é apoiado por muitos pais da igreja.

Protologia e Escatologia

Ainda mais, VanDoodewaard observa que questões relacionadas à protologia, como a busca pelo Adão histórico e o modo como se faz, impactam uma ampla gama de tópicos doutrinários, incluindoi a escatologia.116

Michael Hasel, por exemplo, observa que “a hipótese evolucionista deixa em aberto questões importantes que não afetam apenas origens, mas também a nossa visão do cumprimento das promessas bíblicas de eventos futuros.”117

A relação entre o primeiro e o último capítulo da Bíblia é evidente. Alexander Desmond observa a respeito da nova Jerusalém que, para João, “esta cidade excepcional é a meta para a qual tudo na criação está se movendo. É o cumprimento do que Deus iniciou em Gênesis 1.”118

Portanto, não é equivocado pensar que mudanças na compreensão da protologia evangélica tradicional poderiam ter efeitos na sua compreensão da escatologia apresentada nos últimos capítulos do Apocalipse. No entanto, o que parece ser o resultado lógico de negar os eventos sobrenaturais da criação e, portanto, aqueles relacionados aos mesmos conceitos da nova criação apresentados nos últimos capítulos do Apocalipse, está ausente na análise daqueles que questionam a historicidade do Gênesis, mas afirmando sua fé na realidade do céu.

Por exemplo, McKnight, cuja posição sobre o Adão histórico foi discutida anteriormente, argumenta em seu livro de 2015, The Heaven Promise (A Promessa do Céu), que “a primeira característica inegociável da Promessa do Céu tem a ver com Deus. No Céu, Deus será Deus.”119 Entre os indicadores desta nova realidade, McKnight argumenta que “Deus será o sustento para todos.”120 Como prova disso, McKnight menciona que “a água da vida e a árvore da vida que sustenta a vida do povo do reino ‘fluem do trono de Deus e do Cordeiro’.”121 Aqui, McKnight não oferece nenhum desafio científico e nem apresenta qualquer proposta interpretativa para compreender estas declarações como não-literais ou não-históricas.

No entanto, estudiosos como Carson, que reconhecem a relação entre protologia e escatologia, apontam acertadamente que uma depende da outra. Carson sugere fortemente que “quanto mais Gênesis 1–3 é relegado à vaga categoria de ‘mito’, mais difícil se torna preservar o ensino categórico do próprio apóstolo.”122 Este problema sobre as origens, segundo Carson, afeta também o outro extremo: a escatologia paulina. Carson observa que há estudiosos “preparados para adotar a parte cumprida da escatologia paulina, mas nem o início nem o fim da construção paulina da história da salvação.”123 Esses teólogos mal sustentam o meio da linha histórico-soteriológica. Por enquanto, os evangélicos lutam apenas com o início da linha histórico-soteriológica, mas não com o seu fim, embora estejam particularmente relacionados entre si.

Conclusão

Os dilemas hermenêuticos e teológicos criados por estas novas propostas são abaladores quando se trata da posição assumida sobre as origens e a soteriologia sustentada por um número crescente de evangélicos. Lenta, mas segura, esta mudança de paradigma entre e dentro dos evangélicos afeta a compreensão das Escrituras, e da sua autoridade e primazia em questões de doutrina.

Parece que a nova protologia evangélica ainda não atingiu o seu resultado lógico e consistente nas ramificações soteriológicas e escatológicas que seriam impostas pela negação da historicidade da criação e do Adão histórico. Contudo, as suas propostas hermenêuticas novas, criativas e alternativas fornecem evidências de uma nova tendência nas atitudes teológicas entre os evangélicos que procuram harmonizar Gênesis com o atual consenso científico sobre as origens humanas. Tal tendência poderia ter um enorme impacto não apenas na hermenêutica e soteriologia evangélicas, mas na compreensão histórica da escatologia cristã apresentada nos últimos capítulos do Apocalipse. Como tal, estas novas abordagens são incompatíveis com uma visão elevada das Escrituras e estão em total desacordo com a compreensão adventista do sétimo dia da escatologia bíblica.

1 Richard N. Ostling, “The Search for the Historical Adam: The Center of the Evolution Debate Has Shifted From Whether We Came From Earlier Animals to Whether We Could Have Come From One Man and One Woman,” Christianity Today 55, nº. 6 (2011).

2 Peter Enns, The Evolution of Adam: What the Bible Does and Doesn’t Say About Human Origins (Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2012), ix. De acordo com Enns, a teoria da evolução existe há gerações, mas nos últimos anos dois factores estão a trazer a questão de volta aos olhos do público. O primeiro são os ataques implacáveis, articulados e populares ao cristianismo por parte dos novos ateus. Jerry Coyne, Richard Dawkins, Daniel Dennett e outros promoveram agressivamente a evolução e argumentaram que a evolução destruiu a possibilidade da fé religiosa, especialmente uma fé como o cristianismo, cujos escritos sagrados contêm a história de Adão, o primeiro homem criado do pó vários mil anos atrás. O segundo fator foram os avanços bem divulgados na nossa compreensão da evolução, particularmente da genética. O Projecto Genoma Humano, concluído em 2003, demonstrou, para além de qualquer dúvida científica razoável, que os humanos e os primatas partilham ancestrais comuns. Ver, também, Walter C. Kaiser Jr., “A Literal and Historical Adam and Eve? Reflections on the Work of Peter Enns,” Criswell Theological Review 10, nº 2 (2013): 75–76; e Dennis R. Venema e Scot McKnight, Adam and the Genome: Reading Scripture After Genetic Science (Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2017). McKnight levanta as seguintes questões envolvendo o Projeto Genoma Humano. O que acontece quando a teoria da evolução e o Projeto Genoma Humano se deparam com as narrativas da criação da Bíblia? O que acontece, então, quando nos dizem que o melhor da ciência ensina hoje que o DNA característico dos humanos modernos não poderia ter vindo de menos de aproximadamente dez mil hominídeos? O que acontece quando nos dizem que existiram humanos pré-adamitas? E aqueles dois humanos em Gênesis 1–3? E o que dizer dos oito que sobreviveram ao dilúvio de Noé? Em quem devemos acreditar, alguns perguntam: na Bíblia ou na ciência? McKnight observa que “se o Projecto Genoma Humano tem algum peso na nossa visão do mundo, insistir que o nosso DNA provém de dois humanos, Adão e Eva, é intencionalmente ir contra o que a ciência agora ensina com provas substanciais.” Ver, também, Todd Wood, “A Simple Truth Seeker” em Tim Stafford, e., The Adam Quest: Eleven Scientists Who Held on to a Strong Faith While Wrestling With the Mystery of Human Origins (Nashville, TN: Nelson Books, 2013), pp. 44–45. Na apresentação de Todd Wood, um criacionista, consta os seguintes comentários: “O lançamento da BioLogos, uma organização cristã iniciada por Francis Collins, do Projeto Genoma Humano, mudou os termos do debate entre os cristãos.” De acordo com Fazale Rana e Hugh Ross, Who Was Adam? A Creation Model Approach to the Origin of Man (Colorado Springs, CO: NavPress, 2005), 59, uma nova visão sobre as origens humanas e a diversidade genética vem do Projeto Genoma Humano.

3 Enns, ix.

4 Ostling, p. 24.

5 Kaiser, p. 76.

6 Francis S. Collins, The Language of God : A Scientist Presents Evidence for Belief (New York: Free Press, 2006).

7 Kaiser, p. 75.

8 Ibid., p. 76.

9 Ibid.

10 William Lane Craig, In Quest of the Historical Adam: A Biblical and Scientific Exploration (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2021), p. 3.

11 Ibid., p. 4.

12 Ibid. Craig oferece um breve resumo de como os teólogos tradicionais abordam a questão do Adão histórico para a doutrina do pecado: “Pois se Adão não foi uma pessoa histórica, claramente não houve queda histórica no pecado no sentido tradicional. Particularmente, a doutrina do pecado original deve ser ignorada se não houve nenhum Adão histórico e, portanto, nenhuma queda. Pois na ausência de um Adão histórico, não há, ou houve, nenhum pecado de Adão que possa ser imputado a todo ser humano. Óbvio que não podemos ser considerados culpados e, portanto, merecedores de punição por uma infração que nunca ocorreu. Da mesma forma, não podemos ser herdeiros de uma natureza humana corrompida como resultado do pecado de Adão, se tal pecado nunca ocorreu. Assim, na ausência de um Adão histórico, a tradicional doutrina do pecado original não se sustém.” Ver, também, Raoul Dederen, ed., Handbook of Seventh-day Adventist Theology, Commentary Reference Series 12 (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2001), 241–242: “Ao longo da história, alguns teólogos definiram a narrativa da queda de Gênesis 3 como alegoria, relegando-a como um mito sem base histórica. Alguns referem-se a isso como um evento supra-histórico, incompreensível para quem vive na história. Mas para uma compreensão correta da essência, natureza e destino do pecado, a sua historicidade não pode ser relegada ou minada. Seu início, seu impacto no drama da história humana, sua derrota na cruz e sua erradicação final no juízo final são retratados nas Escrituras como marcos históricos, indo da rebelião à restauração. Negar a historicidade de qualquer um desses eventos é negar a autoridade e a autenticidade das Escrituras como a Palavra do Deus vivo e negar o próprio Senhor soberano da história.” Bruce A. Demarest, The Cross and Salvation: The Doctrine of Salvation, Foundations of Evangelical Theology (Wheaton, Il: Crossway Books, 1997), pp. 73–74, pergunta e responde a uma pergunta importante: “Por que os humanos, os seres mais elevados da criação de Deus e portadores da imagem única, necessitam de graça para a salvação e a vida cristã? Porque a terrível tragédia do pecado afeta todas as pessoas por meio de Adão e Eva.” Ele acrescenta: “As Escrituras ensinam que o pecado de Adão afetou não apenas a si mesmo, mas a todos os seus descendentes.” Na linguagem da teologia clássica, argumenta Demarest: “a raça humana antes da queda era posse non peccare et mori (“capaz de não pecar e morrer”); mas, depois da queda, cada pecador é non posse non peccare et mori (“incapaz de não pecar e morrer”). Toda a raça humana é afligida pela culpa objetiva, pela alienação de Deus e por naturezas depravadas que se recusam a conhecer, amar e servir o Criador. A pecaminosidade universal por meio de Adão mutilou seriamente as capacidades humanas de fazer o bem.” Ver, também, Bruce A. Demarest, “Fall of the Human Race,” em Evangelical Dictionary of Theology, e. Walter A. Elwell (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2001), pp. 434–436. Michael F. Bird, Evangelical Theology: A Biblical and Systematic Introduction (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2013), pp. 668–669, observa que “curiosamente, esta revolta inicial contra Deus não encontra mais menção no Antigo Testamento, mas suas implicações continuam a dominar as ações dos primeiros humanos da história (Gn 1–11) e as próprias relações de Israel com Deus desde a conquista de Canaã até o período pós-exílico. Intérpretes cristãos posteriores de Gênesis, de Paulo a Agostinho, fazem uso específico e extenso deste episódio da ‘queda’ de Adão na construção de uma doutrina do pecado.” No entanto, ele afirma que “embora o ‘pecado original’ nunca seja explicitamente declarado ou definido pelas Escrituras, a sua realidade está fortemente implícita, uma vez que se supõe que haja uma unidade orgânica entre o pecado de Adão e a pecaminosidade humana.”

13 Craig, p. 4. Ver, também, Dyson Hague, “The Doctrinal Value of the First Chapters of Genesis,” em The Fundamentals, vol. 1, ee. R. A. Torrey e A. C Dixon (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2003), p. 285. Ver, por exemplo, Haia afirmando: “No que diz respeito à nossa redenção, o terceiro capítulo do Gênesis é a base de toda soteriologia. Se não houve queda, não houve condenação, nem separação e nem necessidade de reconciliação. Se não houvesse necessidade de reconciliação, não haveria necessidade de redenção; e se não houvesse necessidade de redenção, a Encarnação seria supérflua e a crucificação uma loucura (Gl 3:21). O apóstolo liga tão intimamente a queda de Adão e a morte de Cristo, que sem a queda de Adão a ciência da teologia é esvaziada de sua característica mais saliente: a expiação.”

14 Craig, p. 5.

15 Ibid.

16 Ibid., pp. 5–6. Craig oferece estes argumentos como indicativos do valor não essencial da doutrina do pecado original para a fé cristã: “A doutrina goza de pouco apoio bíblico, para dizer o mínimo; não pode ser encontrada no relato de Gênesis 3 sobre as maldições que se seguiram à queda, a doutrina depende inteiramente de uma passagem bíblica, Romanos 5:12–21, e essa passagem é vaga e aberta a múltiplas interpretações. Paulo não ensina claramente que (1) o pecado de Adão é imputado a cada um dos seus descendentes ou (2) o pecado de Adão resultou numa corrupção da natureza humana ou numa privação da justiça original que é transmitida a todos os seus descendentes.”

17 Ibid., p. 5.

18 Ibid., p. 6.

19 Ibid.

20 Ibid.

21 Ibid.

22 Ibid., p. 7.

23 Ibid., p. 12.

24 Ibid.

25 Ibid., pp. 12–13.

26 Ibid., pp. 13–14.

27 Ibid., p. 14.

28 Ibid., pp. 16–18. Craig concorda e cita o estudioso do Antigo Testamento Brevard Childs nas seguintes declarações: “Comparar os pais da igreja, ou os reformadores, nesse caso, com os estudos modernos em termos de filologia, crítica textual e literária, ou de conhecimento histórico e precisão exegética, deveria convencer qualquer pessoa razoável das conquistas inegáveis dos estudos críticos históricos no que diz respeito ao Antigo Testamento.”

29 Ostling, p. 26.

30 John H. Walton, Genesis: From Biblical Text . . . to Contemporary Life, The NIV Application Commentary (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2001). Ver, também, Walton, The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate (Downers Grove, IL: IVP Academic, 2009); Walton, Genesis 1 as Ancient Cosmology (Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2011); Walton, “Human Origins and the Bible,” Zygon 47, nº 4 (2012); Matthew Barrett e Ardek B. Caneday, ee., Four Views on the Historical Adam, e. Stanley N. Gundry, Counterpoints: Bible and Theology (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2013); Walton, The Lost World of Adam and Eve: Genesis 2–3 and the Human Origins Debate (Downers Grove, IL: IVP Academic, 2015); e Walton, “The Lost World of Adam and Eve: Old Testament Scholar John Walton Affirms a Historical Adam—But Says There Are Far More Important Dimensions to Genesis,” Christianity Today 59, nº 2 (2015).

31 Walton, The Lost World of Adam and Eve, p. 13.

32 Ibid.

33 Richard E. Averbeck, “The Lost World of Adam and Eve: A Review Essay,” Themelios 40, nº 2 (2015).

34 Ibid., p. 227.

35 Sean M. Cordry, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Perspectives on Science and Christian Faith 62, nº 3 (2010); Hans-Christof Kraus, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Journal for the Study of the Old Testament 35, nº 5 (2011); Michael S. Heiser, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Journal of the Evangelical Theological Society 53, nº 1 (2010); Barry A. Jones, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Review & Expositor 107, nº 2 (2010); Ernest Lucas, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Science and Christian Belief 23, nº 1 (2011).

36 Scott A. Ashmon, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Concordia Theological Quarterly 77, nº 1–2 (2013): 187. Ashmon considera que a visão de Walton sobre Gênesis 1 vai longe demais ao negar que o Antigo Oriente Médio não esteja preocupado com as origens materiais e argumenta que a cosmogonia do Antigo Oriente Médio estava preocupada com as origens materiais e funcionais (e nominais). Ver, também, Douglas J. Becker, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Themelios 34, nº 3 (2009): 358–359. Becker observa que uma possível fraqueza no argumento de Walton é a sua insistência em ler Gênesis 1 em termos puramente funcionais. Becker considera que talvez Gênesis esteja preocupado tanto com a existência material quanto com a função, talvez com ênfase nesta última. Ver, também, Richard S. Hess, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Bulletin for Biblical Research 20, nº 3 (2010): 435. Hess considera que o argumento de Walton para a funcionalidade em Gênesis 1 precisa de mais apoio para estabelecer o seu caso. Hess também se pergunta se o elemento funcional é verdadeiramente central neste texto. Ver, também, Brian L. Webster, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Bibliotheca Sacra 168, nº 671 (2011): 357. Webster faz duas observações importantes sobre a orientação da função de Walton. Primeiro, Walton às vezes exagera a ponto de parecer que ele quis dizer que Gênesis 1 teria sido entendido como sendo sobre funções abstratas, sem de forma alguma tratar de origens materiais. Em segundo lugar, Webster argumenta que os textos criacionistas no Antigo Oriente Médio podem começar com uma substância sem forma a ser modificada, mas ainda têm um padrão em que coisas específicas não estavam lá no início, e depois estavam. Webster conclui que o fato desses textos antigos descreverem a transformação da matéria sem forma em coisas novas não significa que, superficialmente, se trate principalmente de funções abstratas, e não de origens materiais.

37 Gordon J. Wenham, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” Science and Christian Belief 25, nº 1 (2013): 73.

38 Trevor Craigen, “The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate,” The Master’s Seminary Journal 21, nº 2 (2010): 261.

39 Daniel De Vries, “The Lost World of Adam and Eve: Genesis 2–3 and the Human Origins Debate,” Calvin Theological Journal 51, nº 1 (2016): 143–145.

40 Andrea L. Robinson, “The Lost World of Adam and Eve: Genesis 2–3 and the Human Origins Debate,” Science and Christian Belief 28, nº 1 (2016): 50.

41 Deane Galbraith, “The Lost World of Adam and Eve: Genesis 2–3 and the Human Origins Debate,” Journal of the Evangelical Theological Society 58, nº 1 (2015): 168–169. Galbraith observa que o próprio Walton afirma que sua preocupação é oferecer uma maneira de tornar Gênesis 1–3 aceitável para aqueles que defendem teorias científicas modernas sobre as origens materiais do universo e da humanidade. Galbraith também argumenta que o efeito cumulativo de tantas interpretações inventivas de Walton coloca uma grande sombra sobre a sua ênfase funcional. Ver, também, Robert P. Gordon, “The Lost World of Adam and Eve: Genesis 2–3 and the Human Origins Debate,” Journal for the Study of the Old Testament 40, nº 5 (2016): 71.

42 Walton, Genesis 1 as Ancient Cosmology, p. 194.

43 Ibid.

44 Ibid., pp. 194–195.

45 Ibid., p. 195.

46 Ibid.

47 Walton, Genesis 2–3 and the Human Origins Debate, pp. 58–61.

48 Walton oferece uma explicação de como o arquétipo é usado para se referir a Adão: “A proposta central deste livro é que os relatos da formação de Adão e Eva sejam entendidos de forma arquetípica, e não como relatos de como esses dois indivíduos foram singularmente formados. Quando uso a palavra arquétipo, não estou me referindo à maneira como a literatura utiliza os arquétipos. Refiro-me ao conceito simples de que um arquétipo incorpora todos os outros no grupo. Um arquétipo na Bíblia pode muito bem ser um indivíduo e geralmente é. Estou bastante preparado para afirmar a ideia de que Adão é um indivíduo, uma pessoa real num passado real. Todavia, vimos no uso do termo ʾādām que o uso do artigo definido tende a uma compreensão de Adão como representante de algum tipo, e um arquétipo é uma forma de representação.”

49 Walton, Genesis 2–3 and the Human Origins Debate, pp. 70–81.

50 Ibid., pp. 82–91.

51 Ibid., pp. 92–95.

52 Ibid., pp. 96–101. Walton diz: “Quando identificamos Adão e Eva como personagens históricas, queremos dizer que são pessoas reais envolvidas em acontecimentos reais num passado real. Elas não são inerentemente mitológicas ou lendárias, embora seus papéis possam contribuir para que sejam tratados dessa forma em parte da história da recepção. Da mesma forma, elas não são fictícias. Ao mesmo tempo, pode haver alguns elementos no seu perfil que não pretendem transmitir elementos históricos.” Sobre o uso literário de Adão no Novo Testamento, Walton considera que Adão também é usado como personagem literária para expressar uma verdade literária ou teológica que não implica necessariamente uma verdade histórica. Walton defende seu caso com o exemplo do uso de Melquisedeque e Enoque no Novo Testamento.

53 Ibid., p. 96.

54 Ibid., p. 103.

55 Ibid.

56 Ibid.

57 Ibid.

58 Andrew Steinmann, “Lost World of Genesis One: John H. Walton, American Evangelicals and Creation,” Lutheran Education Journal (2012). Ver, também, William D. Barrick, “Old Testament Evidence for a Literal, Historical Adam and Eve,” em Searching for Adam: Genesis and the Truth about Humans Origins, e. Terry Mortenson (Master Books, 2016),p. 18. Barrick apresenta o seguinte desenvolvimento histórico do debate sobre as origens do universo. Ele considera que o debate sobre as origens do universo, da Terra e da humanidade mudou sutilmente nos últimos anos. Da década de 1920 até a década de 1960, o debate sobre as origens entre biblicistas e não-bíblicistas focou na evolução versus criação. Da década de 1960 até 2000, o debate sobre as origens focou no Dilúvio de Noé, na duração dos dias da criação e na idade da criação. De 2000 até o presente, o debate se acirra sobre se o Adão bíblico é o pai histórico e genético de todos os seres humanos.

59 Steinmann, p 2.

60 Ibid.

61 Barrett e Caneday.

62 Terry Mortenson, “Introduction,” em Searching for Adam, p. 7. Os criacionistas da Terra jovem sustentam que toda a Terra, e não apenas a vida no planeta, foi criada durante os seis dias da semana da criação.

63 Enns, pp. 57–58. Enns afirma: “Observar as semelhanças entre as histórias da criação e do dilúvio e a literatura do Antigo Oriente Médio, e insistir que todos esses outros escritos são claramente não históricos, enquanto Gênesis de alguma forma apresenta a história, não é uma posição forte de fé, mas sim fraca, onde a Escritura deve estar em conformidade com as expectativas da pessoa. Gênesis clama para ser lido como algo diferente de uma descrição histórica de eventos.”

64 Ibid., p. 66.

65 Ibid., p. 69.

66 Ibidem, ênfase original.

67 Ibid., p. 79.

68 Ibid.

69 Ibid., p. 80.

70 Ibid., p. 81.

71 Ibid.

72 Ibid., p. 95. Enns argumenta que “Paulo empregou suas Escrituras contra o pano de fundo das convenções hermenêuticas de sua época, não da nossa, e devemos entender Paulo nesse contexto. Em outras palavras, da mesma forma que devemos calibrar o gênero de Gênesis olhando para a cultura circundante, e compreender a interpretação de Paulo do Antigo Testamento dentro do contexto da época.”

73 Ibid., p. 103.

74 Ibid., p. 117. Enns sugere uma leitura alternativa para entender a visão de Paulo e o uso de Gênesis e Adão em particular. Enns considera que certos elementos devem ser considerados em nossa análise do Adão de Paulo: “A natureza ambígua da história de Adão no Gênesis, a ausência funcional de Adão no Antigo Testamento, a energia criativa investida na história de Adão por outros intérpretes antigos, e a uso criativo do Antigo Testamento em geral, abordaremos o uso que Paulo faz da história de Adão com a expectativa de encontrar ali não uma leitura simples de Gênesis, mas uma transformação de Gênesis.”

75 Venema e McKnight, p. 106.

76 Ibid., p. 112, ênfase no original. De acordo com McKnight, “essa é a abordagem mais respeitosa, mais honesta e mais prima scriptura”.

77 Ibid., p. 113, ênfase no original.

78 Ibid., p. 118, ênfase no original.

79 Ibid.

80 Ibid.

81 Ibid.

82 Ibid., pp. 107–108, ênfase no original.

83 Ibid., pp. 144–146.

84 Ibid., p. 146, ênfase no original.

85 Ibid.

86 Ibid.

87 Ibid., p. 169, ênfase no original.

88 Ibidem, ênfase original.

89 Ibidem, ênfase original. McKnight observa que, por exemplo, “na comunidade de Qumran descobrimos um Adão que, embora formado à imagem de Deus (4Q504 frag. 8, linha 4), é o arquétipo que ‘quebrou a fé’ (CD 10.8). Assim, Israel, ‘como Adão, quebrou a aliança’ (4Q167 frag. 7 9.1). Aqueles que são fiéis, porém, herdarão a ‘glória de Adão’ (1QS 4.23). Portanto, a ênfase nos Manuscritos do Mar Morto sobre os dois espíritos deriva da história interpretativa de Adão escolhendo a desobediência, e, portanto, tornando-se um protótipo do ser humano confrontado com a obediência ou a desobediência (1QS 3-4).”

90 Ibid., p. 190.

91 Ibid., p. 191, ênfase no original.

92 Ibidem, ênfase original.

93 Ibid., p. 190.

94 See D. A. Carson, “Adam in the Epistles of Paul,” em In the Beginning: A Symposium on the Bible and Creation, e. N. M. de S. Cameron (Glasgow: Biblical Creation Society, 1980), pp. 28–43.

95 Ibid., p. 41.

96 Ibid.

97 A. B. Caneday, “The Language of God and Adam’s Genesis and Historicity in Paul’s Gospel,” Southern Baptist Journal of Theology 15, nº 1 (2011): 27.

98 Ibid.

99 Ibid.

100 Todd S. Beall, “Adam and Eve (First-Couple View),” em Dictionary of Christianity and Science, e. Paul Copan et al. (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2017), p. 75.

101 Ibid., pp. 75–76.

102 Tremper Longman III, “Adam and Eve (Representative-Couple View),” em Copan et al., pp. 92–93.

103 Ibid., p. 93.

104 Ibid.

105 Ibid., p. 95.

106 Andrew Steinmann é um teólogo luterano da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri. A Igreja Luterana-Sínodo de Missouri declarou publicamente sua crença de que Deus criou o mundo conforme narrado em Gênesis.

107 Steinmann, p 2.

108 Averbeck, pp. 237–238. Ver, também, Richard M. Davidson, “The Biblical Account of Origins,” Journal of the Adventist Theological Society 14, nº 1 (2003): 13. Davidson observa que é amplamente reconhecido que todo o livro de Gênesis é estruturado pela palavra gerações (tōlėdōt) em conexão com cada seção do livro (13x). Esta é uma palavra usada no contexto das genealogias preocupadas com o relato preciso do tempo e da história. Significa literalmente “geração” ou “produção” (do verbo yālad “produzir, gerar”) e implica que Gênesis é a “história dos começos.” Davidson conclui que “o uso de tōlėdōt em Gênesis 2:4 mostra que o autor pretende que o relato da criação seja considerado tão literal quanto o resto das narrativas de Gênesis.” Mathews K. A., Genesis 1–11:26, The New American Commentary, vol. 1A (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1996), p. 41. Mathews observa que “o recorrente dispositivo formulaico tōlėdōt mostra que a composição foi organizada para unir as amarras históricas de Israel com os primórdios do cosmos.”

109 Averbeck, p. 238.

110 William VanDoodewaard, The Quest for the Historical Adam: Genesis, Hermeneutics, and Human Origins (Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 2015), loc. 7119.

111 Ibid.

112 Ibid.

113 Walton, Genesis 2–3 and the Human Origins Debate, p. 181. Walton cita o escrito do século II A.E.C. Tobias 8:6: “Aqueles dois foram pais de todos os humanos.” Os escritores do Antigo Testamento também entenderam Gênesis 1–2 dessa forma, como podemos ser visto nos Salmos 33 e 104.

114 VanDoodewaard, loc. 148. Ver, também, Steinmann, Steinmann, “The Lost World of Genesis One: John H. Walton, American Evangelicals and Creation” 2, que argumenta que a acomodação de Gênesis com a teoria evolucionista terá consequências indesejadas para a doutrina cristã, especialmente o evangelho. Esta, segundo Steinmann, é uma questão muitas vezes ignorada ou minimizada.

115 August H. Konkel, “The Lost World of Adam and Eve: Genesis 2–3 and the Human Origins Debate,” Perspectives on Science and Christian Faith 68, nº 1 (2016): 68, ênfase no original.

116 VanDoodewaard, loc. 7633–7644.

117 Michael G. Hasel, ““In The Beginning. . . .” The Relationship Between Protology and Eschatology,” em The Cosmic Battle for the Planet Earth: Essays in Honor of Norman R. Gulley, ee. Ron Du Preez e Jiří Moskala (Berrien Springs, MI: Andrews University, 2003), 21. Hasel observa: “Pois se Cristo voltará novamente para criar um novo céu e uma nova terra, qual será a duração do tempo? Será instantâneo ou levará milhões de anos?”

118 T. Desmond Alexander, “From Paradise to the Promised Land: An Introduction to the Pentateuch,” (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2012), p. 132.

119 Scot McKnight, The Heaven Promise: Engaging the Bible’s Truth About Life to Come (Colorado Springs, CO: WaterBrook Press, 2015), p. 59.

120 Ibid., p. 64.

121 Ibid.

122 Carson, p. 40.

123 Ibidem, ênfase original. Cp. Morna Dorothy Hooker, Pauline Pieces (London: Epworth Press, 1979), p. 50: “Adão e Cristo podem representar duas humanidades contrastantes, dois modos de vida, mas as duas personagens que os representam são um par desequilibrado: uma mítica, a outra histórica. E aqui chego ao meu problema — todo o esquema de redenção —, como Paulo o entende, é colocado contra um pano de fundo escatológico que fazia sentido para ele, mas não faz mais sentido para mim.”

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