O Significado e A Mensagem das Bem-aventuranças no Sermão do Monte

O Significado e a Mensagem das Bem-aventuranças no Sermão do Monte


Ranko Stefanovic, PhD, é professor de Novo Testamento no Seminário Teológico Adventista na Andrews University. Ele é membro da Society of Biblical Literature, Chicago Society for Biblical Research, Adventist Society for Religious Studies e da Adventist Theological Society. Escreveu diversos artigos profissionais e acadêmicos; também é autor de comentários sobre o livro de Apocalipse intitulados “Revelation of Jesus Christ” (“Revelação de Jesus Cristo”) e “Plain Revelation” (“Revelação Clara”).  


Tradução: Hugo Martins

“O Significado e a Mensagem das Bem-aventuranças no Sermão do Monte” (Original em Inglês: “The Meaning and Message of the Beatitudes in the Sermon on the Mount”) é uma publicação do JATS (Journal of Adventist Theological Society). Usado com Permissão.


O Sermão do Monte, registrado em Mateus 5-7, é provavelmente um dos mais conhecidos ensinamentos de Jesus registrado nos Evangelhos. Este é o primeiro de cinco discursos em Mateus que Jesus proferiu em um monte não nomeado que tem sido, tradicionalmente, localizado na costa noroeste do Mar da Galileia, perto de Cafarnaum, que hoje é marcada pela Igreja das Bem-aventuranças.

Estudiosos em Novo Testamento têm tratado o Sermão do Monte como uma coleção de pequenos provérbios proferidos pelo Jesus histórico em diferentes ocasiões, que Mateus, nessa perspectiva, os editou e os colocou em um único sermão.[1] Uma versão similar do sermão é encontrada em Lucas 6:20-49, conhecido como o Sermão da Planície, o que tem sido comumente considerado como uma variante lucana do mesmo discurso. Enquanto os dois discursos mostram algumas semelhanças impressionantes, eles, no entanto, mostram, também, algumas diferenças óbvias. Em comum, eles começam com uma lista de declarações conhecidas como bem-aventuranças e concluem com a breve parábola metafórica dos dois construtores. A principal diferença entre as duas versões reside no que se encontra nas bem-aventuranças e na parábola dos dois construtores.

A posição assumida neste trabalho é, em primeiro lugar, que as versões matianas e lucanas são dois sermões diferentes com conteúdo semelhante proferidos por Jesus em duas ocasiões diferentes.[2]  Em segundo, parece quase certo que os dois discursos são sumários de outros maiores, cada com uma ênfase diferente, espiritual e física respectivamente.

Qualquer posição que se adote, parece que o Sermão do Monte, em Mateus, não é uma mera coleção de retalhos selecionados aleatoriamente; o discurso apresenta uma temática literária coerente. O sermão é introduzido com as bem-aventuranças, que são concluídas com um dístico de parábolas metafóricas curtas sobre o sal e a luz. É seguido por um conjunto de mensagens práticas em que Jesus contrasta os verdadeiros discípulos com os escribas e fariseus (5:20-7:23). O sermão termina com uma parábola dística dos dois construtores. Assim, este estudo sugere a seguinte estrutura para o Sermão do Monte de Mateus:

  1. Bem-aventuranças (5:3–12)
  2. Parábolas Dísticas do Sal e da Luz (5:13–16)
    1. Justiça que Excede (5:17–6:18)
      1. Antíteses (5:21–48)
      2. Jejum (6:1–4)
      3. Oração (6:5–15)
      4. Caridade (6:16–18)
    2. Preocupação com o Amanhã (6:19–34)
    3. Julgando Outros (7:1–6)
    4. Oração (7:7–11)
    5. Portas Largas e Estreitas (7:12–14)
    6. Conhecidos pelos Seus Frutos (7:15–23)
  3. Parábola Dística dos Dois Construtores (7:24-27)

Nesta estrutura, as bem-aventuranças (5:3–12) funcionam como a passagem primária sobre a qual o dístico das parábolas metafóricas sobre o sal e a luz é construído. O verbo μωράινω (mōráinō), “tornar-se tolo” (5:13), e seu cognato adjetivo μωρός (mōrós), “insensato” (7:26), conectam o dístico das parábolas do sal e da luz com o dístico da parábola dos dois construtores. Isto sugere que as parábolas do sal e da luz e dos dois construtores funcionam como um inclusio definindo significado teológico do restante do sermão.

Mateus 5:1–2 demonstra que Jesus falou no Sermão do Monte principalmente com os seus discípulos em mente, pois eles estavam prestes a serem enviados para proclamar a mensagem do reino (Mateus 10). O propósito deste estudo é explorar o significado das bem-aventuranças em conexão com o dístico das parábolas metafóricas do sal e da luz em Mateus 5:13–16 à luz da estrutura do Sermão do Monte e da mensagem que elas originalmente comunicaram aos discípulos.

As Bem-aventuranças (5:3–12)

O Sermão do Monte começa com uma seção introdutória consistindo de oito (ou nove) pronunciamentos que são comumente conhecidos como as bem-aventuranças, cada uma começando com o adjetivo plural grego μακάριοι (makárioi). O termo “bem-aventurança [bendito]” vem do latim beatitudo que corresponde ao grego μακαριμός (macarimós), do qual o termo inglês macarism (“felicidade”) se originou. O termo denota uma forma literária que era usada no mundo antigo elogiando ou exaltando uma pessoa por uma benevolência recebida em vida.[3]

No grego clássico, o adjetivo μακάριος (makários) é uma forma mais longa do termo mais antigo μάκαρ (“bendito, feliz”).[4] O termo μάκαρ (mákar) foi usado pela primeira vez por poetas para descrever a felicidade transcendente desfrutada pelos deuses que eram referidos como “os bem-aventurados” (οί μακάρες [oí makáres]).[5] O termo era também usado para pessoas falecidas que partilharam da existência supraterrestre dos deuses na ilha dos bem-aventurados.[6]

O significado do termo μακάριος (makários), e seu verbo cognato μακαρίζω (makarízō), correspondia originalmente à antiga forma μακάρ (makár). No entanto, o termo gradualmente veio a ser aplicado a pessoas vivas; primeiramente, era usado para a riqueza da ausência de preocupações e dos aborrecimentos da vida por causa da riqueza deles. A partir de Aristóteles, era um termo comum usado para descrever as pessoas que estavam seguras das dificuldades da vida.[7] Aparecia normalmente em uma construção formal: μακάριος ὅς (makários ós). . . (“bem-aventurado aquele . . .) ou μακάριοι οί (makários oí) . . . (“happy are those who . . .”) omitindo a cópula.[8] As pessoas eram consideradas sortudas e felizes porque possuíam coisas que deveriam trazer felicidade, incluindo riqueza,[9] fama,[10] poder,[11] uma vida de prazer,[12] ausência de sofrimento,[13] família,[14] sabedoria e conhecimento,[15] etc. O termo também pode ter um significado religioso de ser “bendito”.[16]

Na LXX, μακάριος (makários) geralmente, traduz o termo hebraico אַשְׁﬧֵי (’ashrey), que é usado 45 vezes nas Escrituras Hebraicas.[17] O termo aparece principalmente nos Salmos e na Literatura Sapiencial exaltando pessoas por causa de sua piedade e de sua fidelidade para com Deus. É significante que Yahweh nunca é chamado de אַשְׁﬧֵי/μακάριος (’ashrey/makários) nos moldes dos deuses gregos, somente humanos.[18]

Uma vez que a tradução do termo אַשְׁﬧֵי/μακάριος (’ashrey/makários) como “bendito [bem-aventurados]” é derivada principalmente do latim beatus, o termo bendito [de Deus] em hebraico é בָּרַךּ (bārakh), e no grego εὐλογητὸς (eulogētós), os tradutores modernos têm preferido o termo “feliz.”[19] Entretanto, os dois termos—“bendito” e “feliz”—parecem expressar as duas facetas do significado encontrado nas Escrituras Hebraicas e na LXX. É Yahweh que concede bênçãos terrenas às pessoas. Os agraciados com aquelas bênçãos divinas são caracterizados como “benditos/felizes.”

De acordo com W. F. Albright, o significado de אַשְׁﬧֵי (’ashrey) equivalia ao significado de μακάριος (makários) expressado no mundo helenístico: “feliz é a pessoa que. . .”[20] Todavia, na Bíblia, o termo aponta obviamente para mais do que uma mera felicidade mundana, denota um estado interior do ser, que resultou de um ato divino.[21] Tal felicidade era um sentimento interior por causa das bênçãos de Deus derramadas sobre uma pessoa. Assim, a tradução tradicional do termo como “bendito” não deve ser facilmente descartada devido ao fato de que a felicidade que o termo μακάριος (makários) é usado na Bíblia, é uma resposta a um ato divino, um estado de bem-estar, como uma recompensa divina à fidelidade a Deus.[22] Boring, corretamente, conclui, assim, que o oposto de μακάριος (makários) na Bíblia não é infelicidade, mas ser amaldiçoado.[23]

Durante o período do Segundo Templo, os pronunciamentos de bem-aventuranças/bendições entre os judeus geralmente replicavam o conceito convencional.[24] Um exemplo clássico de um macarismo é Eclesiástico 25:7–11, em que o autor lista de nove ou dez tipos de pessoas que são descritos como felizes:

Há nove coisas que, no meu íntimo, considero felizes (εμακάριζω [emakárizō]), e a décima eu proclamo com a minha boca: o homem que se alegra com seus filhos; aquele que vive para ver a ruína de seus inimigos; feliz (μακάριος [makários]) aquele que vive com mulher de bom senso; aquele que não faz trabalhar juntos o boi e o burro; aquele que não peca por palavra; aquele que não serve a um patrão indigno; feliz (μακάριος [makários]) aquele que encontrou a prudência; e aquele que fala para quem escuta. Como é grande aquele que encontrou a sabedoria! Mas ninguém ultrapassa aquele que teme ao Senhor. O temor do Senhor ultrapassa tudo, e a quem será comparado aquele que o possui?[25]

Como pode facilmente ser visto, entre os judeus do primeiro século, o termo μακάριος (makários) denotava o bem-estar de uma pessoa experienciando a felicidade terrena na vida.

No Novo Testamento, μακάριος (makários) ocorre 50 vezes, das quais 28 podem ser encontrados em Mateus e Lucas (o termo não ocorre em Marcos).[26] O significado do termo no Novo Testamento tem sido amplamente estudado pela erudição moderna[27] e está além do escopo deste estudo. Nosso foco está no modo como é usado no Sermão do Monte.

As bem-aventuranças em Mateus 5:3–12 consistem em duas orações cada. A primeira oração faz um pronunciamento que consiste no predicativo μακάριος (makários) seguido pela identidade das pessoas que são bem-aventuradas (“felizes são aqueles. . .”). A segunda oração declara a razão para a bem-aventurança consistindo em uma conjunção ὅτι (hóti [“pois” ou ”porque”]) enunciada no tempo futuro.[28] Nos macarismos daquela época, a conjunção ὅτι (hóti) não era comum fora do Novo Testamento; sendo assim, é particularmente significativo no discurso matiano.[29] Duas coisas podem ser observadas nas bem-aventuranças. Primeiro, Jesus muda radicalmente o conceito convencional de felicidade. Aqueles que são μακάριος (makários) não são “bem-aventurados” no sentido convencional de derramamentos de bênçãos experimentadas na vida em termos de sorte boa e de uma vida livre de sofrimentos, que é efêmera e inconstante. Eles são μακάριος (makários) não por causa dos [sofrimentos na vida], mas, em vez disso, apesar dos [sofrimentos na vida]. Verdadeira felicidade “não está ligada à riqueza, abundância, boa reputação, poder, possessão de bens neste mundo.”[30] O μακάριος (makários) pode não possuir nada, pode estar com fome, estar aflito, humilhado, ser humilde, suportar sofrimentos e ser perseguido; as circunstâncias da vida podem se voltar contra ele; contudo, a vida não pode tirar a felicidade dele porque a vida não lhe tem sido dada. De tal forma, as bem-aventuranças no Sermão do Monte descrevem uma “inversão de todos os valores humanos.”[31]

Esta verdadeira felicidade não deve ser compreendida em termos de estado emocional ou mental,[32] ou em relação àqueles sentimentos, mas, sim, como o resultado de um ato divino na vida humana. Deus é a verdadeira fonte de felicidade. O discípulo está em um estado de felicidade quando ele/ela está ciente das bênçãos especiais independentemente dele/dela estar com sorte boa ou sofrimentos na vida. De tal forma, “o que constitui a vida como ela foi concebida para ser vivida, contrasta fortemente com a sabedoria convencional”[33] em que “a felicidade é algo que é dependente das facetas e dos desafios da vida, algo que a vida pode dar e que a vida também pode destruir.”[34] Nos ensinamentos de Jesus, μακάριος (makários) “descreve a alegria que tem o seu segredo dentro de si, a alegria que é serena, intocável e autossuficiente, a alegria que é completamente independente de todas as facetas e dos desafios da vida.”[35]

A segunda coisa que pode ser observada é que, em contraste com o Antigo Testamento e o conceito convencional onde אַשְׁﬧֵי (’ashrey) ou μακάριος (makários) se referem respectivamente ao bem-estar presente, as bem-aventuranças vão além da situação presente, para o futuro, nos moldes da literatura apocalíptica judaica.[36] Enquanto μακάριοι (makárioi) são bem-aventurados e, como resultado, felizes agora,[37] o derramamento visível de tais bênçãos não serão experienciados, em última análise, até a realização futura do reino de Deus na terra. Desta forma, as bem-aventuranças, o presente e o futuro estão relacionados.

Este caráter futurista das bem-aventuranças, no entanto, não é para ser compreendido, como U. Becker corretamente observa, “no sentido de consolação e recompensa subsequente. O futuro prometido sempre envolve uma mudança radical do presente.”[38] Os discípulos não são felizes porque eles estão livres dos sofrimentos na vida, mas sim porque eles são cidadãos do Reino por seguir a Jesus quando eles passam por dificuldades na vida. Suas vidas têm significado à luz da realização futura do reino. É o futuro que proporciona a força para os discípulos no presente.

Em resumo, a felicidade interior da qual as bem-aventuranças fala é um dom de bênção de Deus garantido àqueles que escolhem ser discípulos. Esta bênção é resultado da percepção da pobreza espiritual de uma pessoa (5:3), e um reconhecimento da dependência total de Deus (5:5). O discípulo é μακάριος (makários) por causa do relacionamento especial com Deus agora e hoje, bem como à luz da recompensa futura. Tal bem-aventurança e felicidade não podem ser afetadas pelas circunstâncias adversas da vida.

As Parábolas Dísticas do Sal e da Luz

As bem-aventuranças são seguidas por um dístico de parábolas metafóricas de sal e de luz que Jesus usou para explicitar o papel do μακάριος (makários) no mundo (5:13–16).[39] Como no caso de outras parábolas, Jesus usou aqui uma ilustração compreensível à audiência do primeiro século. Sal e luz eram elementos comuns na antiguidade. Plínio O Velho (23–79 E.C.), um contemporâneo de Jesus, afirmou: “De tudo o que existe, nada é mais benéfico do que o sal e a luz do sol.”[40]

Parece que essas parábolas dísticas de sal e de luz no Sermão do Monte funcionam como uma passagem dual-direcional concluindo as bem-aventuranças, e, ao mesmo tempo, introduzindo o resto do discurso.

Vós Sois O Sal da Terra” (5:13)

Na primeira parábola metafórica, Jesus compara os discípulos com o sal; “vós sois o sal da terra” (ὑμεῖϛ ἐστε τὸ ἅλας τῆς γῆς [humeĩs este hálas tēs gēs]). O pronome enfático ὑμεῖϛ (humeis), que significa literalmente “vós [sois o sal]”, se refere a “vós [sois abençoados/felizes]” no verso 11. Isto sugere que aqueles que são o sal da terra, bem como a luz do mundo, são os μακάριοι (makárioi) das bem-aventuranças.

Ao comparar os seus discípulos ao sal, Jesus se referia ao mineral conhecido hoje como cloreto de sódio. O sal era uma necessidade vital na Palestina, como no resto do mundo antigo. O livro de Eclesiástico o descreve como uma das necessidades básicas da vida (39:26). O Mar Morto era uma fonte importante de sal na Palestina. Todavia, o sal do Mar Morto era impuro, misturado com gesso e outros minerais produzindo um gosto amargo ou alcalino, a razão pela qual o povo da Palestina frequentemente comprava sal de qualidade superior dos mercadores do Norte.[41]

O termo sal (ἅλας [hálas])[42] aparece em seis passagens no Novo Testamento, das quais cinco nos Sinóticos nos provérbios de Jesus (Mt 5:13; Mc 9:50; Lc 14:34). O verbo ἁλίζω (halízō) significa simplesmente “salgar” ou “temperar com sal.” O sal é usado exclusivamente em um sentido figurado, oriundo, no entanto, de uma utilização doméstica.[43] Devido a grande utilização de sal no mundo antigo,[44] os comentaristas fizeram muitas sugestões de seu significado metafórico em Mateus 5:13. A maioria deles interpreta-o como um conservante; mas o contexto sugere que Jesus usou a metáfora de sal, exclusivamente, no sentido de tempero: “(μωραιθῇ [mōranthē]) . . .” (Mt 5:13; Lc 14:34) ou, “mas se [o sal] deixar de ser salgado [ἄναλον [ávalon]] . . .” (Marcos 9:50 [NVI]). Uma interpretação da metáfora do sal em Mateus 5:13 que sugere um sentido de preservação não faz justiça ao texto.

Uma questão passível de debate entre os comentaristas é sobre a pergunta retórica feita por Jesus: “Ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor?” Jesus quis dizer que o sal pode perder o seu efeito degustativo? Alguns comentaristas acreditam que esta perda de salinidade se refere provavelmente à já mencionada qualidade pobre do sal do Mar Morto.[45] Por causa da sua impureza, tem sido argumentado que o sal na Palestina poderia perder o seu sabor característico.[46] Na realidade, todavia, o sal é um composto estável e, como tal, não perde a sua salinidade. Que tal foi o entendimento entre os judeus do primeiro século, pode ser visto a partir de uma história atribuída ao Rabino Joshua ben Haninia (1º sec. E.C.). Quando perguntado se o sal perde o seu sabor, o rabino respondeu: “a mula dá filhos?” O ponto que o rabino tentou colocar foi que o sal não poderia perder o seu sabor, bem como a mula estéril não pode produzir uma prole.[47]

Parece que a questão se o sal pode perder a sua salinidade não é ponto que Jesus tentou colocar aos seus discípulos. Como R. T. France observa, Jesus não estava ensinando aos seus discípulos sobre química ou processos químicos; em vez disso, ele criou uma ilustração proverbial para fundamentar uma questão teológica.[48] O sal real não perde a sua salinidade. Sal sem salinidade não é sal, e, como tal, não tem valor, nem utilidade, “como um discípulo professo a quem falta compromisso genuíno.”[49] O verbo “insípido”, usado em Mateus 5:13, significa, literalmente, “tornar-se tolo [μωρανθῇ (mōrantē)]” (como também em Lucas 14:34).[50] Assim, um ponto que Jesus coloca é que, bem como é impossível ao sal perder a sua salinidade, da mesma forma, os μακάριοι (makárioi) referidos nas bem-aventuranças não podem perder seu sabor espiritual enquanto forem seguidores de Cristo. Contudo, o sal que (hipoteticamente) perde a sua salinidade não serviria para nada. Este conceito põe os discípulos em contraste com a cultura religiosa popular e a prática daquela época (por exemplo, a dos Escribas e dos Fariseus; 5:20).

Craig S. Keener, desse modo, observa corretamente que os ouvintes do primeiro século teriam compreendido rapidamente o ponto que Jesus tentou colocar aos discípulos.[51] Tal qual o sal dá sabor aos alimentos, assim os discípulos devem dar sabor à terra. Supõe-se que o sal dê sabor à terra, não a terra ao sal. A terra aqui é um sinônimo para o mundo (cp. 5:14).[52] O sal misturado na comida não pode ser visto, apenas provado. A característica mais óbvia do sal é que ele é diferente em cada localidade. Os discípulos que perdem a sua salinidade não têm mais valor.

Vós Sois A Luz do Mundo” (5:14–16)

Aqueles que são μακάριοι (makárioi), são mais adiante comparados à luz: “Vós sois a luz do mundo (ὑμεῖϛ ἐστε τὸ φῶς τοῦ κόσμου [humēis éste tò fōs kósmou])” (5:14). Luz é uma metáfora bem conhecida tanto na Bíblia quanto no Judaísmo.[53] No Antigo Testamento, Israel é descrita como uma luz às nações (cp. Is 60:1–3). A missão do Servo em Isaías é retratada em termos de luz (Is 42:6; 49:6), que fora, no Novo Testamento, cumprida no ministério de Jesus (Mt 4:16; Lc 2:32; Jo 8:12; 12:35–36). Paulo, também, muitas vezes, usa a metáfora da luz para o evangelho (2 Co 4:6; Ef 5:8; Fp 2:15). Aqui, em Mateus 5:14-16, Jesus exorta os discípulos a ser uma luz que ilumina o mundo,[54] da mesma forma que Ele é a luz para o mundo.

Parece que a estrutura da metáfora da luz (5:14–16) é comparavelmente semelhante a da metáfora do sal (5:13):

Vós sois o sal da terra Vós sois a luz do mundo
O sal não deve perder o seu sabor A luz não pode ficar escondida

Essa comparação mostra que as duas metáforas são complementares entre si. Em Mateus 5:14-16, Jesus reitera o argumento apresentado na metáfora do “sal da terra” (v. 13). Do mesmo modo que o sal dá gosto e transforma o alimento, a lâmpada “ilumina a todos os que estão na casa [NVI].” Também, assim como é impossível o sal perder a sua salinidade, é impossível esconder ou camuflar a luz, como uma cidade sobre um monte: “Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte” (v. 14). Usando esse provérbio, Jesus poderia ter em mente diversas cidades na Galileia, como Nazaré e Gamala. Entretanto, como alguns comentaristas observam, Jesus provavelmente se refere à Nova Jerusalém do reino messiânico, irradiando a luz da glória divina por todo o mundo (Is 2:2-4; 4:5-6; 60:1-22).[55]

Jesus reforça ainda mais a metáfora da luz com outro provérbio: “nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador” (5:15).[56] Jesus se refere aqui a uma típica casa de um cômodo da Palestina. Uma lâmpada (λύχνος [lýchnos]) era um pequeno vaso de barro com um bico em um ponta onde o pavio era colocado. Era enchido com óleo e colocado em um candelabro ou em um buraco especial na parede da sala para iluminar a casa. A fim de iluminar a casa, a luz nunca é coberta com uma cesta.[57] O ponto que Jesus colocou era que quando uma pessoa acende uma lâmpada, é colocada em um candelabro onde produz a maior quantidade de luz para cada pessoa na casa. Bem como a luz não pode ficar escondida, assim deve ser a luz dos discípulos. Suas vidas e ações devem ser visíveis ao mundo. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (5:16). Todavia, os discípulos não geram luz, a sua luz é uma reflexão da luz do Pai que está no céu.

O Parábola Metafórica dos Dois Construtores (5:20–7:27)

O resto do Sermão do Monte oferece uma aplicação prática do que foi afirmado nas bem-aventuranças e ilustrado com as parábolas dísticas do sal e da luz. O sal e a luz dos discípulos estão em contraste com a prática e a cultura religiosa popular de seu tempo: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt 5:20). No restante do Sermão, Jesus contrasta a justiça dos verdadeiros discípulos com a dos Escribas e dos Fariseus.

O que segue é a seção conhecida como a antítese: “Ouvistes que foi dito . . . Eu, porém, vos digo . . .” (Mateus 5:21-48). Aqui, a vida dos discípulos é melhor retratada, nas palavras de John Stott, como “contracultura cristã,” que é “a vida do reino de Deus, uma vida plenamente humana, de fato, mas vivida sob o governo divino.”[58]  Os discípulos são seguidores de Cristo, e, como tais, são chamados a seguir os passos do Mestre que exemplificou perfeitamente os traços de caráter das bem-aventuranças.[59] Sua justiça é caracterizada não pela exibição externa de piedade, mas pela atitude intrínseca do coração. É visível na forma como eles ajudam os pobres (6:1–4), oram (6:5–15) e jejuam (6:16–18). Afeta e impacta cada aspecto da vida dos discípulos, tanto presente quanto futura (Mt 6:19–7:23).

O Sermão termina com uma outra parábola dística de dois construtores (Mt 7:24–27), na qual Jesus novamente reitera o que foi dito nas bem-aventuranças e nas parábolas dísticas do sal e da luz. Na parábola dos dois construtores, Jesus traça o teste de justiça para os verdadeiros discípulos, aqueles que são μακάριοι (makárioi [7:24-25]), em contraste com aqueles que não obedecem às Suas palavras (7:26-27). Bem como o sal que (hipoteticamente) perdeu sua salinidade se torna tolo (μωρανθᾐ [mōranthē]), assim é a pessoa tola (μωρῷ [mōrō]) que constrói a sua casa sobre a areia. Assim como nas bem-aventuranças, onde o resultado final da escolha feita é mostrado no futuro, o mesmo vale nos dois construtores. Somente as bênçãos e a felicidade que são construídas sobre a rocha, um símbolo para Deus na Bíblia, são permanentes e estáveis. O teste futuro afirmará a estabilidade espiritual presente do verdadeiro discípulo.

Conclusão

Concluindo, o Sermão do Monte fora originalmente dirigido aos discípulos (cp. Mt 5:1–2) quando se juntaram a Jesus e estavam a ser enviados para a sua tarefa de pregar as boas novas do Reino (cap. 10). A descrição dos doze nos sinóticos é dada em termos de um grupo de galileus cuja a associação com Jesus fora muito motivada pelas questões políticas populares e uma aspiração à “grandeza” no Reino (cp. Mt 18:1–3; 21:20–28; Mc 10:35–45; Lc 9:46–48; 22:24–30).

No entanto, como Jesus apontou, os verdadeiros discípulos são aqueles que aceitaram as condições do Reino. Como tais, eles devem ser diferentes do mundo. “Eles não deviam dar ouvidos às pessoas ao redor deles, mas segui-lo, e, então, provarem ser filhos genuínos do Pai Celestial.”[60] O segredo do discipulado não se encontra na ambição vazia e na grandeza da cultura convencional do aqui e agora, mas na recompensa futura. Os verdadeiros discípulos experienciam a plenitude das bem-aventuranças e da verdadeira felicidade porque eles são os seguidores de Jesus, e, portanto, são cidadãos do Reino. Não que os discípulos sejam apenas chamados para ser diferentes do mundo, mas eles devem, também, ser o sal da terra e a luz do mundo. O sal deve ser misturado com a comida. E a luz deve ser colocada em um candelabro. Luz normalmente penetra e remove a escuridão. Mas faz muito mais; quanto mais densa a escuridão, mais visível é a luz. Deste modo deve ser a vida dos μακάριοι (makárioi) em um mundo escurecido pelo pecado enquanto eles seguem os passos do mestre.

Apêndice

Enquanto eu escrevia este material, não pude deixar de questionar a mim mesmo: qual é a relevância do Sermão do Monte e como isso se aplica na prática e na vida da Igreja a quem fora confiada a grande comissão (Mat. 28:20)—a igreja que somos todos parte dela? Somos verdadeiramente o que Jesus nos designou a ser: o sal e a luz do mundo?

Como alguns de vocês sabem, eu vim de um país que costumava ser chamado de Iugoslávia. Quando o país estava politicamente unido em uma federação, a Igreja também estava estruturada como um corpo em uma única União. Então, na década de 1990, estourou a guerra civil resultando na subdivisão da Iugoslávia em sete países menores. As questões que levaram a essa desintegração foram políticas, nacionalistas e religiosas. Da mesma forma, a Igreja Adventista do Sétimo dia na região também se dividiu. O que era para ser uma única União, eventualmente, foi dividida em duas; uma com cerca de 4.000 membros, e outra com cerca de 8.000 membros. Em contraste, outras denominações protestantes e Testemunhas de Jeová não tiveram quaisquer problemas em continuar a viver e a trabalhar juntas como um só corpo. A Igreja Adventista do Sétimo dia perdeu uma oportunidade de responder ao chamado de Jesus para ser o sal e a luz para a região e mostrar ao mundo como o evangelho remove barreiras e divisões étnicas, tribais e nacionalistas. Em direção contrária, a igreja perdeu a sua salinidade e foi vencida pela escuridão política e nacionalista.

Pode-se, também, refletir sobre como a situação política e/ou questões nacionalistas, raciais, tribais, culturais e ideológicas impactaram as relações entre os membros da igreja em algumas partes do mundo, incluindo este país [Estados Unidos]. Os seguidores de Cristo referidos no Sermão do Monte não caíram nas armadilhas de preconceitos raciais ou nacionalistas ou clãs, panelinhas e clubinhos teológicos ou ideológicos. Pode-se, também, perguntar qual o impacto que a Igreja pode ter no mundo quando líderes e estudiosos dedicados são fervorosamente atacados na internet e acusados com falsidades espúrias e sem fundamento.

Como Jesus declarou no referido discurso [Sermão do Monte], se a igreja perde a sua salinidade e a sua luz, perde a razão de sua existência. Jesus nos chama para um padrão mais elevado do que as pessoas ao nosso redor, para uma “contracultura Cristã”. Eu acredito que os esforços das duas sociedades, a Adventist Society for Religious Studies (Sociedade Adventista para Estudos em Religião) e a Adventist Theological Society (Sociedade Teológica Adventista), para interagir e respeitosamente dialogar como companheiras de trabalho e membros da mesma família de Cristo será um grande testemunho a outros e cumprirá a oração de Jesus em João 17. Contudo, estudiosos adventistas, como companheiros e amigos, podem discordar. Enquanto discordar simplesmente com a finalidade de discordar é divisivo, discordar com a finalidade de buscar e aperfeiçoar nossa compreensão sobre os ensinamentos bíblicos é uma discordância saudável. Unidade não significa uniformidade e unanimidade. Podemos ser o grande testemunho do evangelho que nos une, em vez do que divide os seguidores de Cristo. É de tal forma que nós, como líderes e estudiosos, possamos ser conhecidos como “filhos do nosso Pai celeste” (Mt 5:45), e, como tais, ser o verdadeiro sal e a verdadeira luz àqueles que nos rodeiam.


Notas:

[1] Robert A. Guelich, The Sermon on the Mount: A Foundation for Understanding (Waco, TX: Word, 1982), pp. 35–36; Donald A. Hagner, Matthew 1-13, Word Biblical Commentary 33A (Dallas, TX: Word Books, 1993), p. 69, pp. 89–91; Hans Dieter Betz, The Sermon on the Mount, Hermenia (Minneapolis, MN: Fortress Press, 1995), pp. 44–45.

[2] Ver Leon Morris, The Gospel According to Matthew, PNTC (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1992), p. 93; Michael J. Wilkins, Matthew, The NIV Application Commentary (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2004), pp. 193–194. Enquanto o discurso em Mateus fora proferido sobre um monte (5:1), em Lucas fora proferido sobre um planalto não identificado (Lc 6:17). Em Mateus, as bem-aventuranças estão na terceira pessoa do plural, em Lucas estão na segunda pessoa do plural. A ênfase das bem-aventuranças em Mateus é sobre as qualidades espirituais, enquanto em Lucas é sobre as questões físicas e espirituais com a adição dos “ais” (Lc 6:24–26).

[3] Bem-aventuranças provavelmente se originaram no Egito e foram adotadas pelos Gregos. Ver Jacques Dupont, Étude sur les Éuangiles Synoptiques, BETL 70 (Leuven: Peeters and Leuven University, 1985), 2:793-831.

[4] Henry G. Liddell e Robert Scott, A Greek-English Lexicon, 9ª e. (Oxford: Clarendon Press, 1968), p. 1073. Um número de estudos filológicos sugerem uma origem Egípcia para o termo μακάρ- (ver Betz, Sermon on the Mount, 92 notes 2-4).

[5] Ver Friedrich Hauck, “μακάριος et al.,” Theological Dictionary of the New Testament, ee. Gerhard Kittel e Geoffrey W. Bromiley (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1967), 4:362.

[6] Ibid., (ver, também, Betz, Sermon on the Mount, 95-100).

[7] Um exemplo clássico do significado do termo no mundo greco-romano é um ode grego à cigarra atribuído a Anacreon de Teos (século 6 A.E.C.):

Julgamos-te feliz (μακάριζομεν) cigarra, quando sobre as árvores altas, tomado um pouquinho de orvalho, tu cantas, então, como um rei!

Os campos, até onde a vista alcança, te pertencem, tudo que a mata produz te pertence.

Tu és honrada entre os mortais, profeta doce do Verão.

As Musas amam-te e também te ama o próprio Febo, que te Deu uma límpida canção.

A ti, velhice não oprime, sábia, terrânea, amante de hinos.

Sem dor nem sangue em suas carnes, pareces mais com um dos deuses.

(citado em R. T. France, The Gospel of Matthew, NICNT [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2007], pp. 160–161).

[8] Aparecia normalmente na forma da terceira pessoa e apenas raramente na segunda pessoa. Ver U. Becker, “μακάριος,” New International Dictionary of New Testament Theology, e. Colin Brown (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1986), 1:215.

[9] Ver Plutarco (Artaxerxes 12.4): τοὺs Θεοὺς εὔχομαι ποιἡσαι μακάριον καὶ πλούσιον [Tous theús eúchmai poihēsai makárion kai ploúsion (“Oro para que os deuses lhe façam rico e feliz” [tr. LCL, 11:154-155])]; Libânio (Autobiography 1.154):  νῦν δὲ ἴστε μὲν οὕς μακαρίζετε, παρ’ οἷς οἱ πλοῦτοι [nun de íste men ous makarízete, par ois oi plutoi (“aqueles que tu julgas felizes, homens com dinheiro”) [tr. LCL, 478:220-221])]; cp., também, Homero, Iliad 16.596; 24.536; Odyssey 14.206; 17.420; 19.76.

[10] E.g., Stobaeus, Ecloge 3.1.106.

[11] Cp., Euripides, Iphigenia in Taurus 543; Bacchae 904.

[12] E.g., Euripides, Alcestis 169.

[13] Plato, Republic, 5.465d; Euripides, Electra 1357–1359.

[14] Homero, Odyssey 4.208; Euripides, Medea 1025; Iphigenia in Tauris 915; Aristophanes, Wasps, 1512.

[15] E.g., Plato, Laws 2, 660e.

[16] Ver Liddell e Scott, Greek-English Lexicon, pp. 1073–1074; Walter Bauer, A GreekEnglish Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, e. Frederick W. Danker, 3ª e. (Chicago, IL: University of Chicago Press, 2001), 611-612.

[17] Dt 33:29; 1 Rs 10:8; 2 Cr 9:7; Jó 5:17; Ps 1:1; 2:12; 32:1–2; 33:12; 34:8; 40:4; 41:1; 65:4; 84:4–5, 12; 89:15; 94:12; 106:3; 112:1; 119:1–2; 128:1–2; 137:8–9; 144:15; 146:5; Pv 3:13; 8:32, 34; 14:21; 16:20; 20:7; 28:14; 29:18; Ec 10:17; Isa 30:18; 32:20; 56:2; Dn 12:12

[18] Becker, “μακάριος” 1:216; G. Bertram, “μακάριος  in the LXX and Judaism,” Theological Dictionary of the New Testament, ee. Gerhard Kittel e Geoffrey W. Bromiley (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1967), 4:364.

[19] R. T. France assegura que a tradução de μακάριος (makários) como “bem-aventurado” é errada (The Gospel According to Matthew, Tyndale New Testament Commentaries [Grand Rapids: Eerdmans, 1985], p. 108). Por outro lado,  Eugene Boring defende que μακάριος (makários) “deve ser traduzido com o objetivo ‘bem-aventurado’, em vez do subjetivo ‘feliz’” (“Matthew,” The New Interpreter’s Bible Nashville: Abingdon, Press, 1995], 8:177).

[20] W. F. Albright e C. S. Mann, Matthew, The Anchor Bible 26 (Garden City, N.Y.: Doubleday, 1971), p. 46.

[21] Bauer, Greek-English Lexicon, p. 611.

[22] E.g., aqueles que são descritos como bem-aventurados nesta vida são os que temem a Javé (Sl 112:1–3; 128:1–4), confiam em Javé (Sl 84:12), refugiam-se no Senhor (Sl 2:12); andam na lei do Senhor (Sl 119:1–2; Pv 8:32), praticam a justiça (Sl 106:3; Pv 20:7; Is 56:2), cuidam dos pobres (Sl 41:1), etc.

[23] Boring, “Matthew,” 8:177.

[24] Ver, Betz, Sermon on the Mount, pp. 100–103; cp. Eclesiástico 25:8; 48:1–11; Tobias 13:15–16; 1 Enoque 103:5; 2 Enoque 42:6–14; 58:2; 4Q525.

[25] Traduzido por Lancelot C. L. Brenton, The Septuagint with Apocrypha: Greek and English (Peabody, MA: Hendrickson, 1986). O uso grego convencional do termo também é encontrado em 2 Enoque 42:6–14, que está bem alinhado com os Salmos e a Literatura Sapiencial.

[26] Mt 5:3–11; 11:6; 13:16; 16:17; 24:26; Lc 1:45; 6:20-22; 7:23; 10:23; 11:27–28; 12:37–38, 43; 14:14–15; 23:29; Jo 13:17; 20:29; At 20:35; 26:2; Rm 4:7–8; 14:22; 1 Co 7:40; 1 Tm 1:11; 6:15; Ti 2:13; Tg 1:12, 25; 1 Pe 3:14; 4:14; Ap 1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7; 22:14.

[27] Ver Hauck, “μακάριος, et al.,” pp. 367–370; G. Strecker, “μακάριος,” Exegetical Dictionary of the New Testament, ee. Horst Balz e Gerhard Schneider (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1992), 2:376-379; Ceslas Spicq, Theological Lexicon of the New Testament (Peabody, MA: Hendrickson, 1993), 2:437-444.

[28] As exceções óbvias são as primeira e a última bem-aventurança, nas quais as conjunções ὅτι (hoti) usam o tempo presente apontando para a experiência no reino dos céus aqui e agora.

[29] Hagner, Matthew 1–13, p. 89.

[30] Spicq, Theological Lexicon, 2:438.

[31] Hauck, “μακάριος, et al.,” p. 368.

[32] France, Matthew, NICNT, p. 108.

[33] Robert H. Mounce, Matthew, New International Biblical Commentary (Peabody, MA: Hendrickson, 1991), p. 38.

[34] William Barclay, The Gospel of Matthew, 2ª e., Daily Study Bible (Philadelphia, PA: Westminster, 1975), 1:89.

[35] Ibid., 1:89; da mesma forma, Mounce, Matthew, p. 38.

[36] E. g., 1 Enoque 58:2 (“Bem-Aventurados sois vós, vós justos e eleitos, pois gloriosa será a vossa sorte”); também, Salmos de Salomão 17:50; 18:7. Também, Ap 1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7, 14.

[37] Este conceito é enfatizado duas vezes em Lucas 6:21.

[38] Becker, “μακάριος” 1:217;

[39] W. D. Davies (The Setting of the Sermon on the Mount [reprint; Atlanta: Scholars Press, 1989], pp. 250–251) vê as duas parábolas metafóricas do sal e da luz como uma polêmica contra o judaísmo daquele tempo. Enquanto, por um lado, Jesus escolheu essas duas parábolas metafóricas a fim de contrastar os discípulos, com os Escribas e os Fariseus, por outro, essas duas parábolas foram destinadas especialmente para ser uma crítica à seita do Mar Morto, que se retirou do mundo. Enquanto não excluindo a possibilidade de que essas duas parábolas foram dirigidas principalmente contra a situação da comunidade de Qumran, o contexto mostra que Jesus as escolheu, primariamente, para descrever o sal e a luz dos discípulos em contraste com os Escribas e os Fariseus (cp. Mt 5:20; 5:21–6:18).

[40] Quae totis corporibus nihil esse utilius sale at sole dixit [De tudo o que existe, nada é tão útil como o sal e a luz do sol [Tradução do latim para o português: tradutor deste artigo, Hugo Martins] (Natural History 31.102), trad. W. H. S. Jones (Loeb Classical Library, 8:440-441)].

[41] Ibid., p. 250.

[42] O termo grego regular para sal é ἅλς (háls), no entanto, no Novo Testamento, o termo ἅλας (hálas) é usado.

[43] Em Mateus 5:13, o sal representa os discípulos, enquanto em Marcos 9:50 Jesus diz que os discípulos têm sal em si mesmos. Se o sal perde o seu carácter distintivo, não tem nenhum valor (Mt 5:13; Mc 9:50; Lc 14:34). Em Colossenses 4:6, Paulo aplica a função culinária do sal metaforicamente à fala humana.

[44] Na antiguidade, o sal era um importante ingrediente para dar sabor à comida. Adicionar sal no preparo dos alimentos era comum na antiguidade. Jó perguntou: “Comer-se-á sem sal o que é insípido?” (Jo 6:6). Até mesmo os alimentos de origem animal eram temperados com sal (cp. Is 30:24). Além do uso culinário, como com todas as culturas antes da tecnologia de refrigeração, o sal era usado também como conservante. Funcionava também como adubo e catalisador, ou purificador. O sal também era valorizado medicinalmente (ver a descrição de Plínio O Velho da efetividade médica do sal na antiguidade [Natural History 31.73-92]), e como era esfregado em recém nascidos (Ez 16:4). Além do uso comum, o sal era usado também nos rituais do templo israelita. Tinha de ser adicionado às ofertas e aos sacrifícios oferecidos sobre o altar (Lv 2:13; Ez 43:24; Ed 6:9–10); cp., também, Josefo (Antiguidades 3.9.1), de onde a expressão “o sal da aliança” denota a natureza permanente da relação de aliança entre Deus e o seu povo. Uma aliança selada pelo sal era creditada como eterna. Assim, a expressão “aliança de sal” (Nm 18:19; 2 Cr (13:5) se refere ao antigo costume do Oriente Médio de ratificar relações de aliança, onde o sal funcionava como um símbolo de lealdade. Ver, também, W. D. Davis and Dale C. Allison, The Gospel According to Saint Matthew, ICC (Edinburgh: T. & T. Clark, 1988), pp. 472–473.

[45] N. Hillyer, “ἅλας,” New International Dictionary of New Testament Theology, e. Colin Brown (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1986), 3:446.

[46] W. D. Davies argumenta que o uso comum e o significado do sal não se aplica quando se interpreta o que Jesus tentou comunicar com a metáfora de sal em Mateus 5:13. Em sua opinião, Jesus escolheu a metáfora de sal do Mar Morto para deliberadamente expressar uma crítica à seita de Qumran, que se retirou do mundo. De tal forma, Jesus contrapôs o sal dos discípulos com o sal dos qumranitas (Davies, Setting, 250).

[47] Talmude Babilônico, Bekoroth. 8b; ver Craig. S. Keener, The Gospel of Matthew: A Socio-Rhetorical Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 2009), p. 173.

[48] France, Matthew, NICNT, p. 112.

[49] Keener, Matthew, p. 173.

[50] France, Matthew, NICNT, p. 112, demonstra que o verbo aramaico תפל (tafal), que foi originalmente usado por Jesus, significa tanto “tornar-se tolo” quanto “perder a sua salinidade.”

[51] Keener, Matthew, p. 173.

[52] Contrariamente a Hillyer (“ἅλας,” 3:445) que argumenta que o Mateus 5:13 seria melhor traduzido como: “Vós sois do solo” e comparado em paralelismo com 5:14 “Vós soi a luz do mundo.” Entretanto, o contexto não suporta tal tradução.

[53] Ver Keener, Matthew, pp. 174–175; Davies e Allison, Matthew, p. 475.

[54] W. D. Davies sugere que Jesus usou a metáfora da luz para expressar uma outra crítica aos sectários de Qumran, esses que chamavam a si mesmos de “os filhos da luz”, mas escondiam a sua luz debaixo do alqueire. Luz é para o mundo, mas os sectários “abandonaram as trevas do mundo” e confinaram a sua luz para si. Eles se isolaram do restante do mundo “e se esconderam a sua luz debaixo do alqueire em Qumran e em comunidades herméticas” (Definição, 250).

[55] Ver Robert H. Gundry, Matthew: A Commentary on His Literary and Theological Art (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1982), p. 77; também, Davies and Allison, Matthew, p. 475. Também é interessante que o filósofo e político romano Cícero (106-43 A.E.C) descreveu a cidade de Roma como uma “luz para o mundo inteiro” (In Catalinam 4.6).

[56] O símbolo do candelabro aparece também em Marcos 4:21 e em Lucas 8:16; 11:33.

[57] O termo grego μόδιος (módios) se refere a um recipiente com capacidade de quase 4 litros. Em Marcos 4:21, e Lucas 8:16, a luz não é colocada debaixo da cama.

[58] Ver John R. W. Stott, Christian Counter-Culture: The Message of the Sermon on the Mount, The Bible Speaks Today (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1978), pp. 19–20.

[59] David L. Turner, Matthew, Baker Exegetical Commentary on the New Testament (Grand Rapids, MI: Baker, 2008), p. 154; Keener, Matthew, p. 172.

[60] Stott, p. 18.

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