Ellen White e A Pessoalidade do Espírito Santo
Merlin D. Burt é o diretor e fundador do Integrated Center for Adventist Research [Centro Integrado para A Pesquisa Adventista] na Andrews University. Ele é, também, diretor da filial do White State, trabalhando, ali, desde 1993, e professor de História da Igreja no Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia. Ele tem publicado diversos artigos e materiais e tem atuando, diversas vezes, como orador, editor e organizador de várias conferências e simpósios.
Tradução: Hugo Martins
O artigo “Ellen White e A Pessoalidade do Espírito Santo” (Original em Inglês: “Ellen White and the Personhood of the Holy Spirit”), por Merlin D. Burt, fora publicado, inicialmente, em abril de 2012 na revista Ministry,® International Journal for Pastors, www.MinistryMagazine.org. Usado com permissão.
Nenhum ensinamento cristão é mais fundamental do que a doutrina de Deus. A compreensão bíblica adventista do sétimo dia da Trindade ajuda-nos a entender a natureza revelada, os atributos e o caráter de Deus. Nos últimos 15 anos, muito se tem escrito sobre a história da compreensão adventista do sétimo dia da Divindade ou Trindade e, particularmente, a posição de Jesus na Divindade.1 Menos tem sido escrito sobre a história de Ellen G. White e a compreensão adventista do Espírito Santo na Divindade.2
Tendo em vista a experiência e a teologia adventista do sétimo dia primitiva, este artigo explorará a compreensão de Ellen G. White do Espírito Santo. Proverei, primeiro, um breve apanhado geral da visão adventista sobre a personalidade do Espírito Santo até o começo do século vinte. Um estudo bíblico cuidadoso, juntamente com declarações concisas de Ellen G. White, influenciaram, principalmente, uma mudança na compreensão adventista. Em vista de questões atuais, alguma atenção será dada para estabelecer a veracidade das declarações mais claras de Ellen G. White sobre a natureza do Espírito Santo na Divindade.
Interpretações adventistas do Espírito Santo aumentaram no início do século vinte
A compreensão adventista do sétimo dia e sabatista do Espírito Santo, até os anos 1890, era, em grande escala, focada no tangível, ou “realidade vivente,” do Espírito Santo como uma manifestação divina em lugar de Sua natureza ou de Sua personalidade.3 Até os anos 1890, durante esse período, a maioria dos adventistas não aceitavam que o Espírito Santo tivesse uma personalidade distinta. Para eles, a Divindade incluía o Pai (que era onipotente e onisciente), o Filho Divino gerado, pré-encarnado, e o Espírito Santo como uma manifestação da presença ou do poder do Pai ou do Filho. Adventistas enfatizavam as personalidades distintas e separadas do Pai e do Filho. Para muitos adventistas prímevos, uma personalidade requeria uma forma material, o que impedia a onipresença. Definindo o Espírito Santo como uma influência ou poder do Pai ou do Filho, permitia a Deus ser onipresente.4
Em 1877, J. H. Waggoner descreveu o Espírito Santo como um It [impessoal] em vez de He [pessoal]. Após escrever “dessa questão que tem sido muito controvertida,” isto é, “a personalidade do Espírito,” ele descreveu o “Espírito de Deus” como “esse poder misterioso e temível que procede do trono do universo.”5 Em 1878, Uriah Smith respondeu a questão “O que é o Espírito Santo?” escrevendo: “em poucas palavras, pode, porventura, melhor ser descrito como uma influência misteriosa emanando do Pai e do Filho, Seu represente e o portador do Seu poder.”6 Ambos mantinham respeito quanto a natureza misteriosa do Espírito Santo. Em 1878, D. M. Canright, em um artigo apologético e argumentativo dividido em duas partes, rejeitou, explicitamente, a pessoalidade do Espírito: “O Espírito Santo não é uma pessoa, não é um indivíduo, mas um poder ou uma influência procedente da Divindade.”7
Em 1889, M. C. Wilcox, um dos editores da Signs of the Times [Sinais dos Tempos] escreveu: “o poder de Deus, separado de Sua presença pessoal, é manifestado por meio do Seu Espírito.”8 Buscando demonstrar a ideia de como Deus pode ser onipresente, Wilcox escreveu em 1898: “Deus é uma pessoa; como pode Sua presença estar presente em todos os lugares?” e comparou o Espírito a uma “aura” que se estende para além da pessoa.9
Alguns poucos adventistas do sétimo dia tinham uma visão muito diferente e especulavam que o Espírito Santo fosse, talvez, um anjo ou estivesse na mesma classe que os anjos.10
Os anos 1890 marcaram o início de uma mudança em direção a aceitação da pessoalidade do Espírito. Um exemplo desta mudança pode ser vista na compreensão de R. A. Underwood: “O Espírito Santo é o representante pessoal de Cristo no campo [de batalha]; e Ele está encarregado com a obra de enfrentar Satanás e derrotar esse inimigo pessoal de Deus e de Seu governo. Agora, parece estranho a mim, que já acreditou que o Espírito Santo fosse apenas uma influência, em vista da obra que ele faz.”11
A mudança na compreensão da pessoalidade do Espírito estava bem encaminhada quando, em 1907, A. T. Jones escreveu: “O Espírito Santo não é uma influência; nem uma impressão, nem paz, nem alegria, nem qualquer outra coisa. . . . O Espírito Santo é uma Pessoa, eternamente uma Pessoa divina.12
Ellen G. White e O Espírito Santo até Os Anos 1880
Os escritos de Ellen G. White são, particularmente, ricos em relação ao Espírito Santo, referindo-se, frequentemente, a Ele tanto em seus escritos publicados quanto não publicados. De fato, ela se refere ao Espírito Santo quase tão frequentemente quanto a Jesus.
Ellen G. White adotava três orientações importantes concernentes ao Espírito Santo e à Divindade durante seus anos prímevos e que continuaram por toda a sua vida. Primeira, sua ênfase na pessoalidade de Deus O Pai e Jesus. Entre 1845 e 1846, havia uma ramificação de adventistas mileritas que afirmavam que Jesus viera espiritualmente em 22 de outubro de 1844. Eles espiritualizaram, também, a ressurreição, os céus, a Nova Jerusalém, a Nova Terra e, até mesmo, o Pai e Jesus. Em 1846, Ellen G. White escreveu afirmando a pessoalidade do Pai e de Jesus: “Eu vi um trono, e nele estava sentado o Pai e Seu filho Jesus Cristo. Eu mirei no semblante de Jesus e admirei sua pessoa amável. . . . Perguntei a Jesus se o Seu Pai tinha uma forma semelhante a dEle; Ele disse que Ele tinha, mas que eu não a podia contemplar.”13
Outros cofundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia, tais como Tiago White e José Bates, se posicionaram, diretamente, contra, também, a visão espiritualizadora em seus escritos e defendiam a pessoalidade do Pai e de Jesus.14
Segunda, como os adventistas em geral, Ellen G. White entendia o Espírito Santo em um sentido demonstrável e prático. A obra do Espírito Santo era muito presente e ativa em seu ministério e em sua experiência cristã. Ela recebeu centenas de visões proféticas e sonhos e experimentava, frequentemente, bênçãos dramáticas mediante a obra do Espírito Santo. Durante os anos iniciais de seu ministério profético, Ellen G. White foi confrontada por alguns que acreditavam que suas visões eram resultantes de mesmerismo—conhecido, agora, como hipnotismo—e diziam não haver Espírito Santo. Isto a fez sentir com “o espírito deprimido e a alma com terrível angústia.”
“Muitos queriam fazer-me crer,” escreveu ela, “que não havia Espírito Santo e que tudo quanto os homens santos de Deus haviam experimentado não era senão mesmerismo ou enganos de Satanás.”15 Ela rejeitava esta ideia.
Terceira, suas visões sobre o Espírito Santo estavam pautadas e centradas na Bíblia. Ela, como outros adventistas prímevos, era, antes de tudo, uma estudante das Escrituras. Ela era, particularmente, cuidadosa em não exceder a Bíblia em suas descrições do Espírito Santo.
Em 1891, Ellen G. White escreveu em resposta a um homem que cria o Espírito Santo ser, realmente, o Anjo Gabriel e que os 144.000 seriam os judeus que reconhecessem a Jesus como o Messias. Após fazer uso de princípios de interpretação bíblica importantes, ela abordava suas posições de forma direta. “Suas ideias das duas personagens que você menciona não se harmonizam com a luz que Deus me deu. A natureza do Espírito Santo é um mistério que não está claramente revelado, e você nunca será capaz de explicar aos outros porque o Senhor não lhe tem revelado.” Ela citou, então, João 14:16 e continuou: “Isto se refere à onipresença do Espírito de Cristo, chamado de o Consolador.” Ellen G. White confessou, então, os limites de sua própria compreensão: “Há muitos mistérios que eu não procuro compreender ou explicar; eles são grandes demais para mim, e para você também. Em alguns desses pontos, o silêncio é ouro.”16 Na ausência de uma luz especial sobre a natureza e a personalidade do Espírito Santo, Ellen G. White se ateve, estritamente, às Escrituras e, incomum com outros escritores adventistas previamente citados, deixou a personalidade do Espírito Santo indefinida.17 Isto viria, brevemente, a mudar.
Ellen G. White e O Espírito Santo a partir dos Primórdios de 1890
Dois anos depois, em 1893, ela escreveu: “Há, de modo geral, muito pouca coisa feita mediante a influência da obra do Espírito Santo sobre a igreja. . . . O Espírito Santo é o Consolador, no nome de Cristo. Ele personifica Cristo, mesmo com uma personalidade distinta.”18
Em 1896, ela citou as palavras de Jesus em João 16:7–8 e escreveu, então, sua mais clara declaração sobre o Espírito Santo como um Pessoa da Divindade: “O mal se vinha acumulando por séculos e só poderia ser restringido e resistido pelo eficaz poder do Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, que viria com não modificada energia, mas na plenitude do poder divino.” Em 1898, Ellen G. White publicou essas palavras, com uma pequena modificação, em O Desejado de Todas As Nações.19 Não há indícios de uma visão, em particular, que Ellen G. White tenha recebido e feito com que ela escrevesse mais explicitamente sobre a personalidade do Espírito Santo. Não obstante, como uma mensageira do Senhor, ela foi bem específica sobre o assunto durante os anos 1890. Pelo restante de sua vida, ela continuou a defender a personalidade e a plena deidade do Espírito Santo.20
Por exemplo, Ellen G. White se referia, frequentemente, a João 14:16 e ao Consolador trazendo a presença de Jesus ao crente. Ela continuou com este assunto quando apresentou o Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Divindade. Ela escreveu: “Embora nosso Senhor ascendeu da terra ao céu, o Espírito Santo foi designado como Seu representante entre os homens.” Ela citou, então, João 14:15–18 e continuou: “Revestido da humanidade, Cristo não podia estar em todos os lugares pessoalmente; por esta razão, foi inteiramente para o bem deles que Ele deveria deixar-lhes, ir ao Seu Pai e enviar o Espírito Santo como Seu sucessor na terra.”21 Ellen G. White sentia-se confortável com a tensão existente do Espírito Santo sendo uma Pessoa e representando, também, a Jesus. Uma característica da Trindade bíblica é representar ou apontar Um ao Outro. O Espírito Santo Representou Jesus. Jesus, por toda a Sua vida na terra, representou o Pai (João 14:9) e o Pai apontou e exaltou o Filho (Mt 3:17; 17:5; Mc 1:11; 9:7; Lc 3:22; 9:35).
O uso de Ellen G. White de He e It enquanto se Referindo ao Espírito Santo
Em 1936, H. C. Lacey afirmou que suas séries de estudos bíblicos matinais na campal de Armidale em 1895, e suas apresentações em um instituto em Cooranbong, Austrália, em 1896, influenciaram Ellen G. White a aceitar a pessoalidade do Espírito Santo. Lacey especulou que Ellen G. White não usava o termo Pessoa ou se referia ao Espírito Santo com o pronome pessoal He ou Him antes de sua apresentação.22
Um exame da declarações de Ellen G. White mostram que ela fazia uso do termo Pessoa para se referir ao Espírito Santo tempos antes, como em 1893, conforme citado anteriormente. Mas ela usava os pronome It e He, de forma variada, tanto antes quanto depois de suas declarações explícitas sobre a personalidade do Espírito do Espírito Santo. Em 1884, ela escreveu: “O Espírito Santo exalta e glorifica o Salvador. É sua [his] missão apresentar a Cristo.”23 Em 1891, ela escreveu que o “Espírito Santo está operando em nossos corações.” Ela continuou: “Ele [He] cuida dos interesses de Deus, e apresenta-lhes [as verdades], novamente, em nossas mentes.”24 Em O Desejado de Todas As Nações, escrito em 1898, ela escreve, claramente, sobre a pessoalidade do Espírito de Deus: “Quando o Espírito de Deus toma posse do coração, [it] transforma a vida.”25 Em 1900, ela escreveu: “O Espírito Santo saiu a todo o mundo; opera no coração dos homens em toda parte.”26
O Desejado de Todas As Nações não somente ajudou a explicar a pessoalidade do Espírito Santo, mas ensinou, também, claramente, a eternidade de Jesus e Sua plena igualdade com o Pai. Sua declaração: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada,”27 em conjunto com outras declarações sobre a divindade de Jesus, ajudou muitos adventistas a ter uma nova perspectiva nas Escrituras para compreender a posição de Jesus na Divindade.
Veracidade das declarações de Ellen G. White
Há alguns que acreditam na autoridade profética dos escritos de Ellen G. White, mas negam a pessoalidade do Espírito e Sua posição na Divindade. As declarações precisas de Ellen G. White os colocam em uma posição difícil. Em resposta, eles têm arguido que suas secretárias ou editoras inseriram tais declarações sem o conhecimento dela. Tim Poirier, vice-diretor do Ellen G. White Estate, publicou um documento muito útil, em 2006, apontando as declarações-chave de Ellen G. White à sua fonte original.
Rascunhos originais, escritos à mão por Ellen G. White, estão disponíveis, ao menos, para quatro de suas declarações mais claras.28 Outros documentos estão acessíveis na forma datilografada original e contêm notações escritas à mão por Ellen G. White nas páginas.29 No topo de um manuscrito datilografado, Ellen G. White escrevia as seguintes palavras: “Eu tenho lido isto cuidadosamente e o aprovo.”30 Várias dessas declarações foram publicadas em diversas formas. A própria Ellen G. White pagou pelas chapas para impressão de O Desejado de Todas As Nações e da maioria de seus outros livros. Em O Desejado de Todas As Nações, Ela própria enviou as correções para o livro depois da primeira edição já ter sido publicada. Essas mudanças foram incorporadas na segunda impressão. O grau de veracidade das declarações de Ellen G. White é significante, e os editores acham difícil poder afirmar que ela não escreveu as declarações concernentes ao Espírito Santo que aparecem nos impressos.
Os adventistas do sétimo dia acreditam que a Ellen G. White fora concedido o dom profético. Suas declarações enfáticas tiveram uma influência significativa no desenvolvimento da compreensão adventista sobre a Trindade, particularmente devido a natureza eterna e original de Jesus e da plena divindade e pessoalidade do Espírito Santo. Não obstante, a doutrina adventista do sétimo dia está fundamentada na autoridade das Escrituras em vez dos escritos de Ellen G. White. A Senhora White compreendia que seu papel profético era guiar as pessoas à Bíblia como a autoridade final e a base para toda a fé e a prática. Ela escreveu em seu primeiro tratado publicado: “Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de vossa fé e prática.”31 Em diversas ocasiões ela definiu a relação de seus escritos com a Bíblia. Em uma de suas declarações mais contundentes, ela definiu seu papel profético: “Eu tenho uma obra de grande responsabilidade para fazer — comunicar pela pena e de viva voz as instruções a mim concedidas, não somente para os adventistas do sétimo dia, mas para o mundo. Publiquei muitos livros, grandes e pequenos, e alguns deles foram traduzidos para várias línguas. Esta é a minha obra — revelar para outras pessoas as Escrituras, assim como Deus a mim as revelou.”32
Adventistas do sétimo dia tem uma orientação mais bíblica sobre o Espírito Santo por causa dos escritos de Ellen G. White. Podemos ser gratos que Deus tem nos guiado durante a história da igreja em desenvolver uma compreensão da Bíblia por meio da influência do Espírito Santo no dom de profecia.
Notas
Honestamente, não me convenci que Hellen White tenha mudado de ideia com respeito a NATUREZA do ESPÍRITO SANTO. Se ela terminou em 1911 a sua última revisão do Livro Atos dos Apóstolos, ou seja; quatro anos antes da sua morte! E não mudou o texto mais profundo com respeito a terceira pessoa, é porque certamente não teve revelação por parte de Deus.