A Doutrina da Trindade na Igreja Adventista do Sétimo Dia: Rejeição e Aceitação
Tese de Mestrado de Russel Holt defendida em 2 DE JUNHO DE 1969
Tradução: Hugo Martins
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
Problemática. Desde o começo, os adventistas do sétimo dia se sentem os legítimos sucessores da mensagem do advento, popularmente conhecida como milerismo. Com esta crença, veio a convicção de que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é a igreja remanescente de Deus, destinada a cumprir uma função única no tempo do fim da terra e que a ela confiada as três mensagens angélicas de Apocalipse 14. Isto envolve a restauração de verdades negligenciadas, esquecidas e rejeitadas. Os adventistas do sétimo dia nunca abandonaram esta autoconcepção.
Infelizmente, alguns sentem nos últimos tempos que, para que tal autoimagem seja válida, deve ser demonstrado que as verdades que os adventistas do sétimo dia defendem hoje, sempre foram sustentadas por eles desde o início. Naturalmente, a consistência é uma qualidade desejável; em vista disto, para que a denominação atual mantenha a continuidade com a denominação do passado, reafirmando sua continuidade, deve haver uma unidade no propósito e na mensagem. Contudo, isto não nega o crescimento espiritual ou intelectual interno da igreja, um processo de amadurecimento, ou mesmo uma inversão de crença em áreas que não são vitalmente intrínsecas à mensagem e função distintiva que a denominação historicamente reivindica. Todavia, alguns sentindo a necessidade de negar qualquer mudança de crença na história da igreja, fazem afirmações como essa:
“Com muita certeza esses [textos sobre o Espírito Santo] e outros que fazem menção ao Espírito Santo como um ser pessoal sempre foram reconhecidos entre nós como um povo, não há a menor dúvida . . . Estão completamente errados aqueles que negam que os adventistas do sétimo dia são [e sempre foram] trinitários.”1
Afirmar que uma determinada crença ou doutrina sempre foi defendida na igreja, quando não foi, é, como outros salientaram, na melhor das hipóteses, ignorância, e, na pior das hipóteses, desonestidade. A igreja em geral sempre defendeu a doutrina da Trindade ou esta crença foi desenvolvida ao longo do tempo? Opiniões acaloradas devem dar lugar aos resultados da evidência empírica. Qualquer conclusão não coloca de forma alguma em perigo a reivindicação da igreja de continuidade interna com os pioneiros, nem a sua função como movimento particular de Deus com uma mensagem distintiva para um tempo específico.
Metodologia. O objetivo deste material é responder à questão levantada pela citação acima. Com este propósito, as fontes utilizadas são, salvo raras exceções, primárias. As posições de diversos homens importantes na história da igreja adventista do sétimo dia foram obtidas a partir das suas declarações impressas em periódicos, livros e panfletos da igreja.
Devemos dar os devidos créditos a Erwin Gane, que já tratou deste tema antes e cuja tese forneceu uma bibliografia básica para iniciar esta pesquisa. Como Gane já havia feito esse trabalho de maneira objetiva, não houve razão em repetir o trabalho dele. As evidências sobre cada escritor citado na tese foram verificadas e materiais adicionados foram pesquisados. Embora as evidências apresentadas sejam adequadas para determinar a mente da igreja, a posição de diversos pioneiros adventistas importantes foi totalmente omitida ou apresentada como incerta devido à falta de evidências. Nenhum estudo, como o apresentado por Gane, pode ser completamente exaustivo, e, portanto, pareceu-me útil rever as evidências apresentadas por ele e suplementar com conclusões ainda não disponíveis no trabalho dele. Por esta razão, este material se limita às posições de homens não tratados por Gane, ou daqueles para os quais pesquisas posteriores forneceram material suficiente para suplementar significativamente o estudo dele.
O propósito deste material é apresentar a posição denominacional por meio dos pontos de vista de suas principais mentes sobre a Trindade. Eles estão organizados principalmente em ordem cronológica. Nenhuma tentativa foi feita para distinguir certos pontos de vista sobre a Divindade por rótulos como “ariano”, “semiariano” ou “sociniano”. O termo “antitrinitário” será empregado para cobrir todo o espectro de crenças opostas à formulação trinitária tradicional.
CAPÍTULO II
EVIDÊNCIA
Tiago White. A Trindade é antibíblica. Este homem notável, cuja visão e energia foram, sob a direção de Deus, em grande parte responsáveis pelo curso que a história adventista do sétimo dia tomou, era alguém que, como Bates, tinha suas raízes espirituais plantadas no solo do milerismo e da Conexão Cristã. Neste último grupo, ele foi batizado aos quinze anos, e, posteriormente, ordenado ao ministério.2 Conforme observado em outra ocasião, este grupo negava a doutrina da Trindade. Saber disto facilita entender o pensamento de White. Poder-se-ia argumentar que sua experiência posterior no movimento milerita e no adventismo proporcionaria um ambiente para uma mudança na crença dele sobre a Trindade. Que este não é o caso, fica claro a partir de uma série de declarações da ativa vida dele como escritor. A primeira delas foi em 1846, enquanto ele ainda organizava suas ideias da experiência milerita dele. Em uma exposição de Judas 3–4, ele afirma:
“A maneira como os espiritualizadores descartaram ou negaram o único Senhor Deus e nosso Senhor Jesus Cristo foi principalmente usando o antigo credo trinitário antibíblico, a saber, que Jesus Cristo é Deus eterno, embora eles não tenham uma passagem para apoiá-lo, enquanto temos um testemunho claro e abundante nas Escrituras de que ele é Filho do Deus eterno.”3
Dois itens nesta declaração são dignos de nota. Primeiro, ele se opõe à Trindade com base nas Escrituras, afirmando que não existe uma única passagem nelas para fundamentá-la. Segundo, ele entende a doutrina da Trindade como uma negação de Deus como Pai, e de Jesus como Filho. Contudo, ele não explica por que esta doutrina nega a Divindade.
A próxima declaração de sua pena sobre este assunto surge seis anos depois, nas páginas do único periódico denominacional adventista do sétimo dia na [época], do qual ele era editor. Ele tentou provar que os “mandamentos de Deus” e a “fé de Jesus” são duas entidades separadas. Ele equipara o primeiro ao Decálogo e o último às palavras de Jesus e seus apóstolos. Ele argumenta contra aqueles que não fazem distinção e identificam ambos com as palavras de Jesus.
“Afirmar que as palavras do Filho e de seus apóstolos são os mandamentos do Pai está tão distante da verdade quanto o velho absurdo trinitário de que Jesus Cristo é o próprio Deus eterno.”4
Obviamente, a sua opinião de 1846 permaneceu inalterada. Um ano depois, ele faz sua próxima referência sobre o assunto. Ele então fala sobre o “Irmão Cottrell” (pai de R. F. Cottrell).
“O irmão Cottrell já tem quase oitenta anos de idade, mas ainda se lembra do dia sombrio de 1780 e é observador do sábado há mais de trinta anos. Ele era, anteriormente, batista do sétimo dia, mas discordava de algumas doutrinas dessa denominação. Ele rejeita a doutrina da Trindade, a doutrina da consciência do homem entre a morte e a ressurreição, e o castigo dos ímpios na consciência eterna.”5
Ao listar a Trindade entre as doutrinas que não eram defendidas pelos adventistas do sétimo dia, Tiago White dá a entender que ele concordava com rejeição da doutrina da Trindade por parte do “Irmão Cottrell”. Isto é particularmente verdade à luz de sua declaração mais recente contra a Trindade. Sua última referência específica à doutrina ocorre muitos anos depois, em uma discussão sobre [as diferenças] entre os adventistas do sétimo dia e os batistas do sétimo dia:
“A principal diferença entre as duas denominações é a questão da imortalidade. Os adventistas do sétimo dia defendem a divindade de Cristo tão próxima dos trinitários que não temos nenhuma diferença neste ponto.”6
Esta declaração mostra ao mesmo tempo uma distinção, e, ainda assim, uma afinidade com a posição trinitária no adventismo. Contudo, a afinidade está na divindade de Jesus, não na doutrina da Trindade. Uma pesquisa de outros escritores adventistas durante aqueles anos revela que eles rejeitavam a trindade, mas unanimemente defendiam a divindade de Cristo. Rejeitar a trindade não significa necessariamente despojar o Salvador da divindade dele. Na verdade, certos escritores adventistas entendiam que são os trinitários que degradam a natureza divina de Cristo.
De fato, no mesmo ano em que Tiago White aprovou tacitamente a rejeição da trindade por parte do irmão Cottrell, e apenas um ano após ele próprio a ter caracterizado como “absurda”, ele defendeu eloquentemente a divindade de Jesus e taxou aqueles que a negavam como hereges.7
Embora não tenham sido encontradas outras declarações de [Tiago] White nas quais a trindade seja mencionada como tal, ele proporciona vislumbres adicionais do seu pensamento nesta questão. Em 1877, ele sugere pelo menos uma distinção entre o Pai e o Filho.
“Uma obra de emancipar, instruir e liderar os hebreus é dada Àquele que é chamado de anjo (Êx 13:21; 14:19, 24; 23:20-23; Nm 20:16; Is 63:9). Paulo chama esse anjo de ‘aquela pedra espiritual que os seguia,’ e ele afirma que ‘a pedra era Cristo’ (1 Co 10:4). O Pai eterno nunca é chamado de anjo nas Escrituras, enquanto o que os anjos fizeram é frequentemente atribuído ao Senhor, pois eles são seus mensageiros e agentes para realizar sua obra.”8
A implicação é definitivamente colocar Cristo em um papel diferente do Pai, um papel que parece ser coadjuvante em relação ao “Pai Eterno”. Por fim, em 1880, um ano antes de sua morte, Tiago White escreveu um artigo intitulado “O Filho Representa O Pai”:
“O Filho que era igual ao Pai na criação, na instituição da lei e no governo das inteligências criadas, deixa esta glória com seu Pai e se torna um mediador por meio de quem o Pai fala.”9
Tiago White, aqui, pouco antes de sua morte, elevou Cristo à igualdade com Deus, e assim aceitou o conceito da trindade? À luz das suas declarações anteriores, parece ser ir longe demais. Ele declara que Jesus é igual ao Pai em certos ofícios; e cada uma delas é uma atividade relacionada com esta terra e suas questões. Não há uma afirmação clara dos dois como iguais no sentido de ser ou essência.
A evidência de sua pena parece indicar que desde suas primeiras afiliações espirituais com a Conexão Cristã, até sua morte aos 60 anos de idade, Tiago White se opôs à trindade, tanto com base na lógica quanto nas Escrituras, embora sustentasse um conceito definido da posição exaltada e da divindade de Jesus Cristo. A conclusão alcançada é intrigante devido ao seu relacionamento único e especial com a mensageira do Senhor, ninguém nada menos que sua esposa. Ela certamente estava ciente do pensamento dele sobre o assunto. Ela aprovava? Se não, por que ele continuou com sua crença? Ela simplesmente evitou corrigi-lo? Por quê? As questões levantadas são fascinantes, mas sem respostas fáceis. Pelo menos o próprio Tiago White demonstrou ser um antitrinitário consistente.
D. T. Bourdeau. Precursor do trinitarismo? Bourdeau representa uma ruptura na cadeia de antitrinitaristas convictos entre os primeiros adventistas do sétimo dia. Não pode ser demonstrado que ele abraçou a trindade, mas também não pode ser provado que ele a rejeitou. Não sendo um escritor prolífico, ele nos deixou apenas resquícios para reconstruir a opinião dele. Sua única afirmação em relação ao tema não foi escrita especificamente tendo ele em mente, mas inserida em outro tema, e, portanto, não pode ser entendida como definitiva maneira alguma.
“Cristo deve ser amado como bendito, exaltado e unigênito Filho de Deus, que, estando na forma de Deus, não considerou usurpação ser igual a Deus (Jo 3:16; 1 Jo 4:9; Fl 2:6), como alguém que possui toda a plenitude da Divindade, por meio de quem e para quem todas as coisas foram feitas, e por quem temos a redenção (Cl 1:16; 2:9; Ef 2:9). 1:7; Ap 5:9), como o ser que é um com o Pai e tem direito de ser igualmente honrado como o Pai . . . Em suma, Cristo deve ser amado com o mesmo carinho com que devemos amar o Pai.”10
Bourdeau, ao atribuir a Jesus toda a plenitude da Divindade, está definitivamente à frente do tempo em relação aos seus irmãos na fé. Embora concordassem sobre a questão da divindade de Jesus, ninguém estava disposto a afirmar abertamente a posse ou a plenitude da Divindade, seja lá o que Bourdeau quisesse dizer com isso.
D. M. Canright. Constitui um mistério. Mais conhecido e lembrado por sua apostasia, Canright, no entanto, foi durante muitos anos um obreiro confiável e valioso na causa adventista. Seu testemunho é confiável, refletindo seu próprio pensamento, e, portanto, até certo ponto, o pensamento da igreja. Ele também se opôs à trindade e acreditava que Cristo teve origem no tempo.
“Após estudar cuidadosamente a Bíblia sobre o tema da identidade de Cristo, cheguei às seguintes conclusões: 1) Cristo veio à existência antes de todas as coisas . . . 3) Cristo é o primogênito de toda criação . . . Isto parece significar que ele foi o primeiro ser que nasceu no universo.”11
Canright não quis dizer que Cristo foi criado, pois nenhum ser criado pode comandar a adoração de outros seres criados. A vinda de Jesus à existência [humana] é um processo diferente da criação. Ele também está preocupado sobre a relação da Trindade com a eficácia do sacrifício. Que apenas a natureza humana de Jesus morreu, ele se esforça para negar, pois tal sacrifício não pode tirar o pecado.12
Escrevendo para o jornal da costa oeste em 1878, Canright lança um ataque à ideia de que o Espírito Santo é uma pessoa e um membro da Divindade.
“Todos os credos trinitários fazem do Espírito Santo uma pessoa, igual em substância, poder, eternidade e glória ao Pai e ao Filho. Assim, eles afirmam existir três pessoas na Trindade, iguais entre si. Sendo o caso, então o Espírito Santo é tão verdadeiramente uma pessoa individual e inteligente quanto o Pai ou o Filho. Mas não podemos acreditar nisso. O Espírito Santo não é uma pessoa.”13
Ele resume seu entendimento acusando a Trindade como irracional, antibíblica e sem consistência interna.
“Todo e qualquer argumento dos trinitários para provar três Deuses em uma pessoa, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, todos eles de uma substância, e em todos os sentidos iguais entre si, e todos os três formando apenas um, contradiz a si mesmo, contradiz a razão e contradiz a Bíblia.”14
Obviamente, Canright se recusou a aceitar a Trindade enquanto era adventista, mas, após a sua deserção da igreja, parece que ele aceitou a doutrina contra a qual foi tão combativo.
Em 1889, em sua obra que pretendia expor o adventismo, ele acusou os adventistas do sétimo dia de se recusarem a aceitar a doutrina da Trindade.15 Evidentemente, ele se sentia bastante confiante de que seu ataque seria efetivo. E, de fato, embora G. I. Butler e Uriah Smith tenham composto justificativas bastante extensas da denominação em reação ao ataque dele, eles não tentaram refutar esta acusação da negação da Trindade. Parece improvável que eles teriam deixado um erro grosseiro sem resposta, visto que a acusação não tinha fundamento de fato.
Até agora, a evidência parece bastante clara, mas Canright acrescenta uma incógnita à equação. Em 1877, pouco mais de um ano antes dele apresentar sua forte rejeição à Trindade tanto na Review quanto na Signs of the Times, ele colocou esta declaração em destaque:
“Não concordamos todos que, na providência de Deus, luz especial está sendo dada agora sobre os temas do segundo advento, do reino, da nova terra, do sono dos mortos, da destruição dos ímpios, da doutrina da Trindade, da lei de Deus, do santo sábado de Deus, etc.? Todos os adventistas do sétimo dia concordam nestas coisas.”16
A ideia parece ser que a Trindade faz parte de uma lista de doutrinas que todo adventista do sétimo dia leal aceitará prontamente. Porém, como visto, simplesmente esse não é o caso. Nem o próprio Canright, apenas quinze meses depois, entendia assim. A afirmação apresenta um enigma, para o qual parece não haver solução pronta. Interpretá-la como significando que todos os adventistas do sétimo dia concordavam, apenas por que Deus está dando luz especial sobre o assunto, não reflete a realidade. C. P. Bollman não interpretou neste sentido, mas em sua declaração citada na introdução acima, ele se refere a ela, sem identificar o autor, como prova de que a Trindade sempre foi defendida pelos adventistas do sétimo dia. Isso, ele deveria saber, o próprio Canright não confirmaria. A única solução viável é que Canright errou na sua afirmação. Mesma assim, isto não resolve o problema.
J. N. Andrews. Somente o Pai não teve um início. J. N. Andrews, em todo caso, pertence ao círculo íntimo dos pioneiros adventistas. Como estudioso com mentalidade aplicada, ele direcionou e utilizou suas pesquisas em benefício prático para a igreja. Embora sua principal área de escrita fosse o sábado e temas correlacionados, ele escreveu sobre diversos outros temas. Enquanto editor da Review, ele aproveitou a oportunidade, em uma discussão sobre Melquisedeque, para registrar sua crença de que somente o Pai do universo não teve um começo. Em seu artigo, ele tenta definir quem Melquisedeque representa, e, também, tenta mostrar que Paulo não está usando as palavras “não teve princípio de dias nem fim de existência” (Hb 7:3) em sentido absoluto. Se estivesse, replica Andrews, então os anjos, naturalmente, estão excluídos.
“E, quanto ao Filho de Deus, ele também seria excluído, pois ele tem Deus como seu Pai, e, em algum momento dos primórdios da eternidade, teve um início. De modo que, se usarmos a linguagem de Paulo em sentido absoluto, seria impossível encontrar outro ser no universo, e esse ser é Deus Pai, que não tem pai, nem mãe, nem descendência, nem princípio de dias, nem fim de vida. No entanto, provavelmente ninguém, uma única vez, afirma que Melquisedeque era Deus Pai.”17
Andrews não tira conclusões sobre a crença dele na doutrina da Trindade; ele simples e brevemente afirma que obviamente o Filho teve um início, em algum momento dos primórdios da eternidade, como se fosse um fato aceito pelos leitores dele.
Outra declaração proferida alguns anos depois completa o material que Andrews escreveu, mesmo que indiretamente, sobre a Trindade. Ele declara que somente o Pai possui a imortalidade inata, implicando que o Filho, portanto, obteve a imortalidade.
“Que Deus é a fonte e a origem da imortalidade fica claro na seguinte declaração de Paulo sobre Deus Pai: ‘o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem ninguém jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém!’” (1Tm 1:15–16). Este texto é evidentemente concebido para ensinar que o Deus autoexistente é o único ser que inatamente possui esta natureza maravilhosa. Outros podem possuí-la derivada dele, mas somente ele é a fonte da imortalidade.
“Nosso Senhor Jesus Cristo é a fonte desta vida para nós. ‘Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo’ (Jo 5:26). ‘Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo por causa do Pai, também quem de mim se alimenta viverá por mim’ (Jo 6:57). O Pai nos dá esta vida em seu Filho. ‘E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está no seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida’ (1 Jo 5:11–12). Estes textos das Escrituras indicam claramente que Cristo é a fonte da vida eterna, e somente aqueles em Cristo têm [direito a] ela”18
Deus possui a imortalidade por natureza inerente; ele concede ao Filho, que, por sua vez, dá a quem o aceita. Este é o conceito de Andrews. Portanto, a partir de ambas as considerações, independência da existência e da natureza, Cristo é subordinado ao Pai.
John Matteson. Cristo, o único Filho literal de Deus. Matteson foi obreiro pioneiro entre os povos escandinavos do meio-oeste estadunidense. Seus artigos na Review geralmente se limitavam a relatos do progresso da obra na região onde se encontrava. Raramente, porém, ele escrevia sobre temas doutrinários ou devocionais. Ele explorou em que sentido os homens são filhos de Deus nessas palavras:
“Cristo, o único Filho literal de Deus. ‘O único gerado do Pai’ (Jo 1:14 [KJV]). Ele é Deus porque é o Filho de Deus; não em virtude de sua ressurreição. Se Cristo é o único gerado do Pai, então não podemos ser gerados do Pai no sentido literal. Só pode ser em um sentido secundário da palavra.”19
Jesus é um Filho “literal” em um sentido que nunca poderemos ser. Ele é o único ser assim no universo, e sua divindade depende desta filiação. O que Matteson está dizendo parece muito com antigos escritores adventistas que entendiam a semelhança de Jesus dependente de uma origem do Pai.
A. C. Bourdeau. Jesus não é Deus inatamente. A. C. Bourdeau, junto com seu irmão, foi pioneiro evangelista em língua francesa entre os adventistas. Em 1869, ele apresentou à Review um breve relato de sua experiência e pontos de vista. Ele relata algumas coisas que lhe foram ensinadas antes de abraçar a fé adventista do sétimo dia.
“Indisposto a insistir demais nas falsas esperanças alimentadas por muitos, destacarei aqui algumas ideias populares ensinadas por muitos professores [e teólogos] cristãos. Ao fazer isso, chamarei a atenção dos amigos para os ensinamentos que eu e outros recebemos em um Instituto Educacional Batista em francês no Canadá, há vários anos. Nas aulas de Bíblia, fomos ensinados pelo Professor Roux:
Que o Espírito infinito e eterno de Deus, sem pessoa, corpo, forma ou partes está em toda parte e em nenhum lugar presente; ou está em toda parte como um Espírito e em nenhum lugar como um ser tangível. Pergunto: isto não reduz Deus ao nada?
Que Jesus Cristo é Deus; o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um ser idêntico; portanto, ao descrever um, descrevemos o outro. Certamente, isto não significa que o Filho é melhor do que o Pai . . .
Contudo, examinemos brevemente estas colocações à luz das Escrituras. Somos claramente ensinados que:
Que Deus é uma inteligência material e organizada, possuindo tanto corpo e quanto partes.
- Que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Ele não é seu próprio filho, nem seu próprio pai, não procedeu de si . . ., mas Jesus Cristo é uma inteligência material que possui corpo e partes, com carne imortal e ossos imortais (ver Lucas 24:34–43); é um ser distinto de Deus Pai. Ele é como seu Pai, ‘o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu Ser’ (Hb 1:3) . . . Ele e seu Pai são um no mesmo sentido que seus seguidores deveriam ser um.”20
Bourdeau representava uma linha onde o conceito trinitário envolve um Deus imaterial, fragmentado por todo universo. Ele se opõe a isso e a uma igualdade idêntica entre o Pai e o Filho. Por causa disto, ele rejeitou a trindade.
R. F. Cottrell. Não é uma heresia tão perigosa. Outro adventista primitivo vindo da Conexão Cristã foi R. F. Cottrell.21 Foi ele, cujo pai teve aparente aprovação de Tiago White quando expressou sua rejeição à Trindade. Esperaríamos que Cottrell se opusesse à doutrina trinitária, e ele confirma esta expectativa.
“Esta (a trindade) tem sido uma doutrina popular e considerada ortodoxa desde que o bispo de Roma foi elevado ao papado baseado nela. . . Quanto a mim, nunca me senti chamado a explicá-la, adotá-la e defendê-la; também nunca preguei contra ela. Entretanto tenho, provavelmente, uma estima tão elevada pelo Senhor Jesus Cristo quanto aqueles que se autodenominam trinitários.”22
Neste mesmo artigo ele explica por que ele não aceita a doutrina [da Trindade]. Primeiro, é antibíblica; segundo, é irracional. O Pai e o Filho são dois seres; eles são um no mesmo sentido em que Cristo e seus seguidores são um. Seis meses depois, ele responde a uma revisão de seu artigo publicada no Baptist Tidings. Sua resposta dá uma ideia da importância da Trindade em seu pensamento.
“Nunca acreditei na doutrina (da trindade), nem nunca professei acreditar nela. Mas não acho que seja a heresia mais perigosa do mundo . . . Pessoas partiram para extremos na discussão da doutrina da Trindade. Alguns fizeram de Cristo um homem meramente nobre, começando a sua existência quando nasceu em Belém; outros não se contentaram em considerá-lo aquilo que as Escrituras tão claramente revelam —o Filho de Deus pré-existente—, mas fizeram dele Deus e Pai de si . . . Eu simplesmente aconselharia todos os que amam o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo a acreditar em tudo o que a Bíblia diz sobre ele, nada mais.”23
Para Cottrell, a Trindade não é uma questão a ser considerada um problema. Ele aconselha meramente afirmar o que as Escrituras dizem, sem tentar definir logicamente seus limites. No entanto, ele certamente não segue o credo trinitário nem sente que este tenha refletido com precisão o ensino das Escrituras. Ele diz:
“Entendemos que o termo Trindade significa a união de três pessoas, não de ofícios, em um só Deus; de modo que
O Pai, Filho e Espírito Santo,
São três no mínimo e um no máximo.
Que uma pessoa são três pessoas, e que três pessoas são apenas uma pessoa; é a doutrina que afirmamos ser contrária à razão e ao bom senso.”24
Cottrell estava alinhado aos seus colegas na oposição à Trindade.
A. T. Jones. Trindade é uma doutrina católica. De interesse especial, devido à sua ligação com a Conferência Geral de 1888 e a mensagem da justificação pela fé, temos A. T. Jones. Em suas declarações impressas, encontramos apenas alusões e implicações relativas à sua posição sobre a Trindade. Certa vez, em um artigo sobra a Reforma, ele lista homens que se opuseram a Calvino e que foram punidos na Genebra autocrática por fazê-lo:
“Outro, e o mais notável oponente, foi [Miguel] Servet, que se opôs à doutrina católica da Trindade, e, também, ao batismo infantil; e publicou um livro intitulado ‘Cristianismo Restaurado’.”25
Ele não entra em detalhes sobre o assunto, mas apenas chama a Trindade e o batismo infantil de doutrinas católicas. Jones afirmou alguns anos depois, em um estudo sobre a condição natural do homem, derivado de Loughborough e Andrews (ambos os quais aplicaram 1 Timóteo 6:16 ao Pai, mas a Cristo em um sentido derivado), que só Deus tem imortalidade.
“Novamente, falando da aparição de Jesus Cristo, a Palavra diz: ‘No tempo certo, há de ser revelada pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, ‘o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem ninguém jamais viu, nem é capaz de ver.’ (1Tm 1:15–16). Cristo trouxe à luz esta imortalidade. . .
“Agora, como a imortalidade deve ser buscada, e como Deus é o único que a possui, e como Cristo é o único que a trouxe à luz, conclui-se que a imortalidade deve ser buscada em Deus, por meio de Cristo.”26
Parece que ele está fazendo a mesma distinção entre Pai e Filho que Loughborough e Andrews fizeram antes; no entanto, ele não explica detalhadamente.
Por volta da virada do século, Jones escreveu copiosamente sobre os temas da mensagem do terceiro anjo e da justificação pela fé em Cristo. Algumas de suas observações casuais sobre a natureza de Jesus beiram uma posição trinitária.
“Deus é um. Jesus Cristo é um. O Espírito Santo é um. E estes três são um: não há dissidência nem divisão entre eles.”27
Esta parece ser uma posição claramente trinitária. Mas será que ele quis sugerir que a unidade deles é uma em propósito ou substância? Na semana seguinte, ele destacou na Review que, em João 17, o próprio Jesus indicou o caráter dessa unidade. A unidade dos crentes, disse ele, é a própria unidade divina.28
No ano seguinte, Jones afirma:
“Este ([texto de] Hebreus 1) nos diz que, no céu, a natureza de Cristo era a natureza de Deus; que ele em sua Pessoa, em sua substância, é a própria impressão e caráter da substância de Deus. Isto quer dizer que no céu, onde estava antes de vir ao mundo, a natureza de Cristo era em substância a natureza de Deus.”29
Novamente, o que ele quis dizer com isso talvez tenha sido esclarecido uma semana depois.
“A semelhança de Cristo com Deus existe tanto em substância como em forma. E a semelhança de Cristo com o homem existe tanto em substância como em forma.”30
Ele está preocupado em dizer que Jesus é ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e talvez isso seja tudo o que Jones quis dizer. Mas o tom de suas declarações indica uma posição que, se não é trinitária, pelo menos se aproxima de ser. Ele ainda enfatizou a ideia de que a expiação exigia um sacrifício divino.
“E o trato do Senhor com ele (Cristo) é o trato do Senhor conosco, levando-o à crucificação; isso é verdade, a crucificação de seu eu justo e divino; e isso nos leva à crucificação de nosso eu maligno, que nos separa de Deus.”31
W. W. Prescott muda de posição. Educador renomado, W. W. Prescott entrou na obra adventista em 1885, pouco após se filiar à igreja. Por muitos anos, ele prestou serviços valiosos em diferentes áreas da igreja. Escrevendo na Review, ele aderiu à visão atual:
“Assim como Cristo nasceu duas vezes —uma vez na eternidade, o único gerado do Pai, e novamente aqui em carne, unindo assim o divino com o humano no segundo nascimento— da mesma forma, nós, que já nascemos uma vez na carne, devemos ter o segundo nascimento, nascendo de novo do Espírito, para que nossa experiência seja a mesma— o ser humano e o divino unidos na vida.”32
Cristo veio a existir em algum momento da eternidade para Prescott. Esta é a posição familiar mantida pelos antitrinitários adventistas desde 1854. Prescott, todavia, mudou seu pensamento ao longo dos anos.
Em 1919, ele preparou uma série de lições sobre a doutrina de Cristo para uso em sala de aula. O formato dessas lições consiste em uma sequência de frases com perguntas seguidas de referências das Escrituras. Em seguida, vem uma seção de “notas” que iluminam o tema em discussão. Estas notas são, de acordo com o prefácio, extraídas de uma ampla variedade de fontes, e nenhum crédito foi dado a elas, exceto para citações de Ellen G. White; sendo, portanto, impossível determinar a origem delas. Obviamente, porém, refletem os pensamentos de Prescott. A nota da lição sobre o Pai e o Filho contém as seguintes citações:
“Podemos entender o Pai existindo desde a eternidade e possuindo poderes infinitos, simplesmente porque ele deseja que assim seja, sem qualquer causa externa a si mesmo, sendo eterno, infinito e não derivado; e do Filho coexistindo com o Pai desde a eternidade e possuindo plenamente os poderes infinitos do Pai, mas recebidos do Pai, existindo por vontade do Pai, sendo eterno, infinito e derivado.”
“O Filho é igual ao Pai em tudo, exceto naquilo transmitido pelos termos Pai e Filho. Ele é igual ao Pai no sentido de que compartilha plenamente a existência do Pai desde a eternidade e seu infinito poder, sabedoria e amor. Mas na medida em que o Pai possui esses atributos divinos inatamente, enquanto o Filho os possui derivados do Pai, neste sentido real, e somente neste sentido, o Pai é maior que o Filho.”33
Estas não são as palavras de Prescott, mas certamente são as suas opiniões. Ele ainda entende que a existência de Cristo depende e deriva da existência do Pai. Nesta mesma obra, ele afirma a divindade e a preexistência de Cristo. Para fundamentar este último ponto, ele cita O Desejado de Todas as Nações, pp. 19, 20, 23–25, 111, mas não cita a página 530, que afirma que em “Cristo há vida, original, não emprestada, não derivada.”34
No entanto, dez anos depois, Prescott abandonou esta visão em favor da posição trinitária. Ele iguala Jesus a Jeová do Antigo Testamento.
“Mas o fato de que o Jesus do Novo Testamento ser o Jeová do Antigo Testamento não deve ser entendido como uma eliminação do Pai, ou como uma negação da Divindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Visto que o finito não pode compreender o infinito, foi inútil tentar uma análise da Divindade ou comparar a união perfeita entre Pai, Filho e Espírito Santo a um triunvirato de homens, ou mesmo de anjos. Nem devemos pensar nas três pessoas distintas da Divindade como sujeitas a qualquer uma das limitações a que os homens estão sujeitos . . . Devemos crer, mas explicá-la ou compreendê-la completamente, não conseguimos; e, até que consigamos, devemos agir com reverência ao abordarmos o tema do Deus trino . . . o Novo Testamento representa nosso Senhor como um agente consciente e inteligente, que preserva sua identidade ininterrupta desde a eternidade no tempo e adiante até a eternidade.”35
Evidente que Prescott mudou de uma posição basicamente antitrinitária em 1896 para uma aceitação do “Deus trino” em 1929.
J. Edson White. Cristo gerado, não criado. Publicador por natureza e profissão, J. E. White se empenhou em combinar seu ofício com o evangelismo para os necessitados do Sul por volta da virada do século. Ele escreveu diversos livros sobre os fundamentos do evangelho, simplificados para facilitar a compreensão, baseados nas obras literárias da mãe dele. Em 1909, ele escreveu:
“Anjos são seres criados, antes da fundação do mundo . . . Lendo João 1:1–3, 10, percebemos que o mundo e tudo o que ele contém foram criados por Cristo (a Palavra), pois ‘todas as coisas foram feitas por ele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.’ Os anjos, portanto, são seres criados, consequentemente pertencentes a uma ordem inferior à do seu Criador. Cristo é o único ser gerado pelo Pai.”36
Seria injusto atribuir demasiado peso à escolha das palavras e à relação das frases na declaração de White. Talvez ele não quisesse dizer nada mais do que as Escrituras dizem. Mas a prevalência da ideia no passado, de que Jesus foi o único ser no universo trazido à existência pelo misterioso processo de ser gerado, e o aparente contraste entre ser criado e ser gerado, deixam perguntas sem respostas. Especialmente porque ele não faz nenhuma declaração trinitária significativa em outro lugar, ficam fortes dúvidas. A maioria de seus escritos sobre o assunto são apenas referências incidentais e podem ser interpretadas de diferentes formas.
M. L. Andreasen. Outro convertido à Trindade. Abrangendo o período do final do século 19 até a década de 1960, está M. L. Andreasen. Quando jovem, ele suspeitava que os escritos de Ellen G. White eram revisados e alterados por editores e assistentes antes de serem publicados. Em razão disto, ele foi à Califórnia para ver a venerável senhora e investigar o caso. Ela gentilmente o recebeu e permitiu que ele lesse os manuscritos dela.
“Eu tinha comigo uma série de citações que queria ver se eram os originais com a letra dela. Lembro-me de como ficamos surpresos quando O Desejado de Todas as Nações foi publicado pela primeira vez, pois continha algumas coisas que considerávamos inacreditáveis como a doutrina da Trindade, que não era amplamente aceita pelos adventistas da época. Algumas das citações dizem respeito à teologia, outras eu selecionei pela sua beleza de expressão. Eu queria ver como eram aquelas citações antes de serem corrigidas pelos revisores.
“Então, tive acesso aos manuscritos. Fiquei muitos meses na Califórnia. Sendo um leitor razoavelmente rápido, li quase tudo o que a irmã White havia escrito com sua própria caligrafia. Eu estava particularmente interessado na declaração em O Desejado de Todas As Nações, que naquele tempo causou grande preocupação teológica para a denominação: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada’ (p. 530). Esta declaração pode não parecer muito revolucionária para você, mas para nós foi. Dificilmente poderíamos acreditar, mas é claro que não poderíamos pregar contra. Eu tinha certeza de que a irmã White nunca havia escrito ‘Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada.’ Mas eu vi, então, o documento escrito com a letra dela igualmente como foi publicado. Fiz a mesma coisa com outras declarações. À medida que checava, descobria que eram as expressões da própria irmã White.”37
Andreasen não forneceu a data da sua viagem e da sua surpreendente descoberta, mas obviamente foi após 1898, quando O Desejado de Todas as Nações foi publicado. De acordo com ele, este livro gerou uma grande repercussão no ambiente teológico adventista do sétimo dia, particularmente no que diz respeito à Trindade. Eventualmente, Andreasen passou a ver uma solidez na posição trinitária que ele não havia percebido antes.
“. . . se Cristo não é Deus essencialmente e no sentido mais elevado, se ele não existe em si, então temos um salvador que não é Deus em si, que deve sua vida a outro, que teve um começo e pode, portanto, ter um fim. Logo, a obra salvadora de Cristo se afunda na insignificância. . . equivalendo a menosprezar e degradar a Deus e ao seu caráter.”38
Esta, podemos dizer, é a posição denominacional atual.
CAPÍTULO III
EVIDÊNCIA DE NATUREZA GERAL
Credo Adventista Evangélico. Há evidências de que a negação da doutrina da trindade era característica de todos os grupos adventistas em geral, tanto das convicções de sétimo como de primeiro dia. Em 1869, a Review tomou conhecimento de um novo grupo dissidente que se autodenominava “Adventistas Evangélicos”. O artigo apontou a falta de unidade entre os diversos grupos de adventistas do primeiro dia.
“Esse grupo de adventistas que adotou como o título de ‘Adventistas Evangélicos’ difere de outros adventistas do primeiro dia principalmente nos seguintes pontos:
Afirmam a existência consciente do homem na morte.
Afirmam o sofrimento eterno dos ímpios.
Afirmam a doutrina da Trindade.
Não marcam a data do segundo advento.”39
The Celestial Railroad [A Ferrovia Celestial]. A casa publicadora da Costa Oeste reimprimiu uma alegoria de Nathaniel Hawthorne, com uma nota explicativa no final. A data de impressão do panfleto não pode ser determinada com exatidão, pois não está datada. Uma nota no final da última página simplesmente orienta aqueles que desejam cópias adicionais a enviarem para Signs of the Times, Oakland, Califórnia. O fato de ter sido impresso em Oakland o coloca antes de 1904, quando a publicadora se mudou daquela cidade. As “notas explicativas” são assinadas no final pela “Comissão Editorial”, sem indicar nomes. A razão apresentada para reimprimir a alegoria é que a história de Hawthorne expõe a condição decaída das igrejas nominais.
“Especificaremos, agora, o que cremos, a partir das Escrituras, bem como alguns erros significativos das igrejas pregados semanalmente no púlpito e nas publicações como verdades do Deus vivo.”40
A lista, que contém oito erros, coloca a doutrina da trindade como o erro de número sete.
“7. A doutrina trinitária. Em consequência desta misteriosa subtileza teológica, o mundo tem uma ideia muito confusa de Deus e do plano de salvação; e multidões, como resultado, aprovam-na abertamente no cristianismo como um todo.”41
A oposição à Trindade na Igreja Adventista do Sétimo Dia parecia ser bastante ampla e generalizada.
Declarações de Fé. Uma comparação das declarações de fé proferidas em diversos momentos pela denominação mostra uma mudança marcante na posição da igreja em relação à Trindade. Declarações esporádicas apareceram em 1874, 1889, 1891 e 1931.42 As três primeiras são, para efeitos práticos, idênticas nos artigos que tratam da Divindade. Uma comparação entre as declarações de 1874 e 1931 demonstra a mudança.
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“1. Que existe um Deus, um ser pessoal e espiritual, o criador de todas as coisas, onipotente, onisciente e eterno, infinito em sabedoria, santidade, justiça, bondade, verdade e misericórdia; imutável e presente em todos os lugares por seu representante, o Espírito Santo (Sl 139:7). |
“Que a Divindade, ou Trindade, consiste no Pai Eterno, um ser pessoal e espiritual, onipotente, onipresente, onisciente, infinito em sabedoria e amor; no Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai Eterno, por meio de quem todas as coisas foram criadas e por meio de quem a salvação das hostes redimidas será realizada; no Espírito Santo, a terceira pessoa da Divindade, o grande poder regenerador na obra de redenção (Mt 28:19). |
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2. Que existe um Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai Eterno, aquele por quem Deus criou todas as coisas e por quem elas consistem; que ele assumiu a natureza da semente de Abraão para a redenção de nossa raça caída. . .”43 |
Que Jesus Cristo é plenamente Deus, sendo da mesma natureza e essência do Pai Eterno. Embora mantendo a sua natureza divina, ele assumiu a natureza da família humana. . .44 |
A declaração de 1874 poderia ser aceita por um antitrinitário ou por alguém que aderisse à doutrina. A declaração de 1931 é definitivamente trinitária, sendo a declaração atualmente publicada pela denominação.
CAPÍTULO IV
RESUMO E CONCLUSÃO
Até 1890. O campo era dominado por aqueles que entendiam a trindade como ilógica, antibíblica, pagã e deturpadora da expiação. Houve desenvolvimento em certos escritores durante este período, e o conceito deles passou a exaltar Cristo cada vez mais, mesmo dentro da estrutura antitrinitária deles. Mas o antitrinitarismo era evidentemente preponderante na denominação.
1890–1900. Neste período, as declarações de Ellen G. White pavimentaram o caminho em direção à Trindade. A partir do final da década de 1880, alguns obreiros mudaram para uma posição mais alinhada à Trindade. Na verdade, parece ter havido diversos conceitos sobre Deus entre os adventistas durante esse período, como lamenta um escritor nas páginas da Review.45 Desta década até a metade da outra é um período de mudança, visto que alguns adotaram o trinitarismo, enquanto outros continuaram antrinitários. O Espírito de Profecia inequivocamente se manifestou em favor da Trindade, e, naturalmente, esta concepção acabou prevalecendo.
1900–1930. Este período viu a morte da maioria dos pioneiros que defendiam e afirmavam a posição antitrinitária. Seus lugares estavam sendo ocupados por homens que mudaram de posição ou que nunca se opuseram à Trindade. A Trindade começou a ser mais publicada, até que, em 1931, triunfou e se tornou a posição denominacional padrão. Embora defensores isolados se recusavam a ceder, o resultado já estava decidido.
Um exame independente das evidências mostra que a denominação adventista do sétimo dia não teve, de fato, uma posição trinitária em seus primórdios. Pelo contrário, esta foi uma posição que se desenvolveu ao longo de décadas, e só se tronou predominante no primeiro terço do século 20.
Notas
1 C. P. Bollman, “The Holy Spirit: A Person,” The Adventist Review and Sabbath Herald, CX (3 de agosto de 1933), p. 4. (Daqui em diante referido como Review and Herald).
2 Tiago White, “Life Incidents,” Review and Herald, XXI (18 de fevereiro de 1868), p. 146.
3 Tiago White, “Letter from Bro. White,” The Day-Star, IX (24 de janeiro de 1846), p. 25
4 Tiago White, “The Faith of Jesus,” Review and Herald, III (5 de agosto de 1852), p. 52.
5 Tiago White, “Western Tour,” Review and Herald, IV (9 de junho de 1853), p. 12.
6 Tiago White, “The Two Bodies: The Relations Which the S. D. Baptists and the S. D. Adventists Sustain to Each Other,” Review and Herald, XLVIII (12 de outubro de 1876), p. 116.
7 Tiago White, “Signs of the Times,” Review and Herald, IV (13 de setembro de 1853), p. 66.
8 Tiago White, Christ in the Old Testament (Oakland, Calif.: Pacific Press, 1877), p. 11.
9 Tiago White, “The Son Represents the Father,” Review and Herald, LVI (15 de julho de 1880), p. 56.
10 D. T. Bourdeau, Sanctification or Living Holiness (Battle Creek, Mich: Steam Press of the Seventh-day Adventist Publishing Association, 1864), pp. 75–76.
11 D. M. Canright, “Jesus Christ the Son of God,” Review and Herald, XXX (18 de junho de 1867), p. 1.
12 Ibid., pp. 2-3.
13 D. M. Canright, “The Holy Spirit,” Signs of the Times, IV (25 de julho de 1878), p. 218. Cf. Review and Herald, LII (29 de agosto de 1878), p. 73.
14 D. M. Canright, “The Personality of God,” Review and Herald, LII (29 de agosto de 1878), p. 73.
15 D. M. Canright, Seventh-day Adventism Renounced (New York: Fleming H. Revell, 1889), p. 25.
16 D. M. Canright, “A Plain Talk to the murmurers: Some Facts for Those Who Are Not in Harmony with the Body,” Review and Herald, XLIX (12 de abril de 1877), p. 116.
17 J. N. Andrews, “Melchizedek,” Review and Herald, XXXIV (7 de setembro de 1869), p. 84.
18 J. N. Andrews, “Immortality Through Christ,” Review and Herald, XLIII (27 de janeiro of 1874), p. 52.
19 John Matteson, “Children of God,” Review and Herald, XXXIV (12 de outubro de 1869), p. 123.
20 A. C. Bourdeau, “The Hope That Is in You,” Review and Herald, XXXIII (8 de junho de 1869), pp. 185–186.
21 R. F. Cottrell, “Sacred Notions. No. 1,” Review and Herald, XXXIII (26 de janiero de 1869), p. 36. Cp. Review and Herald, XXXIII (9 de fevereiro de 1869), p. 52.
22 F. Cottrell, “The Doctrine of the Trinity,” Review and Herald, XXXIII (1 de junho de 1869), p. 180.
23 R, F. Cottrell, “The Trinity,” Review and Herald, XXXIV (6 de julho de 1869), p. 11.
24 Ibid., p. 10.
25 A. T. Jones, “Historical Necessity of the Third Angel’s Message,” Review and Herald, LXI (17 de junho de 1884), p. 387.
26 A. T. Jones, Bible Questions and Answers Concerning Man (Oakland, Calif.: Pacific Press Publishing Company, 1890), pp. 3–4.
27 A. T. Jones, (sem título), Review and Herald, LXVI (10 de janeiro de 1899), p. 24.
28 A. T. Jones, (sem título), Review and Herald, LXVI (17 de janeiro de 1899), p. 40.
29 A. T. Jones, “The Faith of Jesus,” Review and Herald, LXXVII (11 de dezembro de 1900), p. 792.
30 A. T. Jones, “The Faith of Jesus,” Review and Herald, LXXVII (18 de dezembro de 1900), p. 808.
31 A. T. Jones, “The Third Angel’s Message—No. 19,” General Conference Bulletin, I (27 de fevereiro de 1895), p. 365.
32 W. W. Prescott, “The Christ for Today,” Review and Herald, LXXIII (14 de abril de 1896), p. 232.
33 W. W. Prescott, The Doctrine of Christ (Takoma Park, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1919), p. 17.
34 Ibid., pp. 38–40.
35 W.W. Prescott, The Saviour of the World (Takoma Park, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1929), pp. 16–17.
36J. E. White, Past, Present and Future (Nashville, Tenn.: Southern Publishing Association, 1909), p. 52.
37 M. L Andreasen, “The Spirit of Prophecy,” Um sermão não publicado feito na Capela de Loma Linda, California, 30 de novembro de 1948.
38 M. L. Andreasen, The Faith of Jesus (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1949), p. 22.
39 J. N. Andrews, e., “The Creed of the Evangelical Adventists,” Review and Herald, XXXIV (6 de julho de 1869), p. 12.
40 The Publishing Committee, Explanatory Remarks on the Celestial Railroad (Oakland, Calif.: Signs of The Times Office, não datado), p. 31.
41 Ibid., p. 32.Ibid., p. 32.
42 A declaração de 1874 apareceu originalmente em forma de panfleto dois anos antes e foi então reimpressa em Signs of the Times em 1874. Posteriormente, foi reimpressa em diferentes panfletos, em diversas ocasiões, entre 1874 e 1889, quando o Anuário publicou tal declaração pela primeira vez.
43 Tiago White, e., “Fundamental Principles,” Signs of the Times, I (4 de junho de 1874), p. 3.
44 1931 Yearbook of the Seventh-day Adventist Denomination (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1931), p. 377.
45 D. T. Bourdeau, “We May Partake of the Fullness of the Father and the Son,” Review and Herald, LXVII (November 18, 1890), p. 707.