Ellen White e A Depressão

Ellen White e A Depressão


Tim Poirier é vice-diretor e depositário no White State [Centro White].


Tradução: Hugo Martins

O artigo “Ellen White e A Depressão” (Original em Inglês: Ellen White and Depression), por Tim Poirier, fora primeiramente publicado no site da Adventist Review.® Artigo usado com permissão.


Perplexos, Porém Não Desanimados”

“Cristãos não ficarão tristes, deprimidos e desesperados.”1 Sério? Quando tenho sentimentos de desânimo, tenho perdido meu cristianismo? Alguns diriam que sim. É isso o que Ellen White quis dizer?

Quando lemos seus escritos, é importante relembrar que Ellen White usava a linguagem comum de seus dias para descrever a saúde emocional. Ela não estava diagnosticando estados mentais como um psiquiatra licenciado poderia fazer hoje após examinar o paciente. E o conselho que ela oferecia àqueles que ela descrevia como sofrendo com depressão pode não ser totalmente aplicado a cada indivíduo que é desafiado pelo que é, atualmente, chamado de depressão clínica ou aguda.

Em seus registros autobiográficos, Ellen White descrevia, frequentemente, tempos de depressão e melancolia. Muitos estavam, meramente, passando um momento de tristeza acerca das condições presentes, mas outros estavam passando por períodos controlados de melancolia e desânimo. Ela atribuía, frequentemente, seus momentos depressivos a sua saúde física débil, que a fez sofrer por toda a sua vida, resultante, em partes, do acidente com risco de vida que experienciou aos 9 anos de idade.

Em 1859, Ellen White informou, sinceramente, ao membros da igreja: “Faz anos me afligem o edema e doença do coração, que têm tido a tendência de deprimir meu humor e abater minha fé e animação.” Ela descreveu se sentindo “sem desejo de viver,” e sendo incapaz reunir fé o suficiente até mesmo para “orar por sua recuperação.”2 Durante este momento, ela confidenciou ao seu diário: “Oh, por que tamanha tristeza repousa sobre todas as coisas? Por que não consigo me erguer desta depressão de espírito? . . . Eu não tenho saúde e a minha mente está entregue a depressão.”3

Entendendo Suas Próprias Emoções

Mas, até mesmo em tempos mais saudáveis, Ellen White sabia, por experiência, que as emoções podem mudar inexplicavelmente. “Eu tenho me sentido muito deprimida hoje, uma tristeza sem tamanho,” escreveu ela ao seu marido Tiago. “Não consigo explicar porque eu me sinto assim tão triste.”4

Oh, por que tamanha tristeza repousa sobre todas as coisas? Por que não consigo me erguer desta depressão de espírito?

Em outras ocasiões, Ellen White sabia, exatamente, o porque ela se sentia assim. Como a mensageira do Senhor, ela tinha uma sensibilidade única quando as deficiências espirituais de indivíduos e da igreja em geral. Tanto ela quanto Tiago carregaram o estado da igreja continuamente em seus corações:

“Nossa felicidade tem dependido do estado da causa de Deus. Quando o povo de Deus está em uma condição próspera, nos sentimos bem. Mas quando está em desordem e em rebeldia, nada consegue nos fazer felizes. Nossa vida e nossa preocupação como um todo têm estado ligados ao crescimento e ao progresso da mensagem do terceiro anjo. Estamos ligados à ela, e quando ela não prospera, experimentamos um grande sofrimento mental.”5

Ellen White reconhecia que havia uma variedade de causas para a depressão além da doença física, incluindo dieta, genética, culpa, inatividade e o clima.6 Ela conhecia a amargura de perder filhos e o companheiro de vida para a morte. Relembrando o falecimento do seu filho de 3 meses de idade, John Herbert, ela escreveu: “Após voltarmos do funeral, meu lar parecia vazio. Sentia-me rendida à vontade de Deus, mas desalentada e triste.”7

Encontrando Esperança na Bíblia

Ellen White encontrava esperança nos relatos bíblicos dos gigantes espirituais que experimentaram períodos de profundo desânimo, ainda que não estivessem abandonados por Deus: indivíduos tais como Elias, Davi e Paulo. Até mesmo Jesus, destacou ela, não esteve livre de tais sentimentos.8 Sobre Elias, escreveu ela:

“Se, sob circunstâncias difíceis, homens de poder espiritual, sob excessiva pressão tornam-se desanimados e desalentados; se às vezes nada veem de apreciável na vida, para que desejem viver, isto não é nada estranho ou novo. . . . Aqueles que, na vanguarda do conflito, são impelidos pelo Espírito Santo a fazer um trabalho especial, frequentemente sentirão uma reação quando a pressão for removida. O desânimo pode abalar a fé mais heroica, e enfraquecer a mais firme vontade. Mas Deus compreende, e ainda Se compadece e ama.”9

Escrevendo à seu filho Edson, que tinha a tendência de “olhar para o lado escuro” das coisas, Ellen White o relembrou que “Com a contínua mudança de circunstâncias, vêm mudanças também em nossa experiência; e por essas mudanças ficamos, ou frustrados ou deprimidos. Mas a mudança de circunstâncias não tem poder para mudar a relação de Deus para conosco. Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente; e pede-nos que tenhamos incondicional confiança em Seu amor.”10

Conselhos de Ellen White

Quais conselhos Ellen White daria àqueles sofrendo com depressão, e como ela própria lidava com tais sentimentos? Ela aprendeu que o apoio da família e dos amigos é imensurável. Repetidas vezes, foram as orações de pessoas próximas que ajudaram a dissipar a escuridão.11 Relembrando os sentimentos de desespero avassalador que seguiram o acidente de seu filho, Ellen White refletiu: “ocultei meus turbados sentimentos da família e dos amigos, temendo que não me pudessem compreender. Isto foi um grande erro. o coração à minha mãe, ela poderia ter-me instruído, consolado e animado.”12

Ellen White recomendava, também, os benefícios da atividade ao ar livre, jardinagem, contato com a natureza e simplesmente louvar a Deus.13 Ela aconselhava a prosseguir “no caminho, cantando e salmodiando a Deus em vosso coração, mesmo quando opressos por uma sensação de peso e tristeza.” “Digo-vos, como alguém que sabe,” acrescentou ela, “virá a luz, alegria será nosso quinhão, e as névoas e nuvens serão espancadas.”14

Enquanto Ellen White reconhecia a realidade de tais emoções, era de sua praxe não dar voz a sentimentos negativos e espalhar, assim, um ambiente de tristeza a outros. Ela estava convicta que a fé superaria tais sentimentos. Quando lemos de suas experiências, quase sempre o que mudava o rumo era uma decisão deliberada e propositada de sua parte de não sucumbir a tais estados atribulados de pensamento por meio de uma firme confiança no amor de Deus apesar de Sua aparente ausência.

Esperança em Jesus

Mas a vitória não era de modo algum alcançada com facilidade. Sua típica solução para dissipar a escuridão é esta descrição escrita após um longo período de dor física excruciante com seus efeitos emocionais negativos:

“Não é coisa comum, para mim, ser subjugada, e sofrer tanta depressão de espírito como tenho sofrido nos últimos meses. Não quero ser achada tendo em pouca conta minha alma, desprezando, assim, meu Salvador. Eu não posso ensinar que Jesus ressurgiu da tumba, e que subiu ao Céu e vive para fazer intercessão por nós perante o Pai, a menos que eu ponha em prática meus ensinos, e creia nEle e na salvação por Ele provida, lançando sobre Jesus minha vida desamparada, em busca de Sua graça, Sua justiça, paz e amor. Devo confiar nEle, independentemente das modificações de meu ambiente emotivo. Devo anunciar as virtudes dAquele que me chamou das trevas para Sua maravilhosa luz.”15

Ficarão os cristãos “tristes, deprimidos e angustiados”? Ellen White reconhecia por meio das Escrituras e por experiência pessoal que os crentes fiéis não estão isentos a essas emoções, mas não devem tais emoções caracterizar a vida do crente. Assim como Paul, podemos dizer: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; . . . não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Co 4:8–18)


Notas

[1] Ellen G. White, em Review and Herald, 15 de abril de 1884. Ver, também, Ellen G. White, Orientação da Criança, p. 146.

[2] Ellen G. White, Testemunhos para A Igreja, vol. 1, p. 185.

[3] Ellen G. White, manuscrito 6, 1859, em The Ellen G. White Letters and Manuscripts With A nnotations (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 2014), vol. 1, pp. 632, 633

[4] Ellen G. White letter 7, 1876, Manuscript Releases (Silver Spring, Md.: Ellen G. White Estate, 1990-1993), vol. 7, p. 278.

[5] Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek, Mich.: Tiago White, 1860), vol. 2, p. 297.

[6] Por exemplo, ver Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, pp. 482-496, 807-812.

[7] E. G. White, Spiritual Gifts, vol. 2, p. 296.

[8] Mateus 26:38; João 12:27; Ellen G. White, The Spirit of Prophecy (Battle Creek, Mich.: Seventh-day Adventist Pub. Assn., 1878), vol. 3, p. 94: “[Os discípulos de Jesus] frequentemente o viam deprimido, mas nunca outrora tão triste e silente assim.”

[9] Ellen G. White, Profetas e Reis, pp. 173, 174.

[10] Ellen G. White, carta 150, 1903, Nos Lugares Celestiais, p. 120.

[11] Por exemplo, ver Ellen G. White, Testemunhos para A Igreja, vol. 1, p. 185.

[12] Ellen G. White, Life Sketches of James White and Ellen G. White (Battle Creek, Mich.: Seventh-day Adventist Pub. Assn., 1880), p. 135.

[13] Ellen G. White, carta 147, 1904, Manuscript Releases, vol. 1, pp. 255, 256; Ellen G. White, Signs of the Times, 30 de dezembro 1903.

[14] Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pp. 242, 243.

[15] Ellen G. White, Signs of the Times, 25 de julho 1895.

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