Questões na Interpretação das Sete Trombetas de Apocalipse

Questões na Interpretação das Sete Trombetas de Apocalipse


Ángel Manuel Rodríguez começou a trabalhar no Adventist Biblical Research Institute em 1992; em 2001 assumiu o posto de diretor da instituição, cargo que ocupou até a sua aposentadoria em 2011. Seus interesses especial incluem Santuário, Expiação e Teologia do Antigo Testamento. Rodríguez escreveu diversos artigos e livros como “Teologia do Remanescente”.


Tradução: Hugo Martins

O artigo “Questões na Interpretação das Sete Trombetas de Apocalipse” (Original em Inglês: “Issues in the interpretation of the seven trumpets of Revelation”), por Herbert E. Douglas, fora publicado, inicialmente, em janeiro de 2012 na revista Ministry,® International Journal for Pastors, www.MinistryMagazine.org.  Usado com permissão.


Um ciclo visionário de Apocalipse que tem provado ser um dos mais difíceis de se interpretar é Apocalipse 8–11: as sete trombetas. A linguagem e o imaginário são complexos; e sua aplicação a eventos históricos específicos tem resultado em uma diversidade de interpretações. Esta incerteza hermenêutica poderia estar confundindo os membros da igreja e aqueles interessados em encontrar nesta profecia apocalíptica uma interpretação clara e final. Na conjuntura atual, tal interpretação final não está disponível. Porventura, a pergunta que deveríamos fazer é: O que pode ser feito para evitar transformar esta diversidade de opiniões em uma disputa teológica interna? Deixe-me sugerir duas coisas. Primeiro, deveríamos pedir ao Senhor para fortalecer nossa disposição para trabalharmos juntos em um espírito de amor e humildade cristãos para edificarmos a igreja. Segundo, deveríamos concordar em como abordar esta profecia apocalíptica—esta é a questão hermenêutica apropriada.

Princípios Básicos

Eu não tenho nada particularmente novo a oferecer, mas eu destacarei a necessidade de permanecermos firmemente compromissados com nossos princípios hermenêuticos indiscutíveis de interpretação apocalíptica. Listarei alguns deles no contexto do estudo das trombetas.

1. Na interpretação das trombetas, teólogos adventistas têm, quase consistentemente, empregado o método historicista de interpretação profética porque encontra-se baseado nas próprias Escrituras. Este método foi provido aos visionários apocalípticos pelo intérprete angelical. Tem provado ser uma abordagem válida para profecia apocalíptica conforme ilustrada em seu uso por Jesus, os apóstolos e os intérpretes durante a história cristã. Enquanto neste artigo proverei toda a evidência necessária para fundamentar os elementos mais importantes do método historicista de interpretação,1 sugerirei que os seguintes são indispensáveis para uma interpretação apropriada das trombetas:

a. Profecia apocalíptica cobre o período inteiro da história do tempo do profeta ao fim da história (Dn 7). Para ser leal a esta metodologia, é necessário aplicá-la ao ciclo visionário apocalíptico das sete trombetas. Quando examinamos esta profecia a partir de nosso momento histórico, devemos compreender que alguns elementos da profecia já se cumpriram enquanto outros estão no processo de cumprir-se ou serão, brevemente, cumpridas.

b. Portanto, o cumprimento da profecia apocalíptica toma lugar dentro do fluxo da história como um todo. Consequentemente, não pode e não deveria ser interpretada pelos critérios de preterismo ou do futurismo ou aplicada a abstrações conceituais desconexas de eventos históricos específicos (idealismo).

c. Recapitulação é central nas profecias apocalípticas (Dn 2; 7; 8; 11). As trombetas recapitulam a história a partir de uma perspectiva particular e, de certo modo, paralela a outros ciclos proféticos das sete encontradas em Apocalipse.2 Casa paralelo analisa o período histórico a partir de ângulos diferentes e, até mesmo, suplementares.

2. A natureza apocalíptica da visão almeja um cumprimento específico o suficiente para estar localizado em um evento ou processo histórico. Em outras palavras, cumprimentos múltiplos das trombetas devem ser excluídas da discussão.3 Isto tem sido considerada por nós e pelo escritor bíblico como sendo uma característica fundamental da profecia apocalíptica (e.g., Daniel diz ao rei da Babilônia que ele representa o reino: “tu és a cabeça de ouro“ [2:38]; similarmente, Gabriel identifica “os reis da Média e da Pérsia” e “o rei da Grécia” conforme representados pelo carneiro e pelo bode respectivamente [8:20–21]).

3. As trombetas não são os juízos escatológicos finais de Deus sobre pecadores impenitentes, mas juízos tomando lugar dentro do fluxo da história. Deveríamos, portanto, distinguir, claramente, entre o propósito das trombetas e o das sete pragas (Ap 16). As pragas ocorrerão em um momento histórico específico que resultará, rapidamente, na parousia.

4. A menção aos períodos de tempo dentro das trombetas dever ser, cuidadosamente, estudada para determinar se estamos lidando com períodos de tempo proféticos ou algo mais. Se a referência é aos períodos de tempo, devemos tentar encontrar o cumprimento histórico aplicando o princípio dia-ano a eles.

5. Devemos, cuidadosamente, estudar os antecedentes bíblicos da linguagem e do imaginário usado para descrever cada trombeta antes de tentar identificar seu cumprimento histórico. Este elemento metodológico baseia-se no princípio hermenêutico que as Escrituras interpretam a si mesma. Sua aplicação exclui o uso de nossa imaginação para determinar o significado e identificar o cumprimento.

Usar esses princípios não garantirá unanimidade de interpretação, mas configurará alguns parâmetros importantes para a interpretação das trombetas. Embora as diferenças de opinião não possam ser resolvidas completamente, como intérpretes adventistas, devemos fazer uso dos princípios discutidos acima. Por exemplo, poderia ser que a linguagem e o imaginário usado na descrição de uma trombeta particular poderiam ser aplicados por diferentes intérpretes à diferentes eventos históricos. Isto é tolerável enquanto um cumprimento histórico particular está em conta e o texto bíblico tem sido, cuidadosamente, analisado para justificar essa possibilidade particular. Isto sugere que, em relação a interpretação das trombetas completa ou final, nossa jornada ainda não tem alcançado seu destino intencionado.

Diversidade de interpretações

O quadro a seguir ilustra como a aplicação dos princípios de interpretação prévios às trombetas por adventistas dedicados poderiam resultar em uma diversidade de interpretações em relação ao cumprimento histórico preciso da profecia. Este quadro não é abrangente, mas ilustrativo.4

Interpretação das trombetas:

Trombeta U. Smith E. Thiele R. Naden C. M. Maxwell W. Shea J. Paulien/ H. LaRondelle/ R. Stefanovic A. Treiyer
Primeira Ataque dos visigodos contra Roma por Alarico. Juízo de Deus sobre Jerusalém. Juízo de Deus sobre Jerusalém. Juízo de Deus sobre Jerusalém. Roma pagã persegue os cristãos. Juízo de Deus sobre Jerusalém. Ataque dos visigodos contra Roma por Alarico.
Segunda Ataque dos vândalos contra Roma. Juízo de Deus contra Roma pagã. Juízo de Deus contra Roma pagã. Juízo de Deus contra Roma pagã. Queda da Roma pagã. Queda do Império Romano. Ataque dos vândalos contra Roma.
Terceira Ataque dos hunos contra Roma. Juízo de Deus contra a professa igreja cristã. Juízo de Deus contra a professa igreja cristã. Juízo de Deus contra a professa igreja cristã. Apostasia da igreja cristã. Apostasia da igreja cristã. Ataque dos hunos contra Roma.
Quarta Queda da Roma Ocidental. Escuridão da Idade Média. Escuridão da Idade Média. Escuridão da Idade Média. Escuridão da Idade Média. Ascensão do secularismo/ateísmo (Ap 11:7). Colapso da Roma Ocidental e de seu sistema de adoração.
Quinta Ascensão do Islã. Período de 5 meses; 1299 + 150 = 1449.) Ascensão e progresso do Islã. Período de 5 meses; 1299 + 150 = 1449.) Ataque de Satanás a Reforma pela Contra-Reforma. (5 meses = 150 anos; 1535–1685.) Ascensão e progresso do Islã. (5 meses = 150 anos; primeiro ataque muçulmano contra Constantinopla em 674 ao último em 823 [apenas 149 anos].) Cruzadas durante a Idade Média. (5 meses = 150 anos; 1099–1249; da captura de Jerusalém ao início da cruzada.) Reino secular/ateísmo. (5 meses = Juízos de Deus são abrangentes, mas limitados; cp. Gn 7:24; 8:3.) Ascensão do Islã contra o cristianismo apostatado. (5 meses = 150 anos; 632–782; primeira onda expansionista islâmica.)
Sexta Império Otomano. (1 dia, 1 mês, 1 ano = 391 anos; 1449–1840.) Império Otomano. (391 anos; 1449–1840.) Tempo da crise final; do século 18 ao fim da provação. Império Otomano. (391 anos; 1453, queda do Império Bizantino a 1844.) Império Otomano. (391 anos; 1453–1844, quando o edito de tolerância foi promulgado.) Ascensão da Babilônia do tempo do fim. A crise final descrita em 7:1–3 e Ap 13–16. (1 hora, 1 dia, 1 mês, se refere a período de tempo divinamente apontado.) Império Otomano. (391 anos; 1453–1844, quando o edito de tolerância foi promulgado.)
Sétima O Mistério de Deus se cumpre. O Mistério de Deus se cumpre. Consumação. O Mistério de Deus se cumpre. O Mistério de Deus se cumpre. Cenas de eventos finais em movimento. (Sumário dos eventos descritos em Ap 12–22.) Tempo do fim quando o mistério de Deus se cumpre.

O quadro revela diversos pontos importantes.

Primeiro, está claro que interpretação tradicional entre adventistas, representada por Uriah Smith, não é fortemente apoiada por muitos intérpretes. Entretanto, o fato do estudioso (Alberto Treiyer ter, recentemente, provido uma exposição e uma defesa valorosa das trombetas alinhadas a Smith indica que esta interpretação não deve ser facilmente desconsiderada.

Segundo, nenhuma das outras interpretações segue Smith em sua interpretação das primeiras quatro trombetas. De fato, se esta amostra de expositores tem algum valor, pode-se, facilmente, concluir que um novo consenso parece estar emergindo na interpretação das primeiras quatro trombetas que diferem, radicalmente, das visões de Smith.

Terceiro, há algumas diferenças de interpretação significantes em relação a quinta e a sexta trombeta. Dois intérpretes se alinham com Uriah Smith em sua interpretação da quinta trombeta (Thiele e Maxwell) e três na sexta trombeta (Thiele, Maxwell e Shea). Mas encontramos entre eles variações em alguns detalhes. Isto sugere que a interpretação de Smith não tem sido totalmente descartada.

Quarto, o desenvolvimento mais importante na interpretação da quinta e da sexta trombetas encontra neles a ascensão do secularismo e do ateísmo no mundo ocidental e na obra da Babilônia do tempo do fim (Paulien, LaRondelle e Stefanovic).5 Em vista de ser uma ruptura importante da abordagem tradicional, torna necessário fazer alguns comentários sobre ela. A questão é se esta interpretação continua compatível com a abordagem historicista. Em minha opinião, parece ser compatível—tenha em mente que eu não estou dizendo que esta é ou não é a interpretação correta dessas trombetas. A razão primária para minha opinião é que não é nem preterista nem futurista, nem uma abordagem idealista para com as trombetas. O problema aparente é que esta interpretação identifica os poderes escritos nas trombetas com movimentos espirituais e filosóficos em vez de impérios e nações em particular. Mas, aqui, devemos ser cuidadosos. Por exemplo, no Novo Testamento, Israel não é simplesmente um poder geopolítico. Mediante a vinda do Messias Judeu, a fé de Israel tem sido universalizada e, agora, o Israel da fé do Antigo Testamento incorpora pessoas de todas as línguas, tribos e pessoas. Há vários outros exemplos do Livro de Apocalipse em si, mas o melhor é, provavelmente, Babilônia. Não é mais uma cidade na Mesopotâmia, mas um símbolo da apostasia e da rebelião global contra Deus. Esta manobra hermenêutica de uma área geográfica limitada a um fenômeno universal é, também, apoiada por Ellen G. White no contexto das profecias apocalípticas. Ela toma a referência apocalíptica ao Egito para representar o espírito da Revolução Francesa que tem, agora, alcançado dimensões globais na forma de ateísmo.6 Portanto, esta nova interpretação da quinta e da sexta trombetas não solapam o historicismo. Identifica um modo de pensar que originou-se em uma nação particular e considera ser o cumprimento histórico da quinta e da sexta trombetas. Esta nova abordagem permanece dentro das fronteiras do historicismo. Provavelmente, o desafio mais significativo que esta visão enfrenta é prover uma interpretação válida ao elementos de tempo mencionados nas duas trombetas. Por outro lado, aqueles que seguem Uriah Smith ou estão próximos a suas interpretações não têm que concordar com datas específicas para o cumprimento dos períodos proféticos, mas eles precisam, também, encontrar uma explicação melhor para a menção do selo de Deus na quinta trombeta (Ap 9:4).

Quinto, um outro item que tende a complicar a discussão dos períodos proféticos e tem influenciado alguns expositores é que Ellen G. White parece apoiar a interpretação do pregador milerita Josiah Litch. Isto é o que ela diz: “No ano de 1840 outro notável cumprimento de profecia despertou geral interesse. Dois anos antes, Josias Litch, um dos principais pastores que pregavam o segundo advento, publicou uma explicação de Apocalipse 9, predizendo a queda do Império Otomano. Segundo seus cálculos esta potência deveria ser subvertida ‘no ano de 1840, no mês de agosto’; e poucos dias apenas antes de seu cumprimento ele escreveu: ‘Admitindo que o primeiro período, 150 anos, se cumpriu exatamente antes que Deacozes subisse ao trono com permissão dos turcos, e que os 391 anos, quinze dias, começaram no final do primeiro período, terminará no dia 11 de agosto de 1840, quando se pode esperar seja abatido o poderio otomano em Constantinopla. E isto, creio eu, verificar-se-á ser o caso.” (Josias Litch, artigo no Signs of the Times, and Expositor of Prophecy, de 1 de agosto de 1840).

No mesmo tempo especificado, a Turquia, por intermédio de seus embaixadores, aceitou a proteção das potências aliadas da Europa, e assim se pôs sob a direção de nações cristãs. O acontecimento cumpriu exatamente a predição. Quando isto se tornou conhecido, multidões se convenceram da exatidão dos princípios de interpretação profética adotados por Miller e seus companheiros, e maravilhoso impulso foi dado ao movimento do advento. Homens de saber e posição uniram-se a Miller, tanto para pregar como para publicar suas opiniões, e de 1840 a 1844 a obra estendeu-se rapidamente.”7

O contexto indica que ela está descrevendo a experiência de Guilherme Miller e seus apoiadores no início dos anos 1840. Desde que, nessa época, ela era uma milerita, ela, muito provavelmente, aceitou a interpretação da profecia de Litch. Seu ponto principal na citação é que o cumprimento da predição dele deu impulso à interpretação profética dos 2300 dias propagada por Guilherme Miller. Tem-se sugerido que o que parecemos ter aqui é uma recontagem da experiência dos mileritas, incluindo a dela, sem prover, necessariamente, uma interpretação final do período profético. Se este for o caso ou não, continuará a ser um tema de debate.8 Mas o fato dela nunca mais mencionar 1840 como um ano quando uma profecia bíblica foi cumprida, deveria nos fazer cautelosos sobre a Sra. White para resolver a questão. Eles deveriam, em vez disso, reexaminar a questão tendo um olhar atual no texto bíblico e por examinar as fontes históricas. Neste caso em particular, parece ser um bom procedimento.

Conclusão

As interpretações sumarizadas neste documento são todas compatíveis com o método historicista da interpretação profética. Enquanto esta metodologia em particular não for solapada, a igreja deveria permitir diversidade de interpretações.9 Reconhecendo isto, devemos, imediatamente, descartar interpretações dogmáticas e discussões acaloradas que poderiam, facilmente, sacrificar a humildade e o amor cristãos. Cada interpretação sugerida precisa de discussão em termos da validade da análise do texto bíblico e seu alegado cumprimento histórico.


Notas:

1 Ver, por exemplo, William Johnsson, “Biblical Apocalyptic,” em <em< span=””>>Handbook of Seventh-day Adventist Theology, e. Raoul Dederen (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000), pp. 784–814.

2 Sobre o tópico da recapitulação e das trombetas, ver Ekkehardt Mueller, “Recapitulation in Revelation 4-11,” Journal of the Adventist Theological Society 9, no. 1 (1998): 260–277.

3 Ver Jon Paulien, “Seals and Trumpets: Some Current Discussions,” em Symposium on Revelation—Livro I, e. Frank B. Holbrook (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 1992), pp. 183–198.

4 A informação do quadro foi extraída das seguintes fontes: Hans LaRondelle, How to Understand the End-Time Prophecies of the Bible: The Biblical/Contextual Approach (Sarasota, FL: First Impressions, 1997); C. Mervyn Maxwell, God Cares, vol. 2 (Boise, ID: Pacific Press, 1985); Roy C. Naden, The Lamb Among the Beasts (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1996); Jon Paulien, “Interpreting the Seven Trumpets,” documento não publicado preparado para o Comitê sobre Daniel e Apocalipse da Conferência Geral, 1986; William Shea, “Revelation’s Trumpets,” documento não publicado, 1998; Uriah Smith, The Prophecies of Daniel and Revelation (Nashville, TN: Southern Publishing Association, 1944); Ranko Stefanovic, The Revelation of Jesus Christ: Commentary on the Book of Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2002); Edwin R. Thiele, Outline Studies in Revelation (Angwin, CA: Class Syllabus, Pacific Union College); Alberto Treiyer, The Seals and the Trumpets: Biblical and Historical Studies (publicado, 2005). Peço desculpas aos autores se, sem intenção, descrevi incorretamente suas interpretações.

5 Jacques Doukhan defende, também, esta interpretação em particular (Secrets of Revelation: The Apocalypse Through Hebrew Eyes [Hagerstown, MD: Review and Herald, 2002], pp. 84–91). Ele vê nas primeiras quatro trombetas a história da igreja dos tempos pós-apostólicos à grande apostasia, em paralelo, de certo modo, com os selos.

6 Ela escreveu: “A ‘grande cidade’ em cujas ruas as testemunhas foram mortas, e onde seus corpos mortos jazeram, é “espiritualmente” o Egito. De todas as nações apresentadas na história bíblica, o Egito, de maneira mais ousada, negou a existência do Deus vivo e resistiu aos Seus preceitos. Nenhum monarca já se aventurou a rebelião mais aberta e arrogante contra a autoridade do Céu do que o fez o rei do Egito. Quando, em nome do Senhor, a mensagem lhe fora levada por Moisés, Faraó orgulhosamente, respondeu: ‘Quem é o Senhor cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel.’ [Êx 5:2.] Isto é ateísmo; e a nação representada pelo Egito daria expressão a uma negação idêntica às reivindicações do Deus vivo, e manifestaria idêntico espírito de incredulidade e desafio. A ‘grande cidade’ é também comparada ‘espiritualmente’ com Sodoma. A corrupção de Sodoma na violação da lei de Deus, manifestou-se especialmente na licenciosidade. E esse pecado também deveria ser característica preeminente da nação que cumpriria as especificações deste texto.” (O Grande Conflito, p. 269). Em outra ocasião, após descrever a corrupção moral do mundo, ela pergunta: “O que deverá impedir que o mundo se torne uma segunda Sodoma?” (Educação, p. 228). Ela, então, acrescenta: “Ao mesmo tempo a anarquia procura varrer todas as leis, não somente as divinas mas também as humanas. A centralização da riqueza e poder; vastas coligações para enriquecerem os poucos que nelas tomam parte, a expensas de muitos; as combinações entre as classes pobres para a defesa de seus interesses e reclamos; o espírito de desassossego, tumulto e matança; a disseminação mundial dos mesmos ensinos que ocasionaram a Revolução Francesa—tudo propende a envolver o mundo inteiro em uma luta semelhante àquela que convulsionou a França.” (Ibid., ênfase acrescida). Ela parece considerar tal tendência como prevalecente agora no mundo inteiro: “Ateísmo e infidelidade prevalecem por toda a terra. Blasfemadores ousados estão diante de toda a terra, a casa da própria edificação de Deus, negam a existência do Criador e desafiam o Deus dos céus a matá-los se algum ponto de suas posições estiver errado. Dirigem sociedades de infiéis por todo o canto planejando meios de espalhar seus venenos infernais!” (Review and Herald, 4 de maio de 1886). Está claro para Ellen G. White que os nomes das cidades representam, agora, movimentos mundiais que foram iniciados na França durante a Revolução Francesa. Este modo de ver o cumprimento profético apocalíptico se encaixa, ainda, no que chamamos de método historicista de interpretação profética.

7 Ellen G. White, O Grande Conflito, pp. 334,335.

8 Ver Robert W. Olson, 101 Questions on the Sanctuary and Ellen G. White (Washington, DC: Ellen G. White Estate, 1981), questão 52.

9 Isto está ilustrado, a propósito, pelo Comentário Bíblico Adventistas do Sétimo Dia sobre as sete trombetas. Enquanto afirmando a visão tradicional representada por Smith, reconhece outras possibilidades e evita dogmatismo (ver F. D. Nichol, e., Seventh-day Adventist Bible Commentary [Washington, DC: Review and Herald, 1978], 7:778–796).

 

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